Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 37
Fontes termais


Notas iniciais do capítulo

Eu... realmente... sinto muito pela demora T-T
Reescrevi esse capítulo exatamente 5 vezes antes de acabar nisso aqui que vai ler!!!! Gomen!!! T~T
Espero que não fiquem desapontados nem nada, e que isso ao menos ocupe o precioso tempo de vocês... Desculpem pelos erros ortográficos que devem ter aí.



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Mikato apenas deixou os rapazes no hospital e foi embora, alegando ter muita coisa para fazer. Como Yuurei que iria cuidar de Aiko, Akita ficou a cargo dos outros dois. Pelo visto, os ferimentos no braço do Tsugumi eram mais graves do que pareciam, por pouco não sofrera hemorragia.

— Bem que eu senti a visão girando um pouco — comentou ele ao ouvir a notícia.

— E por que não disse nada? — perguntou Hayato.

— Não achei que fosse importante, pensei que fosse o descarregamento de estresse no corpo, sobrecarregamento. É algo normal.

Depois disso, a conversa se encerrou.

Aiko foi conduzido até o quarto 32, enquanto Akita foi ao 51, logo no andar de cima. Hayato ficou sentado ao lado de Akita, observando o metabolismo veloz dele gastar o que usaria em crescimento para cicatrizar os machucados. Sorriu ao ver a expressão do pequeno relaxar quando a dor passou.





— Acho que exagerei um pouco dessa vez — comentou Aiko com um suspiro.

Ele estava sentado, da mesma forma que um príncipe faz quando doente — afinal, vinha de uma família de condes e condessas —, os braços enrolados em gaze e usava as roupas brancas do hospital. Os cobertores cobriam-lhe as pernas bonitas, no momento com calças. Brincava com um chaveirinho de ouro entre os dedos.

— Desculpe te dar tanto trabalho — murmurou Aiko. — Eu… dependo demais de você.

Yuurei nunca alterava sua expressão, mas Aiko via gentileza por trás daquela máscara gelada.

— Meu dever é cuidar de você — disse o guarda-costas, ainda impassível.

— Não quero que veja isso como uma obrigação.

— Não vejo.

Um silêncio seguiu a última frase. Aiko se encolheu ligeiramente e voltou sua atenção para o chaveiro em forma de elefante.

— Preocupado com Riki-sama? — indagou Yuurei em um tom beirando ao sussurro.

— Sim… — Aiko disse. — Onii-sama sumiu há um ano, não é? Comum que eu me preocupe. Gostaria de saber o que houve com meu otouto também, já que os dois estavam viajando juntos logo depois que a família se desfez.

Ele não demonstrou tristeza por seus famíliares terem desaparecido ou se distanciado. Era indiferente. O máximo que fez foi indicar algum interesse pelo estado dos irmãos, desviando o olhar para o chão, pensativo.

— Só vou te contar o que fiz exatamente nos últimos dois anos quando reencontrar o onii-sama. Até porque tenho que saber se realmente fiz a melhor escolha ao sair de casa.

Yuurei assentiu em concordância, terminando o assunto como sempre, bruscamente.

— Eles são fortes — comentou o mais novo de repente, referindo-se aos recentes companheiros… ahn, amigos. — Claro, existem melhores, mas o potencial deles é muito alto, mesmo que ainda incompleto. É algo meio desagradável saber que o peso de tudo isso está sobre meus ombros… Ou ao menos em parte.

O guarda-costas só ouvia, parado, recostado ao lado da porta, na parede.

— Provavelmente Daichi voltará só amanhã — Aiko falou casualmente. — Será que deveremos esperá-lo na porta da frente?

— Melhor não.

— Tem razão, não sabemos o horário que chegará… Então vou simplesmente acordar mais cedo para esperar.

Yuurei fitou-o por uns momentos, desviando o olhar em seguida. Sentou-se na braçadeira da poltrona, aparentemente olhando para a janela.



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No quarto 51, Hayato estava sentado na cama, encostado na barriga de Akita, por cima do cobertor, lendo seu costumeiro livro de capa de couro desgastada. O pequeno despertou vagarosamente, que, estando de lado, remexeu-se para virar-se para cima.

— Como está? — o albino perguntou, desviando a atenção do livro para o pequeno.

— Meu ombro dói um pouco, mas estou bem. E você?

