Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 36
Descubra...


Notas iniciais do capítulo

Sei que não sou a melhor escritora de todas e que sou irresponsável, sei disso. Mas, mesmo que não pareça, estou me esforçando muito nos capítulos e espero que esteja satisfatório para a minhas preciosas e maravilhosas leitoras. Obrigada por ler. Desculpe pelos erros ortográficos que porventura apareçam.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/183842/chapter/36

Tudo o que aconteceu a seguir foi muito rápido, embora demore um pouco para se descrever.

Iosef levantou o rosto para o recém chegado, com o intuito de perguntá-lo o motivo de tal… maravilhoso presente. Mas realmente ficou perdido por uns momentos ao ver um local vazio onde era suposto que veria o pequenino. Ao sentir a movimentação minimamente perceptível pela sala, desfez a expressão surpresa e virou-se, acertadamente, para trás — com o gesto, o globo ocular escapou-lhe da mão, caindo a seus pés. Akita surgiu ali, mas logo pareceu sumir de novo, embora tenha apenas se abaixado.

O pequeno catou o olho do chão com um tapa, jogando-o de volta para o mais velho. Com a atenção desviada, Iosef se tornou um alvo fácil para o estado predador em que Akita se encontrava. Este deu um salto da altura do homem, dando um giro para dar mais força e tentando acertar o pescoço de Iosef com um chute. Já que o maior se desviou no último segundo, o salto do calçado passou apenas de raspão, mas causando uma ardência que parecia queimar em um corte.

Pousando com as duas pernas um pouco afastadas e esticadas, apoiando-se com a mão no chão, ele segurava o canivete com a lâmina serrilhada levantada, a espiral pontiaguda aberta do outro lado, ambas prontas para uso.

— Vamos! — a garganta de Akita deixou escapar um grito histérico. — Não fique aí parado, faça algo, estúpido!

“Até parece uma pessoa diferente”, pensou Daichi. “Como se, além dele mesmo, outra pessoa residisse naquele corpo. Que pesadelo…” O ruivo pensou em chamar a atenção de Yuurei para que saíssem da linha de fogo para pensar em um plano. Sua mão estava a centímetros da camisa dele, mas recuou-a, hesitante. Ao invés disso, cutucou Aiko nas costelas, fazendo-o se contorcer um pouco de cócegas.

— O que foi? — sussurrou em tom de riso, afastando o braço do ruivo.

Daichi nada disse, apenas fez sinal de silêncio e apontou para uma outra fenda na parede — formando uma espécie de parede quebrada entre aquele espaço e o lugar da luta —, feita em algum momento em que Aiko tentava acertar Iosef e vice-versa.

Akita mais parecia um serial killer dissimulado e impulsivo do que qualquer coisa, agindo por puro instinto e imprudência.

Percorreu em um segundo o olhar pelo lugar, estranhando a ausência dos outros três. Pareceu sentir o tempo pausar por um momento quando trocou olhares com orbes cítricos, imediatamente compreendendo quando o ruivo indicou com a cabeça o albino caído e logo em seguida Iosef — não que se importasse —, que limpava com paciência a lâmina da espada. O pequeno revirou os olhos, colocando um pé atrás para dar impulso e atacar.

Sentiu uma pontada atrás da cabeça.

— Seu vagabundo! — gritou zangado, levando a mão ao local dolorido e virando-se para trás, encarando Aiko com um olhar fuzilante.

O Tsugumi apenas deu um sorrisinho de desentendido, segurando entre os dedos um fio de cabelo fininho e negro.

— Não sou quem deve derrubar — disse Aiko em tom reprovador ao ver Akita ameaçá-lo com o canivete. — É aquele carinha ali. Aliás, parece que ele já perdeu a paciência.

Quando o pequeno se virou para Iosef, Aiko correu para perto de Yuurei antes que fosse esfaqueado.

— Sabe o que fazer? — o ruivo disse quase inaudivelmente.

— Claro — Aiko respondeu, colocando o cabelo em um frasquinho. — Distrair o excêntrico por um tempinho, fácil.

Daichi manteu silêncio à guisa de concordância, prendendo novos fios aos dedos da mão esquerda, já que os da direita já estavam ocupados.

— Yuurei — disse Aiko com sua voz singela. — Dê-me cobertura.

O guarda-costas deu um aceno de cabeça.

