Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 46
Uma semana


Notas iniciais do capítulo

Na realidade eu ia postar ontem o capítulo, mas como a minha internet me ama muito, ela resolveu cair bem na hora em que eu fui salvar aqui no site. Mas aqui está! ^^
Espero que dê para o gasto e que não se irritem caso alguma coisa fique confusa (ou com os possíveis erros que eu possa ter deixado passar) XD
POR FAVOR, LEIAM AS NOTAS FINAIS.



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Ayumu já tinha ido buscar cinco vezes suas flechas no jardim. Sua paciência estava com certeza no limite, ainda mais com o vento soprando que dificultava mais ainda a direção das flechas. Decidindo que aquele era o último tiro que daria, resolveu examinar mais atentamente a flecha distorcida antes de atirar.

As penas estavam viradas para lados irregulares, sem um padrão.

— Estranho… estou com a impressão de que elas são o menos relevante aqui — comentou Ayumu. Só aí que ele viu a haste da flecha. — Ela não está apenas torta, está retorcida… Ei, será que é isso?

Ayumu levantou seu arco de marfim, apontando-o para um lado completamente aleatório do jardim. “Se eu estiver certo, o que vai fazer a flecha ir para a direção que eu quero não é para onde eu aponto”, pensou ele. “É, na verdade, para o lado que a flecha está virada. A ponta dela não tem que estar desviada da direção que eu quero, pois o que vai guiá-la é o fato da haste estar completamente torcida.”

Mudando o lado para o qual a ponta estava apontada com os dedos da mão direita, Ayumu soltou a flecha. Dessa vez, como esperado, o curso dela foi espiralado e — com um pouco de sorte — acertou em cheio na maçã vermelha. A pressão fez com que a fruta caísse do galho à beira da árvore.

Não conseguiu evitar um sorriso radiante de felicidade quando viu que finalmente conseguira. Esqueceu-se completamente do seu “esse vai ser meu último tiro”. Pegando outra das flechas “defeituosas”, mirou em outra maçã da árvore.

Sentado atrás de um arbusto perto da macieira à frente da janela de onde Ayumu estava, Takeshi quase dormia. Ele ficara satisfeito quando seu servo enfim derrubara a maldita maçã, mas tentou se convencer de que não era mais do que a obrigação dele — não estava dando muito certo.



• • •



— Isso não é bom — disse Daichi, olhando o horário no celular. — Estou atrasado.

— Para o quê? — perguntou Mikato. Já que Oliver havia entrado na casa, estava sentado ao lado do ruivo.

— Um cliente meu é exigente e sempre gosta que eu chegue um pouco antes do anoitecer, ainda mais que vou demorar para chegar até lá.

— Você se atrasou se propósito. — Arrancou o celular da mão do outro e olhou. — Colocou um alarme de lembrete há meia hora. Deixe de ser babaca, eu sei que gosta da punição.

— Shh! — Daichi pareceu zangado, enquanto levantava-se e espanava a grama da roupa. — Não quero que todo mundo descubra justo agora por causa da sua boca grande!

Mikato levantou-se também, mas não se preocupou com a grama em seu jeans. Segurou o ruivo pelos ombros antes que o mesmo tivesse tempo de pensar em andar, puxando-o para si.

— Mas você sabe que gosta da minha boca em outros lugares — sussurrou do pé do ouvido de Daichi.

O ruivo sorriu, dessa vez pesando suas prioridades para ver se era ou não conveniente se atrasar mais ainda. Por fim, empurrou o peito do maior com os dedos finos e se afastou.

— Estou atrasado — sussurrou de volta, mantendo o sorriso sugestivo.

Antes que Mikato o puxasse de volta, virou-se e correu até a extremidade do jardim, gritando:

— Volto amanhã de manhã! — antes de pular sobre o muro.

Mikato se sentiu quase rejeitado, mas se conformou pois sabia que o outro era sempre assim. Com um baque surdo, deixou-se cair de costas no gramado.



