Quantum escrita por bragirl2


Capítulo 19
All in




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Capítulo 18 – All in

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— Peraí, achei que essa pedra era verde!

Estávamos no carro e, de leve, ela puxou do volante minha mão direita para ver de perto. Tentei disfarçar a reação que o toque dela provocou.

— Ah, você notou? É... – Eu fiquei sem jeito de ela ter visto o bracelete esquisito que eu levava no pulso. Era prateado, fino, mas nada discreto. No formato de algo parecido com uma libélula, levava no centro uma rara gema de Alexandrita. – Era do meu pai.

No dia anterior, Dr. Banner havia me apresentado uma versão natural e bruta da pedra. Uma relíquia com mais de cinco quilates. O que ele revelou sobre ela me perturbou profundamente.

"Carlisle adquiriu essa raridade na Rússia, há muitos anos. A propriedade de rápida resposta à mudança ambiente que essa pedra apresenta é resultado da concentração de cromo."

Percebi que Bella havia abandonado o ar de brincadeira e assumira um tom solene.

— Desculpa, eu não queria... É só que... Eu reparei quando você puxou a manga do casaco durante a aula e agora mesmo, bem...

Eu nunca tinha visto Bella tão sem jeito. Reduzi a velocidade.

— Ei, ei... Não tem problema. Eu comecei a usar essa coisa esquisita hoje, sei lá. Lembrei dele ontem e andei remexendo umas caixas lá em casa. Ele nunca tirava esse bracelete.

Ela acenou com a cabeça, pensativa.

— É só que, mais cedo achei que a pedra era verde. Agora está... violeta?

Sorri. A capacidade de mutação, além de fascinante, tinha tornado aquela pedra preciosa um elemento central da pesquisa maluca do Dr. Banner.

— A pedra muda de cor.

— Tem a ver com seu humor? – Ela parecia envergonhada da própria curiosidade. Era adorável.

— Na verdade tem a ver com a luz. Ela reage ao sol e às lâmpadas fluorescentes, como as da sala de aula, ficando verde. Aqui está mais escuro, então fica lilás, violeta.

Fui tomado por uma memória remota. Uma cena do tipo que eu em geral bloqueava como mecanismo de defesa. Estávamos em frente à lareira em casa, nós quatro, sentados no chão em volta de um grande quebra-cabeça. Meu pai esticou o braço para alcançar uma peça e percebi a gema vermelha, bem no meio do bracelete reluzente.

"Papai! Olha só a cor!"

Dedos pequeninos tocando a bola cor-de-fogo do bracelete no pulso dele.

"Ah, Edward... Essa é uma pedra mágica!"

A risada de Emmett ao fundo.

A voz de minha mãe.

"Carlisle... Não fique inventando essas histórias pra ele."

A voz de minha mãe.

A voz de minha mãe.

Senti o coração apertar. E em seguida foi minha mão.

— Edward? Edward?

— Ah, oi. – Olhei para baixo, a delicada mão dela envolvendo parte da minha. Fui tomado por uma sensação boa, um alívio imediato.

— O sinal abriu.

— É mesmo. – Sorri olhando para ela e entrelacei nossos dedos.

Pela primeira vez agradeci mentalmente pelo câmbio automático do chamativo carro de Emmett. Fomos até a casa de Peter de mãos dadas.

Não nos desvencilhamos ao chegar. Nem ao sair de lá algumas horas mais tarde. Claro que os caras me olharam esquisito. Mas não falaram nada. Randall e a noiva não foram. Quando perguntei sobre a namorada de Vlad, Garrett meneou a cabeça rapidamente, erguendo os ombros e as sobrancelhas.

Entendi na hora e me arrependi antes mesmo de ouvir a resposta.

— Cara, – disse Vlad – a gente andava brigando muito ultimamente. Tá pra nascer uma garota mais ciumenta.

O jeito que ele falou transmitia saudade. Brigas ou não, senti que ele estava chateado. Não toquei mais no assunto.

Sem nenhuma garota na nossa reunião além dela, achei que Bella ficaria acanhada. Como eu estava enganado.

Não esboçou reação quando meus amigos falavam um palavrão e riu das piadas deles. No início demorou a entrar no jogo, dava fold na maioria das mãos, a não ser que tivesse pagado o big blind. Não demorou muitas rodadas para que eles a respeitassem como uma jogadora tight.

