Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 51
Um dia


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei para caramba dessa vez, né? Foi mal. Tive uns problemas graves com o meu computador por um tempo, mas já foi tudo resolvido o/
Eu revisei, mas posso ter deixado escapar algo, desculpem. Desculpem também pela confusão usual do capítulo, mas enfim...



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— Hayato — disse Akita após uns dez minutos indo pelas árvores —, melhor desviarmos um pouco a direção.

— Por quê? — quis saber o albino.

— Estou ouvindo rugidos estranhos mais para a frente, de um animal. Se passarmos por ali, vamos nos atrasar.

— Certo. Para qual lado devemos ir?

— Esquerda, uns vinte metros, porque há um ninho grande de corvos pela direita.

Seguindo o conselho do pequeno, Hayato mudou ligeiramente de direção, liderando os outros dois.

— Como você sabe disso? — perguntou Daichi, desconfiado como sempre.

— Ah, bem… — falou Akita. — Sei que dois ou três quilômetros é longinho, mas depois eu esqueceria de avisar. Estou ouvindo mais claramente agora os barulhos, já que estamos nos aproximando. Mais um pouco e poderei identificá-los.

— Está simplesmente… escutando? — Ele parecia incrédulo.

Akita assentiu, meio hesitante; pelo tom que o ruivo usava, parecia até que fazia algo errado — mas essa perspectiva logo mudou quando o de fios escarlates soltou uma risada pelo nariz e revirou os olhos, dizendo quase como uma piada:

— Você parece até um cachorro super-desenvolvido — e lançou-lhe um olhar divertido.

    Hayato riu com o comentário, enquanto Akita deu apenas um sorriso sem graça.

  — Vamos apertar um pouco o passo — apressou o albino, ainda com resquícios de riso no rosto. — Estamos demorando demais para ultrapassar esses dois ou três quilômetros.

......................................

Guiando o quarteto estava Takeshi. Eles iam pelo solo mesmo, mas não enfileiradinhos como criancinhas de primeiro ano. Ayumu, ao contrário do resto, ia silenciosamente pelos galhos de árvores baixas, com uma flecha na mão direita e o arco de marfim levantado e em prontidão na esquerda; seus olhos revistavam cada folha a medida que passava por elas. Suuji ia logo embaixo de Ayumu, por vezes olhando para cima para saber se o mesmo ainda estava lá, mas com o bastão dourado ainda guardado. No fim, obviamente, seguia Mikato — sua necessidade de ficar longe de pessoas era muito grande, mesmo numa situação como aquelas.

— Vamos chegar na entrada de Immolare de madrugada, se continuarmos nesse ritmo e sem parar — falou Ayumu, cuidando para que sua voz não fosse ouvida por ninguém (ou nada) mais que os outros três.

— Vamos entrar lá de madrugada? — perguntou Suuji.

— Evidente que não — respondeu Mikato impaciente, enfatizando a última palavra. — Só se você for louco. Não levou a sério quando ouviu que aquele é o lugar mais selvagem entre todas as cidades, não é?

Suuji encolheu os ombros, articulando "desculpa" com os lábios.

— Então ficaremos acampados perto do portão, mas não dentro da cidade — concluiu Takeshi, desviando de uma raiz de árvore elevada do chão.

— A que distância, mais ou menos? — indagou Suuji.

— Oitenta ou cem metros, talvez? — sugeriu Mikato, aborrecendo-se com a falta de senso do ex-jogador de baseball. — É o suficiente para vermos quem chega, mas não sermos vistos. Rodeando a cidade tem as ruínas densas de uma cidadezinha periférica que havia lá há alguns séculos.

— Foi destruída por quem, esse negócio periférico?

— Pelos próprios moradores de Immolare. — Ele parecia desconfortável ao contar isso. — Ouvi dizer que tudo aconteceu por causa de uma aposta do líder de uma gangue, que acabou chegando aos ouvidos de outras gangues e todo mundo meio que trucidou os moradores de lá.

— Já ouvi essa história — disse Takeshi. — Não sei se é verdade, mas soube que o massacre não durou mais que um dia.

