Quantum escrita por bragirl2


Capítulo 6
Riscos




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Capítulo 5 – Riscos

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— Pois é... Era isso? Posso voltar, então?

— Poder, pode. Mas uma vez ouvi que toda pessoa que sai de casa pela manhã, nunca mais volta. — Franzi a testa, intrigada. — Sempre volta outra, nunca a mesma.

Minha nossa.

No fundo eu sabia que, no meu caso, ele estava coberto de razão.

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Fiquei ali, parada na frente dele. Boquiaberta por tempo demais já se tornando constrangedor.

— Então... Pra ser honesto, não planejei isso. — Edward falou, tocando a nuca e inclinando a cabeça, pela primeira vez desviando o olhar.

— Ok... — Ele já está me dispensando? 

— Só trouxe um capacete... — Só com a menção do acessório me lembrei do que o porteiro falou. Motoqueiro. Huh.

Disfarçadamente, mas não tanto, prestei atenção à máquina parada na calçada, logo atrás dele. E era isso mesmo. Uma máquina. De tamanho e cor absurdos.

— Tá, você que dizer que a gente vai... naquilo?

— Claro. Onde mais?

— Não quer, sei lá, deixar a moto estacionada aí e dar uma caminhada?

Ele estreitou os olhos e deu um meio sorriso, debochado.

— Você está com medo, né? Mal acredito... — A última parte ele falou num leve suspiro.

— O quê? Não tem nada de mais em ter medo, viu? E isso nem bem é uma moto, esse... monstro.

Ele soltou uma risada, inclinando o corpo para trás. O som gostoso me convidava. Ri alto também.

— Bella... — Ele falou baixinho, olhando pra mim de um jeito que me fez querer chorar, de tão doce. — Vem cá.

Claro. Sempre.

Continuei muda enquanto ele colocava o capacete em mim. Quando apertou um pouco a fivela, as costas de suas mãos tocaram meu queixo e eu não fazia ideia que aquela parte do meu rosto fosse tão sensível. Tremi.

Nunca mais volta.

— Prometo que não vou correr, tá? — Disse, subindo na coisa.

— Humpf, era só o que faltava... — Provoquei, subindo também.

Ele sorriu e me mostrou onde era seguro apoiar os pés. Deixei os braços na lateral do corpo, as mãos segurando firme a parte estendida do assento, por tudo que era mais sagrado.

Mas quando ele acelerou, precisei combater a força que me empurrava para trás. Inclinei-me na direção dele e colei às suas costas.

Edward costurava as ruas numa velocidade que, pelo movimento dos pedestres e dos outros carros eu notei que não era tão alta, mas que já era suficiente para fazer meu estômago gelar.

Senti as costas dele vibrarem de leve e percebi que era porque ele falava alguma coisa. Com o capacete, eu ouvia tudo abafado.

— Desculpa, o quê?

Ele virou o rosto para o lado e repetiu.

— Disse que você pode relaxar... — Ele tirou a mão do acelerador e trouxe-a para trás. Só então percebi o que ele fazia.

Puxou de leve minha mão direita e apoiou contra seu abdômen. Arrepiei de medo e mais.

— Segura aqui. — Fiz como indicou e, quando passei o outro braço pela cintura dele, sua respiração profunda fez uma pressão contra o meu peito. Engoli seco e fechei os olhos. Fiquei um tempo assim, só respirando. O cheiro dele, aquele cheiro que eu vinha sentindo cada vez menos a cada noite, agora vinha mais intenso. Foi o que me acalmou.

Senti a brisa batendo no rosto e abri os olhos. A paisagem passando rápida, o frio na barriga a cada frear ou acelerar. Nas curvas ele inclinava o corpo e eu o acompanhava naturalmente.

Não era tão mal. Não, nada mal.

— Então, aonde vamos?

Eu já estava tão compenetrada que o destino pouco importava agora. O trajeto contava mais.

— Não sei. – Ri, embaraçada. — Achei que você saberia.

— Bem, quem sabe você me mostra um lugar de que goste? — A voz dele continha um tom leve, senti que ele sorria.

Mas, e agora? Um lugar que eu goste... Que tal bem aqui?

