Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 59
Forest


Notas iniciais do capítulo

Nossa, dessa vez eu levei tempo demais para escrever... Isso que dá eu ficar estudando ò.ó

Por isso esse capítulo ficou meio grandinho, então se for ler (se for mesmo ler), espero que tenha paciência. Além disso ficou muito confuso e tals e tals... Ah, enfim, espero que releve erros e boa leitura ^-^



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Era uma vez um rapaz.

Ele tinha os cabelos meio negros, meio acizentados, como os da mãe, com quem morara durante toda sua infância, juntamente com sua irmãzinha pequena. Os dois nunca conheceram seus pais — pais diferentes, aliás —, o que sempre levou o irmão mais velho a pensar que sua mãe era uma ninfomaníaca, embora nunca tivesse dito isso para ninguém.

Os três eram como nômades, pois não ficavam em um lugar por mais que um ano, ou seis meses em algumas vezes. Talvez fosse por esse motivo que o rapaz nunca fizera amigos. De qualquer forma, sua mãe e sua irmã eram suas únicas companhias.

Quando criança — sua irmã ainda não havia nascido —, ele passara muito tempo morando em lugares que ele não recordava muito bem e que não sabia como voltar. Eram como um sonho, onde tudo que se lembrava era de um orfanato que sempre via no caminho para casa. Ah, não, havia mais uma coisa: tinha aquele vizinho estranho, com seu estranho costume de tocar violino às três da manhã, e seus dois filhos, tão parecidos fisicamente que podiam ser gêmeos.

E falando nos filhos do homem, eles eram um tanto peculiares também. Enquanto o mais novo se dedicava inteiramente a coisas alternativas, dependendo do seu humor no dia — às vezes até mesmo acompanhando o pai nas jornadas com o violino de madrugada —, o mais velho era bem tímido e tinha um sorriso gentil, usando quase todo o seu tempo do dia para cuidar de animais feridos na rua — pois, aparentemente, seu pai não lhe deixava cuidar de pessoas.

O rapaz de cabelos negros nunca tivera uma real conversa com nenhum deles, mas pudera, passara apenas oito meses como vizinho dos três. Ou seriam quatro…? Afinal, já entreouvira conversas entre os dois irmãos sobre como a mãe deles tinha um lindo cabelo louro e como ela sempre ia dar boa noite aos dois, mas nunca a vira na casa ou em lugar algum.

Não teve tempo suficiente para se preocupar com esse assunto, já que em pouco tempo já estava se mudando novamente. Já questionara algumas vezes sua mãe a respeito dessa inquietude nos lugares, mas era sempre ignorado até que mudasse de assunto.

Dessa vez, no trajeto para a nova casa — nunca se atrevia a chamar esses locais de "lar" —, sua mãe enrolou seu pequeno corpo de três anos de idade em seu cobertor favorito e apoiou-o no ombro, após despachar um táxi com as malas para um certo local. Ela acomodou-o em seus braços reconfortantes e sussurrou calmamente em seu ouvido:

— Durma, está bem? Quero que descanse bastante no nosso caminho.

— Mas, mamãe, não estou com sono — respondeu baixinho o garotinho, olhando no rosto da mãe, que na época ainda era bem jovem.

— Então apenas feche os olhos e não os abra de modo algum até que eu te diga, ok? Pode fazer isso para mim?

Mesmo que um pouco hesitante, o garotinho assentiu e fez o que lhe foi mandado. Assim que a mulher teve certeza que ele não via nada, pôs-se a andar. O garoto não sabia quanto tempo haviam andado, pois na visão de uma criança tudo parece demorar mil vezes mais, mas mesmo assim sua mente simplista não se preocupou, apenas aconchegando-se no abraço da mãe.

Aos poucos ele foi percebendo que o som de passos e pessoas e carros estava diminuido, até silenciar completamente e ele apenas escutar pássaros e, por vezes, algumas portas abrindo ou fechando. E havia também aquela brisa fresca e deliciosa, sem cheiro de fumaça nem nada, que ele raramente sentira naquela casa perto do centro da qual acabara de sair. Será que estavam em alguma área rural? Sequer havia algum lugar assim naquela cidade?

