Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 52
Morto


Notas iniciais do capítulo

Tem uma cena que cita os acontecimentos do capítulo 44, então caso não se lembrem do que houve enquanto leem, deem uma olhada lá (sim, estou parecendo presunçosa XD perdão)
Mikato, Suuji, Takeshi e Ayumu não aparecem nesse capítulo, só para avisar.
Como sempre, revisei, mas posso ter deixado passar algo. Desculpem por não ser uma escritora mais competente ou inteligente, mas dei o meu melhor.
Obrigada por lerem! *o*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/183842/chapter/52

    Parecia que estava faltando horas no dia, já que ninguém notou quando começou a escurecer. Era por volta de 18h quando Hayato achou que não seria bom continuar, já que ainda precisariam armar acampamento. Acharam um espaço vazio que, embora sem árvores, era convenientemente escondido pelo mato alto e, no momento, pelo escuro. Improvisaram uma barraca com alguns lençóis que Daichi havia colocado no bolso de manhã, roubados de algum quarto da mansão de Jin.

— Será que fazemos uma fogueira? — perguntou Akita, ajudando o albino a prender firme os lençóis de cor bege.

— De jeito nenhum — disse Daichi, de pé em uma pedra, procurando sinais de Aiko. — Isso seria como pendurar uma placa de neon com uma seta apontando para nós. Não faça essa burrice.

— Se dissesse só "não", eu entenderia… — murmurou Akita, fazendo biquinho.

Embora já tivessem feito um lugar relativamente confortável para passar a noite e sentado para esperar, Aiko não deu o ar de sua graça até a penumbra da noite estar quase palpável. Para a felicidade principalmente do menor de olhos dourados, Aiko tirou da mochila que tinha nas costas, assim que se sentou, uma garrafa térmica grande com café e um pote cheio de biscoitos e sanduíches.

    — Há quanto tempo estão aqui? — o Tsugumi começou a puxar assunto, derramando devagar o café em copinhos de isopor.

    — Faz umas duas horas — respondeu Hayato, pegando uma bolacha.

    — Onde esteve até agora? — perguntou Daichi mal-humorado.

    — Esperando escurecer — falou Aiko com simplicidade. — Akita, aqui.

    O pequeno, após vibrar de felicidade ao achar um pacotinho de açúcar na mochila do outro, aceitou alegremente o copo de café — sempre gostou da bebida, embora nunca a tome sem uma quantidade generosa de açúcar.

  — E como nos achou tão facilmente? — Daichi acrescentou a pergunta, não menos acusadora que a anterior.

  Sua resposta foi apenas um "Quer café?", o que deu as perguntas por encerradas.

_____________________________

      A noite passou tão rápida quanto o dia, principalmente para o quarteto que não parou por um segundo sequer, mas não para Jin. Este, após se recuperar do imenso choque, tanto psicológico quanto físico, de encontrar Findi de forma tão inesperada, avançara uma boa distância. Mas, depois que a lua subiu, sua movimentação parou. Estava meio deitado meio sentado, com as costas em uma árvore. Fazia exatamente três horas que não se movia. O rosto inexpressivo ostentava um olhar opaco e vidrado, que se fixava na escuridão do céu acima. Logo abaixo desses ditos olhos havia um espirro de sangue nada discreto que escorria pelo queixo para a roupa, guiando a atenção até a blusa cheia de líquido carmesim.

    Surpreendentemente, não era ele que estava ferido. Não com aquela quantidade de cadáveres em volta. De quem eram os corpos? Não tinha como saber — cabeças para lá, braços para cá, órgãos abertos espalhados ao seu lado; um verdadeiro banho de sangue. Eram pessoas que tentavam fugir de Immolare com quem cruzou por acaso no caminho, além de alguns animais que haviam ao alcance no momento.

Os orbes castanhos desceram vagarosamente do céu sem estrelas para as folhas de algumas árvores, passando para o tronco delas e pousando em um coração aberto logo abaixo, ainda conectado ao corpo por uma artéria. Um sorriso vazio se abriu no rosto jovem.

