Quantum escrita por bragirl2


Capítulo 4
Flagra




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Capítulo 3 – Flagra

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Recuperei o ar e fui para a área de serviço. Alcancei o pote na prateleira e, antes de passar o produto, trouxe a gola da camisa ao rosto e aspirei fundo. O cheiro delicioso do agasalho dele, que eu ainda vestia, estava ainda mais concentrado naquele ponto da camiseta. Uma fragrância que preenchia o ar e deturpava meus sentidos.

Foi então que ouvi um grito vindo da cozinha.

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— Bella!

Larguei o que tinha nas mãos e saí correndo para a cozinha. Tia Charlotte estava parada na entrada do apartamento. Com os olhos arregalados, fitava o lindo garoto sem camisa parado do outro lado da mesa.

— Oi, tia... É... Esse é o Edward.

Ela continuou feito uma estátua, a porta ainda aberta.

O rosto dele já passava do tom de vermelho se tornando quase roxo de vergonha. Rapidamente tirei o agasalho – eu já não tinha frio – e entreguei a ele. Edward vestiu o casaco e puxou o zíper até quase a base do pescoço.

— Ele me acompanhou até aqui e eu derramei chá na camisa dele, veja que desastrada – eu ria de nervosa. – Mas acho que vou conseguir tirar a mancha... – tagarelava, sem conseguir abstrair a tensão que pairava no cômodo.

Percebi então no rosto de tia Charlotte uma feição divertida que eu conhecia bem. Ela subitamente virou-se para encostar a porta.

— Bem, muito prazer, Edward. Eu sou Charlotte, tia da Bella – ela estendeu a mão para ele quando tornou a virar, abrindo um sorriso cativante e exibindo os dentes perfeitamente brancos.

— Prazer em conhecê-la. – Edward respondeu educadamente ao apertar a mão dela e deixou os olhos caírem ao chão. Parecia morto de vergonha.

Depois ergueu o rosto em minha direção e voltou a falar em uma voz sussurrada.

— Bella, agora que você já tem companhia, eu posso ir.

— Você não precisa...

— Preciso – ele me interrompeu – Obrigado pelo chá.

— Eu... obrigada por hoje, por tudo – eu ia dizer por me salvar, mas não queria falar demais.

— Não precisa agradecer – ele disse, dirigindo-se à porta. Eu o acompanhei.

— A gente se vê de novo? – questionei num súbito atrevimento.

Ele pareceu enrijecer à minha pergunta.

— Posso tentar voltar – ele fez uma longa pausa enquanto fitava meus olhos. Por um instante esqueci que não estávamos mais a sós. – Toma cuidado, por favor. – implorou.

Fiquei mais uma vez sem palavras. Só quando o observei descendo as escadas rapidamente, é que me lembrei.

— Espera! A sua camiseta!

Mas ele já tinha ido. Suspirei e fechei a porta. Ao tornar à cozinha, deparei-me com os olhos zombeteiros de minha tia.

— Então... Não sei nem por onde começar... – ela disse, com um sorriso maroto nos lábios.

— Tia, então nem comece.

— Ah, Bella. Você sabe que não vou conseguir deixar essa passar! Como é que você arruma um amigo desses e não me fala nada? Não vai dizer que se esqueceu de comentar, não é? Ele não é do tipo que alguém possa esquecer, se é que você me entende... – agora ela ria abertamente, numa gargalhada baixa e melódica.

Ela podia ser inconveniente, mas fazia um excelente trabalho em quebrar a tensão e me divertir.

— Humpf – bufei, tentando manter a seriedade, mas vi que ela não ia facilitar as coisas para mim. – Tia, não é nada disso. Eu o conheci hoje.

— Minha nossa! Jura? Menina, você é rápida...

— Tia, não é nada disso, por favor... – eu repetia sem parar, como uma criança mimada.

Fui para o quarto, mas ela me seguiu.

— Nesse caso, eu acredito que tenha que ter um papo de tia para sobrinha com você... – avisou.

— Ai, meu Deus! – exasperei, jogando-me de bruços na cama, com o rosto enterrado no travesseiro. Senti o colchão se mover de leve quando ela sentou.

— Querida, não há problema nenhum quanto a isso. Somos mulheres poderosas e independentes. Mais independentes que poderosas, né? Ah, o que quero dizer é que mais do que sua tia, sou sua amiga. Pelo menos gosto de pensar assim. Podemos até pendurar algum aviso na porta. Ou uma meia! Minhas amigas da faculdade faziam isso. Eu não me importo em voltar aos tempos de estudante. Além do mais, você é uma garota responsável. Tem idade o suficiente e, principalmente, tem maturidade. Mas é preciso tomar algumas precauções...

Lá-lá-lá-lá... Essa conversa não está acontecendo... lá-lá-lá. Eu entoava na minha cabeça como uma distração para não morrer de embaraço naquele exato momento.