Sua resposta foi um "sim", quando o seus pensamentos foram interrompidos por um mugido alto, vindo de algum lugar a sua esquerda. Ele deixou escapar uma risadinha e se pôs a imaginar como seria a vaca que acabara de mugir, se ela era malhada, se seria muito mais alta que si, e se tinha mesmo aquela cara engraçada das fotos.

O som dos passos da sua mãe foram abafados por algo que o garotinho supôs que fosse grama. Será que estavam chegando?

De repente ela parou de andar.

Ele se sentiu tentado a abrir os olhos e espiar, mas se lembrou da promessa que fizera e manteu-os bem fechados. Para distrair-se, decidiu se concentrar no som tranquilizante e gostoso de água correndo em um rio. Era um som calmo, da correnteza passando por pedras e seguindo adiante, como todo rio. Será que tinha uma ponte sobre o rio? Será que ela era grande? Talvez ela fosse de madeira, como aquela dos filmes!

Sua mãe tirou o braço que lhe segurava pelas costas, o que o fez se agarrar mais ainda ao pescoço dela e afundar o rosto em sua blusa fina cor salmão. Felizmente não levou mais que poucos segundos e ela logo o apoiava de novo, fazendo-o relaxar, aliviado. Ela deu alguns passos mais e, quase imediatamente, um som alto e renovado de pessoas — que com certeza não estava ali antes — encheu os ouvidos do garotinho.

— Só mais um pouquinho e poderá abrir os olhos — murmurou a mulher no ouvido dele.

Ele assentiu, embora assustado pelo repentino barulho de conversas misturadas e passos variados, além daquele som diferente… Eram… cascos…? É isso, não é, o que o cavalo tem embaixo dos pés? Cascos.

Enquanto agora o menino imaginava como seria um cavalo de verdade, pois só havia visto eles em um livro infantil, sua mãe continuou andando pela calçada de pedra, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém ou pisar em falso. Logo o garoto começou a ouvir, novamente, um som de água correndo, mas dessa vez ele dava a impressão de ser de um rio muito mais profundo que aquele de antes, e mais largo também.

Os dois chegaram bem perto desse rio e o som da água foi ficando mais alto. Assim que começou a pensar sobre qual direção esse rio seguia, a voz suave da sua mãe disse:

— Se quiser abrir os olhos agora…

E ele prontamente assim o fez, ansioso.

Seu queixo caiu quando seus olhos negros se acostumaram com a luz e focalizaram o lugar. Era tão… bonito. Rústico de uma maneira elegante, como o garotinho descreveria mais tarde, quando descobrisse o que "rústico" significava.

A rua entre as calçadas, logo ao lado, era de paralelepípedos irregulares, meio avermelhados, meio acizentados. Postes de metal preto estavam a intervalos regulares, apagados naquela hora, na beira das calçadas. As casas eram tão bonitinhas, todas com dois andares, com portas arqueadas e algumas com flores nas janelas. E, claro, as pessoas. Elas usavam roupas tão incomuns, que o garotinho nunca havia visto, e os vestidos das mulheres eram cheios de rendas e detalhes.

Algumas pessoas saíam de carruagens puxadas por cavalos (ele estava certo! Eram mesmo cavalos! E céus, como aquele bicho era gigante…), sendo seguidas por pessoas que ele suspeitava serem empregados.

A mãe soltou uma risadinha ao ver a expressão impressionada de seu filho. Ela continuou andando, pois parara para que o garotinho observasse o lugar. Cinco ou seis minutos depois, os dois chegaram na frente de uma das casas bonitinhas e ela bateu na porta.

Uma senhora de olhos cinzentos abriu a porta, dando um sorriso amigável ao ver a mãe com o filho no colo. Ela disse algo sobre "estar esperando os dois" e terem "chegado cedo" antes de deixá-los entrar.

A mãe deixou o garotinho ficar de pé nas tábuas estreitas de madeira do piso, para liberar os braços e dar um abraço na senhora. Suas malas, de alguma forma, estavam ali já, em um canto da sala.

Dez meses a partir daquele dia, os dois ficaram naquela casinha simpática, nos quais o garotinho aprendeu que o nome da cidade em que estava era Caeli. Na época perto da próxima mudança ("Nós vamos para um lugar chamado de Ignis, filho, e você não pode se afastar de mim de modo algum quando chegarmos lá", disse a mãe), de repente o menino descobriu que ia ter uma irmã.