Olhei ao redor e percebi que nos aproximávamos da ponte que cruzava o mar e era a única saída da cidade. Ao menos por terra.

— Já sei. Atravessando a ponte tem uma saída à esquerda, do outro lado da pista. Tem uma praia, seguindo nessa direção.

Em questão de minutos estávamos lá. Uma praia com costões de pedra próximos um ao outro, protegida por coqueiros.

Ele parou e estacionou a moto, eu tirei o capacete, ajeitando o cabelo da melhor forma que pude. Ele me ajudou a descer.

Ao pisar no chão senti o corpo inteiro tenso, como se eu tivesse corrido o trajeto todo até ali. Enquanto caminhávamos pela areia, fui esticando os braços e as pernas discretamente.

— Tão ruim? — Ele perguntou sério, unindo as sobrancelhas.

Pelo visto, não tinha conseguido ser tão discreta.

— Não, não. Foi... legal.

Edward pareceu não acreditar. Sorri, tentando ser mais convincente.

Passamos por um grupo de crianças que brincavam à beira-mar. Quando chegamos ao costão, sentamos em uma grande pedra sob uma árvore e ele apontou para elas.

— É seguro?

— Sim, não estão no fundo. E o mar aqui é calmo.

— Não sabia que essa praia era própria para banho.

— Nossa, sério? Por acaso você não é daqui?

Tinha tanta coisa que queria saber dele que acabei disparando essa sem pensar antes. Edward observou em volta e depois fixou o olhar no horizonte.

— Realmente nunca tinha vindo a esse lugar. — Comentou, baixinho.

Pensei na ironia. Realmente, eu mal o conhecia. O que eu sabia sobre ele? Por que saí assim, do nada, sem questionar, com um cara que eu tinha visto... Quantas vezes na vida? Duas? Três? Tinha tanto que eu não sabia sobre ele.

Ao mesmo tempo, sentar assim ao seu lado era confortável, natural. Mas algo me incomodava. Ele, ele me intrigava.

Observei seu perfil, enquanto ele fitava o horizonte, parecendo estar tão perdido em pensamentos quanto eu.

É, havia muito que eu queria saber. Mas por onde começar?

— Com quem você costuma vir?

Pelo visto eu não era a única a estar curiosa.

— Pra ser honesta, fazia tempo que eu não vinha aqui. Mas quando era criança minha avó me trazia. Mais tarde, minha tia. Não sei, tenho boas lembranças desse lugar...

— É mesmo bonito aqui. Calmo.

— Bem, hoje sim. Nos fins de semana é mais difícil encontrar um lugar na areia...

Ficamos um tempo em silêncio, olhando as crianças brincarem.

— Sei que soa egoísta, mas quando o rapaz disse que você não trabalhava mais no café, fiquei... aliviado. — Disse, sem jeito, como quem confessa.

— É, eu também fiquei aliviada por sair de lá.

— Não é uma área muito segura, aquela...

— Até que não é perigoso, na verdade. Acho que na semana passada eu estava na hora errada...

— No lugar errado.

Ele interrompeu e eu o fitei, contrariada. E mais, se não fosse por aquele episódio, provavelmente não teríamos nos encontrado de novo.

— Bem, nada acontece por acaso... — Comentei. — Mas não saí de lá por isso. É que dois dias depois consegui outro trabalho... Em uma livraria. É muito mais interessante, pra dizer o mínimo. E fica perto de onde minha tia trabalha. Então quando faço o último turno, volto pra casa com ela.

— Que bom. — Edward disse, sorrindo. Em seguida respirou fundo e tornou a ficar sério — E seus pais, Bella? — Perguntou, baixinho.

— Um... — Ele me pegou de surpresa, mas eu tinha um discurso pronto que repetia de tempos em tempos. — Meu pai, não sei, não conheci. Minha mãe... vive numa clínica. Eu a visito duas, três vezes por mês... — Não que ela me reconhecesse ou fosse se lembrar da minha presença depois, mas eu tinha esperanças de que um dia, talvez, ela pudesse. — Então, eu tenho muita sorte de ter minha tia.

