Quantum escrita por bragirl2


Capítulo 16
Multiverso




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Capítulo 15 – Multiverso

— Didática não é meu forte. Se fosse, eu não me enfurnaria no laboratório de uma fábrica, – havia desprezo na voz dele – estaria em Princeton, ou até na Universidade da Pennsylvania, lecionando na pós-graduação e me permitindo mais devaneios teóricos, o que é o sonho de todo físico, você deve entender.

Minha expressão confusa e ressentida deve ter servido como resposta para ele. Dr. Banner andava de um lado ao outro do laboratório, com a mão segurando o queixo como se ele fosse cair e uma expressão que deixava os olhos tão estreitos que poderiam estar fechados.

— Mas, tudo bem – ele continuou. – Você parece não ser assim tão burro e há alguma curiosidade genuína em suas intenções, posso ver... – então eu não era o único analisando ali. – Vamos começar do menor para o maior. A teoria quântica é o estudo de tudo que há de menor na natureza, das pequenas partículas que compõem o tudo, o universo. Você entende?

Assenti com seriedade.

— E o que há de menor no universo? – ele perguntou, claramente me experimentando.

— Os quarks – essa parte eu lembrava, do livro azul e das aulas que havia revisto.

— Hmm... – ele ergueu o queixo, parecendo pensar. Instantes depois jogou a cabeça para trás, soltando uma sonora gargalhada. – Você é mais burro do que eu havia previsto!

Ri com ele para disfarçar a irritação e tentei me recompor.

— Os quarks nunca puderam ser vistos. Mas é o que compõe os elétrons, os prótons e nêutrons, não é? – Queria mostrar o pouco que sabia. Mas a ofensa de antes tirou de mim a confiança e questionei quando queria afirmar.

— Ah, há tanto mais, tanto mais que você não sabe... – ele suspirou, despertando minha impaciência.

Ele agora estava me zoando.

— Pois é por isso que estou aqui.

— Tudo bem. Mas quanto mais você quer saber? Essa, sim, é uma pergunta válida. – Ele se interrompeu, unindo as pontas dos dedos das duas mãos, criando suspense. – Uma vez que o conhecimento é adquirido garoto, não há como voltar atrás. Será que você está pronto para saber?

Aquele tampinha me encarava com olhos injetados, havia algo profundo na expressão dele. Um silêncio tenso tomou conta do ambiente. Ele realmente aguardava minha resposta para continuar.

Uma memória pulsou de alguma parte nebulosa do meu cérebro. A cena de Morpheus oferecendo as pílulas azul e vermelha para Neo, em Matrix.

Contraí os lábios, contendo-me. Que comparação inconcebível. O conhecimento de toda a realidade de um mundo tomado pelas máquinas versus algumas respostas sobre um conteúdo que eu precisava saber para não bombar numa prova de vestibular.

Resolvi entrar na onda do cientista. Eu tomaria a pílula azul, com certeza.

— Quero saber tudo o que há para saber...

Minha voz era ríspida, atrevida. A dele agora era paciente.

— Garoto, garoto. Quântica não é só ciência, sabia? É preciso crer!

Ele parecia tão compenetrado e egocêntrico e arrogante naquele momento que eu pensei que ele devia mesmo lecionar. Transbordava o típico complexo de Deus que tomava conta de alguns professores que detinham muito conhecimento e pouca vontade de compartilhá-lo. Aquilo já estava dando-me nos nervos.

— Faremos o seguinte, — ele propôs depois de alguns segundos em silêncio – faça você as perguntas, então. E eu vou explicando a partir das suas dúvidas. Ok?

— Ok – eu assenti com gosto. Esperava que assim, finalmente, houvesse algum avanço. – Uma coisa que não consegui entender enquanto estudava sozinho foi a teoria das... cordas? – O final da frase soou como uma pergunta de novo.

— É algo que eu não espero que ninguém compreenda como autodidata, – ele conciliou, parando em minha frente e pela primeira vez tentando parecer amigável – mas temo que você esteja quase uma década atrasado.

— Como assim?

— O conceito agora é... Teoria M! – ele disse como quem recita poesia, arregalando os pequenos olhos e trazendo a palma da mão à frente para cima, os dedos curvados, tal qual Hamlet segurando um crânio invisível.

Naquele instante lembrei-me de Emmett e dos avisos dele, de que mais do que obter respostas, eu ganharia ali perguntas para inundar minha cabeça.

— Sim, e que teoria é essa? – eu estava inquieto.

Ele fez pose de alerta, os cinco dedos em riste, a palma da mão virada para mim.

— Muita calma – disse, retomando então a interminável caminhada à minha frente. – Primeiro vou responder sua pergunta anterior. O que você vê aqui? – Sem se voltar para mim, ele pousou a mão sobre o balcão que ficava no centro do laboratório.

— Uma bancada.

— E lá?

— Uma cadeira.

Que brincadeira idiota. Onde ele queria chegar?

— Você precisa se desprender desses conceitos! – Ele vociferou e eu reagi com sobressalto. – Não há móveis, microscópios, computadores... Tudo é música!

Ele lançou os dois braços para cima ao mesmo tempo em que a ópera de Chopin, que tocava ao fundo, acelerava o ritmo e subia um tom. Só depois falou.

– Eu e você somos música!