Mas um pouco antes de irmos embora, ela entrou em uma mão com Peter. Aquele cara era um blefão e eu sabia muito bem. E era debochado. Com um sorrisinho no canto da boca, aumentou o pote. Sussurrei um "pega leve" e ele entendeu. Bella ouviu também – estava sentada bem ao meu lado, com a mão ora na minha, quando eu não estava na jogada, ora repousando sobre o meu joelho, quando eu precisava contar fichas – e me olhou por um instante.

— Flush ganha de sequência, né? – Embora já tivéssemos tido aquela conversa antes, ela quis confirmar antes de aumentar a aposta de Peter com um all in.

Eu olhei ao redor. Eleazer deu de ombro e Garrett fez sinal afirmativo, como quem diz, beleza, pode falar, é inofensivo.

— Isso mesmo. – Disse a ela, com um sorriso tenso. O pote era o mais alto até aquele momento e o flop tinha três cartas de espadas, o Ás, o dez e o dois. Mas tinha também o rei de ouros, a dama de copas. Havia jogo tanto para a sequência, com valete, quanto para o flush de espadas.

Peter devia ter o valete. Ele correu e Bella recolheu as fichas, sorrindo satisfeita.

Garrett e Eleazer aplaudiram a jogada.

— Ah, só porque eu não tinha nada... – desculpou-se Peter.

Bella olhou para ele e mostrou as cartas para mim. Ri alto. Em seguida ela abriu na mesa o Às de copas e o nove de ouros.

Os caras riram, até Peter, dizendo que tinha provado do próprio veneno.

Como saímos bem antes do fim do jogo, esperei mais algumas rodadas e só me despedi depois que Bella tinha perdido uma mão para Garrett. Só para voltar algumas daquelas fichas todas... O jogo era barato, ninguém ganhava ou perdia mais do que algumas dezenas de reais, mas essa era uma prática de cavalheirismo que mantínhamos.

Havia uma brisa fria vindo do mar, ainda assim Bella sugeriu um passeio na praia. Estava vazia, mas os holofotes eram mantidos acessos. Protegi nossas mãos entrelaçadas no bolso enquanto caminhávamos.

— Quer dizer que você sabia jogar o tempo todo e só estava tirando onda comigo antes, fazendo todas aquelas perguntas sobre jogadas, pot odds...

Ela riu.

— Não, não... Fazia mesmo tempo que não jogava. E aquele seu amigo, o dono do apartamento, ele estava de sacanagem. Todos vocês viram. Quando ele ganhou aquela rodada contra você, sabe? Aquela da trinca, em que você tinha dois pares?

— Sei.

— Uh, aquilo me subiu o sangue. Acho que quis descontar.

Parei, rindo, na frente dela. Aquela garota era surreal.

— Você o quê?

— Fiquei lendo as jogadas dele e os trejeitos que você comentou, até achar uma oportunidade, e...

— Bella, – minha voz estava mais sóbria novamente – o Peter é sempre assim. É só questão de tempo. Mais uma hora de jogo e ele vai tiltar. Em geral, o Garrett e o Eleazer ficam com todas as fichas dele. É de praxe.

— Ah. Sério?

— Claro! Mas não, nada sério. Esse jogo que a gente faz é mais pra se reunir, descontrair.

— Puxa, estou me sentindo uma boba agora. – Ela levou a outra mão à testa.

— Deixa disso. Gostei de vê-la jogando. – Acrescentei, mais baixo, como se fosse uma confissão. Estava agradecido por ela ter vindo comigo, querendo dizer tantas outras coisas com aquelas simples palavras...

Ela sentiu a mudança no meu humor e se aproximou mais.

— Adorei ter vindo... jogar com você.

Bella mordeu o lábio para conter um tímido sorriso e, por tudo no mundo, eu não podia mais esperar.

Selei os lábios nos dela. Nossas mãos continuavam entrelaçadas. Com a outra, eu afagava a pele macia daquele rosto com a ponta dos dedos. Ela entreabriu os lábios, permitindo-me aprofundar o beijo. A sensação era inédita para mim, como se eu nunca tivesse beijado antes. O coração parecia querer saltar do peito.

Ansioso por checar a aprovação dela, interrompi o contato entre nossas bocas. Mas não tinha a mínima vontade de deixá-la. A inibição me obrigou a ficar de olhos fechados, nossos rostos a centímetros de distância. A respiração dela crestava minha pele. Senti a ponta do pequeno nariz gelado roçando no meu com delicadeza, como se me convidasse a abrir os olhos.

