Quantum escrita por bragirl2


Capítulo 20
Passagem




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Capítulo 19 – Passagem

— Você me procura. – Quis deixar claro antes de ir embora. Por mais que doesse, eu não iria forçar minha companhia.

Ela acenou sorrindo e deu boa noite.

Despedi-me também e fui para casa, sabendo que não tinha como voltar atrás. Já tinha apostado todas as fichas.

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O surpreendente é que ela procurou. Ligou no dia seguinte e dois dias depois fui assistir seu treino de equitação, o que viria a se tornar rotina.

Passamos a semana de férias de inverno juntos também. Quando as aulas voltaram, pedi transferência para estudar na turma dela, no período da tarde. Pouco tempo depois, finalmente fui apresentado aos pais dela.

Certo dia, não muito antes disso, estávamos em casa quando Emmett e Rose chegaram de São Paulo. Nós dois ríamos com Carmen na cozinha quando eles entraram.

— Carmen, iogurte natural ou com mel?

— Ah, essa é fácil! Com mel, né, Edward?

Bella riu.

— Ah, Carmen! Assim não vale... Você sabe que não gosto de mel.

— Mas por que você pergunta? – Carmen quis saber e foi Bella quem respondeu.

— A gente estava horas discutindo isso... Eu gosto mais de mel, ele prefere natural.

— MIL VEZES NATURAL! – A voz de Emmett entrou em casa antes dele.

— Isso! – Virei-me para cumprimentá-lo e ele ergueu a mão num gesto como quem diz "toca aí". Rose entrou na cozinha naquele momento com um sorriso e fez questão de me envergonhar perguntando se ela era "a famosa Bella" e outras coisas do tipo.

Bella riu com graça e relevou. Pareceu um tanto tímida na presença deles, é verdade, mas Emmett deu uns olhares na direção de Rose que a fizeram maneirar na atitude.

Estar assim na presença dela e da minha família era o máximo. Mais do que eu podia pedir, melhor do que eu podia imaginar. O fato é que eu havia atingido aquele estágio em que não havia o que melhorar. Eu não podia ser mais feliz do que naquele momento.

Meses depois de começarmos a sair, eu estava mais uma vez na hípica para acompanhar uma competição dela. Apesar de todos os bons momentos que vínhamos compartilhando, eu me lembro de estar muito tenso. Uma ansiedade que me assolava fazia alguns dias e que só fazia crescer.

Pensei que as coisas deviam estar relacionadas, devia ser exatamente isso. Eu devia estar com medo de perder a fonte da minha felicidade.

Como exercício para aplacar os nervos, visualizei o pior cenário possível. O que, de mais infeliz, poderia ocorrer naquele momento. A pior coisaque eu poderia enfrentar.

Eu ia pedi-la em namoro. Ela podia dizer não. De novo. Poderia se arrepender do que falamos naquele dia. Uma conversa apaixonada no calor do momento, em que estávamos nos braços um do outro, no barco ancorado de frente para a ilha, o paraíso esperando por nós. Afinal, não havíamos tocado no assunto depois daquilo.

Para encontrar forças, deixei a mente vagar e voltar para aquele dia.

Era o início da primavera, um dos primeiros fins de semana de calor do ano. Emmett havia oferecido o barco dele para darmos um passeio. Enquanto seguíamos em direção à ilha mais bonita que eu conhecia, distraí-me observando o mar. Quando olhei para o lado, tomei um susto.

Bella estava ainda mais pálida do que já era. A pele tinha um tom esverdeado que me preocupou. Ouvi uma rápida orientação do marinheiro que conduzia o barco e levei-a para a cabine, onde ela tomou um refrigerante para estabilizar o estômago e um remédio para enjoo.

Em seguida deitamos e não demorou muito para que ela pegasse no sono. Observei-a recostada em mim, senti sua pele macia e suspirei profundamente. Aquela não era a primeira vez em que me deparava travando uma brava luta interna. Violenta e inútil.

Ela se mexeu ao meu lado e eu olhei para baixo, para o rosto dela reclinado em meu peito.

Sentia-me como uma marionete nas mãos de uma tríade composta por forças opostas. Meu corpo, que queria muito mais dessa proximidade, dessa intimidade que ela me oferecia. Minha mente, que me imperava esperar pela oportunidade mais apropriada, que contemplava assumir um compromisso com ela primeiro.

E meu coração, que queria as duas coisas. Queria muito, tudo com ela, mas sentia também todo o receio da incerteza de que o que ela me oferecia não era tudo o que eu precisava; que não éramos compatíveis quanto ao que queríamos um do outro. Ela parecia indiferente e eu enxergava nossa distância. Para ela isso não podia importar menos. Já para mim...

— Ah, Edward... – o sussurro dela interrompeu meu fluxo de pensamentos. Ela murmurava meu nome, em sonho, a meio caminho da consciência. Em seguida abriu os olhos.

