Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 60
Labirinto


Notas iniciais do capítulo

Demorei o quê, três meses para colocar esse capítulo? (espero que ninguém tenha desistido de ler x.x) E ele nem está tão bom assim para ter levado tanto tempo para colocá-lo. Eu na verdade tenho um motivo para isso ter acontecido, mas ninguém se importa então não vou contar.



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            Os olhos de Oliver se arregalaram.

            Algo passou raspando, bem próximo de sua orelha.

            O guarda caiu da árvore com um baque surdo na grama. Havia uma flecha transpassando sua garganta agora ensanguentada.

            — E quem te disse que vocês dois são os únicos aqui?

            A voz de Ayumu soou inflexível no quase silêncio da floresta. Oliver olhava com assombro e alívio a flecha com penas brancas afundando no pescoço do homem de uniforme. Com um sorriso agradecido, virou-se e viu o arqueiro ajoelhado em um galho, a alguns metros de distância. O servo de cabelos escuros retribuiu o sorriso.

            Toda essa comoção acabou por chamar a atenção dos guardas restantes. Suuji e Takeshi aproveitaram a distração para derrubá-los sem gastar mais que alguns segundos.

            — Isso que eu chamo de defesa infalível — murmurou Takeshi, resistindo à vontade de chutar um dos guardas inconscientes. Aumentou o tom de voz: — Onde que é a entrada desse cubículo?

            — Deve ser no teto — respondeu Oliver. — Imagine que horrível seria se fosse embaixo? Agonizante para entrar e agonizante para continuar lá dentro.

            Ayumu riu. Pô-se de pé no galho e andou até a ponta dele, espiando o teto da estranha construção 6x6.

            — Tem uma placa meio solta ali no meio, pelo que parece — disse. — Vou tentar abrir.

            Deu um salto cuidadoso até a borda de cimento e abaixou-se ao lado da placa gasta. Do chão, tudo que os outros ouviram momentos depois foi Ayumu dizendo:

            — Está bem escuro ali dentro, mas acho que não tem perigo. Venham aqui.

            Os outros se juntaram a ele no telhado, um a um, vagamente cientes da brisa que soprava — fraca e pesada, como se fossem sussurros dos mortos; mortos que talvez estivessem em volta e não soubessem…

…                                …                                …

            — Nós já passamos por aqui.

            — Como você saberia de uma coisa dessas? Claro que não passamos. Pare de se fazer de sabe-tudo.

            — Eu estou dizendo que sim.

            — Grande coisa, porque sua palavra vale muito.

            Mais alguns passos.

            — Estamos dando voltas em círculos, sério. Não vamos chegar a lugar algum.

            — Cala a boca! Com você reclamando no meu ouvido que não vai dar para achar o caminho certo, mesmo.

            Aiko apenas revirou os olhos.

            Ele e Daichi estiveram discutindo pelos últimos minutos, já que o ruivo insistia que o caminho era por ali e guiava todos os outros. Yuurei, Akita e Hayato apenas seguiam atrás dos dois, sem saber muito se seria melhor fazê-los parar de brigar ou deixar como estava.

            — Akita — chamou Daichi de repente, fazendo dito garoto se sobressaltar —, o que você acha? Estamos indo pelo caminho certo ou não?

            O pequenino pareceu confuso com o súbito interesse em sua opinião — ainda mais quando estava tão perdido quanto todos os outros —, e disse:

            — Ahn… sei lá.

            — "Sei lá" não resolve nada!

            — Como quer que eu saiba? Não sou vidente!

            — De qualquer forma, uma resposta melhor seria útil.

            Akita não gostou do tom implicante do ruivo. Encheu infantilmente suas bochechas e ia falar algo para retrucar, quando Aiko exclamou do meio do nada:

            — Ah! Finalmente me achei!

            — É… Hã? — disse Hayato, estranhando a repentina declaração. Ele podia praticamente sentir a animação do jovem Tsugumi emanando até si.

            — Eu não tinha certeza de onde estávamos, mas lembrei agora! Temos que subir até o último andar, ou um dos últimos. Temos que ir… por aqui!

            O sorriso de Aiko só se alargou a medida que andava na direção de uma escadinha estreita, atrás de uma fenda na parede.

            — E como pode saber onde estamos? — perguntou Daichi, desconfiado, tentando não ficar muito irritado. — Já esteve aqui antes?

            — Nada disso. Antes de virmos, onii-sama me deu um mapa daqui e eu o decorei.

            — Então sabe onde estamos? — Hayato cortou a próxima frase de Daichi. — Digo, sabe onde fica essa construção ridiculamente grande em que estamos?

