Quantum escrita por bragirl2
Capítulo 6 – Novo
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Definitivamente, eu não estava sonhando. O cheiro dele era bem real. As pontas dos dedos que desenhavam pequenos círculos em minhas costas eram bem reais. O arrepio que isso causava, também. Assim como o suave subir e descer do peito dele, que me movia por consequência.
Ainda de olhos fechados, sorri e repassei as lembranças mais recentes.
A alegria dele enquanto tomávamos uma ducha na praia, depois do banho de mar.
O silêncio muito mais confortável do que a pedra em que sentamos sob o sol para esperar que nossas roupas secassem no corpo.
O susto que tomei quando, distraída, senti ele tocar meu rosto de leve e dizer “é melhor a gente ir, antes que você fique mais rosa”.
A risada que Edward soltou quando apontei para o nariz dele e respondi que eu não seria a única a ficar cor-de-rosa.
Uma vez de olhos abertos, passei a observar o que estava em meu campo de visão. Na mesinha de centro, alguns dos sanduíches que preparei enquanto ele tomava banho e a roupa dele girava na secadora. No chão, o livro de poemas que ele folheava quando voltei do meu banho e que ele leu em voz alta antes de caírmos no sono.
É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada.
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
Queria ficar o mais parada possível e prolongar ao máximo esse momento. Não conseguia ver o relógio, mas os raios sol que entravam fortes pela janela da sala mostravam que eu ainda tinha algum tempo até o começo do meu turno na livraria.
— Bella...
Meu nome nunca soou tão bonito quanto naquele instante. A última sílaba longa, eterna. Bel-laaah.
Apoiei meu queixo sobre o peito dele, exatamente onde ouvia mais alto o pulsar. Achei que o encontraria acordado, mas não. Ainda cochilava, um suave traço de sorriso nos lábios.
Se ele acordasse naquele instante iria me encontrar encarando-o, como uma boba. Resolvi levantar com cuidado. O que não me impediu de continuar encarando-o como uma boba. Ok, eu precisava me ocupar com alguma coisa.
Cozinha. Levei de volta a travessa com os sanduíches que sobraram. Lavei a travessa. Espiei a sala e fiz cara de boba.
Quarto. Vesti a blusinha do uniforme. Olhei o espelho e arrumei o cabelo (de novo). Espiei a sala e fiz cara de boba (de novo).
Sala. Não resisti e voltei. Sentei no chão, de costas para o sofá e alcancei o livro à minha frente.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
— Bella...
Pelo tom, antes mesmo de me virar na direção daquela voz, eu sabia que ele não estava mais dormindo. O que não quer dizer que eu estivesse preparada para a cena à minha frente. Os olhos tão claros, mais do que antes, quando em contraste com o verde do mar. A expressão serena, mais do que momentos antes, enquanto dormia.
— Oi. — Foi só o que disse e, como não reconheci minha própria voz, fraquinha, tímida, parei. Sorri porque sabia que estava corando.
— Bonito seu cabelo assim.
— Preso assim?
Ele balançou a cabeça em sinal afirmativo e eu puxei mais os cabelos para trás, lembrando que tia Charlotte sempre critica quando eu os prendo. “Deixa solto, vai marcar”, ela diz.
Edward olhou o relógio.
— Minha nossa, você me deixou dormir esse tempo todo?
Notei que ele não falava sério, mas eu não ia deixar passar.
— Como assim, eu deixei? Desde quando você é responsabilidade minha? E no mais, eu dormi também...
— Ah, menos mal... Pelo menos não ficou me olhando enquanto eu sonhava aqui.
Por um instante pensei que ele tivesse percebido. Mas deve ter sido um chute.
— Sonhou? Com o quê?
Pergunta normal, nem um pouco enxerida. Quer dizer...
— Brincadeira, não precisa responder. — Emendei, rapidamente.
Edward riu.
— Era um pesadelo que tive outras vezes. Mas dessa vez... Acabou bem. Estranho. — Ele pausou, com a expressão de quem desvenda alguma coisa. — Bem, na verdade não lembro direito. Só sei que fazia tempo que não dormia assim.
— Praia cansa... Deve ser isso.
— Um hum. Deve.
Ele ficou em silêncio e eu fitava o livro, sem ler. Só sentindo a presença dele. Pensando no que ele tinha acabado de dizer.
Ele disse meu nome enquanto dormia. Seria comigo o pesadelo? Mas ele contou que não era a primeira vez que tinha tido aquele pesadelo... Não podia ser comigo. Por que eu estaria nos sonhos dele? Ou pior, nos pesadelos dele? Mas ele disse meu nome.
— Bella?
— Sim... — Respondi o que parecia um eco dos meus pensamentos.
— Por que você está no chão?
Ri e levantei. Mas antes de sentar ao lado dele no sofá, conferi o relógio.
— Droga.
— Você tem que ir trabalhar... — ele deduziu.
Só acenei com a cabeça, mordendo o lábio para não reclamar do emprego do qual eu gostava tanto.
— Eu posso levá-la. Se você quiser... — Ofereceu e levantou-se. Ele era tão alto.
— Na coisa?
Edward fingiu ficar ofendido, mas vi que ele segurava um sorriso.
— Não a chame assim... Ela nem está aqui para se defender.
— Ela? Acho que a velocidade está mexendo com seus neurônios, Edward... — Ri tentando disfarçar o quanto o nome dele, dito em voz alta, é que mexia comigo.
— Dá pra perceber tanto assim, é? — Disse, aproximando-se.
— Olha, eu ficaria realmente preocupada se fosse você.
Enquanto ele me encarava com um meio sorriso, visivelmente evitando alguma provocação, pensei no quão incrível era a mudança no semblante dele. De tão preocupado e cansado, algumas horas atrás, para contente e leve, agora.
— Tá, vou arriscar minha vida e meus neurônios na coisa, então. Está tarde, afinal de contas...
Quando chegamos, tirei o capacete e devolvi para ele.
— Se você não receber uma multa por andar por aí sem capacete... Vai ser um milagre.
— Ou o contrário. — Comentou colocando o tal acessório.
— Como assim?
— Digamos que já corri riscos piores, Bella...
— Higgins.
— Oi?
— Você dormiu no meu sofá, Edward Cullen. Não é justo que eu saiba seu nome e você ignore o meu.
Ele riu pela enésima vez em um dia.
— Ok, é justo, Bella Higgins.
Mais tarde, enquanto eu atualizava o catálogo da seção de poesia no sistema, minha mente vagava entre meu sorriso bobo quando ele tocou meus lábios com a ponta dos dedos ao se despedir e o sorriso bobo dele, quando acelerou a moto antes de partir.
E o livro que peguei para folhear na hora do intervalo não foi aleatório.
Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
a/n: Nossa Bella não conhece Charlie e tem o nome de solteira da mãe. O nome de solteira de Renée é Higginbotham. Puta nome feio. Então tentei dar uma... um, melhorada?
E deu pra notar que eu gosto de Cecília, né? ;)
Quero saber quem é seu contista/poeta favorito. Então... review e me conta?