Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 34
Andando em círculos?


Notas iniciais do capítulo

Uffs, desculpem, no fim acabei atrasando (de novo). Realmente, estou insegura até a alma com o capítulo. Espero que não hajam muitos erros (gomen pelos que tiver).



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Os olhos de Akita pareceram dobrar de tamanho. Seu corpo deu uma estremecida involuntária, fazendo-o se apoiar na parede com o lado do corpo e abraçar-se, impedindo-se de começar a tremer.

— Mentira! — gritou, fazendo todos se calarem. Sua voz ecoou por todas as paredes. — Hayato não enlouqueceria! Não por algo assim!

— Ora, ora — disse o homem em tom de zombaria, talvez com uma certa pena do pobre rapaz. — Que tipo de imagem ele passou para vocês…? Um porto seguro? Um líder confiável? Uma fonte de força inabalável? Hn, é um mentiroso nato mesmo…

A expressão do pequeno ficou confusa. Confusa e amedrontada.

— Não é novidade que um mercenário profissional cheio de mentiras não é nem um pouco confiável — falou o homem. — Pensou que ele realmente se importa com você? Garotinho ingênuo.

Só de imaginar tal possibilidade, os joelhos de Akita cederam, fazendo-o desabar no chão. Aiko não tece reação alguma às frases do homem, mas franziu a testa para o choque de Akita.



Por que ele está tão espantado? Humanos mentem sempre. É uma regra sem exceções, absoluta. Odeio ser um humano, é frustrante.

Não faça essa cara, é desagradável. Hayato é um mercenário experiente. Vai me dizer que não esperava algo assim? Mercenários traem, é o trabalho deles.



— Mais alguma dúvida? — disse o homem em tom de casualidade. — Se não, vamos começar. Ah, e a propósito, meu nome é Iosef.

Sem esperar resposta — não que os rapazes estivessem com vontade de dizer algo —, puxou lentamente uma espada larga e grande de uma bainha escondida na capa longa, adornadas no punho com pedras preciosas cravejadas e polidas. Um tilintar leve da lâmina acordou Daichi para a vida. O ruivo segurou o bracinho fraco de Akita e puxou-o às costas, pulando várias vezes, alto e para longe, mesmo sem nenhum ataque.

Aiko seguiu-o de perto, com Yuurei cobrindo sua retaguarda.

Iosef simplesmente fincou com força, com um simples gesto, a ponta da espada na parede ao lado. Uma rachadura enorme surgiu e foi se alastrando por toda a parede. De alguma forma chegou até o teto, quebrando-o quase imediatamente. Como se fosse mágica (afinal, o esforço empenhado nisso fora mínimo), as pedras de cima despencaram com estrondo, sem piedade.

Daichi voltou a se mover, infelizmente se separando dos outros dois. Obviamente não podia soltar Akita e o caminho mais curto para fora da área de perigo dos desabamentos era para a esquerda, enquanto Yuurei carregou Aiko para o outro lado, sem parar para pensar muito. Ao menos seu patrãozinho estava a salvo.

— Ih, eles foram pela porta — comentou Aiko distraidamente, vendo os dois mais novos sumindo por uma abertura retangular na parede.

— Não espere o retorno deles — disse Iosef. Nunca alterava a voz calma. — Hayato está para aquele lado. O garoto de cabelos cor de sangue notou isso.

— Não vão parar até encontrá-lo e verificar sua sanidade mental. É, vai demorar um pouquinho.

— Demorar? Eles não vão voltar.

Aiko deu um sorrisinho.

— Veremos.



• • •



— Hum…?

— Ah, Akita, está recobrando a consciência?

— Quê? Eu desmaiei?

— Não, mas estava em estado de choque. Nesse caso, é quase a mesma coisa.

— Ah…

Após dizer diversas vezes que estava bem, Daichi deixou o pequeno caminhar. Dava para ver estampado em seu rosto que cada palavra de Iosef martelava em sua cabeça, batendo sempre na mesma tecla. Estava preocupado. Receoso. Hesitante. Tudo o que não podia estar nesse momento.

— Para que lado? — perguntou apenas.

“Então ele notou, eh?”, pensou Daichi.

— Vamos em frente.

Akita assentiu, pisando apressadamente pelo piso liso. Não se importava se tivesse uma poça de ácido sulfúrico no chão e escorregasse nela. Ou melhor, em outras palavras, não se importava com mais nada. Ia falar com Hayato. Ia verificar a veracidade de tudo, até o último detalhe. Não queria ser apunhalado pelas costas de novo. Era doloroso. Era sufocante.

