Quantum escrita por bragirl2


Capítulo 5
Sonho




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Capítulo 4 – Sonho

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Água, água, água. Clara, transparente. Fria.

Não posso ver o fundo, mas isso não me aflige.

Eu solto bolhas de ar, seguro a respiração e dou mais uma braçada. Sinto meu corpo deslizar, submerso. Tão frio. Tão bom. Eu sei que não estou sozinha. Posso sentir a presença dele.

Subo à superfície.

E o vejo.

Dentro da lancha, o corpo molhado, inclinado na minha direção, com um sorriso enorme. Lindo. Eu sorrio também. E rio alto. Rio tanto, tanto, tanto que chega a me faltar o ar.

Eu me enxergo subindo na lancha. Ele me puxa com uma mão e passa o outro braço pela minha cintura. Mas eu não sinto o abraço. Ele se inclina e me beija. Mas eu também não sinto.

Estou observando de fora, de cima. E me afasto mais e mais. Até que nós dois somos duas formiguinhas lá embaixo.

Eu posso ver a praia daqui. Onde é isso? Caribe? Paraíso.

No paraíso, uma tristeza toma conta de mim.

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Acordei chorando.

Chorando de raiva. Em dez dias, dez sonhos. Sem brincadeira. Tá na hora de parar de dormir com essa camisa!

Que droga. Há dez dias, eu estava perfeitamente bem. Quer dizer, normal. Sei lá.

A imagem da capa daquela revista me veio à cabeça. “Recuperado do susto, clã Cullen aproveita as férias em Aspen.” Família conhecida, que morava no bairro mais badalado da cidade. Tão conhecida que eu devia ter notado a semelhança. Não que eu fosse leitora assídua de revistas de fofoca, longe disso, mas todo mundo na cidade sabia das aventuras de Emmett Cullen, único herdeiro da fortuna do pai industrial. O cara que bateu o carro – de novo – três meses atrás. Não se feriu, não machucou ninguém, mas a polícia viu que ele estava alterado. Bêbado, ou pior. Não foi preso porque se comprometeu a ficar internado em uma clínica de reabilitação. Teve alta um mês depois e foi para Aspen com os pais. Normal.

Levantei da cama com o corpo todo dolorido. Já estava virando costume acordar assim. Depois de um banho quente, que me ajudou a relaxar, coloquei na máquina a roupa suja que estava no cesto – a camisa, inclusive – e peguei um livro na estante.

Mal sentei no sofá, o telefone tocou. Atendi e nem tive tempo de dizer alô.

— Bella, é o Mike. Escuta, teve um cara meio esquisito aqui à sua procura. Nunca vi o sujeito na vida, mas ele falou como se a conhecesse. Achei que você devia saber.

Será que... Não podia ser. Ou podia?

— Oi, bom dia pra você também, Mike.

—Ah, é. Desculpa. Bom dia. Um... Então, a Jessica disse que já tinha visto ele antes por aqui, mas eu nunca vi esse cara. E sei que todos os seus amigos são meus amigos também, quer dizer... Ainda somos amigos, né? Pena que não deu certo pra você aqui. Quer dizer, fico contente pelo seu novo emprego, mas você faz falta aqui, sabe? Você não ficou, mesmo, brava comigo pelo que aconteceu aquele dia?

Minha nossa, ele não falava. Ele metralhava palavras.

— Já disse que não, Mike. Foi só um susto. Não saí por isso...

— É, você disse... Mas mesmo assim fico preocupado, sei lá... Olha, se você quiser voltar, a vaga é sua. Nem  esquente com meu pai, eu falo com ele. E sem turnos noturnos, claro. A gente contratou uma firma de segurança 24 horas, sabia? Falei pra você, né?

— Falou, sim, Mike... — O interfone tocou. — Olha só, tenho que desligar, outra hora passo aí pra gente conversar... Pra contar as novidades.

— Novidades?

— É, sei lá, modo de dizer. — O interfone tocou de novo. — Tá, tenho que ir. Obrigada pelo recado. Até mais.

Ele ainda falava alguma coisa quando desliguei. Paciência.

Meu coração foi à boca quando atendi o interfone e o porteiro descreveu quem me esperava na frente do prédio. Um motoqueiro que disse que me conhecia e pedia para falar comigo.

— Bem, ele... Não quer subir? — Ouvi o barulho abafado da conversa que se passava na portaria. Então, silêncio. Desligou?

O som do ar expelido contra o receptor e em seguida, a voz dos meus sonhos.

— Bella.

— S-Sim...?

— Edward. — Ele entendeu mal minha hesitação. Como se eu pudesse esquecer. —Não quero incomodar... Só vim aqui para saber se... se você está bem.

— Estou, estou.

—Ah, ok. Passei na cafeteria e um cara me falou que você não trabalha mais lá...  Desculpa insistir, mas... Tudo bem mesmo?

— Juro. — Falei em meio a um sorriso. — Dois braços, duas pernas e tudo. Escuta, você veio até aqui pra falar comigo pelo interfone? Anda, sobe aqui.

Ele demorou a responder. O suficiente para eu achar que tinha falado bobagem.

— Quem sabe... quem sabe... Você pode descer? A gente pode dar uma volta.

Olhei o relógio. Meu turno começaria em sete horas.

— Tá bom. Não demoro.

Desliguei e corri de volta para a área de serviço. Como já imaginava, a máquina ainda estava no primeiro ciclo. Antes de ir para o quarto, conferi o sol e o céu azul pela janela. Abri o armário e sentei no chão, olhando as roupas lá em cima, sem fazer ideia do que usar. Vestido? Não... Mas calça com esse tempo, nem pensar...

Tá, pare de se torturar. É só um garoto.

Vesti um short jeans e uma blusinha, o mais rápido que pude. Coloquei os documentos e algum dinheiro no bolso, tranquei a porta e desci as escadas respirando profundamente. Ele é só um garoto. É, só um garoto. Só um... Respira.

Saí do prédio e parei, abismada. Ele estava recostado à moto, uma das mãos segurando o capacete contra a perna. Dessa vez usava jeans escuros e camiseta verde. Parecia que o cabelo estava mais curto e mais claro. Tinha a barba por fazer.

Tudo isso notei pela visão periférica, porque meus olhos estavam fixos nos dele. Pesados, intensos. Aquela expressão de dor, como da última vez.

Como fiquei imóvel, ele veio até mim.

—Oi, — disse, baixinho. — Você tinha razão.

— O quê...?

— Dois braços, duas pernas... — Ele sorriu, o olhar ainda triste.

— Ah! — Tive que rir. — Pois é... Era isso? Posso voltar, então?

— Poder, pode. Mas uma vez ouvi que toda pessoa que sai de casa pela manhã, nunca mais volta. — Franzi a testa, intrigada. — Sempre volta outra, nunca a mesma.

Minha nossa.

No fundo eu sabia que, no meu caso, ele estava coberto de razão.

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Notas finais do capítulo

a/n: Se quiser conversar no twitter, sou @BraGirl2 lá. E só posto besteiras. Beijos para a Lu, que estava do outro lado do mundo se preocupando em betar esse capítulo. Bee & G, nem preciso dizer. Vocês sabem.



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