— Sem um arranhão.

Akita sorriu, aliviado.

— E os outros?

— Daichi saiu, Aiko e Yuurei foram para o telhado há uns cinco minutos e Mikato ligou avisando que a chave da casa dele está na caixa de correio, caso queiramos entrar.

— Aah…

O pequeno afastou as cobertas para o lado, colocando as pernas para fora da cama.

— Você deveria descansar — disse Hayato, preocupado.

— Já falei que estou bem. Vamos dar uma volta lá embaixo, cheiro de hospital me dá náuseas.

— Só podemos ir ao jardim daqui, nos fundos.

— Perfeito.

Ele deu impulso e se levantou de uma vez, espreguiçando-se com alguns moans baixinhos. Como não podia fazer força nos braços, Hayato que abriu a porta do quarto.

— Quer usar o elevador?

— Não fiquei deficiente físico, vamos de escada. Minhas pernas estão meio dormentes, preciso fazer a circulação de sangue voltar ao normal.

Hayato assentiu, guiando-o pelos degraus, sabendo que seu equilíbrio esava seriamente prejudicado. Ao passarem pela recepção, avisaram às enfermeiras que estariam do lado de fora. Feito isso, saíram pela porta de vidro ao canto, emoldurada por aço e com a maçaneta cromada.

Saíram em um lugar muito bonito, onde uma “estradinha” bem pavimentada serpeava pela grama esmeralda, com arquinhos de aço dos lados. Árvores de folhas volumosas estavam espaçadas, projetando sombras intercaladas no chão. Na maior parte do dia, a estradinha também era sombreada, sendo banhada com luz apenas no pôr do sol.

Akita sentiu seu humor subir ao ver o calmante jardim, abrindo um sorriso no rosto. Ignorando a dor aguda, saltou levemente da porta de vidro para alguns metros à frente. Hayato também abandonou o batente, fechando a porta atrás de si e indo ao encontro de Akita, que o segurou pela mão.

— Olhe, Hayato! — exclamou o pequeno empolgado. — Há uma fonte bonita ali adiante! Vamos até lá!

Akita tentava puxá-lo, animado, até o chafariz do outro lado do gramado, que tinha uma árvore de ipê amaralo ao lado. O albino trouxe o mais novo para perto, surpreendendo-o. Passou os braços em volta dele, pelas costas, e o levantou, rodando-o e andando por si mesmo por cima dos arquinhos de aço em direção à fonte.

— Hayato! — riu Akita, divertindo-se com a situação. Tinha os pés fora do chão e os braços presos pelos outros do maior. — O que está fazendo?

O mais velho já estava pertinho do chafariz. Sendo assim, deu um passo rápido ao lado do mesmo e, em um gesto veloz, soltou de repente Akita sentado ali. Claro, ao invés de soltá-lo completamente, segurou as duas pequeninas mãos dele, mantendo-o suportado apenas por elas para não cair dentro da água. Os orbes ouro se arregalaram de susto.

Hayato não conseguiu segurar uma risada ao ver a expressão alarmada do pequeno, puxando-o de volta até ficar de pé.

— Você me deu um susto, senhor! — disse Akita, dando um tapa com o lado bom no braço do albino. — Não faça mais isso! E se me soltasse sem querer? Além de tudo ia pegar um resfriado!

Para sua grande surpresa, foi abraçado pelo maior de forma acolhedora. Seus olhos se arregalaram de novo, dessa vez por causa de algo indefinido.

— Eu nunca soltaria — sussurrou Hayato, apertando o abraço. Os orbes do pequenino ficaram ainda maiores. — Nunca…

Por alguns momentos, Akita ficou sem reação, mesmo após ter sido solto. O albino manteu as mãos nos ombros dele, fitando seu rosto. Ao sentir a troca de olhares, o pequeno corou, corou muito.

— O q-que está falando tão de repente? — disse nervoso, gaguejando, o rosto cada vez mais vermelho. Afastou as mãos do maior, cruzando os braços e desviando os olhos. — N-não fique tão cheio de si! Não sou assim t-tão dependente de v-você!

Hayato sorriu carinhosamente, afagando os fios negros, enquanto o pequeno fechava a cara — as bochechas tão coradas que parecia uma sacolinha de sangue, ainda mais com a pele pálida — e fazia biquinho, o que era simplesmente adorável.