Aguardaram mais alguns segundos até que Akita chegasse a vinte metros do albino. O primeiro dos três a se mover foi Daichi, que jogou um dos fios para o alto com uma facilidade quase inimaginável; foi necessário apenas um movimento do dedo indicador e a linha correu para cima como uma flecha. Ela passou por cima de uma das vigas de aço centrais, a ponta pendendo para outro lado e indo quase até o chão. O ruivo balançou-a para um lado e para o outro, trazendo a ponta para si.

Daichi segurou-a e puxou rapidamente. Como se a viga fosse manteiga, a linha transpassou-a igual a uma faca. Para não cortar a mão ou conseguir uma retomada rude e brusca do fio, o ruivo soltou a ponta — mantendo o outro lado em seu dedo — e jogando-a para a esquerda e diagonal inferior direita; a cada centímetro que se movia, parecia ser recolhida um pouquinho. Por fim, Daichi girou-a, o que a fez espiralar e ser completamente recolhida.

Isso tudo foi muito veloz, acontecendo antes de aparecer o faiado na viga. A grande barra de ferro partiu-se naquele ponto, abrindo uma fenda. Enfim, ela começou a cair. A meio caminho do chão, o resto do teto ficou completamente desequilibrado, fazendo umas partes dele e outras vigas em volta cair — só não despencou tudo por conta dos pilares distribuídos uniformemente (os quais alguns estavam meio corroídos na base pelo ácido que Aiko sem querer deixara respingar ali anteriormente).

Akita, já sabendo o que ia acontecer, pulou anteriormente para trás e longe, deixando Iosef meio atordoado. O barulho alto do teto caindo chamou a atenção do homem imediatamente. Ele foi rápido, usando sua imponente espada para destruir cada fragmento de construção que caísse sobre si.

Assim que o último pedaço de pedra passou de sua vista, viu Daichi com as linhas preparadas. Aiko apareceu por trás, jogando na frente do ruivo o conteúdo aguado violeta de um frasco. Com os fios, girou em uma velocidade magnífica o fluído misterioso. Em um segundo, o líquido seguiu o movimento com simplicidade, avançando junto a medida que as linhas iam também.

Akita ignorou completamente a chance que lhe foi dada. Cortou profundamente a mão ao arrancar a faca serrilhada do canivete e lançou-a com firmeza na direção de Iosef, talvez com força demais. Não deu a mínima para o ferimento que rasgava seus dedos finos e a palma macia, como se não ardesse em brasa.

A lâmina voou igualzinho ao tiro de uma bala, quase não dando tempo para o homem desviou — ainda mais que precisava se concentrar no ataque em conjunto de Aiko e Daichi. Ela acertou-o em cheio no estômago, chegando a adentrar tanto o corpo que apenas uma pontinha mínima ficou para fora, não podendo sequer ser retirada.

Como aquilo fez Iosef baixar a guarda por um momento, Daichi encontrou a chance perfeita. Fez um movimento mais brusco com as linhas, obrigando-as a duplicarem a velocidade. No último segundo o homem percebeu que ia ser atingido, conseguindo desviar-se e evitar danos maiores que um dos ombros ser quase pulverizado. Infelizmente não chegava a ser fatal.

— Idiota — disse Daichi ao ver Akita partir novamente para cima de Iosef, como um animal ensandecido.

— Vamos ter que acordar Hayato nós mesmos então — falou Aiko.

— Como vamos fazer isso?

— Fácil, fácil. — Ele levantou o frasquinho com o fio de cabelo de Akita.

Como o ruivo expressava claramente que ainda não entendera, Aiko se pôs pacientemente a explicar:

— Não é de conhecimento geral, mas fui eu que desenvolvi aquele veneno paralisante quando eu tinha doze anos, uma mistura infantil e impensada. Então obviamente eu sei como fazer a vítima acordar. Não é só Akita que tem um olfato excepcionalmente bom, Hayato também. Vou induzí-lo a despertar com o cheiro do Hideki-san e sangue, que já está aqui. Isso vai fazer seu cérebro entender que ele está em perigo, drenando imediatamente o que está lhe mobilizando, nesse caso o veneno, para que possa salvá-lo.

Daichi se mostrou impressionado.

— Se você diz isso, quem sou eu para duvidar? Vá em frente.