— Vinte e quatro horas para exterminar quantas pessoas? — quis saber Suuji.

  — Quatrocentas e oitenta e cinco mil — a resposta de Mikato foi imediata, chegando a surpreender Takeshi um pouco. — Talvez alguns quebradinhos nas centenas.

— Puxa… E quantos de Immolare morreram?

— Dois.

— Como você sabe de algo assim? — Takeshi anunciou sua dúvida, talvez um pouco mais alto do que pretendia.

O momento de silêncio que Mikato produziu ao não responder a pergunta rapidamente podia ter vários significados, mas para o visconde só podia indicar uma coisa: mentira. Esse pensamento não foi afastado pela resposta ligeiramente atrasada do de olhos verde-água, na verdade foi apenas reforçado.

  — Informações correm soltas por muitos lugares, mesmo depois de muito tempo.

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"Acho que tenho uma boa distância de todo mundo", pensou Jin. "Estou num meio termo. E supondo que tanto Aiko e Riki parem para os outros descansarem, terei tempo suficiente." Desde que se meteu no meio do mato, não abriu a boca nem para ofegar. Sabia perfeitamente bem que a maior burrice que alguém viajando sozinho em um lugar perigoso pode fazer é produzir sons — conversar sozinho, por exemplo.

Ele parou de correr do meio do nada, habilmente evitando tropeçar em uma pedra quando derrapou. Mudou completamente o curso, virando-se para a direita e recomeçando a correr naquela direção.

Algum tempo depois atingiu seu objetivo: saiu da vegetação que rodeava a estrada de Aqua até Immolare. Saiu, satisfatoriamente, em um campo. Sim, um simples campo, sem parecer ter fim, que sumia no horizonte. A grama estava alta e mal cuidada — claro, quem se daria ao trabalho de cuidar de um lugar daquele tamanho? — mas sem sinais de animais como cobras, que são completamente comuns nesses lugares.

  Jin estreitou os olhos, ignorando as cócegas que seu próprio cabelo fazia no rosto, agitando-se por causa do vento. Sem conseguir ver nada além de grama para todos os lados, decidiu ir mais adiante. A fim de conseguir se orientar novamente para a estrada, pegou uma de suas adagas de dentro da jaqueta de couro, passando-a de leve nas costas da mão. Por ser extremamente afiada, apenas isso já abriu um corte suficientemente grande para sangrar. Deixou pingar algumas gotas em uma pedra, olhou para a direção que ficava Immolare, e partiu para o meio do campo.

Correu, correu, sem nunca soltar a adaga de bronze. Ele não soube por quantas horas correu — duas? Três? —, mas foi desacelerando a medida que começou a ver surgir no horizonte uma sombra enevoada gigantesca. Na verdade, esse não fora o real motivo para diminuir o ritmo. O ar ficava mais pesado, mais difícil de respirar, a cada passo. Foi com grande espanto que viu a grama a frente passar de verde para marrom. Parou, sem pisar na parte morta.

"Que estranho", pensou Jin. "Não é como se essa fosse uma área seca." Arqueou a sobrancelha para a brusca mudança, decidindo então ir mais adiante para ver se descobria o que causara isso. Mas assim que deu um único passo, caiu de joelhos na grama morta. Sua mão livre apertou com força a parte da camisa sobre o peito, agonizando. Não conseguia respirar. Não conseguia ficar de pé. Era como se fosse pressionado para o chão por uma gravidade absurda que, além de tudo, obstruía o caminho de ar aos pulmões.

Levantou com dificuldade os olhos castanhos, que mal conseguiam se manter abertos, para a sombra enevoada, agora muito perto. Se arregalaram quando registraram o que era. Não era uma cidade ou floresta — como quase todo mundo acredita ser —, mas sim uma torre.

Uma torre tão larga quanto uma cidade, tão alta como uma montanha, mas ainda com o formato de construção. Blocos enormes de pedra bruta formavam as paredes. A neblina que rodeava a torre era tão densa que nem mesmo a luz do sol chegava lá, era muito difícil enxergar seus detalhes também. Porém, mesmo sem ver, uma coisa era certa: não havia vida ali.