Ignorando a dormência agonizante do braço, Jin estendeu-o e alcançou uma cabeça ao lado — de uma criança; garota, mais especificamente —, levantando simultaneamente a adaga com a outra mão. A boca, já sem língua, estava meio aberta. A lâmina de bronze, quente de sangue, tocou logo abaixo do grande olho cinzento. Com um único e lento movimento, o olho saltou da face, ficando pendurado apenas pelo nervo.

      Como se não tivesse nada melhor para fazer, Jin segurou esse nervo e, sem sinal de nojo ou nada do tipo, puxou-o lentamente até que arrebentasse. Tudo isso enquanto articulava com os lábios, silenciosamente, uma musiquinha infantil de forma meio leiga, como uma criancinha que estivesse aprendendo a falar.

________________________

Riki havia levado suprimentos para a noite iguais aos que Aiko tinha. No momento, ele e Kenichi estavam sentados no chão mesmo, enchendo os estômagos com qualquer coisa para não faltar forças mais tarde. No galho logo acima, não muito alto, estava Oliver. O loiro tinha um montinho de bolachas no colo, enquanto mordia uma outra animadamente.

— Vamos ficar quanto tempo aqui? — perguntou o enfermeiro, bebericando a bebida, de alguma forma, quente.

    — Mais umas cinco horas — respondeu Riki, que não tinha muita fome e bebera apenas meio copo de café. — Aproveitem e durmam um pouco. Sairemos daqui logo antes de amanhecer e nos encontraremos, por volta de nove ou dez da manhã com Takeshi, Ayumu, Suuji e Mikato, que estarão por perto do portão de Immolare.

  — Como tem tanta certeza que eles estarão lá a essa hora? Eles te contaram?

— Não, mas eles são previsíveis. Por exemplo, é fácil deduzir também que Daichi não pretende devolver os lençóis para o Jin.

  — Hã? — Kenichi ficou confuso. — Que lençóis?

— Hum? — Riki fingiu que não sabia do que ele falava, levantando o rosto com um olhar de fingida inocência (que, aliás, poderia enganar muita gente). — Por que está citando lençóis em um momento como esse?

    Kenichi encheu a bochecha infantilmente, encarando-o meio zangado. Oliver riu baixinho da cena que acontecia abaixo de si, quase se engasgando com um biscoito.

    — É quase meia-noite agora — disse o Tsugumi. — Teremos algum tempo de sobra, se vocês não acordarem ainda cansados. Sugiro que durmam algumas horas. Eu os acordo caso algo aconteça.

— E você? — perguntou Oliver, pulando do galho da árvore. — Não precisa dormir também?

    — Não se preocupe, no momento não. Tenho mais meios de conseguir energia que não seja dormindo.

............................................................

— Aiko — chamou Hayato, assim que Akita caiu no sono.

    — Diga.

    Daichi levantou o olhar do chão para os dois.

  — Tem algo que eu venho querendo lhe perguntar há algum tempo.

— Diga — repetiu Aiko.

  — Sabe aquele cara que nos atacou? Hiroki, se não me engano.

  — Sim. O que tem ele?

  — Quem é ele, exatamente?

Aiko mudou de posição, cruzando as pernas, antes de responder:

— Peão branco, aprendiz do bispo branco. Não sei muito sobre a sua história de vida nem sobre as suas habilidades. Não importa onde eu procure, como eu procure ou com quem eu procure, não consigo informações sobre nenhuma peça branca. É como se eles não existissem. Mas posso supor algo sobre a arma dele.

  Mesmo na escuridão, os olhos aptos de Aiko conseguiam vizualizar a expressão atenta do albino, que o incentivava a prosseguir. Assim ele fez:

  — Como já deve saber, ele usa alabardas como arma. Se vista de modo geral, ela é uma arma fraca e… ahn, feminina. Porém, Hiroki consegue fazê-la tão fatal quanto qualquer espada ou coisa do tipo. Todavia eu não acredito que ele tenha algum poder como passar força para a lâmina ou cabo, deve ser apenas o jeito que ele usa a arma. Pude comprovar isso no momento em que você bloqueou o ataque dele com duas de suas facas; se a alabarda fosse fortificada de alguma forma, com toda certeza teria no mínimo quebrado-as.

