Quantum escrita por bragirl2


Capítulo 8
Angústia




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Capítulo 7 – Angústia

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— Então, me conta... Ele beija bem?

Quase engasguei com o chiclete. Tia Charlotte prestava atenção à rua, atenta ao trânsito. Mesmo sem seus olhos sobre mim, senti meu rosto assumir todas as cores do arco-íris sucessivamente, antes que eu brilhantemente retrucasse...

— O quê?

— O garoto que esteve lá em casa outro dia... Edward. Aquele que voltou e te carregou sei-lá-pra-onde antes de voltar e ficar no nosso apartamento por horas. Ho-ras, como bem me disse o Caio.

O tom de tia Charlotte era brincalhão, mas mesmo o sorriso dela ameaçava me tirar do sério.

— Caio, o porteiro?

— Sim.

— Minha nossa, essa gente não tem mais o que fazer, não? E me admira você, tia, dando ouvidos para a fofoca. — De repente aceitar a troca de turno e ir para o trabalho mais cedo, de carona com tia Charlotte tornara-se a pior ideia do mundo.

— Ah, Bella, credo. Não sei a quem você puxou, toda séria desse jeito. Certamente não foi a mim, viu? Finalmente você traz um namorado pra casa e eu não posso nem perguntar sobre o garoto?

— Ele não é meu namorado. E você não está perguntando sobre o Edward, tia...

— Sim, e por um acaso a quem você acha que se refere o pronome pessoal do caso reto na frase ele beija bem?

Não aguentei e caí na risada.

— Papo sobre namorado, nem pensar. Mas piada de nerd é com você mesma. Ai, ai... Por vezes me pergunto onde eu estava enquanto você crescia, Bellinha. — disse tia Charlotte em meio a um suspiro dramático, enquanto parava o carro em frente ao shopping.

— Você devia estar no trabalho. — Eu me referia ao breve atraso dela naquela manhã, mas ao nosso passado também.

— Eu sei, que bom que é perto daqui. — Disse, ignorando o duplo sentido. — Bella, brincadeiras à parte, se ele é seu namorado ou não, não importa. Só se cuida, tá? E eu não estou falando apenas do óbvio...

Ai, senhor... Lá vem ela. Fiz força para segurar os olhos antes que eles revirassem.

Tia Charlotte continuou.

— Quero dizer que só de olhar eu sei que você está diferente. E diferente... Melhor. Você está mais feliz, Bella. E isso me faz feliz também. Sei que não é só o emprego novo, por mais empolgante que seja. Eu já vi isso acontecer outras vezes, meu bem. Nunca antes com você. Só posso imaginar como deve ser especial. Só... Por favor, se cuida. Se um dia eu vir esse rostinho lindo demonstrar um tantinho só de tristeza, isso vai acabar comigo.

Os mesmos olhos birrentos de antes se encheram de lágrimas.

— Tia, relaxa. Eu... Eu não sou minha mãe, tá? — Acrescentei, sem graça.

— Ah, mas não é mesmo! — Ela riu com um quê de deboche antes de me dar um beijo no rosto. — Vai lá, meu bem. Tenho muito orgulho de você. Você cresceu apesar de mim.

— Modéstia não é uma cor que combine com seu tom de pele, senhorita Charlotte... — Brinquei. — Cresci graças a você, sua boba.

Depois de sair do carro olhei para trás e joguei um beijinho quando vi que ela ainda acenava. Ai, essa minha tia...

A verdade é que tia Charlotte me conhecia muito bem. Ela me descrevera exatamente como eu me sentia. Eu nunca havia estado assim antes. É algo difícil de explicar. Fisicamente é... Angustiante. Meu coração está sempre em sobressaltos. A respiração, rápida. O estômago sempre revirado, não consigo sequer pensar em comer. Meu semblante é diferente, os olhos estão mais vivos, os dentes querem aparecer o tempo todo. Dá medo até de congelar desse jeito, boca aberta, sorriso de besta. E a sensação é de que eu não caminho mais. Eu flutuo. Vou pisando em nuvens, como se diz. Sei que para quem vê de fora não devo estar assim parecendo um caso de internação. Mas é como me sinto. Fora de mim.

Isoladamente, esses sintomas são péssimos. Morrer deve ser muito próximo disso. Só que, juntos, fazem parecer que vou viver eternamente. Fazem-me sentir a criatura mais sortuda do universo.

Ah, não tenho onde cair morta. Não ligo. Ah, moro de favor com minha tia adolescente. Não ligo. Ah, meu futuro é ser atendente de livraria até que uma aposentadoria de fome me salve, aos 70. Não ligo. Desde que eu me sinta assim para sempre, não ligo. Sorriso de besta, dentes pra fora. Vivendo eternamente.

— O que é tão engraçado?

— Oi?

Virei em direção a Angela, a atendente com cara de traça de livro.

— Ih, já vi que foi mais um dia daqueles... Vai ficar aqui eternamente, divagando? Seu horário já terminou.

— Sério? Minha nossa, fiquei a manhã inteira organizando as trocas e devoluções e não vendi um exemplar sequer!

— Isso explica por que o Tyler acabou de me dizer que preferia mil vezes trabalhar com você a trabalhar comigo... A comissão dele hoje deve ter sido bem melhor.

Angela riu, o que aumentou meu desconforto. Depois me agradeceu por ter coberto seu horário para que ela pudesse ir ao médico.

Na saída pedi desculpas a Tyler pela desatenção e ele dispensou. Disse que meu trabalho de bastidores, nas palavras dele, tinha ajudado o atendimento a fluir. Como o gerente não estava, ele orientou a caixa a registrar as vendas para nós dois, alternadamente.