Na verdade foi uma situação meio cômica, pois ele estava sentado jogando damas com a senhora, dona da casa, e do meio do nada sua mãe entrou na sala anunciando alegremente que estava grávida. Ele parou em meio ao gesto de comer repetidas peças da adversária e levantou seu olhos ônix perplexos para a mãe, enquanto a senhora se pôs de pé e congratulou o "inexplicável" engravidamento.

Na época sua mãe lhe convencera (o menino tinha acabado de completar quatro anos, aliás) que havia sido uma cegonha mágica que fizera um encantamento nela para que ficasse grávida, embora anos depois o garoto descobrisse tudo e tivesse suas suspeitas confirmadas: sua mãe era uma ninfomaníaca, e uma bem cara-de-pau ainda por cima.

Desde então, nesse estranho lugar que passou a ser natural para ele, os dois continuaram se mudando por algumas cidades, chamadas de Terrae e Ignis, por vezes visitando Caeli, mas ficando mais tempo na cidade do fogo. E, claro, teve o nascimento do novo membro da família, sete meses depois da mãe ter irrompido na sala com a notícia.

Era uma garota, com os mesmos olhos que a mãe e, consequentemente, que o irmão.

Eles finalmente se instalaram em algum lugar por mais que um ano! Um ano e três meses, para ser exato, mas é mais que um ano e isso já era alguma coisa. Isso aconteceu pouco antes do aniversário de nove anos do garoto, tempos depois do nascimento da caçula, enquanto sua irmã acabara de fazer seis. Eles estavam em uma casa simpática em Terrae, em uma área cheia de residências mas isolada, onde não tinha apartamentos muito grandes ou caros.

Os dois irmãos gostavam de brincar juntos no parquinho do prédio, onde tinha gangorras, balanços, gira-giras, trepa-trepas, e todo brinquedo do tipo. Mas o lugar que o irmão mais velho gostava mais que todos, sem dúvidas, era a biblioteca. Para um apartamento com dois quartos, uma sala, uma cozinha, um banheiro e um lavabo, com certeza o quartinho extra era grande.

Três das quatro paredes tinham estantes que iam do chão até o teto, entupidas de incontáveis livros. Havia livros de histórias, de anatomia, de artes e de muitas, muitas coisas. O que o garoto mais gostava de fazer era pegar um desses livros, deitar-se no tapete da biblioteca e passar horas lendo. E foi assim que aprendeu a cozinhar, por exemplo. Foi lendo um livro de receitas, de capa amarela, que teve a vontade de fazer alguma coisa para comer.

Sua mãe havia ido para a sala, assistir televisão, e ouviu o som da geladeira sendo aberta e fechada. Ela espiou pela porta da cozinha e viu seu filho subindo num banco para alcançar o armário da pia… com uma faca enorme na mão. Ela deu um grito de susto e correu na direção dele, tirando o objeto afiado de suas mãos e o virando para si.

— Filho! — exclamou. — O que estava fazendo? É perigoso mexer com essas coisas!

— Eu estava cortando chocolate para colocar em cima da sobremesa que eu fiz — respondeu o menino, confuso com a reação da mãe.

— Sobremesa?

— É, olhe, já está pronto até.

Ela virou a cabeça para o lugar que o filho apontava. Ficou espantada ao ver, em potinhos de plástico, mousses de chocolate, prestes a serem salpicados com chocolate em barra picado. E eles tinham uma aparência maravilhosa.

— Você que fez? — perguntou ela desconfiada, voltando-se para o garoto mais uma vez.

Ele assentiu lentamente, receoso de que tivesse feito algo errado.

— Onde você aprendeu? Quem te ensinou?

— Eu… eu li ali, naquele livro ali em cima…

A mãe soltou-o e andou até o lugar onde estava o livro de capa amarela.

— Há quanto tempo está na cozinha? — perguntou ela. Ele deveria ter ficado no mínimo algumas horas, para conseguir fazer o mousse.

— Uns quarenta minutos, eu acho…

E depois de mais muitas perguntas, que deixaram o garoto meio convencido de que ia ser repreendido mais tarde, por sua vez deixaram a mãe convencida de que seu filho era um gênio. Ela não foi desapontada ao fazer ele aprender a tocar piano por um livro naquela biblioteca — o que ele fez em cerca de dois meses, e tocava perfeitamente bem — e ao fazê-lo aprender diferentes línguas também, com o mesmo método.

