Ouvi um pequeno farfalhar de folhas, não teve escolha, Dylan precisava viver, eu ia mantê-lo vivo, então o empurrei para aquela rocha, a mesma em que dormimos na noite anterior. Vejo a sua visão ficar turva e ele inconsciente no chão.

                Nesse meio tempo, a garota do cinco investe contra mim e consegue fazer um corte razoável na minha testa, o gosto metálico do meu sangue cismava em ficar na minha língua, tive que partir pro ataque corpo a corpo.

                Nunca fui boa nisso, na verdade eu era péssima, seria minha última ação em defesa. Mas parti mesmo assim. Descobri que o nome da garota era Lilian, ela usava um colar com seu nome, seria seu símbolo? Não muito criativo.

                Ela rosna algumas palavras que pouco faço menção em entender e me faz mais um corte na perna, esse bastante doloroso. O sangue já empapava todo meu rosto e não cessava, eu estava desesperada, Dylan inconsciente, eu poderia sangrar até a morte, agora com dois talhos grandes abertos. Se eu não a matasse ela iria mata-lo em seu atual estado de imobilidade, mas bem, ao menos seria uma morte tranquila.

                Eu estava perdendo as forças rapidamente, não conseguia me mexer com resolução, eu iria cair a qualquer momento.

                Meus joelhos amoleceram, senti minhas pernas cedendo, então a garota está em cima de mim, com a faca que dei para Dylan na mão, apontando para a minha cabeça. Eu queria ter uma morte digna, simplesmente coloco em meus pensamentos que não posso desmaiar, que tenho que continuar de olhos abertos.

                - Seja forte, seja forte. Lembre-se do motivo pelo qual está aqui, faça-a pagar pela morte deles, faça-a pagar. Ela é só mais uma peça nos jogos deles. Não seja uma também. Não seja, Gabriela. Lute. Não é qualquer pessoa que faz tudo se calar. Ela estava com os que mataram seus amigos. Ela vai mata-la. Força. Vingança. – vozes assim encheram minha mente, uma cólera intensa tomou conta de meus nervos, um brilho de excitação surgiu de meus olhos e a garota parece ter visto.

                Pânico. Essa era a expressão no seu rosto. Ela arregalou os olhos enquanto eu a empurrava para longe. A faca cai de suas mãos voltando para a minha. Minhas pernas recobram a força e eu estou com duas lâminas apontadas para seu pescoço.

                Desobedeci minhas próprias ordens e me tornei uma peça importante nos jogos deles. Sem me importar com suas súplicas, cravo as facas no seu peito, como ela teria feito comigo. Eu fui burra, eu deveria envergonhar a Capital, não deixar ela como vitoriosa mais um ano. Eu me provei como uma fraca.

                Meus joelhos amolecem de vez e tudo escure, minha última visão é um aerodeslizador me levando para cima e uma voz dizendo que eu vou melhorar.

                Acordo horas depois, ou devia dizer dias? Deviam ser dias, pois meu corpo estava completamente macio, sem cicatrizes, completamente suave.

                Peter e a Equipe de Preparação estão sentados ao meu lado com sorrisos e com lágrimas nos olhos.

                - Mal acreditamos que voltou! Sua roupa para a entrevista está linda. – falam Cart e Meg impecáveis.

                - Vão com calma, ela pena acordou. – diz Peter sorrindo enquanto me abraça.

                Eles me arrumam com uma roupa idêntica à que entrei na arena para cumprimentar todos. Depois sou levada para o meu cômodo apenas com Peter.

                - Bom, você e Dylan vão se encontrar hoje na entrevista. Espero que goste do vestido. – fala ele me entregando uma caixa preta.

                Abro a caixa e encontro um vestido clarinho, parecendo um pergaminho chamuscado nas pontas. Ele era lindo. Tecido macio e suave. Sapatos um pouco mais escuros e um rabo de cavalo lindo no cabelo.

                - É maravilhoso. Obrigada. Por tudo. – digo abraçando Peter.

                - Eu sempre estarei com você, garota com as facas. – fala ele sorrindo.