Akita sentou-se no chão mesmo, recostando-se no chafariz.





— Yuurei, minhas costas estão estranhas, talvez estejam ardendo.

O guarda-costas, que estivera sentado no topo da grade da beirada do telhado, desceu e foi até o mais novo, que, sentado no chão, ainda brincava com o chaveiro entre os dedos. Yuurei puxou com o indicador a gola da blusa branca de hospital e olhou as costas do mesmo por dentro da roupa. Havia uma enorme marca negra ali, ocupando muito dessa parte do corpo, como uma tatuagem.

— De novo?

— É — Aiko respondeu. — Toda vez que transformam, a marca acorda. Além disso, está mais ativa do que normalmente.

— Talvez… Riki-sama?

— Sim, onii-sama deve estar por perto. Pelo menos voltou à esse mundo. Uma vez ele me disse que há mais que esse pentagrama de cidades e o mundo do qual Akita veio, sabia? Tipo, parece que há uma área dentro dessa em que estamos, talvez até cinco. Onii-sama é tão inteligente! Descobriu tudo sozinho!

O brilho de admiração nos olhos cinzentos era enorme. Yuurei sentou-se ao lado de Aiko, passando o dedo branco pela linha das costas do outro.

— Não consigo sentir a temperatura de nada — disse Aiko, quase num lamento.

Yuurei pareceu quase se comover por isso, embora ainda permanecesse impassível. Levou os dedos dessa vez ao rosto do menor, passando as pontas na bochecha aveludada. Aiko fechou os olhos para sentir a pele sem temperatura tocar a sua.

— Estou com sono — disse o Tsugumi de repente, bocejando. — Tive uma soneca conturbada mais cedo, não consegui descansar muito bem. Empreste-me seu colo, vou dormir um pouco.

Yuurei esticou mais o braço e puxou sua cabeça de leve para si, indicando que poderia dormir. Aiko acomodou-se nas coxas do mais velho, como uma criança, encolhendo-se confortavelmente e caindo no sono no segundo seguinte. O guarda-costas colocou a mão no ombro dele de forma protetora, espiando em volta para ver se ninguém mais estava ali.

Passou mais uma vez os dedos pelas costas do outro. Desse movimento, um súbito vento soprou, afastando sua franja para o lado. Com o cabelo fora do rosto, a face inesperadamente e estuporantemente bela e inexpressiva passava os olhos violeta pela marca que transparecia na base do pescoço de Aiko.

Com mais um gesto horizontal por cima da camisa do outro, seus orbes emitiram um brilho da mesma cor das íris, chegando quase a faiscar. A marca negra na pele do Tsugumi cintilou nessa cor antes de desaparecer completamente.

Frio como sempre, fitou o rosto de Aiko para saber se tinha acordado. Por sorte não. Com esse movimento, o cabelo voltou ao rosto, cobrindo os olhos e chegando ao nariz. A tensão do corpo dele praticamente evaporou, com certeza dando mais tranquilidado ao seu sonho.





— Quantas letras?

— Sete.

— Dica?

— Medo de pessoas com paranóia de extraterrestres.

— Ah, abduzir!

— Certo!

Akita riu, feliz por ter acertado mais uma vez a palavra. Ele e Hayato estiveram brincando de adivinhação nos últimos quarenta minutos. O sol começava a descer, lentamente dando lugar à noite. O jardim estava banhado em alaranjado, continuando bonito. Os dois rapazes agora estavam sentados no galho de uma árvore.

— Daqui a pouco vamos entrar — disse Hayato. — Assim que escurecer vai esfriar um pouco. E tenho a sensação de que vai ventar bastante nessa noite.

De fato, uma brisa mais forte começava a soprar. Akita puxou os tornozelos para si e disse, animado:

— Até lá vamos continuar aqui! Está divertido! Agora acerte a palavra que estou pensando, tem seis letras.

— Não conheço muitas palavras com seis letras.

— Nem eu. Ora, tente.

— Ah, tá bom. Dica?

E assim continuou até Akita começar a tossir, o que convenceu Hayato de que era hora de entrar.








Já era de madrugada, Akita e Hayato dormiam a sono solto no quarto, cansados de tantos jogos de adivinhação, inclusive forca era um desses jogos. Mas haviam esquecido a janela aberta, por onde entrava um vento forte. Hayato acordou quando Akita deu uma estremecida de frio — já que estava sentado ao seu lado, com o pequeno recostado em si.