– - -



— Oliver, não é bom fazer uma manutenção no seu rifle a cada semana? — falou Aiko, dando uma garfada no bolo que comia.

— É importante? — o loiro perguntou, a voz estranha por conta do pirulito que tinha na boca.

— Claro. Não é à prova de falhas, pode dar defeito.

— Mas eu não sei fazer isso.

— Se você souber as partes da arma, consegue fazer a checagem numa boa.

— Mas eu nunca aprendi nada além de onde fica o cano, o gatilho e a mira.

— O rifle está aí com você?

— Não, deixei no meu quarto.

— Vai lá buscar então.

Oliver prendeu o pirulito de uva entre os dentes e subiu a escada de mármore correndo. Quase bateu testa com testa com Akita ao abrir a porta de seu quarto.

— O que está fazendo aqui? — perguntou o loiro surpreso.

— Hayato anda com dificuldades em acertar coisas que não sejam exatamente sólidas, então estamos treinando com isso desde que ele acordou depois de umas duas horas dormindo. — Levantou o aviãozinho de papel que tinha na mão. — Só que não está dando muito certo. E agora há pouco soprou um vento e o aviãozinho voou para dentro da sua janela, você deixou aberta.

— Ah, tá. Sem problemas. Boa sorte com o treino.

— Obrigado.

Akita sorriu e deixou o quarto do loiro, que entrou e pegou seu rifle de baixo da cama. Era óbvio o cuidado que tomava com a arma ao descer mais uma vez as escadas.

— Sente aqui do meu lado — disse Aiko, pegando o rifle comprido que lhe era estendido e dando espaço no sofá. Oliver obedeceu. — Eu usei alguns tipos diferentes de armas como base, tipo revólveres, pistolas e, claro, espingardas e rifles. Olhe só, por exemplo, a parte onde se coloca as balas é igualzinha à de uma pistola. Está vendo essa massa de mira aqui na ponta?

O loiro assentiu.

— Eu fiz ela bem pequena, já que creio que não é necessário algo que se sobressalte muito. Aí fica ao seu critério usar a mira telescópica ou essa coisinha aqui, mas acho que é melhor usar a telescópica sempre que possível. Aí tem o cão aqui na parte de trás, bem em cima do cabo, vê? Ele é só para enfeite, na verdade, não serve de nada.

— Por que colocaria algo desnecessário?

— Para blefe. Quando as pessoas vêem, pensam que a arma ou vai fazer um barulhão ou algo semelhante a um sussurro, para o caso de haver um silenciador no cano. Mas seria burrice se eu lhe desse uma arma que fizesse sequer um mínimo de som.

Oliver ficou confuso.

— Então como a bala é disparada? — indagou.

— Com energia.

— Hã? Um rifle elétrico? Como fez isso?

Aiko deu uma risadinha.

— Não é porque funciona com energia que precisa ser eletricidade — disse, virando o rifle para que o cabo ficasse para cima. — Tem uma linha que liga um compartimento daqui até onde a bala é disparada, que sobe paralelamente ao carregador. Onii-sama e eu fizemos há alguns anos um suprimento de energia artificial que substitui a energia do corpo, e é isso que vai alimentar a arma.

Ele puxou uma parte do cabo, que se abriu, revelando algo semelhante a um frasquinho com um gel esverdeado dentro. Estava encaixado em um buraco com o formato exato do frasco, preso com um arco de metal. Um fio aparentemente de náilon saia da tampa deste, passando pelo cabo modificado e desaparecendo até o começo do cano.

— O vidro é blindado várias e várias vezes, então dificilmente quebrará — continuou Aiko. — Essa coisa gelatinosa vai acabando conforme vai sendo usada, obviamente, então é só vir até mim ou ao onii-sama para pegar mais. Um dia te ensino a fazer. Ah, e vai ser um pé no saco se esse fio arrebentar, porque aí o cão vai destravar e vai começar a funcionar como uma arma normal, entendeu? A não ser, claro, que você use um plano B meio desesperado.