Isso deixou-a encantada, fazendo-a tentar convencer a filhinha de seis anos a aprender tudo da mesma maneira. De qualquer forma, isso não é tão relevante assim, já que a menina não conseguiu aprender nada com apenas um livro.

Exatamente três anos se passaram até que alguma outra coisa diferente acontecesse, altura em que eles estavam morando em Ignis novamente.

Dessa vez era uma casa, com um jardim enorme em torno dela, de forma que pareciam a única casa em quilômetros, quando na verdade havia sim vizinhos lá. Agora o garotinho não era mais um garotinho, e sim um pré-adolescente de doze anos, com uma adorável irmãzinha de nove, prestes a fazer dez. A mãe deles já não estava mais assim tão jovem, então ela achou que seria melhor se saísse do atual trabalho e encontrasse algum outro.

Enquanto a mãe trabalhava, como secretária em um consultório médico, os dois irmãos gostavam de ir ver os carros que passavam por uma estrada perto de casa, que fazia uma ligação entre Aqua (uma cidade que nunca visitaram, por sinal) e Ignis. Embora a garota tenha arranjado uma amiga, sabe-se lá onde, e não passasse mais tanto tempo em casa, ela e o irmão continuavam indo de vez em quando. Aquela estrada nunca estava vazia, não importava a hora do dia, o que era interessante, de certa forma.

Mas os carros deixaram de ser interessantes, pelo menos para o garoto.

Sabe por quê?

Porque a irmãzinha foi atropelada por um desses carros.

Aconteceu tudo muito rápido, como num sonho. Ela tinha visto uma coisa brilhante do outro lado da estrada e ficara curiosa. Aproveitando que havia tido uma pausa nos carros que vinham, ela foi atravessar a rua. Mas o que ninguém pensou foi que um carro, muito rápido, fosse aparecer do nada e literalmente jogá-la dez metros longe. O corpo leve dela foi facilmente arremessado pelo automóvel em alta velocidade.

E tudo que seu irmão pôde fazer foi assistir, horrorizado.

O crânio dela foi partido com o impacto e a morte foi instantânea. O sangue sujava sua bonita blusa creme.

O irmão dela não se lembrava da ambulância chegando dois minutos depois, ou do choro desesperado de sua mãe — ele próprio estava em um estado de choque tão grande que não conseguia chorar —, mas se lembrava muito bem de dita mãe ficando louca.

Ela ia para o quarto da filha, cujos objetos e móveis nunca foram tirados do lugar, sentava-se na cama dela e começava a conversar com as paredes. Ela chamava o nome da filha e contava alegremente sobre seu dia, perguntava sobre o da menina e aparentemente conseguia uma resposta, em seu subconsciente, pois ria e concordava.

Chegou o dia que deveria ter sido o aniversário da garotinha. E houvr a prova definitiva que a mulher recusava-se completamente a aceitar a morte de sua única filha.

Ela comprou uma boneca linda, de vestido azul, e fez um bolo cheio de glacê. Deixou a câmera fotográfica em cima da mesa da cozinha, junto com a faca para cortar o bolo, velas e fósforos. Quando o garoto chegou da escola e viu aquele monte de coisas arrumadinhas, apenas esperando por sabe-se lá o quê, ficou preocupado.

— Mãe — disse ele cautelosamente, chegando perto dela, que ajeitava o laço de presente da caixa da boneca. — O que está fazendo?

— Esperando a sua irmã voltar da casa da amiga dela — respondeu a mulher alegremente, embora houvesse aquele leve tremor que sempre aparecia quando falava da filha morta —, aí nós vamos cantar parabéns e ir almoçar fora, que tal?

— Mãe, pare com isso.

— Por quê? Prefere um almoço em casa? Você pode me ajudar a cozinhar, então!

— Já chega. — Seu tom ficara mais firme.

— Hã? Não está com fome, querido? Quer ir comer mais tarde?

— MÃE, CHEGA! — o garoto gritou, sem conseguir se conter, o que podia ser tanto de pânico quanto de irritação. — Chega dessa obsessão! Eu também estou abalado com a morte dela, mas isso já é demais!

— Morte? Do que…?

— Você sabe que ela não vai voltar para casa. Você sabe disso, e mesmo assim está fazendo as coisas piores para mim e para si mesma também. Pare com isso. Está acabando com a sua sanidade.