Um momento de silêncio.

  — Como você sabe que eu fiz isso? — a pergunta saiu da boca de Hayato, anunciando a mesma dúvida que surgiu em Daichi. — Eu nunca te contei, nem sobre a arma que ele usou. Você não estava lá.

A expressão significativa no rosto de Aiko ao mirá-lo fez os olhos safira se estreitarem.

    — Você estava lá — murmurou Hayato, a verdade afundando em sua cabeça. Sentiu-se quase traído. — Você nos seguiu e ficou espiando, escondido.

    — Filho da puta! — a exclamação fugiu de Daichi antes que ele a impedisse. — Você estava vendo tudo e mesmo assim não fez nada?! Quase todos se feriram para que você pudesse concluir uma merda de teoria?! Só pode estar brincando!

Aiko permaneceu em silêncio, mesmo quando Daichi, impulsivo como sempre, avançou nele e segurou a gola de sua camisa. Yuurei, que não estava muito longe, foi até o ruivo para afastá-lo do Tsugumi.

— Não ouse fazer isso! — disse Daichi, a cólera transbordando de cada nota.

Ele voltou os olhos cítricos para o espectro, tão intensos quanto a voz. A mão branca que tocava o seu ombro foi tomada repentinamente por uma chama rubra, que só se extinguiu quando Yuurei recuou-a, parecendo surpreso. Aiko também se surpreendeu, segurando a respiração. Hayato arregalou os olhos, alarmado, pondo-se de pé num pulo.

    — Qual é o seu problema? — Daichi disse, reprimindo a raiva, quebrando a linha de espanto de todos. Ele parecia não ter percebido o que acabara de acontecer. — Não é só porque é todo inteligente que pode ser egoísta dessa maneira!

    Com essas palavras, Aiko realmente se ofendeu. Puxou para longe a mão do ruivo que segurava em seu colarinho.

— Egoísta? — devolveu, o tom de voz aumentando.

— Claro, egoísta! Só assim para não pensar no bem-estar de mais ninguém!

    — Porque você se importa mesmo com isso, não é?! — Aiko parecia precipitado. Daichi tocara em um ponto sensível. — Sua atenção está mesmo voltada para a saúde do resto do grupo! Sim, estou até vendo! Do jeito que se foca tanto nos próprios problemas!

    — Não…!

    — Acha que não sei pelo que passou? Sei sim! Todos os detalhes, todas as consequências!

— Mas não entende! Eu também sei muitas coisas sobre você, mas não posso nem imaginar como se sente sendo um morto!

    Aiko cerrou os dentes, tendo que se conter muito para não simplesmente dar um soco no ruivo.

— Morto? — repetiu Hayato pasmo, mas meio nervosamente. — Como assim morto? Aiko não é um espírito como Yuurei. A pele dele é quente.

— Por que você não conta para ele? — o ruivo provocou, sem desgrudar o olhar de Aiko. — Por que não conta a maneira como morreu e como o seu irmãozinho mais novo foi prejudicado por seu egoísmo

  — CALE A BOCA! — Aiko disparou imediatamente, interrompendo-o, sem se importar se atrairia inimigos com o barulho. — CALE A BOCA ANTES QUE EU ARRANQUE A SUA LÍNGUA!

Daichi, embora meio sobressaltado pelo brado repentino do de cabelos azuis, estava satisfeito por finalmente tê-lo tirado do sério. A face de Aiko estava lívida de puro ódio, mas não dava para identificar a quem era dirigido — se era à si mesmo ou ao ruivo.

— NÃO! — gritou Hayato de repente, assim que viu Daichi puxando suas perigosas linhas de dentro da manga e Aiko com um bisturi na mão, que apareceu em meio a uma névoa. As próximas palavras seguiram-se pausadamente: — Nem tentem.