Os ninhos de pássaros na base — ficavam a mais de cinquenta metros de altura, aliás — estavam vazios. Não havia nem mesmo insetos ou baratas, vermes, plantas, musgo ou qualquer coisa do gênero. Era até um milagre que Jin ainda respirasse, ainda vivesse, para observar tudo aquilo.

"Isso… é Finis?", pensou o rapaz chocado, tremendo, assim que caiu a ficha que aquilo era a chamada cidade que ficava no centro de todas as outras. A que ninguém nunca vira.

Antes que continuasse seus pensamentos, Jin sentiu uma queimação subir desde o peito até a garganta. Tossiu abafadamente, levando com esforço a mão até boca. Foi com horror que notou que cuspia sangue — seu corpo estava chegando ao limite

Sabendo que seria tolice se permanecesse ali, Jin fez o máximo de esforço possível para se arrastar até a parte verde da grama. Seus dedos, que envolviam as folhinhas esmeralda com uma força que se esmaecia aos poucos, estavam fracos, mas continuavam puxando todo o seu peso. Cada milímetro do seu corpo, tanto internamente quanto externamente, pareceu ter espasmos de agradecimento quando a pressão sumiu e ele finalmente conseguiu respirar.

Jin arfava pesadamente. Não conseguia se levantar daquele lugar ou sair daquela posição — os braços ainda meio embaixo de si, as pernas dormentes estendidas, a cabeça pendendo na grama úmida. Não conseguia nem tirar o cabelo que estava quase entrando no olho. E falando em olhos, eles pareciam opacos enquanto observavam a silhueta da torre, até que a visão começou a ficar turva; embaçou, embaçou… até que ficou tudo preto.

......................................

  — Riki-san — chamou Kenichi, hesitante.

— Hum? — disse Riki, indicando que estava escutando.

  — Que barulho é esse que estou ouvindo faz tempo?

  — Que tipo de barulho?

  — Ahn, não sei explicar…

— Como um tilintar de metal? — adivinhou Oliver, pulando por cima de um galho espinhoso.

— Isso!

Riki, antes de responder, parou de andar e fez sinal para que os outros dois fizessem o mesmo.

— Em outras palavras — falou —, não seria como uma arma sendo carregada?

E, com o sorriso mais arrepiante que existe, encarou uma árvore específica à sua esquerda, seu olhar cinzento varrendo outros topos de árvores logo em seguida.

— Por que fingir que não estão aí, quando a última coisa que fazem é ser discretos?

Antes que Oliver pudesse perguntar do que ele falava ou com quem ele falava, houve vários "BAM!"s repentinos.

Sons de tiro.

Não tiveram tempo para reagir e, do nada, suas visões foram bloqueadas por algo grande que se ergueu do chão. Ou melhor, o próprio chão se ergueu e formou uma muralha. Kenichi se encolheu instintivamente, arregalando os olhos. Oliver levou imediatamente a mão ao cabo do rifle, mas sem retirá-lo; não sabia onde atirar. No lugar disso, olhou para Riki.

O Tsugumi não parecia nem minimamente surpreso. Na verdade, continuava percorrendo com o olhar a floresta em volta de modo perspicaz.

Kenichi e Oliver nem piscaram direito e logo a "muralha" se abaixara, retornando pacificamente ao chão e fundindo-se com o mesmo. Em volta, alguns mais distantes e outros mais perto, havia cadáveres — pelo menos cinco — cobertos em sangue ainda quente, que com certeza não estavam ali antes, com raízes de árvores atravessando-lhes o peito que vagarosamente saíam de dentro da carne e voltavam para o conforto do solo.

— Já na metade do caminho? — murmurou Riki. — Não acredito que eles vêm esperando viajantes já por aqui. As pessoas de Immolare estão ficando mais inteligentes…

— D-do que está falando? — Kenichi deixou escapar um gaguejo.

Riki passou a mão pelo cabelo antes de responder — não embaraçado, apenas querendo ocupar tempo para pensar em uma rota para irem.