 — Tia. Tia, tá. Agora. Sério. – Interrompi antes que ficasse pior. – Eu o conheci hoje! Sei que você teve a impressão errada ao dar de cara com ele sem camisa no meio da casa, mas juro que não é o que você está pensando – eu estava ofegante, não conseguia disfarçar a vergonha. Ela riu. – Eu realmente derramei chá na camiseta dele. Espera. – Levantei-me de súbito, busquei a peça de roupa na área de serviço e voltei em dois segundos. – Olha só! É uma mancha de chá. Não era uma desculpa esfarrapada.

Tia Charlotte avaliou meu rosto por alguns instantes.

— Tudo bem, querida, eu entendo – ela não parecia acreditar, mas amenizou a expressão zombeteira. – Mas o que ele estava fazendo aqui, afinal? Se vocês não são amigos...

Franzi a testa, sem saber se poderia dar essa resposta.

— Bem... ele... estava preocupado comigo... – eu hesitava. Não queria contar a história toda para não afligi-la, mas também nunca tinha mentido para ela. – Eu precisei fechar a cafeteria hoje.

— Você o quê? Sozinha? E o Mike? – Agora ela parecia brava.

— Bem, ele me pediu como um favor...

— Ah, eu pego aquele garoto! Bella, você sabe como é perigoso para uma menina andar por aí uma hora dessas da noite? Ainda por cima sozinha, lidando com dinheiro. Você teve sorte de não ter sofrido nada!

Ela tinha razão. O fato de ele ter aparecido foi mesmo muita sorte.

— Pois bem, tia, justamente por isso Edward ficou preocupado e me acompanhou até em casa. E fez questão de ficar comigo até que você chegasse – falei em um fio de voz, quase um sussurro. Esperava que ela não percebesse minha omissão. – Daí eu derramei o chá, você chegou e foi aquela confusão.

— Ah, querida! Eu realmente a tenho deixado sozinha por muito tempo, não é?

— Tia, eu não me importo – retruquei de bate-pronto. Ela pareceu não me ouvir.

— É que lá no hotel está uma loucura! Verão, você sabe, não é? Um evento atrás do outro... E eu tenho que cuidar de tudo – ela reclamava, mas eu sabia que era da boca pra fora. Os olhos estavam cheios de culpa enquanto ela afagava minha mão. – Olha bem, acho até que estou mais magra, não paro nem para comer! – de pé, ela percorreu a outra mão pela fina cintura olhando para o espelho do armário.

— Tia, você está linda – era algo tão óbvio que eu nem precisava dizer. Ela tinha um corpo de colocar inveja em muitas garotinhas. Em mim, inclusive. – E eu não me importo, realmente gosto de ter o apartamento só para mim de vez em quando – ri para confortá-la.

— Bella, tive uma ideia! Você tem esse fim de semana de folga, não é?

Assenti, contente pela súbita virada no humor dela, agora mais aceso, como costumava ser.

— O que você vai fazer amanhã?

— Hmm... Preciso fazer compras e estou pensando em ver a m-... Renee.

Observei a feição de tia Charlotte desabar um pouco. Ela não costumava visitar minha mãe e a mera menção ao assunto a chateava.

— Só um minutinho – ela disse, indo em direção à cozinha.

Quando voltou, trazia o celular do trabalho em uma mão e o potinho com os petiscos na outra. Sentou novamente ao meu lado e vi que ela checava a agenda, ao mesmo tempo em que mordiscava uma castanha.

 — Amanhã eu tenho o encerramento de um seminário e vai ficar complicado escapar do hotel. Fechamento de conta, check-out dos hóspedes... Mas, hmm... Domingo eu posso aparecer lá só no final da tarde. Ah! – os olhos dela brilharam. – Bella, o tempo deve voltar a esquentar! Podíamos passar o dia na praia, que tal? Se a previsão errar, podemos ir ao cinema.

— Tia, realmente não precisa se sacrificar.

— Meu amor, desde quando passar um dia com a minha sobrinha do coração é sacrifício? – ela virou-se de frente para mim, bem séria – Você está crescendo, tornando-se essa pessoa maravilhosa que eu sempre soube que seria e eu quero mais tempo com você. Antes que você me abandone por um descamisado e a gente nunca mais se veja! – ela fez cara de choro e me deu um abraço apertado.

— Tia, eu não vou te abandonar por um descamisado...

— Meu bem, se for aquele descamisado, eu não vou culpar você.

Rimos juntas. Eu realmente apreciava o esforço dela. Tia Charlotte era uma companhia muito divertida. Uma pessoa como poucas.

Ela realmente me inspirava a querer ser melhor. Eu tinha que começar a faculdade. Não podia viver de favor na casa dela para sempre, por mais que ela fosse como uma mãe para mim. A melhor mãe que eu poderia ter.

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