            Aiko hesitou.

            — É só um palpite — disse lentamente —, mas não posso contar nada antes de ter certeza. Escute, ao invés de ficarmos perdendo tempo com conversas desnecessárias, que tal irmos em frente?

            E começou a subir as estreitas escadas, sem esperar resposta.

            Akita se apressou a seguí-lo, deixando para trás um Hayato que ficara um tanto irritado por ter sido esquecido pelo pequenino. Resistindo à vontade de soltar um suspiro aborrecido, limitou-se a colocar as mãos nos bolsos e ir atrás de Akita. Ao ver que todos estavam subindo, Daichi não teve escolha senão ir também — mas não sem alguns resmungos e reclamações —, e por fim Yuurei se adiantou, fechando a fila.

            Mas Yuurei parou de andar.

            Virou a cabeça para trás. Ficou uns instantes sem se mover, apenas atento. Como se o imitasse, Akita parou, embora estivesse alheio ao fato de que Yuurei não se movia também; parecia alerta a alguma coisa. Daichi estreitou os olhos. Hayato não esboçou reação nenhuma.

            — Yuurei? — chamou Aiko, vendo que tal pessoa havia parado, o que fez Akita sair de seu aparente transe e também olhar para o espectro. — O que foi?

            Tudo que o guarda-costas fez foi virar novamente a cabeça para a frente, mas tirando isso não se moveu mais. Ele e Aiko se encararam por alguns segundos, até que o Tsugumi disse por fim:

            — Está bem, pode ir.

            E Yuurei desapareceu. Sua figura pareceu se dissolver no ar e, em instantes, restou apenas uma luzinha violeta ínfima, que logo desapareceu também. Aiko recomeçou a subir as escadas.

            — Aonde ele foi? — perguntou Akita, que ia atrás do Tsugumi.

            — Ver uma coisa importante — respondeu vagamente o de cabelos anis. — Provavelmente, assim que terminarmos de subir as escadas, já devemos nos encontrar com ele.

            — Se você sabe tanto, ó sábio mestre — disse Daichi com um leve tom de zombaria —, que tal dizer para este reles mortal onde estão nossos digníssimos companheiros companheiros de viagem, Jin e Mikato? Preciso falar com eles sobre uma coisa importante.

            — Esse é um momento meio ruim para isso, acho eu. Não pode esperar um pouco?

            — Não. Quando eu disse que era importante, eu quis dizer realmente importante.

            — Por que quer saber?

            Daichi não respondeu imediatamente, pesando se era necessário ou não responder — qualquer que fosse seu motivo —, mas por fim decidiu:

            — Assunto pessoal meu, não te diz respeito.

            Aiko suspirou pesadamente.

            — Fazer o quê… — murmurou para si mesmo. Aumentando de tom, instruiu: — Suba um degrau.

            O ruivo ficou um pouco confuso, mas fez o que lhe foi dito.

            — Está vendo esse archote apagado na parede logo a sua direita? Então, quebre-o.

            Sem pensar duas vezes — sabia que acabaria discutindo se o fizesse —, estendeu o braço e segurou o objeto fino. Com um simples movimento, partiu-o perto de sua base.

            E caiu.

            O degrau em que pisava sumiu de baixo de seus pés e em um segundo não estava mais ali. Aiko gritou:

            — Você deve cair bem em cima deles! Nos encontramos mais tarde!

            Mas Akita e Hayato olhavam chocados para o buraco no meio das escadas que acabara de engolir o ruivo.

            — Onde… Onde ele foi parar? — perguntou Akita hesitante, espiando a fenda negra como breu.

            — Não se preocupe — Aiko fez pouco caso. — Aquele cara já passou por coisa demais para ser derrubado por uma quedinha de nada.

            — Quedinha de nada? — repetiu Hayato incrédulo. — Ainda não o ouvi caindo no chão. Ele vai realmente ficar bem?

            — Deixe disso. Sabe os maus bocados que ele já passou. Então, vamos indo? Não queremos deixar Yuurei esperando, não é?

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            Akita não se sentia seguro. Minutos antes havia escutado uma coisa estranha. Parecia um sussurro, bem ao longe, fraco. Quando parara para ouví-lo melhor, outra vozinha lhe soou na cabeça. Ela lhe deu arrepios, mas não conseguia definir se era de medo ou qualquer outra coisa.

            "Mate-o", a voz lhe disse. "Para sua própria segurança, mate todos. Ou melhor, será que não quer que eu os mate? Eu posso fazer isso. Eu posso acabar com todos os empecilhos que te prendem. Que tal?"