— Se importam se sairmos daqui antes? Pode ter gente espionando ainda.

— Ahn, está bem… — disse Oliver.

Com cuidado para não pisar em nenhum galho quebrado ou coisa do tipo, Riki passou à frente dos dois, guiando-os por mais uns quinze minutos até pararem em uma pequena clareira. Os galhos baixos da árvore cobriam perfeitamente a visão de cima, caso alguém tentasse espionar. Havia também algumas pedras achatadas no topo organizadas como uma roda em torno de um montinho de carvão — era óbvio que um dia alguém montou acampamento ali. Riki fez sinal para que sentassem nas pedras; eles assim fizeram.

— Qual a primeira pergunta? — disse o Tsugumi, acomodando-se também.

— O que foi aquilo que você fez antes? — perguntou Oliver imediatamente.

  Riki pensou em quais palavras usar. Por fim, falou:

  — Já ouviu falar de telecinese?

  Kenichi arqueou a sobrancelha.

  — A habilidade de mover as coisas com o poder do pensamento? Sim, o que tem?

  — Sabe como funciona?

    — Teoricamente apenas. É praticamente de conhecimento geral o que sei, na verdade.

    — Sério? — perguntou Oliver. — E como é esse negócio aí?

    — Existe a hipótese, criada por especialistas, que diz que é uma disfunção cerebral. Em outras palavras, um tipo de anomalia, problema. Os impulsos elétricos produzidos pelo cérebro para enviar informações ao corpo precisariam ter uma frequência inimaginavelmente mais alta que a comum para poder interferir externamente, mas não é exatamente impossível que isso aconteça.

— Precisamente — sorriu Riki. — Mas não é só isso, embora não esteja errado de jeito nenhum. Esses tais especialistas se trancaram tanto na possibilidade descoberta por eles que se esqueceram que as "anomalias" também evoluem, que nem as espécies vivas. Sempre que cobaias singulares morrem, as experiências praticamente cessam e descobertas param de ser feitas. E foi isso que aconteceu.

— Você pode usar telecinese? — Kenichi se espantou, arregalando os olhos. — Mas isso é algo espontâneo! Não é como se desse para usar isso conscientemente, não é?

  Riki demorou um pouco mais para responder, pegando antes um galhinho seco e fino aos seus pés.

    — Baseado nos estudos feitos, sim, é impossível controlar — disse por fim, girando o galho entre os dedos. — Mas, como eu já disse, anomalias evoluem. Dessa vez, comigo, não é como se eu pudesse mover qualquer coisa a minha volta. A minha telecinese se limita, falando em termos simples, apenas à terra.

— Terra? — repetiu Oliver. — Tipo, só ela ou as coisas que vêm dela também?

— Como as plantas? — Kenichi arriscou sabiamente, observando fixamente uma borboleta esvoaçando ao seu lado. — Akita me contou como foi a primeira vez que se encontraram com você. Você usou uma rosa para destruir uma andróide, não é? Não importa como eu veja, uma rosa sozinha, mesmo que modificada geneticamente, não consegue perfurar aço. Mas se você pode usá-las a sua vontade, aí as coisas fazem um pouco de mais sentido.

  — O máximo de sentido quanto possível — riu o loiro.

Riki achou mais fácil, ao invés de tentar explicar com palavras, fazer uma demonstração. Levantou o galhinho seco que tinha na mão, deixando-o mais a mostra, segurando-o apenas com dois dedos. Aos poucos, diante dos olhos dos outros dois, do nada, dois brotos alvos de flores surgiram na ponta. Esses brotos, em questão de segundos, desabrocharam magicamente em pétalas pequenas e macias. Da extremidade oposta, que dava a impressão de ter sido cortada, escorreu uma gotinha fina de seiva.

— Tipo, você deu vida para uma vareta — comentou Oliver fascinado, de olhos arregalados.

— Eu apenas a restaurei — respondeu Riki, deixando as flores no chão. Apontou para cima. — O galho deve ter caído dali.

Os dois olharam, fitando com admiração das flores da árvore para as idênticas do galho isolado no chão.

