Quantum escrita por bragirl2


Capítulo 7
Novo




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Capítulo 6 – Novo

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Definitivamente, eu não estava sonhando. O cheiro dele era bem real. As pontas dos dedos que desenhavam pequenos círculos em minhas costas eram bem reais. O arrepio que isso causava, também. Assim como o suave subir e descer do peito dele, que me movia por consequência.

Ainda de olhos fechados, sorri e repassei as lembranças mais recentes.

A alegria dele enquanto tomávamos uma ducha na praia, depois do banho de mar.

O silêncio muito mais confortável do que a pedra em que sentamos sob o sol para esperar que nossas roupas secassem no corpo.

O susto que tomei quando, distraída, senti ele tocar meu rosto de leve e dizer “é melhor a gente ir, antes que você fique mais rosa”.

A risada que Edward soltou quando apontei para o nariz dele e respondi que eu não seria a única a ficar cor-de-rosa.

Uma vez de olhos abertos, passei a observar o que estava em meu campo de visão. Na mesinha de centro, alguns dos sanduíches que preparei enquanto ele tomava banho e a roupa dele girava na secadora. No chão, o livro de poemas que ele folheava quando voltei do meu banho e que ele leu em voz alta antes de caírmos no sono.

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste. 

É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada.

É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.

É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.

Queria ficar o mais parada possível e prolongar ao máximo esse momento. Não conseguia ver o relógio, mas os raios sol que entravam fortes pela janela da sala mostravam que eu ainda tinha algum tempo até o começo do meu turno na livraria.

Bella...

Meu nome nunca soou tão bonito quanto naquele instante. A última sílaba longa, eterna. Bel-laaah.

Apoiei meu queixo sobre o peito dele, exatamente onde ouvia mais alto o pulsar. Achei que o encontraria acordado, mas não. Ainda cochilava, um suave traço de sorriso nos lábios.

Se ele acordasse naquele instante iria me encontrar encarando-o, como uma boba. Resolvi levantar com cuidado. O que não me impediu de continuar encarando-o como uma boba. Ok, eu precisava me ocupar com alguma coisa.

Cozinha. Levei de volta a travessa com os sanduíches que sobraram. Lavei a travessa. Espiei a sala e fiz cara de boba.

Quarto. Vesti a blusinha do uniforme. Olhei o espelho e arrumei o cabelo (de novo). Espiei a sala e fiz cara de boba (de novo).

Sala. Não resisti e voltei. Sentei no chão, de costas para o sofá e alcancei o livro à minha frente.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

— Bella...

Pelo tom, antes mesmo de me virar na direção daquela voz, eu sabia que ele não estava mais dormindo. O que não quer dizer que eu estivesse preparada para a cena à minha frente. Os olhos tão claros, mais do que antes, quando em contraste com o verde do mar. A expressão serena, mais do que momentos antes, enquanto dormia.

— Oi. — Foi só o que disse e, como não reconheci minha própria voz, fraquinha, tímida, parei. Sorri porque sabia que estava corando.

— Bonito seu cabelo assim.

— Preso assim?

Ele balançou a cabeça em sinal afirmativo e eu puxei mais os cabelos para trás, lembrando que tia Charlotte sempre critica quando eu os prendo. “Deixa solto, vai marcar”, ela diz.

Edward olhou o relógio.

— Minha nossa, você me deixou dormir esse tempo todo?

Notei que ele não falava sério, mas eu não ia deixar passar.

— Como assim, eu deixei? Desde quando você é responsabilidade minha? E no mais, eu dormi também...

— Ah, menos mal... Pelo menos não ficou me olhando enquanto eu sonhava aqui.

Por um instante pensei que ele tivesse percebido. Mas deve ter sido um chute.

— Sonhou? Com o quê?

Pergunta normal, nem um pouco enxerida. Quer dizer...

— Brincadeira, não precisa responder. — Emendei, rapidamente.

Edward riu.

— Era um pesadelo que tive outras vezes. Mas dessa vez... Acabou bem. Estranho. — Ele pausou, com a expressão de quem desvenda alguma coisa. — Bem, na verdade não lembro direito. Só sei que fazia tempo que não dormia assim.

— Praia cansa... Deve ser isso.

— Um hum. Deve.

Ele ficou em silêncio e eu fitava o livro, sem ler. Só sentindo a presença dele. Pensando no que ele tinha acabado de dizer.

Ele disse meu nome enquanto dormia. Seria comigo o pesadelo? Mas ele contou que não era a primeira vez que tinha tido aquele pesadelo... Não podia ser comigo. Por que eu estaria nos sonhos dele? Ou pior, nos pesadelos dele? Mas ele disse meu nome.

— Bella?

— Sim... — Respondi o que parecia um eco dos meus pensamentos.

— Por que você está no chão?

Ri e levantei. Mas antes de sentar ao lado dele no sofá, conferi o relógio.

— Droga.

— Você tem que ir trabalhar... — ele deduziu.

Só acenei com a cabeça, mordendo o lábio para não reclamar do emprego do qual eu gostava tanto.

— Eu posso levá-la. Se você quiser... — Ofereceu e levantou-se. Ele era tão alto.

— Na coisa?

Edward fingiu ficar ofendido, mas vi que ele segurava um sorriso.

— Não a chame assim... Ela nem está aqui para se defender. 

Ela? Acho que a velocidade está mexendo com seus neurônios, Edward... — Ri tentando disfarçar o quanto o nome dele, dito em voz alta, é que mexia comigo.

— Dá pra perceber tanto assim, é? — Disse, aproximando-se.

— Olha, eu ficaria realmente preocupada se fosse você.

Enquanto ele me encarava com um meio sorriso, visivelmente evitando alguma provocação, pensei no quão incrível era a mudança no semblante dele. De tão preocupado e cansado, algumas horas atrás, para contente e leve, agora.

— Tá, vou arriscar minha vida e meus neurônios na coisa, então. Está tarde, afinal de contas...

Quando chegamos, tirei o capacete e devolvi para ele.

— Se você não receber uma multa por andar por aí sem capacete... Vai ser um milagre.

— Ou o contrário. — Comentou colocando o tal acessório.

— Como assim?

— Digamos que já corri riscos piores, Bella...

— Higgins.

— Oi?

— Você dormiu no meu sofá, Edward Cullen. Não é justo que eu saiba seu nome e você ignore o meu.

Ele riu pela enésima vez em um dia.

— Ok, é justo, Bella Higgins.

Mais tarde, enquanto eu atualizava o catálogo da seção de poesia no sistema, minha mente vagava entre meu sorriso bobo quando ele tocou meus lábios com a ponta dos dedos ao se despedir e o sorriso bobo dele, quando acelerou a moto antes de partir.

E o livro que peguei para folhear na hora do intervalo não foi aleatório.

Responder a perguntas não respondo. 

Perguntas impossíveis não pergunto. 

Só do que sei de mim aos outros conto:

de mim, atravessada pelo mundo.

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Notas finais do capítulo

a/n: Nossa Bella não conhece Charlie e tem o nome de solteira da mãe. O nome de solteira de Renée é Higginbotham. Puta nome feio. Então tentei dar uma... um, melhorada?
E deu pra notar que eu gosto de Cecília, né? ;)
Quero saber quem é seu contista/poeta favorito. Então... review e me conta?



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