                Minha equipe de preparação chega e faz a minha maquiagem. Apenas realçando aqui e ali, nada de muito pesado.

                Haymitch vem me dar parabéns e me conduz até uma placa de metal, que irá me levar até a sala de entrevista. Entro dentro e ela me leva para cima, as luzes ofuscando meu olhos.

                Vejo Dylan se erguendo ao meu lado, impecável em um terno do mesmo estilo do meu vestido. Um sofá de veludo vermelho foi colocado para nos sentarmos e receber a coroa. Pequeno demais para o meu gosto. Eu e Dylan nos encontramos na metade do caminho, ele me oferece o braço – que seguro – e nos dirigimos para o sofá.

                - Os meus dois vitoriosos completamente impecáveis. – diz um garoto que não conheço e vejo que é o início da entrevista. Então, Dylan sussurra no meu ouvido que Caesar tirou umas férias e esse era Eduardo, um garoto do distrito seis.

                Sorrio para o comentário do garoto que devia ter uns 20 anos e Dylan segura minhas mãos. Senti que meu rosto estava ficando vermelho da cor do tecido aveludado do sofá.

                - Então agora vocês estão namorando? – pede Eduardo.

                Dou mais um sorriso nervoso e olho para Dylan, que parece estar despreocupado.

                - Bom, era pra ser depois, mas podemos adiantar as coisas, não? – Dylan sorri e me puxa para o meio da sala onde todas as câmeras focalizaram nossos rostos.

                Ele se ajoelha na minha frente e tira do bolso um anel com uma espada e uma flecha cruzadas. Sinto que vou desmaiar, mas firmo as pernas no chão.

                - Gabriela, quer namorar comigo? – pede ele com um sorriso que a tempo não via.

                A multidão começa a berrar, Eduardo mal consegue os conter, está tudo uma loucura.

                - Quero. – falo sorrindo.

                Ele se levanta coloca o anel no meu dedo e me beija. Todos começam a suspirar e nos sentamos novamente.

                - Isso foi um sim, Gabriela? – pede Eduardo rindo.

                - É... foi sim. – falo me sentindo um pimentão vermelho.

                Então eles começam a rodar o vídeo. Todas as mortes. Isso é torturante, incrivelmente torturante. Dylan me abraça e vejo que ele sente o mesmo que eu.

                Quase não acredito quando o vejo depois que me deixou fazendo corações por algumas árvores em que passava e escrevendo nossas iniciais dentro, eu não vi isso. Como não pude ter visto na arena?

                Quando acaba, o presidente Snow chega serpenteando e coloca metade de uma coroa em cada um de nós. Depois se despede com um leve aceno e vai para seu acento.

                - Posso dizer por toda Panem que vocês foram incríveis! Não receberam nenhuma dádiva de patrocinadores não é? Isso foi incrível, sobreviveram. – fala Edu.

                - Na verdade, recebemos sim. Haymitch teve que pagar caro por nos mandar a faca e acho que ela foi a melhor dádiva que eu poderia receber. Quer dizer, foi a segunda, a primeira foi ter ela ao meu lado. – Dylan fala me dirigindo um sorriso.

                Eduardo fala mais algumas coisas e a entrevista se finaliza.

                Todos nos cumprimentam e vamos partir para casa, ricos e felizes. Mal posso esperar pra ver minha família. A cara de Mark, o sorriso de Mag e as canções do meu pai que me ajudaram a não ir à loucura.

                Entramos no trem era ainda 13h30min. Despedi-me chorando de Peter, Cart e Meg, como eu sentiria falta desses três. Mas eu ainda veria todos de novo na turnê da vitória. E quanto a Haymitch? Seríamos vizinhos, eu morarei desde hoje na Aldeia dos Vitoriosos ao lado de Dylan, meu namorado.

                Tudo deu certo, eu voltei, nós voltamos. Mês que vem terá a Turnê, nada sabe o que nos espera. Raiva dos familiares dos que matamos? Não sei. Ano que vem o Massacre o qual seremos mentores.