Aiko assentiu com um sorriso e se encaminhou alegremente para a gaiola de Hayato, enquanto uma luta violenta entre Akita e Iosef se desenvolvia atrás de si. O Tsugumi balançou um pouco o frasco antes de abrí-lo ao lado do rosto de Hayato, agachado ao seu lado. Cantarolou uma nota tranquilamente, semelhante ao tom que pássaros têm: afinado e adorável.

Não demorou mais que alguns segundos para os olhos do albino se abrirem repentinamente, alertas. Ele se endireitou bruscamente, usando as mãos como apoio — por consequência, sentiu a cabeça girar pela mudança repentina de sentido. Abriu a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas viu o objeto de vidro na mão de Aiko. Indignado, arrancou-o dos dedos do mais velho.

— Eu… não acredito! — exclamou, realmente indignado. Jogou o frasco em Aiko, que desviou-se facilmente e deixou que Yuurei apanhasse o objeto antes do mesmo se estilhaçar no chão. — Não me assuste mais assim!

Aiko sorriu novamente.

— Desculpe, desculpe — disse. — Mas é que era o único jeito de te acordar. Além de que estamos com sérios problemas aqui.

— Problemas? — repetiu Hayato.

— É.

— Tipo quais?

Um grito de Akita ecoou pelo cômodo.

— Tipo esse — falou Daichi apontando atrás de si.

O albino apoiou-se de lado para ver o que estava acontecendo, já que nenhum dos outros três se movera. Não ficou muito feliz quando viu o ombro de Akita transpassado pela espada de Iosef, cuja ponta chegava a tocar a parede que impedia o pequeno de recuar. O homem arfava um pouco, enquanto Akita esperneava para poder se soltar, o que apenas fazia o ferimento se agravar.

— Você só me trás problemas — disse Iosef realmente zangado. Pelo visto não notara que Hayato acordara. — Você me tirou o que eu tinha de mais precioso, e quanto tento retomá-lo você volta e tenta barrar meu caminho?

Um ganido de dor escapou pelos lábios do pequeno, que podia sentir nitidamente a lâmina quebrando o osso.

Muita gente pensa que se recebesse uma facada ou qualquer coisa do tipo, poderia facilmente inibir a dor meramente cerrando os dentes e fazendo pose de forte. Não é nada disso. É a coisa mais difícil do mundo fingir-se de corajoso e durão em momentos como esse, em que há alguém querendo avidamente a sua morte e rompendo cada vaso sanguíneo de alguma parte de seu corpo. Felizmente Akita sempre foi muito bom em esconder sentimentos.

Os dentes do pequeno se cerraram, os caninos prontinhos para rasgar a carne do homem à frente — como um animal selvagem, um predador. Os olhos cada vez mais perdiam a pouca sanidade que lhe restava, sendo preenchidos por raiva, pura raiva.

— AKITA! — a voz de Hayato soou alta e urgente.

A atenção de Iosef voltou-se para ele, virando a cabeça bruscamente para trás e empalidecendo.

— Não faça isso! — ralhou Hayato, agindo como se desse uma bronca em alguma criança bagunceira. — Não pode mordê-lo! Não abra a boca para nada, ouviu? Daqui a pouco saímos daqui e poderá descansar. Até lá, zíper na boca!

Akita viu que Iosef estava meio desnorteado. Um sorriso nada agradável despontou em seu rosto, enquanto levantava o tão gasto e imundo de sangue canivete, tocando-o na mão de Iosef. O único lugar que alcançava era a ponta dos dedos, claro, com o ombro livre.

— Shh — sussurrou Akita. — Você só me trás problemas.

Como o esperado, o homem retirou a mão dali e, consequentemente, a espada. O pequeno deixou sair da garganta uma exclamação dolorida ao sentir a lâmina sendo bruscamente retirada, embora tenha contido-a o máximo que conseguiu. Sem perder tempo, correu para trás de Iosef e lançou-lhe o canivete inteiro nas costas. Enquanto o homem se contorcia de dor, tentando tirar o objeto que fincara em suas costas — sentia a lâmina de antes, no estômago, afundando cada vez mais.

Todo o ar selvagem, carnívoro, sanguinário, demente e irracional evaporara como mágica.