A expressão que ela sustentou ao encontrar meu olhar era suficiente para arrancar a sanidade de qualquer homem, em qualquer parte do universo. Tomei os lábios dela nos meus não querendo pensar em mais nada. Para meu azar, ela retribuiu o beijo com fervor.

Em todas as vezes que estivemos assim tão próximos, havia uma peça fora do quebra-cabeça. Uma peça essencial. E naquele dia eu voltei a tocar no assunto.

Mais tarde, enquanto nadávamos no mar de um verde perfeito, conversamos sobre nossos planos, sobre o que aconteceria quando (e se) eu fosse estudar em São Paulo. Perguntei se teria uma namorada para visitar na cidade, ela apenas sorriu. Mas não disse não.

Lembrar aquele dia só me deixava mais incerto. Por que ela evitava tanto um compromisso? Seria porque ela não me levava a sério? Ou achava que não devíamos levar a sério? Que era cedo demais?

Ela podia dizer não.

E eu precisava estar preparado para esse cenário. Para não deixá-la desconfortável. Para aceitar que nosso destino se realizaria em outro momento, em uma realidade em que ela estivesse pronta. Ela era a prioridade, não o namoro. Era algo que eu queria, sim, dar um passo no nosso relacionamento. De certa forma, protegê-la antes de qualquer coisa.

Mas esse passo podia esperar. Sobre essa parte eu ficava mais temeroso, mas eu tinha a concentração, a meditação e a técnica shaolin a meu favor. É a mente que comanda o corpo, afinal. Eu não era nenhum monge tibetano, mas usaria meus cinco anos de treinamento para coordenar isso da melhor forma. Eu não ia explodir de verdade, afinal...

Tudo bem, eu estaria preparado se ela dissesse não. Não ficaria abatido. Apoiaria qualquer decisão que ela tomasse.

Enquanto eu deliberava sobre tudo isso, as provas já tinham começado. Ela saiu do estábulo em direção à pista montada em Arqueiro. Naquele instante meu coração galopou dolorosamente. Sensação estranha. Eu já havia buscado – e resolvido internamente – a causa de minha ansiedade. Por que, então, não conseguia atenuar o aperto no peito? Ela desceu da garupa e acenou para mim, para que eu me aproximasse. Cheguei até a cerca e ficamos frente a frente.

— Estou nervosa – ela disse, esfregando as mãos uma na outra, a expressão dura.

— Oh, meu bem... – eu estiquei o braço para buscá-la e a envolvi em um aperto – É a milésima vez que você participa de uma prova como essa... Por que isso agora?

— Não sei! – ela exasperou, reclinando a cabeça para trás para encontrar meus olhos – Eu estava bem até buscar Arqueiro. Ele está tão inquieto... Fiquei insegura, pode?

Eu ri e tomei seu rosto entre minhas mãos, fitando os olhos dela.

— Você não precisa competir se não quiser, sabe disso.

— Mas eu quero – havia certeza na voz dela.

— Então vá até lá e mostre o que sabe – beijei o alto da testa dela, respirando em seus cabelos. O gesto que sempre me acalmava, agora fez minha garganta pulsar. Ela expirou profundamente contra meu pescoço e falou.

— Só você para me tranquilizar, amor.

Ela disse a palavra tão baixinho que por um segundo duvidei dos meus ouvidos.

— Você é a melhor amazona do mundo. Prove a eles.

— Só se for do seu mundo! – Bella brincou, com um sorriso divertido nos lábios.

— No meu mundo, você é a melhor em tudo – garanti.

Colei meus lábios nos dela pelo mais breve dos instantes. O som do alto falante roubou nosso momento. O locutor anunciou a categoria dela.

— Você sabe – ela disse, com o mais belo dos sorrisos. Não dizíamos o que sentíamos um ao outro, mas eu sabia.

— Você também.

Enquanto ela se afastava, nossos braços se esticaram para prolongar o contato, até que nossos dedos se separaram. Voltei para a arquibancada.

Havia, afinal, motivos para ser ainda mais feliz. Ela podia ganhar a competição e a alegria dela seria meu júbilo. Comemoraríamos durante o jantar que eu havia planejado.

Ela podia dizer sim.

Com o otimismo recuperado, observei a pista. A primeira garota passou pelos obstáculos sem grandes deslizes.

Bella deve ter ficado mais nervosa depois disso. Ela era a próxima.

Arqueiro completou os primeiros saltos com perfeição e ganhava velocidade para enfrentar o obstáculo mais alto e mais difícil. Foi tão rápido que eu teria perdido se tivesse piscado.

Eu queria, do fundo do coração, ter piscado.

Arqueiro refugou o último obstáculo, empinando agressivamente. O capacete de Bella soltou e ela caiu da montaria. A cabeça foi a primeira parte dela a tocar violentamente o chão.

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Notas finais do capítulo

a/n: Bom domingo e até semana que vem. Deixe uma review se quiser me xingar ou pedir um teaser do próximo capítulo. :)



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