A expressão da mulher transformou-se de confusão para uma de completo pânico e medo, num passe de mágica. A caixa que ela tinha na mão caiu no chão e ela se pôs de pé.

— Como se atreve a falar uma coisa dessas?! — gritou com a voz embargada. — Sua irmã não está morta, ela está…

— Enterrada dentro de um caixão — interrompeu o garoto, farto daquilo tudo.

Inesperadamente, sua mãe gritou. Seu grito de pura dor que fez os ouvidos do garoto latejarem, e logo depois ela começou a falar coisas ininteligíveis, mas que soavam suspeitamente como "mentira". Ela cambaleou e teve que se segurar na mesa para não cair, esbarrando no bolo e fazendo-o cair e espatifar-se no piso frio da cozinha.

O olhar do garoto foi distraído momentaneamente pelo bolo desmontado e pelo prato quebrado, até olhar de volta para sua mãe e sentir todo o ar esvaindo de seus pulmões.

Ela agarrara a faca ao lado do bolo e apunhalara-se no peito, até o cabo.

Naquela noite o garoto saíra de casa. Não sabia se aguentaria passar por mais um funeral, da última pessoa querida para si que havia restado, então deixou o corpo da mãe na casa, pegou o dinheiro, uma mala com poucas coisas e foi embora. Pegou o primeiro ônibus para Terrae que havia.

Ele conseguiu ficar em alguns apartamentos pela cidade — ninguém questionou-o sobre sua idade — e assim foi vivendo por alguns anos, três para ser exata. Foi por volta dessa época que descobriu que uma mulher estava alugando uma casa em um bairro legal, por um preço maravilhoso. Infelizmente ela estava alugando por pouquíssimo tempo, pois estava pensando em vendê-la em breve, mas aquilo não era exatamente um empecilho; era só achar outro lugar para alugar.

Na casa vizinha a esta, o rapaz — agora com quinze anos — viu que morava um certo rapazinho loiro, na sétima série. Ele era bonitinho, pequenininho, e de olhos castanhos. Mas tinha uma coisa estranha lá… Por que será que ele nunca vira os pais daquele loirinho?





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Escondido entre folhas grandes, espiando entre elas, estava Oliver. Ele estava equilibrado no galho da árvore apenas com os pés, pois suas mãos seguravam seu rifle, apoiado também no ombro direito. No chão, vários metros para o lado, Takeshi estava agachado atrás de um arbusto, com a mão sobre o punho de uma das suas espadas. Ambos estavam imóveis, silenciosos como uma pedra, olhando fixamente para o mesmo lugar.





"Onde eles estão" e "o que eles estão fazendo" devem ser perguntas comuns agora, e é o que eu vou explicar.

Nada de estranho havia acontecido e ninguém havia desaparecido, então tudo estava normal — no máximo do possível. Mesmo que Akita estavesse ansioso de preocupação com Oliver e Suuji, que provavelmente, àquela altura, já estavam bem longe. Mas, claro, a tranquilidade não durou nem mesmo quinze minutos.

Foi só Akita piscar os olhos que percebeu que não estava mais andando ao lado de Jin. Assim que percebeu isso, parou e olhou em volta, para ver se tinha perdido alguma coisa. Bom, Hayato continuava ao seu lado, embora tenha parado quando o pequeno o fez. Ok, Daichi estava ali também. Kenichi e Aiko estavam um pouco mais a frente e ele podia ver Yuurei pelo canto do olho. Mas… e os outros?

Ele ouviu passos vindos de trás. Olhou. Todos os outros estavam andando na direção oposta. Quando foi que aquela bifurcação surgiu, afinal?

Ah, verdade. Eles estavam andando e Riki, bem na frente de todo mundo, disse que o corredor não ia reto, mas que virava para a direita e esquerda. Os outros estavam discutindo sobre qual caminho pegar, quando de repente se viu indo para a esquerda. Isso, foi isso que aconteceu!

Mas por que ele estava indo para aquele lado?

Ele olhou confuso para Hayato, que exibia um olhar de completa naturalidade em seu rosto.

— Vamos? — convidou o albino, vendo que Akita não dera mais um único passo.

— Mas e os… — começou o pequeno, mas se interrompeu quando viu o ar tranquilo do outro.

— Vamos? — repetiu.

Por fim, após um momento de hesitação, Akita assentiu e seguiu o albino.