Agora o pequeno também conseguia sentir a presença de Hayato, cada vez mais perto. Porém, não importava o quanto andassem, simplesmente não chegavam a lugar algum. Ou seja, não importava o quão perto Hayato estava, não achavam ele.

— Não entendo… — disse Akita baixinho, fazendo um gesto que englobava o corredor. — Não estava assim quando passei por aqui antes.

— Como você passou por aqui? — perguntou Daichi espantado. — Nós entramos pelo outro lado! Não acho que tenham dado uma volta tão grande.

— Na verdade eu e Yuurei andamos apenas em linha reta, um único corredor, até encontrarmos vocês. Sei que é o mesmo corredor de antes porque fiz uma espiral fininha na parede com o meu sangue. — Ele mostrou o dedo indicador direito, cortado na ponta. — Depois amarrei meu cinto no cano ao lado. Acabei de recolhê-lo, vê? — Akita de fato colocava um cinto negro na cintura, com uma caveira de prata no fecho. — Estavam lá atrás, na última curva.

— Como…?

— Acha que sei? Sei tanto quanto você. Ou nem tanto… Você sabe quem era aquele cara estranho lá atrás. — Não era uma pergunta.

Daichi assumiu seu característico ar travesso, apoiando as mãos atrás da cabeça e andando de olhos fechados.

— Para quê vou dizer se outra pessoa vai contar depois? — falou.

— Nha — resmungou Akita, emitindo este som sem querer —, você nunca conta! Diga!

— Nope.

Akita deu um tapa no braço do ruivo, fazendo-o rir debochado.

— Pare… de… brincar… com tudo! — Akita intercalava as palavras com mais um tapa.

Daichi ia responder com uma piada, mas parou ao olhar para frente.

— Estamos voltando — disse ele meio embasbacado, o sorriso sumindo de vez do rosto. — Depois de algumas voltas em círculos, estamos retornando à sala.

— Quê? — o pequeno indagou nervoso.

— A marca… — Apontou na parede, ao lado de um cano, uma espiral feita em vermelho na parede branca. Da mesma cor que cada fio de Daichi. Da mesma cor que as gotas escarlates que pingavam regularmente do dedo de Akita. — Não deveríamos tê-la visto de novo se estamos andando em frente.



• • •


Aiko provava não ser nada mau em se tratando de habilidades físicas. Sem precisar do auxílio completo de Yuurei, conseguia suportar a luta numa boa. Não tinha lâminas escondidas nas roupas ou qualquer coisa do tipo, tampouco usava seus frasquinhos para tudo. Desviava-se de ataques contínuos com destreza, que, embora destruíssem completamente o chão e rachassem algumas paredes, não o atingiam e nem Yuurei. Bom, isso era meio inacreditável, já que o guarda-costas não movera um músculo desde que começara a batalha.

Enquanto estava a dois metros do chão, voltando de um salto, Aiko voltou o olhar por um momento para o batente sem porta atrás.

— Eles estão voltando — disse Aiko. — Você garantiu que eles não voltariam.

— Ah — disse Iosef, com um sorriso insincero de criança flagrada no meio de uma travessura. — Eu menti. Eles com certeza vão voltar, mas não vai ser uma volta feliz. Você vai ver.

Antes que Aiko questionasse a estranha afirmação, passos ruidosos vagaram alto, aproximando-se cada vez mais e dando lugar a um ruivo aparentemente fora de si. Aparentemente.

— Então realmente voltamos — murmurou.

Não dava para saber se Akita estava com mais medo ou determinação, já que seu olhar transparecia ambos. “Mesmo conosco aqui, sem Hayato será difícil”, pensou Aiko. “Estamos sem a transformação, que é o nosso trunfo. Será que Iosef sabe disso? Não, acho que não. Me parece ter outros objetivos… mas quais?” Seus pensamentos foram interrompidos quando foi levantado pela cintura e levado alguns metros para longe. Iosef agora partia para o ataque corpo a corpo, movendo-se ligeiramente e desferindo ataques habilidosos com a espada.

— Yuurei — Aiko reconheceu os braços em torno de si. — Obrigado.

Akita se surpreendeu quando não viu reação do Tsugumi ao toque de defunto do guarda-costas. Porém, Daichi ficou mais do que satisfeito ao ver a indiferença total de Aiko. “Só pode ser isso. Nada mais explica uma temperatura tão alta”, pensou o ruivo. “Sempre que encosto nele, sinto como se tivesse fogo embaixo da pele.”