— Que plano B?

— Usar sua própria energia corporal. O fio vai se fixar na primeira coisa aparentemente viva que encontrar e vai começar a sugar aos poucos a energia, além disso não vai sair até que o usuário da arma o retire. Sempre abra essa parte para ver se está tudo funcionando normalmente, é como se fosse o “coração”. Mas acho que você iria perceber imediatamente caso o fio arrebentasse ou algo assim.

— Como?

Aiko não respondeu, virando o rifle de volta na horizontal para mostrar o resto.

— Eu provavelmente já disse, acho, mas vou repetir: não pense que o carregamento é igual a um rifle comum ou espingarda. Na verdade eu só chamo esse troço de rifle por causa do formato. As balas vêm em cartuchos iguais aos de pistolas, mas a quantidade delas por cartucho depende do calibre.

Desencaixou o cartucho e mostrou-o para o loiro.

— Essas são calibre 12, o padrão, mas o cano comporta até calibre 17 ou 18, se não me engano. No momento em que você encaixa aqui — colocou o cartucho de volta no carregador — a bala é levada até aqui — apontou logo acima do gatilho e do guarda-mato — e no momento em que ela é circundada por um aro de prata que tem aqui dentro, o interior do cano imediatamente se ajusta ao tamanho dela. O trajeto que ela faz é bem rápido, tanto que você nem percebe. Eu, pessoalmente, fiquei orgulhoso com a arma que fiz.

— Devia mesmo, está incrível.

— Obrigado. — Um sorriso meio envergonhado. — Então, você tem que ver se essa parte da bala também está funcionando bem.

— Como eu faço isso?

Mais uma vez, antes de responder, Aiko mudou a posição do rifle.

— Essa arma tem uma espécie de vontade própria. Sincroniza com quem quer.

— Sincroniza? Como assim?

— O gatilho fica travado para todos, menos para quem ela simpatiza. E você atirou normalmente outro dia, certo? É sinal de que a arma é legitimamente sua. Eu, por exemplo, não consigo puxar o gatilho de jeito nenhum, e olha que já tentei muitas vezes.

Oliver se mostrou mais impressionado ainda.

— Mas por que isso? — perguntou.

— Não sei — respondeu Aiko. — Não era esse o objetivo inicial, mas no final acabou assim, por algum motivo. Descobri isso quando Suuji me disse que você deu um tiro perfeito. Já que eu não podia adivinhar nada, precisei que alguém me contasse. Ora, essa arma não fala! Não dá para arrancar informações dela.

— Não foi perfeito… Não fez nem arranhão.

— Isso porque foi apenas uma amostra de tiro! — O Tsugumi deu um sorriso sabichão. — Você precisa sincronizar bem com a arma antes de conseguir sequer usar metade do verdadeiro potencial.

Aiko deu uns segundos para que Oliver refletisse sobre essas palavras, antes de começar a concluir o assunto.

— Enfim, as últimas coisas que você tem que verificar são — apontava enquanto dizia — a mira, para ter certeza de que as lentes estão corretas; o cano, para não haver obstrução na hora do tiro; e o gatilho, para que não fique fazendo “nhec nhec” na hora de puxá-lo. Entendeu tudo?

— Acho que sim — respondeu o loiro. — Mas eu tenho uma dúvida.

— Vá em frente.

— Essa energia que vai ser sugada de mim no plano B tem alguma coisa a ver com o meu tempo de vida? Tipo, encurtá-lo que nem acontece com Akita e os outros?

Aiko pensou um pouco antes de responder.

— Sim e não, na verdade. A primeira coisa que é usada é a energia externa, algo semelhante a estamina. Só depois que essa é completamente esgotada que a energia vital começa a ser usada, mas você desmaia de cansaço antes disso acontecer. Não se preocupe, se não estiver consciente, a arma não funciona.

Oliver assentiu, indicando que entendera.