  — Mas para isso você não usa algo como a sua força vital? — indagou Kenichi preocupado.

  Riki balançou negativamente a cabeça.

— Em todos os meus vinte e cinco anos de vida, nunca entendi como isso funciona. É confuso, mas de uma coisa eu tenho certeza: não é mágica. Então, seguindo a lógica, se essa vitalidade não surge do nada, estou a tirando de algum lugar. Eu tenho uma teoria sobre isso, na verdade. — Ele continuou mirando o nada, como se estivesse sonhando. — Deve seguir o mesmo princípio de alquimia.Você só pode alterar a forma de algo de tiver a mesma massa; não pode criar matéria, apenas reformulá-la.

— É bem provável — concordou o enfermeiro pensativo.

— Eu tenho outra pergunta — Oliver anunciou antes que esquecesse.

O Tsugumi assentiu, indicando que ele poderia prosseguir.

— O que houve quando estávamos no carro ainda? Digo, logo antes de pararmos. Só me falaram para atirar em qualquer coisa que se movesse, mas não explicaram nada.

— Ah, sim, sobre isso, não é muito complicado — disse Riki. — As peças brancas são bem calculistas, então provavelmente gostariam de brincar com nossas reações antes de chegarmos. Eu só não sabia quando que iam começar a atacar, então achei melhor que ficássemos de guarda desde o início.

  — Aqueles eram subordinados?

— Longe disso. Bonecos, no máximo. Pessoas literalmente controladas por eles, sem vontade própria. Talvez hajam outros, só que não pessoas. Não duvido de nada. Talvez sejam espíritos, monstros, coisas do tipo.

Oliver estremeceu.

    — Mas vai aparecer mais gente para nos atacar? — Kenichi perguntou.

    — Além dos de agora há pouco? Duvido muito.

O enfermeiro assentiu, não muito mais seguro, mas ainda assim mais tranquilo.

— E não se preocupe — acrescentou Riki —, não precisamos avisar ninguém. Aiko já sabe de tudo que eu disse e Jin e Mikato já estão tão acostumados com Immolare que não precisam de conselho.

_____________________________

Aiko estava deitado sobre uma pedra chata e comprida, com os braços apoiando a cabeça. Não dava para saber se dormia ou não — seus olhos estavam fechados, a respiração lenta e leve, mas ele podia muito bem estar fingindo. A figura de Yuurei, estranhamente cintilante, aproximou-se dele, tocando em seu braço para chamar-lhe a atenção.

O de cabelos anis não se moveu ou abriu os olhos, mas sua voz anunciou em claro som:

  — Afaste-se.

  Não parecia uma ordem bem dita, nem uma ameaça e muito menos uma palavra vazia — e esses fatos sozinhos eram aterradores.

  Yuurei tirou a mão de seu braço lentamente, olhando-o surpreso através da franja e murmurando:

— Senhor…

  Os olhos de Aiko estavam abertos não se sabe desde quando, o encarando friamente — parecia até que uma sombra encobria seu brilho natural. Yuurei deu um passo para trás.

— Yuurei não me chama assim — a voz de Aiko disse objetivamente, sem emoção alguma. Ele se sentou devagar, mas de uma forma que parecia até uma ameaça; sabe-se lá como ele fez um simples gesto parecer uma apunhalada.

— Aiko… — a figura cintilante se corrigiu, tão baixo quanto antes.

— E muito menos pelo nome.

O Tsugumi levantou-se, dando vagarosos passos na direção do outro. A intensidade dos olhos da cor de uma nuvem de chuva dariam calafrios até mesmo no mais corajoso dos soldados. O espectro recuava no mesmo ritmo. Aiko tirou de uma nevoazinha cinzenta, que produziu com um simples balançar de dedos, um objeto semelhante a um bisturi, levantando-o ameaçadoramente para a pessoa à sua frente.

— Quem é você? — exigiu mais do que perguntou.

— Não se lembra? Sou o seu guarda-costas.