Ai, meu Deus, o homem pirou.

— Mas isso não é física! Isso é loucura. – Desabafei com um suspiro de frustração.

— Chame do que quiser. Você diz que o que há de menor são os quarks. Na realidade, os quarks não são feitos nada mais que de pequenos laços, pequenas cordas vibrantes e invisíveis. São essas minúsculas cordas que compõem a matéria. São a mínima unidade de tudo.

— Por isso o nome teoria das cordas – conclui.

Ele ignorou minha observação e continuou.

— Sendo essa a composição da matéria, com a vibração correta é possível fazer qualquer coisa a partir delas. A natureza é composta pelas notas tocadas a partir dessas pequenas cordas. O universo todo é uma sinfonia. E as leis da física são a harmonia das supercordas.

Ele então fechou completamente os olhos, balançando levemente as mãos no ar, no compasso da música que novamente assumia um ritmo mais lento. Instantes depois reabriu os olhos, parecendo lembrar-se que não estava sozinho, e me fitou inquisidoramente.

— Está pronto para a segunda resposta? Sobre a Teoria M?

Põe m... nisso. Fiquei calado por capricho. Era claro que eu estava pronto.

— Quantas dimensões existem? – Ele perguntou, enfim, parecendo vencido por minha teimosia.

— Três.

— Essa é uma resposta. Mas não é a única, nem tampouco a melhor – disse, por entre um sorriso maroto. – Você poderia ter dito quatro, não poderia?

— Como assim? Podemos nos mover para os lados, para cima e para baixo e para frente e para trás. Qual seria a quarta dimensão?

Ele apenas ergueu uma sobrancelha e ofereceu uma dica.

— Einstein.

Eu pesquei imediatamente.

— Ah, sim. A teoria da relatividade! O tempo é a quarta dimensão... – Meneei a cabeça, descontente por ter deixado escapar o que eu já sabia.

— Exato. Lembra que falei sobre a teoria quântica ser a teoria do que é minúsculo? Pois bem, a relatividade é a teoria do que é gigante. Do Big Bang, dos buracos negros...

— Elas se complementam – interrompi.

— Não, nem de longe – ele corrigiu severamente. – Elas sequer se coordenam. São incompatíveis.

Aproveitei o silêncio da ênfase dele para pensar em como aquilo era estanho. Ele continuou.

— Voltando... Segundo a teoria das cordas, não haveria quatro dimensões – e sim dez! Seriam necessárias nove dimensões de espaço e mais a do tempo para isolar uma única corda vibrante.

Enfim a enxurrada de informações me atingia. Dez dimensões? Eu estava ficando atordoado com tantas ideias, mas muito próximo de me sentir satisfeito ao vislumbrar a proximidade do avanço que eu esperava ter nessa tarde. Mas pela crescente ansiedade que ele impunha aos curtos passos para um lado e para o outro, notei que havia muito mais por vir.

— Você já percebe que não pára por aí, não é?

Ele claramente estava se divertindo. Às minhas custas. Tudo bem, pensei, era uma troca honesta.

— Estava pensando nisso agora mesmo – confessei.

— Aham. A teoria das cordas dividiu-se em cinco teorias. Já imaginou que ridículo? – Ele ria. – Uma teoria que se denomina a teoria do tudo se dividirEm cinco? Não demorou para que os críticos passassem a chamá-la de teoria do nada!

— Ela, então, caiu por terra? – Era por isso que ele se referiu a ser ultrapassado?

— Na realidade, um novo conhecimento fez com que os cientistas descobrissem que as cinco teorias distintas são, na verdade, amesma teoria!

Ele fazia suspense, mas eu disfarçava bem a ansiedade para não dar a ele o sabor. Até que perdi a queda de braço.

— E o que, então, tornou isso possível?

— O acréscimo de uma nova dimensão.

— São onze então, não dez?

— Essa foi a conclusão dos estudos sobre a supergravidade. Os cientistas descobriram que as pequenas cordas se combinam e se unem. Toda a matéria do universo estaria, então, conectada. Haveria uma gigantesca membrana, como um imenso lençol encobrindo tudo. Ou como uma imensa bolha vibrante no hiper espaço.

— E a teoria da membrana é a tal teoria M?

— Exato! M de Membrana! – Brincou. — M de Mãe de todas as coisas. M de Mágica, da Majestade de compreender todo o universo!

— M de Maluquice...

Ao menos ele riu comigo.

— E como seria a décima primeira dimensão?

— Ah, há controvérsias. Muitos acreditam que é incrivelmente pequena. Outros dizem que há nela todo tipo de membrana. Membranas interceptadas, outras com buracos no meio, parecendo rosquinhas. Cada membrana é um possível outro universo. Pode não haver matéria estável, pode não haver vida. Mas também pode ser semelhante e até bem parecido com o nosso.

— E você, acredita em que?

— Eu não acredito. Eu sei.

A certeza na voz dele me assombrou.

Mas o susto não foi nada perto do que a próxima pergunta dele faria comigo.

— Edward, você se lembra bem do seu pai?

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Notas finais do capítulo

a/n: Não sei como vai ser o dia amanhã, então resolvi postar com um pouco de antecedência. Quarta-feira tem mais - e teaser antes para quem quiser, como sempre. Bom Carnaval! E juízo... ;)



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