— Mais alguma coisa? — perguntou o Tsugumi.

— Uma última.

— Diga.

— Responda-me sinceramente, sou o único mesmo capaz de disparar a arma?

— Não. Como eu já disse, o gatilho só é liberado para os que ela simpatiza, então pode muito bem ter alguém além de você. É só isso?

— É.

O loiro agradeceu ao mais velho com um sorriso franco de gratidão, guardando o rifle de volta no suporte de couro e voltando para cima para guardá-lo.

— Yuurei — chamou Aiko, assim que se certificou de que Oliver entrara em seu quarto e fechara a porta.

Como se o ar tivesse espiralado e dado forma ao guarda-costas, o chamado espectro apareceu do nada perto da porta de entrada.

— Daqui a pouco o corpo de Hayato vai sobrecarregar e ele vai perder a consciência. Me faça um favor e traga-o para dentro quando isso acontecer, sim? Ah, e diga para Akita que o tempo está acabando.

Yuurei assentiu e saiu pela porta ao seu lado, indo até o jardim onde os dois — Akita e Hayato — estavam.

— Teremos muita sorte se enfrentarmos apenas os peões no início — murmurou Aiko para si mesmo. — Afinal, pelo que o onii-sama disse, existem não dez como seria comum, mas apenas cinco peças nobres. “Metade”… A quantidade é metade da nossa, mas eles são incrivelmente mais fortes, aposto.

Ajeitou-se no sofá, encaixando uma almofada embaixo da cabeça e puxando um livro qualquer da mesa ao seu lado.

— Me pergunto se eu posso fazer algo mais além de ficar atrás das cortinas… Talvez não…

Abriu o livro no meio e o colocou em cima dos olhos, sem ler nem uma palavra. No segundo seguinte, dormia profundamente no sofá macio.



○ ○ ○



Akita estava sentado na mesma macieira que Ayumu usara como alvo, que já estava depenada de maçãs. Com seu corpo pequeno era fácil se esconder entre as folhas, então estava com as pernas esticadas sobre o galho sobre o qual estava sentado. Uma frase com a voz de Yuurei ecoava em sua cabeça sem parar:

— Uma semana.

Duas palavras foram o suficiente para fazê-lo acordar para a realidade. Mas o problema é que não sabia de onde tinha tirado isso, mas — apesar de tudo — era verdade. A realidade de que era impotente em muitas coisas antes e que não estava fazendo nada para mudar isso lhe dava tapas descarados na cara.

Estava muito zangado consigo mesmo por ser tão… inútil. Na verdade comentara sobre isso com Hayato. A conversa se estendeu um pouco.

— Você não está fazendo “nada” — respondeu Hayato. — Se ajuda em algo, a minha marca está reagindo mais à você do que antes, mas não é só porque o meu poder está aumentando, mas sim porque o seu também está.

Akita ficou surpreso, parando no ato de jogar um aviãozinho de papel.

— O meu? Por quê? Então eu não deveria estar cansado também?

— Só se não for você que estiver tendo a energia absorvida.

— Como é? — Sua voz estava agora hesitante.

Hayato pegou uma faca e se sentou no chão, limpando a lâmina com a barra da jaqueta de couro.

— Tenho algumas suposições já faz um tempo, mas não passam disso: suposições.

— Que tipo de suposições?

O albino, ao invés de responder, jogou levemene a faca de prata para o pequeno. Como sempre, por simples reflexo, Akita a segurou.

E além disso não conseguia se lembrar de mais nada. Quando se deu conta, já estava sentado ali em cima.

Acomodado no galho da árvore, Akita tentava forçar a memória para ver se algo novo aparecia em sua cabeça, mas sem resultado. Era como se tivesse batido a cabeça ou estivesse com amnésia alcóolica. Soltando uma exclamação de frustração, sacudiu a cabeça para tentar clarear as ideias, mas tudo que conseguiu foi perder o equilíbrio sobre o galho.

