Black Blood Diamond escrita por AnandaArmstrong


Capítulo 5
Pain


Notas iniciais do capítulo

Iai, depois de muito tempo... POST!



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Pain - Hollywood Undead

Terminei o banho rapidamente, e vesti uma calça de algodão preta comprida e um moletom amarelo com listras cinza. Milagre achar algo sem glitter, nem nada do gênero. O banho teve o efeito oposto ao que eu queria, ao invés de me fazer relaxar, me fez ter mais certeza ainda que eu estava completamente cercada de cobras.

Fui engatinhando lentamente para baixo das cobertas, praticamente escalando o colchão, e me acomodei confortavelmente debaixo daqueles lençóis de seda. Respirei fundo e peguei o relógio que ganhara mais cedo, finalmente tendo ânimo para analisá-lo.

Era um relógio de couro, dos séculos 19 ou 20 provavelmente. A pulseira era de um couro marrom muito resistente e o mostrador estava enferrujado e muito desgastado. Como isso sobreviveu até hoje? Com certeza intocado em uma caixa. Ainda estava com números romanos, nossa. Até que não matar aquela aula de história foi útil, eles ensinam algumas coisas sobre o mundo de antigamente para nós. E incrivelmente, o relógio ainda funcionava e com uma bússola. É, se eu voltar viva o Butch vai ter sérios interrogatórios. Marcavam... Oito e meia no relógio. Oito... AI MEU DEUS A COLHEITA!

Saí correndo do quarto feito uma maluca e bati a porta, com força demais talvez porque o pobre Stevek apareceu na porta com uma cara de sonolência. Quando ele me viu correndo, não precisei dizer nada, já sabia o que tinha acontecido e saiu correndo em meu encalço.

Chegamos à sala da televisão ofegantes e Pari e uma morena estavam vendo silenciosamente a programação super excitante da noite. Meus concorrentes, iupi. Que animador!


– Já está no distrito 2, no um eram uma garota de cabelos cor de rosa com cara de felina e um loiro enorme mas muito abestalhado. – A morena disse. Espere... Morena? MYCHELL?

– Mychell? – Perguntei incrédula, só pra ter certeza.

– Olá, querida. Oh, sim eu tirei a peruca. Ela realmente incomoda. – Ela disse, dando de ombros. Mas os olhos continuavam os mesmos. Nossa, ela realmente subiu bem pouco na minha moral mesmo. De idiota do Capitol, passou a Idiota-Um-Pouco-Normal do Capitol. Continuava não sendo muita coisa no meu conceito, mas vamos lá.


Eu sentei no tapete, afastada de todos e Stevek sentou-se perto de Mychell, entendo, Pari é realmente assustador.

As colheitas foram chatas, pra falar a verdade. Mas cada segundo que passava eu sentia mais falta de casa. Até que o número dez apareceu gigante tomando toda a tela da televisão e desapareceu rapidamente.

Engoli seco e abaixei a cabeça, encostando-a nos meus joelhos, que estavam dobrados para cima. Eu realmente não queria ver essa cena. Não mesmo.

Me fechei pro mundo afora e só podia ouvir os gritos saindo da televisão. Os meus gritos. Até que os gritos acabaram e eu soube que era a vez de Stevek ser sorteado. Bom garoto, não merecia ir pra lá. Ninguém merecia. Ninguém merecia esse homicídio anual. Isso é pura crueldade.

Apertei minhas mãos de raiva, e notei que trouxe sem querer o relógio. Como isso seria minha lembrança de distrito, resolvi que mostraria para Pari depois das colheitas. Apesar de ele ser insuportável e tudo mais, ele é o meu mentor, ele ganhou os jogos, e eu quero sair viva daqui.


Ouvi a típica musiquinha do Capitol e soube que a colheita do onze havia começado. Olhei para cima e vi a crueldade estampada nos olhos do ridículo apresentador que usava uma peruca das cores do arco-íris.