      A movimentação de ambos congelou imediatamente, mas o olhar fixo furioso entre o verde cítrico e o cinza chuva permaneceu.

— Daichi — disse o albino, que parecia o único recobrando a calma —, se você não tirar agora a linha do pescoço dele, corto a sua garganta.

    Aiko arregalou os olhos, só então notando a luz da lua fazendo um pequeno reflexo em algo minimamente fino a milímetros de sua pele. O ruivo baixou o olhar para uma lâmina de prata gelada encostada alguns centímetros abaixo de seu queixo.

      — Entendeu? — falou Hayato baixando sua voz para um murmúrio, mas não menos imperativo que anteriormente. — Agora acalme-se e afaste esse negócio. Não há nenhuma necessidade de um conflito, principalmente agora.

Daichi hesitou, mas guardou de volta o fio na manga, o que fez Hayato tirar a faca de sua garganta. Aiko, livre da ameaça de ter sua cabeça voando, cambaleou para trás, sendo imediatamente amparado por Yuurei. O ruivo assumiu um ar indiferente, como se nada tivesse acontecido, e sentou-se ao lado do adormecido Akita.

  — Que hora nós vamos sair daqui? — ele perguntou.

— Assim que amanhecer — respondeu Hayato, ainda cauteloso.

Daichi assentiu e deitou-se. Hayato decidiu-se por imitá-lo, vendo que nada trágico aconteceria, e tentar dormir também.

Aiko agarrou-se a camiseta de Yuurei, tremendo contra o corpo sem temperatura. Yuurei apertou o abraço. O Tsugumi tinha vontade de chorar, mas não conseguia produzir lágrimas — essa parecia uma maldição nesses momentos em que queria extravasar todas as memórias dolorosas que criaram moradia em sua cabeça com o tempo. Respirou fundo a fim de clarear as ideias.

Agora o que estava ocupava sua mente era o que acabara de acontecer antes da discussão, quando Yuurei tocou o ombro de Daichi e sua mão literalmente pegou fogo. Aquilo era completamente irracional, não importa a maneira como olhava; Yuurei era um fantasma, fantasmas não pegam fogo. É a mesma coisa que dizer que a alma de alguém incendeia.

  Mas aquele não era um fogo normal. Não, nenhum tem uma cor de sangue tão intensa quanto aquele. É uma chama produzida pelo ser que se instalou no corpo do ruivo, cuja explosão de poder foi provocada pela alteração emocional de Daichi. Aiko nunca tinha ouvido falar de uma ligação tão profunda entre o "recipiente" e o "conteúdo" a ponto da raiva de um interferir no outro — o que logicamente indicava que Daichi atingira patamares inimagináveis de conexão.

    Ainda assim há algo estranho nisso tudo, pensou Aiko. A fúria do ruivo era óbvia para qualquer um, então Yuurei deveria ter pegado fogo por completo, não é? Descontrole não é algo limitado, ainda mais com um assunto tão delicado. Será que havia algo parando o poder de Daichi, impedindo-o de causar grandes danos? Hayato talvez? Não, difícil… o albino reagira um pouco atrasado para ser sua vontade a pará-lo. Também não fora si mesmo, já que o ser dentro de si não tinha um poder dessa magnetude. Então, só sobra…

— Akita — sussurrou Aiko, olhando para o pequenino enrolado ao canto.

        Claro! Isso era lógico! Fogo e gelo são completos opostos, se anulam! Mas isso teria que significar que Akita não estava dormindo, o que significa que ele ouviu a conversa inteira.

    Finalmente sentindo a tremedeira diminuir, Aiko soltou a camisa de Yuurei e se afastou um passo. Deu um sorriso de gratidão ao espectro e se ajeitaou ao lado de Hayato, mirando uma vez o topo da cabeça de cabelos negros bagunçados antes de fechar os olhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mereço reviews? *3*
Não? Beleza...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aki No Ame (DESCONTINUADA)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.