Com um baque, que o deixou completamente zonzo por uns momentos, Akita escorregou do galho e caiu de costas no chão uns metros abaixo. Por pouco não batera a cabeça no tronco da árvore. Decidindo ficar ali mesmo — não que a falta de ar repentina lhe deixasse levantar, de qualquer maneira —, Akita ajeitou-se na grama. Levou a mão pequena a um fino corte que tinha na bochecha, quase não sangrava. Como ganhara aquele arranhão?

O que aconteceu depois dele segurar a lâmina nunca ficou sendo de seu conhecimento. Houve uma mudança tão brusca em sua expressão que pareceu que levou um banho de água gelada. O brilho nos olhos cor de ouro ficou opaco e um sorriso que estava prestes a virar psicomaníaco surgiu em seu rosto tão andrógeno.

— Eu sabia — Hayato disse satisfeito. — Eu sabia que você não ia me atacar.

O sorriso do menor se alargou.

— Grande! Tinha que ser o mercenário prodígio, não é? — Não dava para saber se havia ou não zombaria na voz.

Hayato não tomou nem por elogio e nem por ofensa.

— Não fique se bacaneando tanto — disse o albino, neutro. — Sei que mal consegue manter a pose com o tanto de energia que tem. Não precisa tentar me enganar.

Mas Akita não deu bola, cruzando os braços em um sinal que beirava entre irritação, tédio e aborrecimento. Em volta do pequeno se sentia uma aura naturalmente ameaçadora.

— Diga o quanto descobriu e eu digo se sabe mesmo de tudo ou não.

Hayato apoiou as costas na árvore atrás de si.

— Você é parte de algo parecido com clonagem, não é?

O pseudo–Akita assentiu.

— E você não me atacou agora porque Akita em si não está correndo perigo. Tudo que precisa fazer é proteger seu recipiente, já que a sua vida depende da dele. É uma outra pessoa ocupando o mesmo corpo.

— E?

— E você é parte da alma da pessoa que o inseriu em Akita.

— E?

— E o quê? Não tem mais nada, tem?

— Os detalhes, os detalhes! Coisas pequenininhas como detalhes também são importantes!

O albino fechou os olhos, tentando fazer sua mente exageradamente cansada trabalhar mais ainda. Pseudo-Akita sorriu de lado e se aproximou do garoto sentado.

— Não vá dormir no meio da conversa — disse. A nota de zombaria parecia fazer parte de cada sílaba pronunciada.

— Quieto. Você está tão acabado quanto eu.

— Nem tanto. — O sorriso irônico alargou. — Você e aquele outro lá ganharam as marcas de Selected Children antes desse corpo que estou usando, então é óbvio que o upgrade dos dois começou antes. E é óbvio também que sua energia está esgotando antes, Raiden-kun.

Antes Hayato não tinha nenhuma expressão específica, mas um sorriso também se abriu em sua face — igual ao que quase ninguém teve a oportunidade de ver e continuar vivo. Era aquele mesmo doentio que causava arrepios na espinha em qualquer um que olhasse.

O olho safira que não estava sombreado pela franja pôde ser visto abrindo, revelando um olhar de puro perigo.

— Não sou assim tão sem solução — um dizer de tom tão perigoso quanto o olhar soou da garganta do albino.

O outro também sorriu, mas em satisfação.

Pseudo-Akita pareceu desviar de nada, dando passos para os lados. Mas seus movimentos fizeram sentido quando deu para se ver facas fincadas em uma outra árvore atrás dele.

Para encurtar a narração do que já foi curto, em um momento o menor se distraiu e acabou com um pequeno arranhão no rosto. Quando viu que Hayato também parara, hesitando, o sorriso sarcástico ressurgiu.

— Ora, ora, não me diga que se afeiçoou ao dono desse corpo — falou o pseudo-Akita. — Não me diga que o tão temido mercenário não quer machucar um garotinho que conheceu há menos de um ano! Não pensei que fosse tão coração de manteiga, Raiden-kun, francamente.