Foram sorteados duas crianças de doze anos.

Quer mais covardia do que isso? É cruel. Não dá pra imaginar três crianças de doze anos tentando se matar. É demais pra a minha cabeça.

O meu mundo inteiro se desmorona na minha cabeça, porque cada criança pequena que eu vejo nesse mundo me lembra do Nolan. Eu me lembro do rostinho dele, e que ele vive nesse mundo torturante.

Mas aí eu lembro que ele não está aqui, e que essas crianças são meus inimigos. Todos são meus inimigos. E para eu voltar para casa eu preciso matar todos eles. Então meu instinto agressivo volta novamente.

Mas eu sou uma mãe, eu tenho que ser calma, doce, gentil! Eu... Não posso... Sem sangue.


Narradora POV’s


A ruiva tremia imperceptivelmente, seus olhos voltados para a televisão demonstravam apenas parte dos pensamentos que muitas vezes ela sequer evitou pensar, coisas que ela passava e pensava no seu inconsciente. Mas, uma hora tudo tem que sair. Como o veneno de um tracker jacker, vir para o Capitol nessas condições causa loucura. Traz á tona os maiores temores, os piores pensamentos adormecidos naquele cantinho desconhecido do cérebro. Era por isso que Fillias Chambrise estava passando. Mas ninguém a entendia. Ninguém entendia como era perder os pais aos quinze e se criar sozinha com uma irmã. Ninguém entendia como é se adaptar á uma vida miserável no distrito dez, mas depois ver tudo mudar. Ninguém sabia como era engravidar e não poder mais trabalhar quando chegassem os cinco meses, a barriga era muito grande. Ela tinha uma irmãzinha para sustentar. Uma linda irmãzinha com os cabelos vermelhos e olhos castanhos que pareciam pegar fogo. Ninguém sabia como era perder o amor da sua vida, pai do seu filho, nos mesmos jogos dos da sua irmã. Ninguém sabia como era receber só piedade e um emprego em troca. Ninguém sabia como era ser Fillias Chambrise.

E foi nessa hora que a tributo do distrito dez explodiu. Era muita coisa para a pequena mente de dezoito anos da garota. Gritos aterrorizados saiam da garota. Ela queria que tudo parasse, queria que todos a compreendessem e a tirassem dali. Mas ela também sabia que não era possível.


E quem a confortou não foi Mychell, não foi Pari, como seu mentor, não foram os avox. Foi Stevek. O pequeno garoto do distrito dez, que mal conseguia se aguentar em pé.

Muitos o julgam, mas não sabem o que acontece por debaixo da pele, da carne. Quais pensamentos passavam pelo cérebro, e pelo coração. É certo que ele não tinha nenhuma habilidade para vencer os jogos. É certo que ele sabia que não havia chances para ele, por mais que a mentora tentasse. Mas ele tinha um coração maior que o seu corpo. Ele era o melhor amigo que alguém poderia ter.


Fillias tremia gradativamente, cara vez mais sentia que o seu corpo sairia vibrando por aí. Poderia até voar. Portanto que saísse dali, tudo estava bem. Só queria sentir uma última vez aqueles cabelos macios e ver aqueles olhos arroxeados do pequeno. A última pessoa cuja ela realmente choraria prantos se a deixasse, também. Foi quando ela sentiu aqueles frágeis bracinhos envolverem o seu corpo. Ela estava imersa em ilusões, algo como veneno de tracker jacker. Pequenos sussurros de “Nolan, Nolan” ou até “Querido” eram ouvidos da sua boca. Mas Stevek continuou a abraçando, isso iria confortá-la. Afinal, Fillias Chambrise não fingia ser uma pobre mãe desesperada.


Ela era uma pobre mãe desesperada.



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Notas finais do capítulo

Ficou meio pequeno pro que eu costumo escrever, mas eu amei ok? Ai se alguém falar do tamanho u_u