Akita ficou atordoado por alguns segundos, sentindo o baque horrível das dores agonizantes por todo o corpo, tentando acostumar-se com a sensação. Virou a cabeça, procurando desesperadamente o local onde Hayato estaria — pelo visto não fazia a mínima ideia do que acabara de acontecer, porque tinha um olhar extremamente confuso. Sentiu as pernas pesarem ao ver a distância entre ele e a gaiola.

Se estivesse bem, sem aqueles ferimentos absurdos, chegaria lá em um piscar de olhos. Mas agora… Agora só podia esperar que a gaiola criasse pernas e chegasse correndo até si.

Quando sentiu alguém se aproximando por trás, o pulmão já dava falta por ar. Pensou que ia com certeza morrer daquele jeito patético pelas mãos de alguém desprezível. Mas quem lhe segurou era cuidadoso e veloz, levantando-o pelas pernas, que não estavam feridas, para que se apoiasse com o braço bom nos ombros do ruivo. Daichi estivera esquecido ali no canto, juntamente com Aiko e Yuurei.

— Depois trocamos — disse com uma piscadela, surpreendentemente jogando-o devagar quando chegou a dois metros da gaiola.

O braço de Hayato estava esticado o máximo possível para fora, tentando alcançar Akita. O pequeno entendeu o que o albino pretendia fazer, esticando o braço bom também. Assim que as pontas dos dedos se tocaram, as marcas dos dois — a de Hayato, no ombro por baixo das roupas, e a de Akita, no olho —, ambas do sinal de infinito, brilharam intensamente.

O pequeno sentiu um calor tomar conta de seu corpo. Antes de bater no chão, seu corpo se desfez em penas alvas, flutuando por entre as grades de ferro e entrando na gaiola. Da mesma maneira que na última vez, elas se reuniram em um único local, lentamente dando lugar à uma elegante e fatal foice.

Estreitando os olhos, Hayato afastou-se um passo e fez um movimento horizontal com o que outrora fora Akita. Um vento geladíssimo surgiu dali. Usando a lâmina para direcioná-lo, o albino conseguiu facilmente concentrá-lo nas barras à frente. Era tão frio, mas tão frio, que o ferro chegou a congelar. Não ficou apenas coberto de gelo, e sim virou gelo.

Usando o cabo de mogno, Hayato quebrou as barras de gelo, transformando-as em estilhaços no chão. Agora quem ostentava o olhar perigoso era ele.

Assim que pisou fora da gaiola, desfez a transformação de Akita, colocando-o gentilmente no chão, bem no cantinho. Daichi aproximou-se pelo outro lado, tocando o ombro do albino. Assim como anteriormente, penas — dessa vez negras — substituíram o corpo do ruivo e que viraram um par de pistolas, as duas de cores opostas uma à outra.

Mirando as duas com precisão, Hayato atirou sem hesitação no ex-colega, que já tinha o rosto distorcido por ódio enquanto encarava Akita. Não foi nem balas de chumbo tampouco os aparentes diamantes reluzentes da última vez, mas sim bolas de fogo que voaram de dentro das armas. Eram tão comprimidas que quando chegaram a centímetros de Iosef, sem tocá-lo, explodiram.

Não houve tempo sequer para notar o que estava acontecendo, quem dirá reagir. Um estrondo alto soou, chegando a fazer as paredes estremecerem. Hayato apenas esperou a explosão acontecer, não movimentando um único músculo. Aiko, que estava bem perto, cobriu o rosto para não se ferir, mas não foi realmente necessário — já que Yuurei notou tudo a tempo e puxou o Tsugumi para o canto, protegendo-o com o próprio corpo.

— Obrigado — agradeceu Aiko com um sorriso, ao ver que a explosão terminara. — Venha, vamos ver como estão eles.

O guarda-costas se afastou, dando passagem para o mais novo e o seguindo. Aiko correu e abaixou-se ao lado de Akita, passando os olhos pelas feridas gravíssimas de seu corpo.

— Posso fechar superficialmente as feridas, mas não posso garantir nada demais — disse. — Alguns seus órgãos vitais foram meio danificados, embora nada muito grave.

Como sempre fazia, Aiko pegou seu frasquinho com o líquido cor de sangue — curiosamente, dessa vez era maior que o anterior —, abrindo-o e despejando tudo nos ferimentos.

— Ele vai ficar bem? — Hayato perguntou, ainda com as pistolas na mão.

