MARÇO DE 2010

As coisas estavam um pouco estranhas entre eu e Sammy desde o beijo sábado à noite. Comecei a perceber que, ao longo da semana, nos prendámos ao olhar do outro por mais tempo do que o necessário. E isso estava me deixando louco! Não somente isso, mas também o fato de que, a cada vez que eu a via, eu sentia uma vontade enorme de pegá-la em meus braços e beijá-la mais, e mais, e mais... O único problema era que eu não só não sabia como dizer o que estava sentindo a ela, como também sabia que, assim que o fizesse, nossa amizade iria por água abaixo por dois motivos: primeiramente porque, se eu contasse a ela e ela não correspondesse (o que iria acontecer, já que Sam estava super interessada em seu parceiro de Biologia, Luck Hannaven) a situação entre nós ficaria pesada, com ambas as partes constrangidas a cada vez que nos olhássemos nos olhos. O segundo motivo era que se eu contasse para ela e ela correspondesse (o que parecia estar fora de cogitação), poderia acontecer de ficarmos juntos por um tempo e depois nos separássemos, perdendo completamente a amizade...

Em outras palavras: eu estava na merda!

SAMANTHAS P.O.V

O clube estava vazio àquela hora da tarde. Você só encontraria algumas crianças praticando natação enquanto as mães fofocavam na beira da piscina, alguns casais de velhinhos passeando de mãos dadas e... Bom, e nós.

Era quarta-feira à tarde quando decidimos que se ficássemos, um minuto a mais no sol, iríamos derreter com certeza absoluta. Pegamos nossas coisas e descemos para o clube, entrando na água no mesmo momento que a vimos.

Dei impulso na parede atrás de mim e segurei o ar, soltando-o aos pouquinhos, à medida que mergulhava até a outra ponta da piscina. Assim que cheguei lá, coloquei minhas pernas para fora e boiei meu corpo na água, ficando como se eu estivesse sentada na parede da piscina, coisa que eu fazia desde pequena.

Mesmo de olhos fechados, pude perceber que a luz solar banhava meu rosto e sorri com a lembrança de nossa primeira aula de natação: o modo como fui correndo e pulei na água antes mesmo do instrutor mandar, enquanto Zayn teve que ser colocado a força, se agarrando a mãe de maneira a parecer um gato que não quer tomar banho.

Coloquei minhas pernas para dentro novamente e mergulhei de novo, fazendo o percurso de volta até a borda da piscina onde os outros estavam sentados em uma mesa, conversando animadamente. Apoiei meus braços na borda e curvei meu corpo para fora da água, ficando somente com minhas pernas para dentro.

- a batata já chegou e vocês nem me chamaram? – perguntei incrédula, olhando para uma enorme bandeja com pedacinhos amarelos.

- acabou de chegar, esfomeada – Harry disse revirando os olhos e pegando uma delas – já íamos te chamar...

- Niall? – o loiro me olhou com uma cara assustada, com metade de sua batata para fora da boca, provavelmente imaginando o que eu queria com aquela voz doce – você pode colocar um pouco em um pratinho e colocar aqui na beirada para mim? – pisquei os olhos varias vezes.

- nem vai dar – disse voltando ao normal e colocando o resto da batata para dentro – você vai ter que comer aqui. – era pra me irritar, só pode.

- vocês então não podiam esperar eu sair da piscina para pedir, então? – disse um pouco nervosa. Eles sempre faziam isso.

- foi mal, princesa – foi a vez de Zayn de usar o sarcasmo – mas não é como se não soubéssemos que é só você entrar na água para virar a Ariel, e não sair mais.

- e também sabemos que, bem provavelmente, vamos ter que tirar você à força daí – completou Louis e eles riram – com você provavelmente gritando algo como – imitou, pessimamente se posso dizer, a minha voz – “não, não me levem, Linguado, me ajude, por favoooooor!” – eles riram mais e eu soprei o cabelo que tinha caído na minha cara.

- vocês são ridículos – revirei os olhos e dei as costas para eles e dando impulso novamente para ir para o outro lado da piscina. O lado mais longe deles de preferência.  Afinal, a minha fome poderia esperar até eu me refrescar mais um pouco – Linguado me ajude – murmurei e fiz uma careta.

Nadei mais um pouco, e logo senti água se espirrando em mim, vinda de trás, e antes que eu tivesse a chance de olhar quem era, os braços (cof) fortes de Liam me abraçaram por trás.

- o que você quer? – perguntei de mau humor tentando sair de seus braços.

- nós tiramos pedra papel ou qualquer coisa que elimine o Liam para ver quem iria ver se você ainda está muito nervosa – apertou mais o abraço e eu cruzei os braços, tentado não rir, mas sem sucesso.

Acabei soltando uma risada e ele finalmente me soltou, nadando até que ficasse à minha frente, rindo também.

- isso quer dizer que não está mais brava?

- depende, o que você quer dizer com qualquer coisa? – perguntei cerrando os olhos, referindo-me ao jogo que ele tinha falado.