Tomando muito cuidado para não acordá-lo, deixou Akita ali e foi até a janela. Ergueu o braço para fechá-la, quando viu uma sombra familiar passar pelo jardim da frente do hospital. Lançou-se para a frente, debruçando-se no peitoral, para ver direito. O olhar veloz seguiu a sombra, reconhecendo o brilho dos fios azuis, observando a pessoa pular o muro e sumir na sombra da noite.

— Hayato…? — chamou uma voz preguiçosa e sonolenta. — O que houve?

— Vim fechar a janela porque estava frio e pensei que tinha alguém perambulando ali na frente, mas era só um gato de rua.

— Aaah, entendo… Ei, volte aqui, o quarto está gelado.

Akita, ainda morrendo de sono, abriu os braços amolecidos em um convite. Hayato andou até até ele e ajeitou-se junto. Assim que o rosto do pequeno se apoiou na camisa do albino, voltou imediatamente a dormir. Ficando sonolento também, puxou o cobertor para cima e adormeceu.




— Que tal irmos às termas hoje? — propôs Aiko alegremente na manhã seguinte.

— Existem termas aqui? — perguntou Akita, repentinamente empolgado.

— Na verdade é em Terrae. Mas como não é muito longe, podemos ir hoje. Daichi provavelmente chegará daqui a pouco, então talvez cheguemos lá logo depois do almoço

— É uma boa ideia — concordou Hayato. — Vocês receberão alta hoje. Além disso, admito que precisamos relaxar.

— Eba! Vamos para as termas! — Akita comemorou.

Hayato sorriu enquanto Akita pulava em seu pescoço, feliz por seu consentimento.

Assim que as enfermeiras terminaram o último check-up e Daichi finalmente retornou, foram liberados e puderam ir à rodoviária “mística” de Ignis. Aiko subiu na capota dos carros por todo o trajeto, olhando em volta, para saber se estavam indo na direção certa, até que um motorista ameaçou esfaqueá-los se pisassem em seu carro.

Chegaram ao lugar onde se vendia bilhetes de ônibus, indo os cinco para o mesmo balcão — a moça ali sentada quase teve um infarto ao ver os rapazes de tão rara beleza, ali, em sua frente. Como sempre, Aiko e Daichi discutiam sobre algo estupidamente banal.

— Vamos ir no ônibus das 9h45 — disse Aiko.

— Vai ser corrido demais — respondeu o ruivo. — Teríamos que sair atravessando paredes para chegar a tempo, sai em menos de um minuto.

— Dá tempo se formos rápido!

— Não conseguimos nos teletransportar para lá, sabia?! Estou dizendo que não dá tempo!

— Pare de ser tão negativo!

— Ei — disse Akita, abrindo caminho entre os dois e debruçando-se no alto balcão. Falava com a jovem. — Pode ser o ônibus das 10h05.

— Quê…? — Daichi ia protestar, quando o pequeno o interrompeu.

— Calado. Por favor, moça.

A mulher demorou a processar a informação em seu cérebro cheio de fofura e moe, mas entregou os bilhetes à eles, guardando o dinheiro na caixa registradora. Não conseguiu evitar um suspiro de tristeza ao vê-los se afastar.

— Não seja tão teimoso — ralhou Akita, falando com o ruivo aos sussurros. — Sabe muito bem que Yuurei está incomodado.

— Claro que sei — sussurrou Daichi de volta, abaixando-se para ficar mais ou menos no mesmo nível do pequeno enquanto andava.

Akita revirou os olhos para ele.

— Está fazendo de propósito?

— O que você acha?

— Que é muito sacana.

O ruivo sorriu de lado, sumindo de repente da linha de visão de Akita, que, surpreso, procurou em volta. Assim que virou a cabeça para o lado, sua visão foi tapada pela mão do mais velho, que tinha um sorriso um tanto… maldoso. Aproximou os lábios macios do ouvido do menor, murmurando:

— Sacana?

Akita encolheu-se instintivamente, sentindo a respiração quente bater em seu pescoço. Daichi ia dizer mais alguma coisa, mas foi puxado para trás pela blusa, caindo no chão.