— Se eu parar o sangramento, vai sobreviver.

Aos poucos, a carne que transparecia pelaos rasgos e cortes das roupas foi se fechando, mas algumas marquinhas avermelhadas ainda permaneceram. Aiko, satisfeito com seu trabalho, embora ainda ligeiramente pálido de preocupação, fez desaparecer o frasco agora vazio em uma névoa mais rala do que geralmente. Ainda agachado, virou a cabeça e olhou Hayato.

— É melhor fazer Daichi voltar ao normal — aconselhou Aiko, pousando as costas da mão na testa do pequenino, mais pálido do que si, para ver sua temperatura. — Vai sobrecarregar o corpo dele desse jeito.

— Ah, desculpe.

Hayato desfez lentamente a transformação do ruivo. As plumas negras como breu, de um preto absoluto, surgiram das sólidas pistolas imponentes. Elas pareceram planar no ar por um segundo antes de caírem levemente no chão, onde, ao tocarem a superfície lisa, foram se transformando aos poucos em Daichi. Ele estava completamente esgotado, sem energia sequer para abrir os olhos, respirando pesado e descompassadamente.

— Deu… certo? — arfou ele num fio de voz.

— Sim, pode descansar agora — respondeu Hayato.

Um sorriso fraco decorou o rosto de Daichi antes do mesmo deixar-se levar pelo cansaço e relaxar.

Aiko deixou Akita para Hayato levar e foi em direção ao garoto adormecido. Yuurei, que se mantivera imóvel e em completo silêncio até então, segurou em seu ombro, impedindo-o de apanhar o ruivo.

— O que foi? — disse Aiko confuso. — Ele não é pesado.

Yuurei não respondeu em voz alta, indicando com a cabeça os braços do menor. Aiko olhou, sobressaltando-se logo em seguida. Suas mangas, antes compridas, estavam desfiadas até os cotovelos, manchadas de sangue. A pele estava cheia de arranhões e ferimentos finos, chegando a escorrer um pouco de escarlate para as mãos.

— Quando…? — surpreso, Aiko tentou formular a pergunta, porém nenhuma palavra a mais saiu de sua boca.

— Você não tinha visto? — disse Hayato, levantando Akita no colo.

— Não. Há quanto tempo?

— Já estava assim quando acordei.

— Deve ter sido enquanto tentava lidar com Iosef ou enquanto vinha para cá. Eu e Daichi quase fomos pegos em umas explosões no caminho.

— Está doendo?

— Nem um pouco, estou bem. Vamos logo, a estrutura daqui parece fraca, tenho a impressão de que vai desabar a qualquer momento.

Yuurei levantou o ruivo, dirigindo-se para a saída da sala. Hayato correu a tentar acompanhar o mais velho, parando no batente da porta e olhando em volta. Não via o guarda-costas em lugar nenhum.

— Ele deve estar nos esperando lá na frente — disse Aiko, passando pelo albino e seguindo o caminho que os levaria para fora.

— Como ele chegou lá?

— Descubra por si mesmo, da mesma maneira que fiz anos atrás.

Com essa resposta nada satisfatória, Hayato seguiu Aiko pelos corredores. De alguma forma, encontraram facilmente a saída — provavelmente pelo fato da mecânica de movimentação da construção não estar mais funcionando. Realmente, assim que subiram uma enorme escadaria de pedra e passaram por uma sala cheia de pilares, chegando na porta de entrada principal, viram Yuurei sentado ao longe, admirando impassível as nuvens passeando pelo céu. Daichi fora deitado na grama, sendo coberto com o moletom que o guarda-costas usara antes.

Sem dizer palavra, Aiko encaminhou-se para junto de Yuurei e sentou-se ao seu lado, mantendo o tão precioso e agradável silêncio. Hayato, por sua vez, colocou Akita ao lado do ruivo, sentando-se por perto.

Ali fora, com o tempo animador que estava (embora Hayato ainda preferisse o outono), nem dava para acreditar que haviam acabado de passar por mais uma experiência quase morte. Com um amargor no olhar, o albino lembrou-se da coisa mais marcante que havia acontecido entre ele e o homem, e que com toda certeza fora a causa para tudo isso.




— Para quê me chamou aqui, Iosef-san?

Iosef hesitou antes de respondeu, tamborilando os dedos no braço.