- ah você sabe – deu de ombros – coisas normais como: “mas é claro que o zuboomafoo que eu fiz com a mão mata a sua pedra, Liam” – deu de ombros de novo e então rimos.

- tudo bem, não estou mais brava – sorri

- ótimo, então podemos comer? Eu estou morrendo de fome – se virou assim que eu concordei com a cabeça.

Aproveitei o momento para usar toda a minha força para empurrar seus ombros para baixo e afoga-lo. O que deu certo, para a minha surpresa, e Liam voltou à superfície cuspindo água, me fazendo rir.

- há-há. Muito engraçadinha mesmo – disse enquanto eu ainda ria que nem boba.

Ele aproveitou o meu estado – e a minha enorme boca aberta – para mergulhar e puxar as minhas pernas, me fazendo engolir quase metade da piscina, e cuspir a outra quando voltei a respirar novamente.

Ele riu da minha cara – riu mesmo, aquela risada histérica pra caramba – e então começou a caminhar até a escada. Subi de cavalinho nele, e aproveitei sua “carona” até a saída.

- não perto de mim – Eleanor disse assim que chegamos perto e jogou duas toalhas em nossa direção.

Peguei a minha no ar e Liam fez o mesmo. Comecei a me secar rapidamente, ansiosa por comer a tal batata, e, assim que acabei, Liam começou a sacudir seu cabelo em minha direção, de propósito, claro! Fiquei rindo ao mesmo tempo em que mandava ele parar, mas ele só continuava a vir mais para perto, me fazendo chegar para trás até ficar na beirada da piscina.

Louis aproveitou nossa posição e só bastou um empurrãozinho em Liam para que nós dois caíssemos na água de novo, com toalha e tudo, embolados em um tipo de abraço.

Antes mesmo de emergir na água, podia ouvir a risada dos cinco idiotas do lado de fora da piscina. Bati minhas pernas até chegar à superfície e vi Liam fazer o mesmo.

Saímos, nos secamos e sentamos para comer, aproveitando para começar a juntar nossas coisas logo depois, vendo que já estava começando a anoitecer.

Tomamos o caminho de casa e nos separamos no meio, ficando somente eu, Harry e Liam, enquanto os outros iam para o outro lado.

Nos despedimos de Liam do lado de fora e entramos. Olhei para Harry por alguns instantes e, quando percebi, já estávamos correndo em direção ao banheiro, disputando quem chegaria primeiro. Pulei em suas costas assim que ele foi entrar e, depois de alguns tapas, puxões, gritos e risadas, consegui entrar e fechar a porta, me encostando nela logo em seguida.

Liguei o chuveiro e tomei um banho quente, enquanto escutava Harry gritar comigo da porta.

****

Era sexta anoite e Harry já tinha dormido quando tive a brilhante ideia de assistir American Horror Story. Sozinha. No escuro. E sem meus pais em casa.

Se algum dia você por acaso tiver essa ideia, desista! Falando sério. O fato é que o Tate é um fofo e tudo mais, porém, assistir as partes que não inclui ele mostrando o quanto ama a Violet, em uma situação como a minha, não é boa.

Assim que acabou um dos episódios (e eu percebi o quanto eu estava agarrada ao meu Mickey gigante) resolvi tomar uma água, escovar os dentes, colocar meu pijama e ir dormir. Abri a porta e andei lentamente até o topo da escada, fitando a escuridão abaixo de mim. Eu não estava com tanta sede assim, afinal de contas... Voltei para o corredor, e dei uma olhada no caminho até o banheiro. Escuro. Pude ver uma pequena faixa de luz vindo de sua porta entreaberta e ela fez um rangido por causa do vento (ou daquele bebê estranho que vive no porão no seriado). Juro, nunca corri tão rápido, igual eu fiz para chegar ao meu quarto, fechar a porta e trancá-la atrás de mim, respirando fundo três vezes ainda encostada a ela.

Ninguém morre por não escovar os dentes por uma noite, não é mesmo?

Acendi todas as fontes de luz do meu quarto e fui até a gaveta de pijamas, agindo calmamente, como se esperasse que alguém pulasse do escuro e me agarrasse. Procurei nela alguma coisa quentinha e fui jogando algumas peças no chão até que, dobrada no fundo da gávea, encontrei a blusa que Liam tinha me emprestado noites atrás, no dia daquela maldita festa. Bastou lembrar da sensação de segurança que tive assim que a pus naquele dia, para enfiá-la pela minha cabeça e sentir o cheiro de Liam vindo do colarinho.

Pesquei um short que era apertadinho, mas confortável, e coloquei, deitando na cama e dormindo logo em seguida. Com todas as luzes acesas, lógico.

 Acordei na manhã seguinte e rolei pela cama, tentando achar um ponto do qual eu poderia enxergar os números brilhantes do relógio. Dez e meia. Arrastei-me até o final da cama e desci até a cozinha, morrendo de fome.

Liguei o rádio bem alto assim que me lembrei que não tinha ninguém em casa – Harry tinha ido jogar bola com os meninos e mamãe e Rob tinham um compromisso com os amigos – e comecei a cantar Paradise como se o mundo fosse acabar, enquanto fitava um ovo.