Indo pelo outro lado, os outros encontraram mais uma bifurcação a frente. Estava virando comum até demais eles se separarem por caminhos diferentes, enjoativo até, mas o fizeram do mesmo jeito. Ayumu seguiu Takeshi pela direita, enquanto Jin e Mikato foram pela esquerda. E quanto a Riki… bom este entrara em uma janelinha a dois metros do chão, na parede, um pouco atrás dessa segunda bifurcação — mas ninguém realmente viu quando isso aconteceu.

Tudo que aconteceu depois foi muito estranho, como num sonho. Takeshi e Ayumu andaram bastante, desceram duas escadas pequenas e subiram uma bem grande à esquerda. Era um caminho único, sem desvios ou entradas em qualquer direção. De repente começaram a sentir um cheiro diferente no ar, uma brisa que não estava lá antes, e que vinham de cima da escada. Era exatamente a mesma sensação que Jin e Mikato haviam sentido antes de apagarem e acordarem no misterioso cômodo com esferas cintilantes.

Os dois aceleraram a subida e, num piscar de olhos, estavam pisando em uma grama esmeralda fofa. Ao contrário da floresta que Mikato e Jin encontraram, naquela não havia lago algum ou qualquer espaço sem árvores; desde a boca era uma mata fechada. Mas a maior diferença era que, ao invés de ter um teto de concreto acima das árvores, havia um céu escuro enevoado, pelo qual dava para ver algumas estrelas e fragmentos de uma lua brilhante.

Mas não ousaram tentar sair. Onde iriam sair, afinal? Estavam em um local completamente desconhecido — será que sequer estavam em Immolare ainda?

Ayumu e Takeshi estavam desconfiados. Será que entravam? Mas se dessem meia volta, iriam voltar para o mesmo lugar de antes… Certo, entrar.

Takeshi fez um sinal para o outro ir para cima, à esquerda. O servo assentiu e subiu no galho mais próximo com um salto suave e sumiu com farfalhares fracos de folhas. O jovem visconde seguiu em frente, então, com a mão sobre o punho da espada da bainha vermelha, pronto para tirá-la caso necessário.

Não fazia nem cinco minutos que estava indo em frente, cauteloso, quando ouviu uma movimentação acima de si. "Ayumu está de volta?", pensou Takeshi. "Não, o peso dessa pessoa é diferente." E com a expectativa de um ataque, ele se colocou em posição de defesa. As folhas se moviam. Seus olhos castanhos se estreitaram.

O rosto de Oliver apareceu.

Takeshi imediatamente relaxou, ainda mais quando a expressão do loiro se transformou em uma curiosa e confusa.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Takeshi baixinho, tomando cuidado para não fazer a sua voz ecoar. — Achei que tinha ido para outra direção.

A expressão de Oliver se transformou em uma pensativa e ele enumerou:

— Entrei num duto de ventilação, mudei de direção dentro dele, e quando saí andei por um corredor, subi uma escada e achei uma passagem no chão que deu para um outro corredorzinho que deu para cá.

— Suuji não foi atrás de você?

— Foi.

— Ele te encontrou?

— Sim.

— E você veio sozinho para cá?

— Não.

— Ele está por aqui?

— É.

— Que lugar estranho é esse, aliás?

— É para despistar visitantes. É fácil demais de se perder em uma floresta, então eles escondem coisas importantes aqui. As peças brancas, digo. Deve ter alguma construção em algum lugar nesse mato todo que devemos encontrar.

— E… como sabe disso tudo?

Oliver hesitou, mas disse:

— "Eu" sei desde sempre.

Antes que Takeshi questionasse outra vez — mais por desconfiança do que curiosidade, na verdade; ao contrário do motivo que Akita (a mais comum referência para tagarelice) também vive bombardeando todos com perguntas —, Oliver fez um sinal de silêncio sobre os lábios e apontou para o lado de onde viera, para logo em seguida voltar a sumir entre as folhas.

Takeshi estava indeciso, mas acabou por ir na direção indicada. Afastou alguns ramos baixos do caminho para poder enxergar. Havia ainda árvores na frente, mas dava para se ver uma clareira relativamente grande, mas escondida, mais adiante. Nela, um, literalmente, cubo de 6x6 metros com placas de inox nas paredes era protegido por dois guardas em cada um dos quatro lados.