Hayato não respondeu. Chegou a pensar em algo para dizer de volta, mas seu cansaço acabou o vencendo. Seus olhos fecharam-se e seus passos vacilaram até que ele caiu. Antes que chegasse muito próximo do chão, um espectro cor de papel o amparou. Yuurei meramente lançou um olhar ao pseudo-Akita e levantou Hayato, dirigindo-se para alguma das portas que davam para dentro. Mas deu uma parada antes de chegar perto da maçaneta.

Os orbes violeta cintilaram de leve por baixo da franja castanho-clara que lhe chegava até o nariz. O mesmo brilho refletiu-se nas facas espalhadas por vários cantos do jardim, fazendo-as imediatamente se afastarem milímetros da superfície onde estavam fincadas — apenas o suficiente para que caíssem sem ruído na grama fofa, ocultando qualquer traço de um possível duelo. Além disso, disse:

— Uma semana. — Antes de continuar o caminho.

O pequeno bufou de lado. Quando viu que os outros dois já tinham entrado, subiu de um pulo só no galho da árvore mais próxima. Assim que teve certeza de que não cairia de jeito nenhum, soltou a faca de prata que ainda segurava, deixando que Akita tomasse mais uma vez o controle do corpo.

Sentado em uma poltrona ao lado de uma janela ao canto, onde ninguém olharia, estava Suuji. Ele não fora visto nos últimos dias porque não saíra daquela sala cheia de estantes de livros. Pela janela aberta, ouvira absolutamente tudo que acontecera no jardim — desde a curta despedida lasciva de Daichi à discussão entre pseudo-Akita e Hayato. Além disso, escutava até a cozinha pelo duto de ventilação próximo ao teto que abrira — tanto que pôde ouvir claramente a conversa alegre entre Kenichi e a cozinheira pela manhã. Só saía da sala para tomar banho, comer, dormir e ir ao banheiro.

Assim que acordou naquele dia, pegou na cozinha uma cesta de frutas para não precisar ficar levantando o tempo todo. “Então é assim que as coisas são”, pensou, procurando uma cereja no vasilhame. Acabara de escutar Yuurei entrando de volta na mansão carregando Akita.

Assim que encontrou a cereja, pegou-a e se levantou, indo em direção à estante mais longe de si. Colocando a fruta entre os dentes, esticou o braço e pegou um livro de capa branca, sem título, de uma prateleira alta. O prólogo — que na verdade não passava de comentários do autor — dizia:


Para os que podem aprender a lutar apenas por teorias, primeiro é necessário haver teorias. Foi por esse motivo que me empenhei por oito longos anos para escrever esse manual aos que se interessarem. Realmente fiquei satisfeito com o resultado, então espero que os que forem utilizar as instruções também fiquem.


Aí vinham uma série de parágrafos de milhares de agradecimentos a incontáveis pessoas — que Suuji não se deu ao trabalho de ler. Mas na última linha do verso da página, no fim do prólogo, havia uma única frase, separada do resto do texto:


Porque nenhum gênio pode ser mantido em cativeiro para sempre.


Porém Suuji não leu isso, passando direto para o primeiro capítulo. Mastigando a cereja, pegou seu bastão dourado — dobrável em três partes — do cinto, dando uma sacudidela para que “desdobrasse”. Completamente absorto às palavras do livro de instruções, desvinculou-se do resto do mundo, seus olhos assumindo um tom inteligente que nunca se imaginaria ver em um jogador de baseball.


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Notas finais do capítulo

Como já devem saber, não sou especialista em armas, então eu tirei as informações das partes das armas de um site, que é esse aqui: http://brasilgun.blogspot.com.br/2010/02/partes-da-arma-de-fogo.html
Caso se interessem ou queiram tirar dúvidas, sugiro que dêem uma olhada ^-^
Como sempre, agradeço milhares de vezes por ocuparem preciosos minutos de vocês lendo esse capítulo!! o/



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