            Conseguiu evitar o próximo arrepio. Akita estava confuso. Estava imaginando vozes? Será? Será que estava alucinando que nem Oliver? E se essa voz realmente lhe convencesse a fazer algo terrível?

            Estava com medo.

            Muito medo.

            O que aconteceria se fizesse alguma besteira?

            Ao seu lado, Hayato também estava pensativo. Também escutara o mesmo sussurro que o pequenino havia, mas, quando parou para escutar, ao contrário de Akita, conseguiu distinguir um pouco mais, pois nenhuma outra voz lhe dizia nada no ouvido. O sussurro era rítmico, como uma melodia. Será que era isso? Será que o sussurro estava cantando?

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            Daichi estava caindo no mais absoluto escuro, enquanto amaldiçoava Aiko na cabeça com milhões de nomes. Aonde diabos ele estava indo?! Parecia que estava caindo em um poço! Não podia ver nada em volta para prender os fios e se sustentar — céus, ele não podia ver nem a própria mão —, então tudo que podia fazer era esperar pela queda e, provavelmente, pela quebra de algum osso.

            Tudo que estava esperando de fato aconteceu — menos a parte de quebrar alguma coisa. De repente luzes confusas começaram a invadir sua visão e fizeram seus olhos arderem. Foi só se dar conta disso que bateu com tudo em algo e parou de cair. Só que esse "algo" não era duro como o chão devia ser, era macio e parecia reclamar.

            Daichi olhou.

            Era Mikato.

            É, parecia que as ideias malucas de Aiko às vezes funcionavam. Mas isso não negava o fato de que ainda estava zangado com ele.

            O ruivo se levantou com um breve pedido de desculpas (algo parecido com "opa, foi mal") e ofereceu ajuda para que Mikato fizesse o mesmo. O de olhos verde-água olhou para sua mão por alguns instantes, antes de segurá-la e ser vagarosamente impulsionado para cima. Segurou-a um pouco mais do que deveria ter feito antes de receber um olhar fuzilante de uma outra pessoa atrás de si.

            Jin também estava ali, e não estava com cara de muitos amigos. Dava a impressão que ele e Mikato estavam discutindo momentos antes de Daichi literalmente cair do céu, mas o ruivo não perguntou. Ao invés disso, antes dos outros falarem qualquer coisa, disse:

            — Jin, você lembra daquela música? Aquela que você fez quando éramos menores.

            Jin não respondeu. Pareceu perdido com o repentino assunto.

            — Como é que é?

            — Lembra ou não?

            — Qual delas?

            Daichi pensou um pouco antes de cantarolar uma melodia fraquinha e um tanto vaga. Jin franziu as sobrancelhas.

            — Não reconheço essa, não. Fiz muitas, mas lembro de todas. Essa aí eu não fiz. Será que não está se confundindo?

            O ruivo se espantou.

            — Não estou me confundindo! Eu lembro que foi você que cantou!

            — Está louco? Pode ser parecida, mas tenho certeza que não é minha. De qualquer forma, por que está perguntando isso?

            Mas Daichi não respondeu. Parecia mais do que confuso: estava completamente transtornado.

            — Ué, mas…

            Jin e Mikato sabiam que o ruivo certamente ficaria triste se se sentisse enganado — é isso que aconteceria se deixassem o assunto no ar daquela maneira —, então, em um acordo silencioso, os dois passaram os braços pelos ombros do ruivo, um de cada lado. Com esse meio-abraço duplo, eles fizeram-no começar a andar.

            — Onde você estava quando ouviu a tal voz? — indagou Jin, meio cautelosamente.

            — Lá em cima. Faz alguns minutos já.

            — Hum, entendo.

            Mas o que Jin entendia, isso ele nunca disse.

            Depois disso, resolveram que o silêncio era mil vezes mais confortável e cessaram as palavras. Mikato e Jin até tinham esquecido sobre o que discutiam, antes de Daichi chegar — se bem que "trégua temporária" não é realmente sinônimo de "esquecer".

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            Akita ouviu uma voz cantando, grave e sombria. Será que estava imaginando coisas novamente? Não, não podia ser. A voz que escutara mais cedo, dando-lhe conselhos, era mais fina e parecida com… a sua própria. Estremeceu ao cogitar que na verdade aqueles tivessem sido seus pensamentos ao invés de uma alucinação, e que ainda por cima tivessem lhe sussurrado aquelas coisas horríveis. Nunca pensou que algum dia fosse pensar nisso, mas no momento ele preferia ficar louco ao ficar violento.