E os dois, Oliver e Takeshi, se puseram a observar. E é assim que eles acabaram nessa situação. Mesmo assim, essa foi uma explicação meio sem sentido, não é? Desculpe.



= =





Os guardas usavam grandes e desajeitados óculos noturnos, pois suas visões não eram tão boas no escuro quanto as dos rapazes que os observavam, naquele momento. Havia também as roupas coladas e de material estranho que vestiam, e as armas ameaçadoras que tinham nas mãos, e eles não pareciam se mover nem para respirar, quase como estátuas.



Tudo fachada.

Suas defesas estavam completamente abertas; só de olhar já dava para identificar inúmeros pontos fracos, aberturas óbvias e fáceis de serem atingidas. Porque não era sério. Eles não estavam lá para derrotar ninguém, e sim apenas para divertir. Divertir quem?

O White King, claro. Que estava em sua sala do trono, morrendo de tédio.

Mas nada disso negava o fato de que eles precisavam passar pelos oito palhaços rodeando o lugar — além disso, poderiam aproveitar a sitruação e se aquecer um pouquinho enquanto tinham chance.

Oliver segurou seu rifle mais firmemente e mirou na cabeça de um deles. Takeshi pareceu entender isso como um sinal e movimentou-se alguns metros para a direita, a fim de atacar o outro que o loiro não estava mirando. Um som de metal, de arma, que não vinha de Oliver. Eles olharam.

Um dos guardas de um outro lado que não o que eles estavam se centrando, vira os dois e levantava sua arma. No instante em que ele ia pressionar o gatilho, uma sombra saiu de entre os arbustos mais próximos e, com um movimento rápido, deixou-o inconsciente. Fez o mesmo com o outro a dois metros de distância, igualmente silencioso para não atrair atenções indesejadas dos demais guardas.

Takeshi mirou Suuji com espanto, pois não esperava que ele aparecesse assim, do nada. Mas nunca ia admitir que estava agradecido por não ter levado um tiro, tão no comecinho assim.

— Você pensa que não há mais ninguém aqui?

Oliver congelou ao ouvir a voz soar atrás de si. Virou-se bruscamente para trás, vendo com um susto que havia outro guarda ali, trajando o mesmo uniforme, mas segurando uma arma de mão. Não dava tempo de levantar o rifle. Não dava tempo de desviar. Não dava tempo de puxar nenhuma pistola ou seu revólver. E agora, o que faria…?




~~ ~~ ~~ ~~







Take me out of this dream, my sanity is tearing apart.




Olhos verde água passeavam por um cômodo inteiro vermelho, enquanto a boca do dono desses olhos cantava uma pequena cançãozinha que só ele conhecia.

A nightmare is keeping me in… but when did it really start?

Ele alcançou uma vela ao seu lado para acender outra em um suporte de metal.

I'm blind, I'm voiceless, I'm mouthless, I'm mindless… It's useless to try ma-king it s-top. — Ele separou bem as sílabas das últimas palavras, sinalizando o fim daquela música.

A nova luz da nova vela acesa iluminou o rosto do White Rook. Ao ver a chama dançando no pavio, deixou escapar um suspiro, junto com um sorriso estranho, e passou a mão pelos cabelos castanhos e espetados.

— Bishop-kun — murmurou com um tom doentemente deliciado, mirando o quarto que tanto lhe lembrava de seu querido ruivinho de olhos cítricos —, finalmente está vindo para mim… E fico feliz que esteja trazendo meus dois irmãozinhos também.

Seu sorriso quase caloroso se transformou repentinamente em um frio, mudando completamente a atmosfera do quarto, e ele recomeçou a cantar, uma música diferente dessa vez:

I miss the daily screams of slaves breaking on their knees. No one knows how much I got entertained with this. And even if they do, how can they make me stop? They can't, I'm far too lost… It's life's… greatest… spot.

E então ele soprou, uma a uma, todas as velas do cômodo — inutilizando o fato que acabara de acendê-las —, fazendo o lugar cor de sangue mergulhar em escuridão.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido até o fim o/

Essas musiquinhas no final fui eu que inventei, por isso que estão tão idiotas XD

Vou tentar fazer o próximo capítulo mais rápido, mas não prometo nada... E vai ter bem mais desenvolvimento da história no próximo, então espero que não desista de ler "porque está muito parado" x.x



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