Pensava na minha recém readquirida fé pela humanidade enquanto deixava o shopping. Parei à porta e meu coração quis parar também.

Você tem que parar com isso... — Sorri, caminhando na direção dele.

— O quê, exatamente?

— Isso, de aparecer de súbito, quando menos se espera.

— É um pouco difícil a alternativa...

— Ligar, mandar um email ou uma mensagem e combinar? Essa alternativa?

Edward riu.

— É, essa alternativa. Embora pareça mesmo uma boa, já que você nunca está no primeiro lugar em que procuro.

Ele procura por mim?

Sorri, incrédula.

— Vamos combinar o seguinte. Depois de hoje, se você ainda quiser me ver, a gente combina a próxima então.

Era impossível imaginar um motivo sequer para não querer vê-lo novamente, mas mantive o sorriso como resposta. O pouco tempo que havíamos passado juntos era o suficiente para que eu quisesse fazer da presença dele uma constante. Só esperava que o sentimento fosse recíproco. Mas se ele procura por mim...

— Hoje você veio sozinho? A coisa não quis fazer companhia?

— Não, ela ficou um pouco sentida com o apelido e preferiu ficar para trás... Sabe como é.

— Ah, pobrezinha. Pede desculpas por mim? Acho que começamos com o pé esquerdo...

— Claro. Sei que ela não guarda ressentimentos.

Sugeri que fôssemos ao quiosque na quadra seguinte. O dia estava agradável, o sol do início de tarde e a brisa que vinha do mar eram bem-vindos para quem, como eu, tinha ficado horas dentro de um ambiente refrigerado.

Começamos a caminhar em direção à praia em frente enquanto eu comia uma salada de frutas. Andamos assim, lado a lado, ele mergulhado em pensamentos e eu tentando não intervir para saber o que prendia sua mente.

— Bella, a gente pode sentar um pouco para conversar? Você tem tempo agora?

O tom dele era grave.

O pote que eu segurava já estava vazio. Joguei-o fora no primeiro lixo que encontrei. No retorno peguei sua mão e o puxei de leve até um dos poucos bancos que ficavam à sombra, de frente para o mar.

Assim que sentamos, Edward entrelaçou nossos dedos e levou minha mão até seus lábios. Eu queria muito que ele me beijasse ali, naquele momento.

Ele parece ter ouvido meus pensamentos, ou parte deles, pois se inclinou e beijou minha testa, a ponta do meu nariz, meu pescoço. Não pude segurar o arrepio que percorreu meu corpo inteiro.

— Bella, sou incrivelmente egoísta. E estou sendo mais ainda agora. — Ele sussurrou bem próximo ao meu ouvido. O cheiro dele me envolvia.

— O quê? — Eu sentia uma leve vertigem. — Não entendo...

— Eu imaginava que a veria e que ficaria tudo bem. Eu poderia seguir com minha vida, suportar. Eu poderia deixá-la seguir com a sua também. Mas as coisas chegaram a um ponto que nem mesmo eu consigo lidar.

— Edward, o que você está dizendo? — Mesmo sem compreender o que ele dizia, de repente senti seu tom de despedida.

Quando pensava que minha vida estava prestes a começar, ela termina.

Ele desvencilhou as mãos das minhas e inclinou-se para trás antes de explicar.

— Eu preciso que você me diga que é feliz. Que tudo está bem assim. Que eu posso voltar. Que você nunca precisou, que nunca vai precisar de nada mais.

— Ah, você quer que eu minta. Claro. Tudo bem. Está tudo bem assim. Vá embora, Edward. Você não quer estar aqui.

— Bella, não.

— Só estou fazendo o que você pediu. — Eu faria tudo por você. Tudo. Até destruir meu próprio coração.

Ele me encarou de um jeito intenso, procurando por algo dentro dos meus olhos de uma forma tão desesperada que eu não podia escapar, por mais que quisesse.

— Se você tivesse a chance de mudar de vida. De poder fazer tudo que você sempre sonhou. Ter dinheiro, bastante dinheiro. O suficiente para não precisar mais trabalhar. Ou fazer o curso superior que você sempre sonhou, continuar trabalhando se quiser, comprar a livraria em que você trabalha, sei lá?

Deu risada. Cheguei a gargalhar.

— Edward, você está soando como... Olha, não tem vaga na clínica onde minha mãe está, heim... Teríamos que encontrar outro lugar para você...

— Prometi que nunca mentiria para você – ele sussurrou.

Para mim?

Antes que eu pudesse perguntar uma expressão de dor dominou o rosto dele. Esperei. Ele respirou fundo, parecia tomar coragem para prosseguir. Achei a reação um tanto exagerada, mas, percebendo o sofrimento dele, peguei em sua mão, quase como gesto involuntário. Queria incentivá-lo a continuar. Ele gentilmente retirou a mão da minha, mas avançou.

— Você precisa entender. Só você entenderia.

Ele estava ficando ainda mais agitado.

— Mas para que você entenda, preciso contar tudo. Desde o princípio.

Eu estava decidida a não interrompê-lo até que ele concluísse. Edward respirou fundo e me fitou com os olhos sofridos.

— Tudo começou sete meses atrás...

E assim ele começou a compartilhar a história que mudaria para sempre a minha vida.

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Notas finais do capítulo

a/n: Feliz Ano Novo! E muito obrigada por ler esta história. :)
A boa notícia é que 2012 já começa com alguns capítulos prontinhos e no ponto de vista do Edward. Updates aos domingos ou... Quando você prefere? Uma review sua mata minha curiosidade.
Obrigada, Lu, por betar com tanto carinho.
Bee, G e LeiliPattz, obrigada pela amizade e incentivo, hoje e sempre. Amém.