— Ouch, isso doeu! — exclamou.

Hayato tinha a expressão relativamente calma, mas seus olhos faiscavam perigosamente.

— Acalme-se — disse o ruivo, claramente o provocando, embora levantasse as mãos em um gesto de rendição. — Não precisa ficar tão zangado assim, afinal, vocês dois são apenas amigos, não é?

— Três segundos — falou o albino apenas.

Foi o suficiente para que Daichi entendesse o recado — três segundos para que corresse por sua vida —, levantando-se aos tropeços e disparando em direção à porta que levaria ao lugar onde o ônibus sairia. Hayato voltou-se para Akita, que continuava ligeiramente encolhido.

— Vamos? — convidou.

O pequeno assentiu, segurando a mão que lhe era estendida. Os dois foram atrás de Aiko e Yuurei, que já estavam vários metros a frente.

Quando encontraram Daichi novamente, foi como se o “três segundos” nunca tivesse existido. Entraram no ônibus na mais descontraída atmosfera possível. Yuurei e Aiko sentaram-se lado a lado, o Tsugumi mostrando animado alguns esboços bem feitos em um bloquinho com canetas coloridas. O guarda-costas não deixou escapar nada mais que um curvar de lábios — que poderia muito bem representar o protótipo de um sorriso —, durando menos de um segundo, mas que deixou Aiko radiante de felicidade.

Como sempre, Akita se aconchegou entre Daichi e Hayato, passando a comer as bolachas recheadas que levava na mochila. Hayato, da maneira que sempre fazia, puxou o livro de couro desgastado, lendo-o absorto. O ruivo apenas se apoiou na janela, observando tudo através do vidro, quase sonhador.

Houve algum trânsito no caminho para Terrae, mas nada demais — atrasou-os meros trinta minutos —, em que Akita inevitavelmente caiu no sono.

Quando chegaram na rodoviária da outra cidade, tão semelhante à de Ignis, tiveram um certo problema para acordar Akita, até que Hayato decidiu levá-lo no colo após um comentário desnecessário do motorista do ônibus (“Não me importo de ficar com ele”).

Carregados com a pouca bagagem que tinham, saíram do extenso automóvel e cruzaram a larga porta de saída, apressando-se a sair da rodoviária.

— Aah, estou com tanta fome — disse Aiko se espreguiçando. — Não comi nada o dia inteiro!

— O restaurante das termas é caro demais hoje, vamos parar em algum lugar no caminho — falou Hayato.

— Eba! Yuurei, vamos!

Aiko saiu correndo na frente, obviamente morrendo de fome — talvez mais do que havia falado —, enquanto Yuurei apenas apressou ligeiramente o passo para seguí-lo.

— Onde exatamente estamos indo? — perguntou Daichi, arqueando a sobrancelha.

— Estamos apenas os seguindo — disse Hayato.

— Se nos perdermos a culpa é deles — acrescentou Akita.

— Não vamos nos perder! — exclamou Aiko, já muito à frente. — Conheço essa cidade até mesmo do avesso!

— Boa audição — murmurou o ruivo, claramente com vontade de dar risadas.

Akita, por sua vez, abafou risadinhas na manga comprida da jaqueta, imaginando quantas conversas Aiko já teria escutado “sem querer” por trás da porta.

Entraram em um restaurante pequeno, porém aconchegante. Paredes pintadas de verde-musgo, ornamentadas com quadros de natureza-morta e paisagens alternativas. Quem falou com o garçom foi Aiko, e, animado, sentou-se primeiro na mesa que lhe foi indicada.

Akita sentou-se ao seu lado, apanhando a flor branca — um copo-de-leite — do vaso à frente, brincando com ela com carinho.

Cerca de meia hora depois, saíram do estabelecimento. Foram dar uma caminhada no parque antes de irem às termas; todos sabem que não é bom entrar na água logo depois de comer, dá enjôo. Akita queria ainda comer algodão-doce que um senhor vendia, mas Hayato prometeu que compraria depois, apenas quando estivessem voltando.

Daichi desapareceu por alguns minutos, apenas para encontrarem-no descendo a ladeira pavimentada que ficava no meio do parque, em cima de um carrinho de rolimã emprestado de uma pessoa aleatória. Estava empolgado quando saiu do carrinho, devolvendo-o ao dono com um sorriso.