            A voz grave ficava mais perto, e as palavras começavam a se tornar distinguíveis. Definitivamente era uma música que combinava com o timbre sombrio, afinado, mas ainda assim ligeiramente insano, que a cantava.

It was something hungry for your blood

Not a vampire, not a monster, just someone

It didn't want to drink it

It just wanted to see it

I doubt you will survive

I'll watch your lifeless eyes

lying upon my figure

As you beg for forgiveness

You useless

creature

            Agora os versos fluíam livremente e claramente pelos ouvidos do pequenino garoto. Em outra situação a voz seria considerada bonita por ele, mas nesse exato momento ela lhe causava arrepios. Por que se lembrava de algo estranho toda vez que uma palavra era entoada? Parecia que sua visão era momentaneamente bloqueada por flashes de algo que parecia água turva…

            — Akita, você está bem?

            Dito garoto deu um pulo de susto. Abriu os olhos que não percebera que havia fechado e levantou-os até fitar um certo Hayato que fizera a pergunta.

            — Ah… — O pequeno demorou para processar a curta pergunta. — Ah, sim, claro. Estou bem. Por que pergunta?

            — Está com uma expressão estranha. Algo lhe preocupa?

            Akita não respondeu à pergunta, mas não por propositalmente querer ignorar o albino, mas porque nem ele próprio sabia com o que estava inquieto. Era o ambiente estranho e misterioso em que se encontravam? Ou talvez a voz em sua cabeça? Podia ser qualquer uma dessas coisas, ou uma mistura delas. Ao invés de pensar nisso, resolveu mudar de assunto:

            — Daichi já deve estar bem longe, não é? Acho que vamos demorar a encontrá-lo de novo.

            — Shh — interrompeu Aiko, mais a frente, que até o momento se mantivera em silêncio. — Estamos perto de um lugar importante. Falem mais baixo.

            Ele apontou para um buraco envidraçado semelhante a uma janela, no meio da parede ao lado, e se aproximou da mesma. Fez sinal para os outros ficarem para trás. Eles não avançaram. Yuurei estava mais afastado ainda (assim como Aiko havia dito, foi só terminarem de subir as escadas e a figura pálida do espectro pôde ser vista, pacientemente os aguardando).

            — Essa sala é meio que uma sala de passagem — disse Aiko, com o tom mais baixo que conseguiu, para ser escutado apenas pelos companheiros. — Tem umas saídas escondidas nela que dão para lugares onde não podemos chegar de nenhuma outra maneira, além por aqueles caminhos. Precisamos chegar lá e aproveitar para procurar outra coisa importante. Existe uma coisa lá dentro que vai nos impedir de passar se chegarmos batendo de frente, e lutar com ela vai demorar tempo demais, então precisamos afastá-la.

            Sem explicar o que era a "coisa" ou porque não podiam simplesmente entrar lá e matar o que quer que lhes impedisse de passar, Aiko virou as costas para eles e deu o assunto por encerrado. Abriu a boca.

            — Vá imediatamente ao porão! Mais invasores entraram pela passagem subterrânea do leste! Estou ocupada demais para cuidar deles eu mesma.

            Hayato e Akita se assustaram com a voz que saiu da boca de Aiko. Não era sua costumeira suave de canto de pássaros; era mais próximo a uma feminina, mórbida e autoritária. De onde vinha aquilo?! O que era aquilo?! Essa imitação de voz que o Tsugumi fizera — ou ao menos parecia uma imitação —, embora parecesse perfeita, soava artificial aos ouvidos de Akita.

            Logo que Aiko correu a se esconder também, a janela se abriu e, em um segundo, uma pessoa pulava de dentro. Era uma moça loira. A roupa negra que usava se ajustava perfeitamente ao seu corpo. Assim que seus pés tocaram o chão, ela disparou. Indo na direção oposta a que os rapazes estavam, ela rapidamente sumiu de vista no corredor escuro.

            — E é assim que entraremos — murmurou Aiko satisfeito, mais para si mesmo do que para os outros. — Vamos antes que ela perceba que há algo errado.


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Notas finais do capítulo

Perdoem a porcaria que acabaram de ler '-' Eu prometi no capítulo anterior que esse seria mais emocionante (algum capítulo meu chegou a ser emocionante? -_-), mas eu acabei me confundindo. Não perguntem. Estou toda atrapalhada e absolutamente sem tempo nenhum para escrever ou planejar direito. Obrigada por perderem o tempo de vocês lendo essa merda!



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