Sou acordada por Haymitch berrando do lado da minha cama.

– Até que enfim, acordou, eu estava a ponto de te tacar um jarro de água gelada na cabeça. – grita ele.

– Chegamos? – pergunto ainda um pouco adormecida.

– É claro. Se vista, você e Dylan terão que ir juntos até onde se encontram seus dormitórios, não queremos que Panem pense que vocês se evitam, mãos dadas e queixo erguido, ah, Peter deixou a roupa que você deve vestir agora. – Haymitch fala e sai meio cambaleando meio andando.

Levanto e encontro uma bata branca, uma calça preta e coturnos que couberam perfeitamente nos meus pés. Depois de experimentar as roupas, me dispo e vou tomar um banho quente, isso me ajuda a manter a calma.

Depois que coloco as roupas definitivamente, arrumo o cabelo e sigo para o início do trem com um ótimo bom humor que eu não tinha já fazia séculos.

Dou um oi e um abraço em todos até que paro na frente de Dylan, eu havia esquecido tudo aquilo sobre ele, mas isso agora voltou com um raio para minha cabeça. O abracei hesitante e enquanto meus cabelos – hoje soltos – escondiam seu rosto, ele me deu um beijo na têmpora, eu juro que paralisei. Ele realmente fez isso ou eu estou imaginando coisas? Não, definitivamente ele não podia ter feito isso, mas seu olhar não mente, os olhos castanhos enormes fitando o rubor que deveria ter transparecido no meu rosto.

– Então, vamos lá pra fora? – pergunto, notando que a roupa de Dylan era parecida com a minha, a única diferença era a sua camisa colada.

– Vamos, lembrem-se, mãos dadas, sorrisos triunfantes, queixo erguido, ok? – diz Haymitch. – estarei sóbrio o suficiente para ajudar se algo der e errado. – finaliza ele dando risinhos.

– Tudo bem. – falo enquanto seguro firme a mão que Dylan acabou de estender para mim.

No instante em que saímos do trem, os flash das câmeras ofuscam os meus olhos, andamos triunfantes até onde serão nossos cômodos e cumprimentamos o Presidente Snow, com seus olhos serpenteando para nós.

A equipe de preparação, os estilistas e o mentor chegam logo depois.

– Muito bom, descansem, amanhã terá o desfile. – diz Effie consultando sua agenda.

– O que vamos vestir? – pede Dylan, quebrando o silêncio horrível.

– Surpresa! – fala Peter sorrindo para a estilista de Dylan.

– ok, onde é a sala do café? –pergunto sorrindo.

– Já vamos para lá, antes tirem essas roupas e coloquem algo confortável. – diz Peter com o bom humor de sempre – E acho que gostarão de saber, todos amaram vocês, mãos dadas, amigos e não rivais, isso foi maravilhoso.

Sorrio e vou trocar de roupa, pego a primeira que vejo no closet, depois desço com Effie até a sala de jantar para tomar um farto café da manhã. tomo um caldo de legumes e tudo o que meu estômago permite.

– Então, como querem ser treinados? Juntos ou separados? – pede Haymitch.

– Por fim tanto faz, ele já sabe que consigo acertar o alvo com as facas de uma distância bem longa. – falo sem ter problema em falar isso.

– E ela já sabe que sou bom com arco e flecha, então, acho que podemos ser treinados juntos. – fala Dylan dando de ombros.

– Ok, logo em seguida terão a apresentação, conhecerão todos os tributos e à noite, o desfile. – fala Effie com a agenda cor de rosa na mão.

Somos direcionados para uma sala com todos os outros tributos, onde um homem robusto fala o nome de um por um e pede que deem um passo à frente.

Ele começa do distrito um, é óbvio, lá está a garota loura de olhos verdes chamada Carl e um garoto de pele escura e olhos castanhos chamado Kenny.

Do dois, um garoto alto de pele bronzeada e olhos cor de mel chamado Boris e uma garota baixinha de olhos iguais ao dele chamada Judith.

E assim foi indo até que o tributo do distrito oito me chamou atenção, ele estava me fitando quando cheguei na sala, pele clara e pouco bronzeada, olhos azuis com um leve toque de verde e os cabelos negros e lisos. Ele sorriu quando passou por mim e depois descobri que seu nome era Álex.

Sorri de volta e o observei atentamente, fazendo mais algumas simples anotações mentais.

Depois das apresentações, somos liberados por duas horas, antes de nossa equipe de preparação nos arrumar para o desfile.

Dylan ficou sempre ao meu lado e não simpatizou com nenhum outro tributo, estava me perguntando onde estava aquele garoto irritante e despreocupado que eu havia conhecida há alguns míseros dois dias, quando Álex veio falar comigo.

– Olá, sou Álex Johnson, você é Gabriela Cartwright, certo? – pede ele com um sorriso que exibia os seus dentes perfeitos e brancos.

– Certo, esse é meu companheiro tributo, Dylan Pick. – digo apontado pra ele.

Eles trocam um aperto de mãos e se olham como se fossem matar um ao outro agora mesmo.

Conversamos um pouco e depois somos ordenados a voltar para o quarto para dar início à maquiagem e outras preparações necessárias.

Álex se despede com um aceno delicado e um até depois que retribuo sorrindo.

Ele sussurra algo no ouvido de Dylan, que o faz cerrar os punhos e rosnar algo ininteligível, depois sai sorrindo com a tributo do seu distrito.

– Vamos, Gabriela. – fala Dylan colocando a mão nas minhas costas. Essa coisa de fingir que está tudo bem não está dando certo, não para mim.

Fomos em silêncio até o meu até o elevador, quando a curiosidade me vence e pergunto:

– O que Álex te falou?

– Nada... – ele hesita antes de falar e fica mudo a viagem inteira até a porta do meu quarto, onde nos despedimos.

– Até depois. – ele fala sorrindo.

– Até mais. – digo ainda não entendendo em como ele consegue fingir tão bem.

Entro no meu quarto no exato momento em que Meg e Cart me “atacam”, passando uma maquiagem clara a fim de apenas realçar minhas feições e uma espécie de coque envolto em pequenas trancinhas que ficou deslumbrante.

Aí Peter chega com o que eu esperava ser meu vestido dentro de uma caixa enorme, meus olhos estavam brilhando de curiosidade, até que finalmente ele abre a tampa, revelando um vestido negro e comprido até os pés. Tinham partes de tecidos vermelho, laranja e amarelo soltos atrás, parecendo línguas de fogo se alastrando pelo tecido.

– Vou colocar fogo nessa parte dos tecidos soltos, dando continuação a ideia de Cinna, só que modifiquei um pouco, sairão também pequenos vestígios de fumaça, parecendo o fogo um pouco mais real. Você gostou? – pergunta Peter.

– Se eu gostei? Eu amei! – e acredite, eu estava falando a verdade, nos jogos que eu assisti, ou as pessoas eram árvores ou estavam nuas e isso não é um bom modelito para um desfile.

Peter sorri e desliza o vestido pelo meu corpo colocando o broche logo a cima do coração, mas as surpresas não acabam, ele coloca duas facas de modo que fiquem entrelaçadas no meu coque, isso eu amei, quero que todos saibam quem eu sou, que eu sou a garota com as facas.