Sorri, acostumada a disfarçar o peso que esse assunto trazia ao meu peito.

Ele respirou fundo de novo e não acompanhou meu sorriso.

— E você? Os Cullen... São seus parentes, certo? — Falei sem pensar, ainda afetada pelo assunto incômodo de antes. — Quer dizer, todo mundo os conhece e a semelhança entre vocês... — Tagarelei, envergonhada.

Edward me olhou sério por tempo suficiente para me fazer corar e desviar o rosto. Poderia ter sido um segundo.

— É... São minha família, sim. — Disse num sussurro.

A voz dele carregava um quê de tristeza. Eu podia imaginar o porquê.

— Foi por isso que você disse que não sabia se voltaria? — Ele pareceu não entender. — Naquele dia, lá em casa. — Expliquei.

— O quê?

Seria possível que ele realmente ignorasse o muro que nos separava socialmente? Enfim, ele tinha voltado, afinal. Não valia a pena insistir.

— Deixa pra lá. Mas, me conta, você mora com eles? Acho aquele bairro tão irreal. Minha tia gosta de frequentar a praia lá. Quando vou com ela sempre sinto como se estivesse entrando numa bolha.

Eu realmente tinha que segurar a língua. Cobri o rosto com as mãos por um instante e continuei, com os olhos ainda fechados.

— Claro que não é a mesma coisa se você mora lá. Desculpa, não estou fazendo sentido, né?

Abri os olhos e relaxei ao ver que ele ria. De mim, mas tudo bem. Pelo menos não tinha ficado ofendido com meu papo ridículo.

— Moro lá, sim. É um tanto diferente do que você conhece, mas você tem razão. É uma bolha mesmo. — Disse, relaxando e reclinando-se sobre a pedra em que estávamos.

Alcancei um graveto e comecei a fazer riscos aleatórios na areia. Podia sentir os olhos dele em mim o tempo todo. Virei o rosto na direção dele e trocamos outro sorriso.

Eu podia me acostumar com isso. De um lado, o mar verde contrastando com o céu azul e a areia branca. E de outro, uma vista ainda melhor.

— Quer dar um mergulho? — Ele convidou.

— Um..., eu não vim de biquíni... — E mesmo que tivesse vindo, provavelmente não teria coragem de tirar a roupa assim, na frente dele. Lembrei que no sonho eu parecia bem confortável em um modelo nada discreto...

— E você acha que eu vim preparado pra cair no mar?

— Então, exatamente. Sem chance...

— Por quê? — Percebi que ele falava sério quando se inclinou para tirar os tênis e as meias.

— Você está falando sério.

— Claro. Quando foi a última vez que você fez alguma coisa só porque deu vontade?

Uma hora atrás? Queria responder.

Em vez disso, olhei enquanto ele tirava a camisa, antes de tirar meus sapatos também. Ao menos minha blusinha não é branca.

Aceitei sua mão, relutante. E quando a primeira onda atingiu meu pé, pensei seriamente em desistir.

— Tá, como vamos fazer isso?

Edward riu.

— Só conheço um jeito. — Disse, puxando-me mais para o fundo. Eu fazia força no sentido contrário.

— Uh... Acho melhor esperar na areia, sabe... Eu não sei nadar. — Confessei. Só em sonho.

Ele parou e inclinou a cabeça, em dúvida.

— Eu já salvei você uma vez, então... — Falou, convencido.

— Ei, ei, ei... Meio cedo pra fazer piadinhas sobre isso... — Tentei ficar séria, fingindo estar ofendida.

Mas quando ele caiu na risada, não segurei e ri também.

Olhei para baixo e percebi que a água já passava da minha cintura. Ah, quer saber...

Mergulhei e, enquanto deslizava sob a água, pensei que, apesar de semelhante, essa cena em nada tinha a ver com meu sonho.

A realidade era muito, muito melhor.

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Notas finais do capítulo

a/n: O que você está achando e o que gostaria de ler nessa história? Uma review sua pode matar minha curiosidade.
Obrigada, Lu, por confiar em mim mesmo quando tomo decisões meio malucas.
G, Bee, LeiliPattz... Vocês são uns amores.



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