Depois de eu estar arrumada, descemos para onde estavam as carruagens e os cavalos, Peter ao que parece pensou em tudo, nossos cavalos eram negros e robustos como todos os anos, mas ele e Nancy colocaram fogo artificial em suas crinas, os deixando extremamente divinos.

Dylan está em um terno preto e tem uma capa flamejante como o meu vestido, estamos perfeitamente combinando um com o outro, mas ainda assim foco na missão de mantê-lo vivo e desviar o olhar.

Nancy pede para nos darmos as mãos e sorrirmos triunfantes. Haymitch está caindo pelos cantos devido às bebidas. E Peter nos dá um sinal de afirmação e vejo que ele está certo, estamos incríveis!

Todas as carruagens já desfilaram, então chega a nossa vez, quando se abrem as portas e nossos cavalos marcham vitoriosos para frente, começo a ouvir gritos da multidão dos cidadãos da Capital. Sinto toda hora que as facas vão cair da minha cabeça, mas estão bem presas pelo que vejo no telão. Está escuro, completamente escuro, e a gente fica brilhando devido ao fogo, ao que percebi, Nancy achou um broche de facas igual ao meu para Dylan, que está segurando minha mão com mais força do que antes.

- Dá para... parar de segurar minha mão com tanta força? – sussurro para Dylan dando sorrisinhos para o público.

- Eu vou cair disso! – diz ele entre os dentes apenas diminuindo um pouco a pressão de seus dedos contra os meus.

Então é minha vez de segurar sua mão com mais força, percebo que o motivo pelo qual me voluntariei foi ele e o tenho tratado tão mal... deixei minha família sozinha para protege-lo e tenho desviado todos os olhares evitado as inúmeras conversas, então eu decidi compensar isso, engancho meu braço no dele, o que provoca certo espanto nos seus olhos castanhos e gritos entusiasmados na Capital. Eu sei que ele é quem deveria me compensar, mas ele não sabe que o motivo pelo qual estou aqui é ele, quer dizer, eu acho que não.

Depois de chegarmos ao círculo da cidade e os nossos estilistas apagarem os fogos com um spray, a maioria dos outros tributos estão nos olhando de cara feia, mais um sinal de que fomos incríveis e tecnicamente, roubamos o seu brilho.

Eu ainda não tinha soltado o braço de Dylan quando sinto um leve toque de uma mão em meu ombro. Viro-me subitamente e Álex estava lá.

- Você foi incrível! – disse ele com aquele sorriso avassalador.

- Ah, bem, obrigada. – digo enquanto acaricio o pescoço de um de nossos cavalos com a mão livre, até que alguém vem e os leva para o estábulo eu acho.

Dylan desengancha o seu braço do meu e o coloca ao redor dos meus ombros em uma espécie de abraço.

- É claro que ela foi incrível, ela sempre é. – diz ele para Álex sorrindo enquanto me olha com seus 20 centímetros a cima de mim.

Fiquei pensando nisso pelo resto da conversa inteira. “É claro que ela foi incrível, ela sempre é.” Fiquei pensando no que ele quis dizer com isso, mas não pronuncio nenhuma palavra, apenas forço um sorriso.

- Bom, acho que temos que ir, não é, Gabriela? Bom falar com você, Álex, até o treinamento. – e antes de eu responder, ele se dirige para o elevador ainda com o braço ao redor de meus ombros, eu estava paralisada, não sabia o que fazer nem o que falar, de tal modo que andei junto com ele até a sala de jantar, onde todos nos esperavam com imensos sorrisos.

- Vocês foram incríveis! – diz Effie nos abraçando.

- Ninguém para de falar de vocês, isso foi simplesmente um arraso! – comentam Nancy e Peter.

E por fim, Haymitch me sussurra um “muito bem, docinho”, que eu forcei para não responder com uma facada no seu cérebro, se é que tinha um.

Eu já tinha recobrado meus sentidos quando eles nos dispensaram para ir dormir, amanhã de manhã teria treinamento e logo depois nosso encontro individual e privado com os Idealizadores dos Jogos. Os estilistas precisavam acabar o nosso traje. Nós precisávamos descansar. Então me despedi de Dylan com um olhar curioso e milhares de perguntas entaladas na garganta.

Tomei um banho removendo todo indício de que meu rosto fora pintado e guardei as roupas na mesma caixa de Peter com as facas, só fiquei com o broche guardado na cômoda para usar amanhã.

Eu deitei, mas não consegui dormir como eu havia reusado o jantar, peço novamente cubos de queijo pelo pequeno auto falante, e em seguida aparece um prato com o queijo fresco.

Como tudo em uma fração de segundos e tento ficar decidindo o que apresentar para os Idealizadores dos Jogos amanhã, com certeza decapitar bonecos com algumas facas e arremessa-las por aí. Depois me lembro do meu pai, de Mag e Mark, como eles devem estar se sentindo, tristes ou confiantes? Eu queria poder falar com eles, sinto saudades das canções do meu pai, das palavras reconfortantes de Mag e dos abraços carinhosos de Mark, e por um minuto eu desejo estar em casa com eles, caçando na floresta para poder alimentá-los.

E assim eu dormi, tentando conter as lágrimas que o pensamento anterior proporcionara, afinal a garota com as facas não pode ser forte sempre.