— Desculpem, eu tinha que fazer isso — exclamou ele, voltando para junto dos outros. Aparentemente era imune ao enjôo pós-refeição. — É divertido, querem tentar? Não posso ir de novo, meu estômago está embrulhado… — Ou não.

— Eu… — Akita começou, alegre, sendo interrompido por Hayato.

— Não vai não.

— Eeh? Por quê?

— Você vai cair e passar mal depois.

— Pare de jogar mau agouro!

— Não é mau agouro, é verdade. Você vai cair e se machucar se for naquilo, não vai e ponto.

Akita fez um biquinho contrariado, porém concordou em não ir, permanecendo ao lado do albino. Assim, continuaram a caminhada, aproveitando o trajeto para tomar o rumo em direção às termas. O local era grande, com três andares; um lugar tradicional, com as paredes externas cobertas de argamassa branca e depois pintadas de bege escuro para combinar com a madeira que revestia o piso e o teto do interior.

Conversaram com a recepcionista um pouquinho antes de entrarem, cujo balcão ficava ao lado de uma escada. Subiram-na até o corredor do andar de cima, entrando na porta à direita, onde acima da mesma — que era do mesmo estilo tradicional de casas japonesas — tinha uma faixa escrito “masculino”.

Como obviamente não era permitido entrar direto nas termas, precisavam se lavar antes, no andar de cima ainda.




************************************




Já com o cabelo lavado e enrolado em uma toalha, Akita agora estava sentado em um banquinho enquanto Hayato esfregava suas costas com uma esponja macia, cheia de espuma.

Yuurei, como provavelmente esqueci de dizer, recusou ir junto, ficando do lado de fora.

Daichi ouviu a disposição de Aiko para lavar suas costas, mas negou com um “não, obrigado”.

— Eu estava pensando em ir à um lugar depois — comentou Aiko.

— Onde? — perguntou Akita.

— Para a minha antiga casa. Preciso verificar uma coisa importante.

— É longe?

— Não muito, fica em Caeli, em uma parte mais afastada.

— Quando vamos?

Aiko congelou em meio ao gesto de virar o recipiente com água em cima de si.

— Quê? Planejam ir junto?

— Estava pensando em ir sozinho? — riu Daichi. — Sem chances, estou louco para roubar o que ainda tem na sua casa. Descobri que seus pais guardavam no quarto deles algumas coisas legais no batente da porta.

— Roubar? — repetiu Akita, achando graça.

— É, você sabe, pegar emprestado e esquecer de devolver.

— Eu sei o que é roubar!

Os olhos de Aiko estavam arregalados — não pelo fato do ruivo querer assaltar sua casa. Parecia até… com medo.

Logo embaixo da janela do lavatório, Yuurei estava esperando, até então como uma estátua, recostado na parede. Virou a cabeça para cima, vendo o vapor escapar pelo vidro entreaberto e dançar no ar por alguns momentos antes de desaparecer.

Aiko estava olhando para o chão no momento, pensativo.

— Vão por própria conta e risco — disse. — Não me responsabilizo por danos.

E ninguém mais tocou no assunto nas próximas horas.



○ ○ ○



— Aaah, que delícia! Está tão quentinho…

Akita estava mergulhado até o maxilar nas águas termais, com temperatura padrão entre 36,5° e 37,5°, suas bochechas bem vermelhas por causa do calor.

Hayato estava um pouco mais afastado do grupo, relaxando a ponto de quase dormir ali.

Já Aiko achou que nunca mentira tanto quanto naquele momento. Ria e jogava água no rosto de Daichi, aparentemente divertindo-se com a reação do ruivo, mas na verdade estava a ponto de ficar apavorado. Não estava se reconhecendo. Medo? De quê? Pelos outros? Como se nem ficou sequer ressentido pelos próprios pais? Estava enlouquecendo…






Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só.


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Notas finais do capítulo

É, foi essa droga aí que acabou de ler que demorou duas semanas para ficar pronto T-T
Essa frase que apareceu no finalzinho é de Rainer Rilke e foi "pronunciada" por Aiko (negrito e sublinhado). Obrigada pela atenção! ^^
Vou me esforçar muito para acabar o próximo capítulo em dois ou três dias, mas já sabem: pode atrasar.
Realmente agradeço de coração por lerem até aqui ^-^



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