Foi o que fiz. Ela soltou uma risada baixa, divertida. Aquele som era para mim a mais bela música. Mantive a expressão séria, experimentando uma nova fome que sentia por ela. Assim como foi com as mãos, horas atrás, agora eram meus lábios que não aceitavam qualquer distância dela. Mais do que de oxigênio, eu precisava respirar seu hálito doce. Os lindos olhos caramelo eram um espelho de tudo o que eu sentia. Apoiei-me nisso para avançar.

Encontrei de novo os lábios dela, dessa vez sem a hesitação de antes. Ergui nossas mãos dadas a apoiei-as entre nós. Movi a mão que estava em seu rosto para a nuca. Ela respondeu repousando a palma na base das minhas costas. Nossos corpos nunca tinham estado tão próximos.

Dessa vez foi ela que deteve o beijo. Aninhou-se em seguida em meu peito e eu deslizei a mão da nuca para as costas, apertando-a suavemente contra mim. Ela tremeu.

— Vem cá, vamos para o carro – convidei, dando um beijo na testa dela e aspirando profundamente o gostoso aroma dos cabelos.

Andamos lado a lado em silêncio até o estacionamento e eu abri a porta do carro para ela. Enquanto contornava a frente para ir até minha porta, notei um automóvel próximo à esquina, parado na sombra entre as luzes de dois postes. Uma BMW preta. Relaxe, pensei, vou levá-la para casa agora.

Eu não precisei propor. Assim que liguei o carro ela se espantou ao ver o horário no relógio do painel.

— Não imaginei que fosse tão tarde.

— Você ainda está dentro do limite do toque de recolher – brinquei. – Mas é melhor irmos agora.

Ela sorriu, mas notei uma tensão no ar. Ficamos em silêncio durante o curto trajeto e Bella olhava pela janela. Lá fora não havia nada além da rua, da escuridão da noite.

Parei o carro quando chegamos à casa dela.

— Amanhã vou surfar com uns amigos... O Jasper, aquele que estava comigo na hípica no domingo, é um deles. Talvez você queira ir. Não é o melhor dos programas para um sábado de manhã...

Bella me interrompeu.

— Edward...

— E provavelmente vai estar um pouco frio, mas...

— Edward.

— Você não pode.

— É, aos sábados trabalho no instituto social... À tarde tenho treino de equitação.

— Domingo?

—Em geral é o dia dos eventos da minha mãe... Que sempre acabam me envolvendo. Quando não tenho competição... – ela disse com desdém.

— Sua agenda é concorrida...

Ela pareceu ter notado o desânimo em meu tom.

— Eu não posso namorar, Edward.

— Você não é mais criança, Bella. – Tentei ser brando, mas pela reação dela percebi que tinha fracassado. – Estou disposto a conversar com seus pais, a conhecê-los. Bem, aposto que eles estão esperando que uma hora ou outra você se interesse por alguém. É natural. – Sorri, tentando amenizar.

Ela permaneceu calada.

— A não ser que... A não ser que esse alguém não seja eu.

Isso pareceu tê-la despertado para a conversa.

— Não, Edward, não é isso. – Ela levou a mão ao meu rosto, o que me confortou mais do que eu gostaria. – Gosto de você. Muito. Mas não preciso complicar minha vida agora. Certamente não quero complicar a sua. Namorar seria complicado.

— Eu entendo. – Na verdade, não entendia nada. Mas não queria forçar a barra. E meu orgulho já havia sido ferido.

Que virada. Há poucos minutos eu estava nas nuvens e agora...

— Claro que isso não quer dizer que nós precisemos parar de nos ver... Acho que é até mais interessante, né? Para a maioria dos garotos.

Respirei fundo.

— Bella... Sei que a gente se conhece há pouco tempo. Mas já conversei coisas com você que... Nem com meu irmão, ou... Bem, o que eu quero dizer é que não sou como a maioria dos garotos. Sim, eu gostaria de namorar você. – Senti meu rosto esquentar com a confissão. – Mas posso esperar.

Eu aceitaria qualquer condição.

— Não fique chateado comigo. – Ela fez biquinho.

Rindo, relevei.

— Não estou. Vem cá...

Puxei-a contra mim e, de leve, tomei seus lábios ainda franzidos. Quando ela relaxou, beijei-a com gosto, como se fosse convencê-la.

Uma ilusão.

— Você me procura. – Quis deixar claro antes de ir embora. Por mais que doesse, eu não iria forçar minha companhia.

Ela acenou sorrindo e deu boa noite.

Despedi-me também e fui para casa, sabendo que não tinha como voltar atrás.

Já tinha apostado todas as fichas.

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Notas finais do capítulo

a/n: Boa semana e até domingo que vem! Nosso pot está um pra um, 1 review vale 1 teaser. ;)