Aiko estreitou os olhos, dizendo:

— Não sei quem é você, mas cometeu tantos erros que é difícil saber por onde começar. Primeiro: Yuurei não me chama por nada e nem tentaria sem ordens minhas. Segundo: ele nunca mostra os olhos sem necessidade e, consequentemente, nunca mantém contato visual constante. — O outro desviou o olhar para o chão. — Terceiro: ele nunca me tocaria para me acordar, ficaria esperando que eu acordasse sozinho, a não ser que fosse uma emergência realmente catastrófica. Quarto: ele nunca demonstraria tantas emoções apenas por uma ordem como "afaste-se". Quinto: até parece que ele diria duas frases em defesa própria. Sexto: você errou a reprodução da cor dos olhos dele; são mais claros, idiota.

As íris definitivamente eram mais escuras que as do original, mas Yuurei não se abalou — muito pelo contrário, abriu um sorriso frio como gelo, totalmente incaracterístico do guarda-costas. Aiko retribuiu com um olhar da mesma intensidade.

— Sétimo — disse logo em seguida, adiantando-se mais um passo — e o pior erro de todos: eu o mandei claramente ficar invisível, vigiando a região em volta. Ele nunca voltaria sem que eu dissesse. E, a propósito, ele me alertou que havia um intruso aqui no momento em que você entrou. Mas você, evidentemente, sabia de tudo isso antes mesmo de eu dizer, não é, white queen?

      Com essas duas últimas palavras, o sorriso no rosto branco como mármore alargou e a cor dos olhos mudou — foi para azul, depois verde, cinza, preto, amarelo, vermelho, branco e voltou para o roxo; tudo em menos de um segundo. Aiko não se moveu ou demonstrou surpresa, mas franziu um pouco as sobrancelhas. No momento seguinte, sem mais nem menos, a imagem cintilante de Yuurei vacilou por um momento antes de se dissolver em vapor gélido.

"Uma ilusão?", pensou Aiko, baixando o bisturi. "Mas então como eu a senti me tocando? Bom, mas era meio óbvio que ela não queria causar nenhum dano físico, já que ainda há um dia de prazo. Ainda assim, é estranho…"

    — Não precisa rastrear a origem, Yuurei — falou. — Eu já sei onde ela está.

_____________________________

Assim que a conversa acabou, Riki falou para os outros dois levantarem para que seguissem a viagem. Não foi nem dois minutos de caminhada e a voz de Oliver, curiosa, foi ouvida, perguntando:

    — Quem armou aquele acampamento de que acabamos de sair, você sabe, Riki?

  — Sei — respondeu tal Tsugumi.

— Quem foi? — o loiro repetiu.

  — Acho que vocês dois não acreditariam se eu contasse.

  — Fala — Kenichi, agora interessado, resolveu insistir também.

  Riki respirou fundo, antes de responder:

  — Daichi e Mikato.

  Oliver arregalou os olhos castanhos.

— Eles já estiveram aqui?

    — Já — Riki disse. — Mikato, por acaso, conhece muito bem a região; ele e Jin, como eu já falei. Querem saber como?

      O sniper assentiu vigorosamente, aproveitando que ele estava com tanta boa vontade para contar.

    — Há muito tempo atrás, Mikato e Daichi viviam em Immolare. — Ignorando os sons de surpresa dos outros dois, prosseguiu: — Jin foi preso faz tempo também, por tanta coisa que nem tenho paciência de repetir. Para alguém com uma ficha criminal tão grande, ele não ficaria em uma prisãozinha simples em Ignis ou Aqua. Ele ficou em Immolare por uns dois anos, até que do meio do nada decidiu subornar os guardas e saiu.

    — Por que ele resolveu isso de repente? — perguntou Kenichi, sem conseguir segurar a curiosidade.

  — Não vou dizer agora, mas se eu contar que o suborno dele e a saída de Mikato e Daichi da cidade foram no mesmo dia, ajuda?


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Notas finais do capítulo

Espero que não tenham ficado entediados com a leitura. E por favor relevem meu pequeno vocabulário, sou uma aprendiz incompetente T-T
Não tenho previsões para o próximo capítulo, mas espero que leiam XD
Obrigada por ocuparem seus tempos com mais um capítulo dessa história estranha!



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