— Hayato, eu… te amo.




Aiko, como se adivinhando os pensamentos de Hayato, sorriu. “Eu sabia, era óbvio demais.”




• • •



Aiko, depois de relaxar um pouco, decidiu ligar para Mikato, o amigo de Daichi, para pedir ajuda. Por sorte seu celular não havia sido danificado e ali havia sinal. Ao ouvir tudo, Mikato desligou o telefone rapidamente com um corrido “estou indo”.

Em questão de meia hora, um carro vagamente familiar parou bruscamente, com uma buzinada alta. A porta da frente se abriu de repente e de lá saiu a figura alta de Mikato, os olhos verde-água preocupados mirando cada um dos cinco rapazes ali. Por fim, fixaram-se em Akita, que de longe era o mais ferido. Aproximou-se e observou bem o rosto do pequenino.

— Ele está em profunda dor — disse seriamente. — Mesmo inconsciente está sentindo a dor de ter partes importantes do corpo perfuradas, suponho. Não faço a mínima ideia do quão forte era esse palhaço que vocês enfrentaram, mas devia ser bem raivoso.

Mikato instruiu Hayato sobre os lugares que poderia segurar para levar Akita até o carro, enquanto ele próprio levantava Daichi e o colocava no banco de trás junto com Aiko e Yuurei, que haviam sido os primeiros a entrar. O mais velho de todos sentou-se no banco do motorista, girando a chave e dando a partida. Estavam na estrada havia cinco minutos quando Mikato resolveu quebrar o silêncio.

— Mais uma vez fui avisado de tudo, menos do que eu precisava saber. — Ele parecia ligeiramente aborrecido.

— E o que seria? — indagou Aiko com um sorriso.

— Como vocês sobreviveram?

Um momento de silêncio se seguiu à última frase.

— Desculpe? — disse o Tsugumi ainda com o sorriso, mas dessa vez com um tom de voz cauteloso que Mikato não deixou de notar.

— Se o palhaço for forte como notei, vocês não teriam o vencido até o fim do dia, ainda são duas horas. Ainda mais que Akita teve os ferimentos mais sérios antes de lutar de verdade, ou não teria esse arranhãozinho na pálpebra tão recente. Não sou idiota a ponto de não notar que ele nunca conseguiria lutar por conta própria em um estado tão decadente.

Os orbes cinzentos de Aiko se estreitaram. Em contraposição, o sorriso aparentemente gentil permanecia no rosto, dando uma falsa sensação de segurança.

— Não vou dizer — falou, sua voz sempre amável.

— Qual a condição?

— Como?

— Qual a condição para que me conte? Tenho que me provar útil ou coisa do tipo?

— Há uma coisa importante que deve fazer sim…

Mikato estava com os olhos voltados para a estrada, embora não perdesse uma única palavra do mais novo.

— E o que seria?

O sorriso gentil se transformou em um de desafio.

— Descobrir tudo — disse. — Sozinho.

Mikato não ficou desapontado nem nada. Na verdade deu uma risadinha baixa.

— Achei que diria isso — comentou.

— De tanto conviver com Daichi ficou mais inteligente?

— E de tanto ele conviver com você, também ficou. É, mais ou menos isso.

Embora superficialmente a atmosfera parecesse descontraída, na verdade estava pesadíssima. Os olhos de Mikato faiscavam pelo espelho retrovisor, mirando os de Aiko que também tinham a mesma intensidade. Eles travavam uma batalha silenciosa de argumentos, que ninguém sabia quais eram.

Daichi tinha uma mente forte (afinal, mesmo com aquele ar perigoso no carro, mantinha um sorriso enquanto dormir), mas infelizmente, Akita nem tanto, ainda mais vulnerável como estava naquele momento. Se encolheu quando sentiu a ameaça pairando. Hayato afagou sua cabeça — já que estava em seu colo — e rezou para que não tivesse pesadelos, sempre acordava abalado demais quando isso acontecia.

Não notaram quando, mas logo começaram a ouvir conversas por todos os lados, baixas, mas conversas. Haviam entrado na parte central de Ignis.

— Diga-me onde fica o hospital mais próximo — disse Mikato.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Qualquer dúvida, coloquem no review. Críticas, qualquer coisa serve. Por favor, dêem um sinal de vida!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aki No Ame (DESCONTINUADA)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.