As propagandas começaram e eu abaixei o rádio, na mesma hora que escutei o barulho de vozes e risadas muito conhecidas vindo da sala.

Olhei para baixo, analisando minha roupa rapidamente: meu short era tão curto que a camisa, que ia até o início da minha coxa, o cobria. E o pior: a blusa era de Liam!

Soltei a primeira coisa que veio na minha cabeça, alto o bastante para que eles escutassem.

- não venham até a cozinha! – encostei na parede ao lado da porta, sabendo que ali, só me veria quem entrasse.

Respirei fundo três vezes, pensando em como faria para que eles não me vissem vestindo isso, e tampei os olhos com as mãos. Escutei a voz de Harry segundos depois.

- o que você está fazendo? – descobri os olhos e vi ele parado na minha frente.

- nada – disse rápido de mais e ele riu.

- entendi o porquê de você não querer que os meninos te vejam... isso é jeito de andar? – deu uma risada – você está de short pelo menos? – levantou um pouco minha blusa.

- claro que estou, Harry!

- espera – disse olhando minha roupa novamente e eu gelei – essa é a blusa do Liam? – tapei a boca dele com as minhas duas mãos

- shiiiu, Harry! Você tem que me ajudar – sussurrei – se os meninos me verem assim eles vão me zuar até o fim dos tempos. – ele disse alguma coisa – o que? – perguntei e então ele disse novamente. Algo como “limão”, “comilão” ou “tira a mão”. Imaginei que fosse a terceira e fiz como ele pediu.

- porque você está usando ela, de qualquer jeito?

- por nada... – ele levantou a sobrancelha – ok, ok. Eu vi episódios de mais de American Horror Story ontem e fiquei com medo, lembrei que me senti segura com a camisa dele da ultima vez que a usei e pus. Fim. – ele deu uma gargalhada – não é pra rir – dei um tapa nele – você precisa me ajudaaaaar!

- e o que eu ganho com isso? – cruzou os braços.

- eu... eu lavo a cozinha a semana toda – ele levantou as sobrancelhas de novo – no almoço e no jantar...

- ok – disse depois de hesitar um pouco e saiu da cozinha – ok, dudes, todo mundo tapando o olho para a Sam passar... – pude escutar ele falando.

- porque? – Louis perguntou e ouvi o som de um tapa.

- porque ela é uma mulher e não está muito apresentável... – Harry disse e imaginei-o dando de ombros.

- ela está o que? Usando langerie? – pude escutar a voz de Niall

- não – Harry e eu respondemos juntos

- ah, já sei – Louis disse – é aquele pijama que a Eleanor deu para ela? – todos começaram a rir. Como diabos eles sabiam daquele pijama?

- não, não é – Harry disse rindo e depois, um pouco mais alto para mim – pode vir, Sam.

Coloquei a cabeça para fora da cozinha e pude ver todos sentados com a cabeça enfiada em um travesseiro no colo. Ri da cena e saí da cozinha. Harry deu uma risadinha olhando para mim, como se ainda não acreditasse que eu estava vestindo aquilo, e então foi a vez de Zayn tentar adivinhar.

- ela está pelada? Porque se for, não é como se eu nunca tivesse te visto assim, Sam...

- é, Zayn, quando tínhamos o que? Sete anos? – pude ver ele dar de ombros ainda com a cara na almofada.

- não deve ter mudado muita coisa desde aquela época – os garotos soltaram um risinho e eu taquei nele uma almofada que achei no chão.

Subi a escada correndo e entrei em meu quarto, tirando a blusa rapidamente e enfiando ela na gaveta de calcinhas, que eu sabia que nenhum deles abriria.

Coloquei um short (de tamanho decente) jeans e uma regata cinza escrito “you just read my shirt” e prendi meu cabelo em um rabo alto. Deii uma olhada no espelho antes de descer e encontrei os cinco jogando mario kart.

- bom dia, meninos – disse sorridente indo em direção à cozinha e eles viraram a cabeça para me ver – o que? – coloquei as mãos na cintura – perderam alguma coisa aqui?

- não – disse Louis – mas acabei de ler a sua camiseta – disse sorridente e todos riram.

Tomei meu café rapidamente e voltei para a sala. Depois de convencê-los de me deixarem jogar mesmo não estando na fila, joguei algumas rodadas, e ganhei a maioria delas, deixando-os boquiabertos.

- como você fez isso? – Niall disse

- oras, eu andei praticando nos dias que fiquei aqui sozinha – disse na mesma hora que Harry ganhava de mim;

Passei o controle para Zayn e desci do sofá. Joguei uma almofada no colo de Liam, que estava sentado encostado no sofá, e deitei minha cabeça nela.

- você não está esquecendo de hoje anoite não é? – perguntou e eu levantei os olhos.

- claro que não. Vou estar pronta às sete – sorri e ele fez o mesmo.

Assim que virei a cabeça novamente, ficando de modo à ver o jogo na tv, ele começou a mexer em meu cabelo, me fazendo quase cair no sono.