— Akita! — gritaram Aiko e Daichi em uníssono, sobressaltando o pequeno. Ambos se entreolharam. Aiko continuou:

— Vá tentar encontrar Hayato! Esperaremos aqui!

— Mas se ele enlouquecer, pode amarrá-lo até que volta ao normal — complementou o ruivo.

— Você vai mesmo atrás dele? — Iosef disse em tom cortante, fazendo toda a ação do lugar parar completamente. — Mesmo sabendo que ele te ludibriou?

Akita não se movia, os dentes cerrados para não berrar desfeitas.

— Eu confio nele! — exclamou.

— E daí? — respondeu Iosef, fazendo pouco caso. — Confia? Então por que não contou o que tranca a sete chaves dentro de si? Seus segredos obscuros.

Akita abrira a boca para negar, mas fechara logo em seguida. Não ia dizer “não”. Não era mentira. Era a mais pura verdade. Era humilhante.

— Vocês também, todos vocês — acrescentou Iosef, aumentando o tom de voz. Aiko e Daichi levantaram-lhe o olhar, alarmados. Yuurei meramente fitou-o friamente. — Vocês todos escondem muita coisa uns dos outros. Aposto que nunca usaram o termo “amigo” para se referirem aos… companheiros de viagem. Sei que estou certo.

Estavam todos desconcertados, encarando o chão como se este fosse a coisa mais interessante do mundo. Era evidente. Sabiam do que Iosef falava, cada um deles. Mesmo assim, Yuurei parecia uma estátua de tão impassível, encarando duramente o homem.

— Eu sou o único aqui que não sabe quem é você? — irritou-se Akita, necessitando de explicações.

— Eu era colega de Hayato nesta organização — contou Iosef sem muito interesse. — Ele me deve um favor, mas foi embora antes de eu poder cobrá-lo.

— Puxa, que triste. — Akita revirou os olhos de sarcasmo.

— VÁ LOGO! — apressaram Aiko e Daichi, já impacientes com a demora.

— Tá bom! Tô indo!

Akita foi de mau-humor para a porta, dando um chute no batente ao passar.

— Tem certeza? — começou Iosef, pronto para um sermão-monólogo.

— Ah, cala a boca! — interrompeu o pequeno. Virou-se de frente para o homem. — Olha o quanto eu me importo com o que diz. — E mostrou a língua, indo embora.

Aiko teve que se segurar para não rir, embora soubesse que o momento não pedia por isso.

— Prefere ser destruído de dentro para fora ou de fora para dentro? — indagou, a expressão risonha sumindo de sua face e sendo substituída por uma mórbida. — Tenho tempo e material para os dois, é só escolher.

Daichi, compreendendo que aquela não era a sua cena, sentou-se recostado na parede, como se estivesse prestes a assistir televisão. Na verdade, para si era um entretenimento tão bom quanto. A diferença era que sentia o cheiro do sangue, do ferro do sangue, espalhando-se pelo chão. Era facílimo deleitar-se nisso.

Yuurei colocou-se por perto de Daichi, deixando a mão direita dentro do bolso do moletom de mangas curtas, a outra ficando solta ao longo do corpo. O ruivo observou por alguns momentos o pulso do outro, piscando os olhos algumas vezes. Sem explicação, levantou o braço e tocou com a ponta dos dedos o pulso branco do mais alto, sentindo a pele queimar em brasa. Ergueu a cabeça para a franja castanho-clara.

— Seus olhos são de verdade? — indagou Daichi. Para muitos, essa pergunta é tola, sem nexo. Na verdade era uma pergunta inteligente. Mas só entende quem sabe o que Yuurei é.

— Não — respondeu o outro após um segundo de silêncio.

Hum, não entendi.

Akita corria pelo corredor, já ofegante. Correra muito. Não estava muito cansado, francamente dizendo, embora seus pulmões buscassem um pouco mais de ar do que o normal — nada preocupante. Estava distraído, passando pelo corredor em alta velocidade. Seria simples alguém lhe atacar agora, mas se fosse fazê-lo, teria de ser logo. Akita ficava mais alerta a cada passo que dava, para o caso de Hayato estar por perto.

“Vamos, dê um sinal de vida”, pensou. “Não tenho como te encontrar se nem sei em qual direção está. Rápido!” Foi como se respondesse ao seu comando mudo e exasperado. Sentiu despertar em seu consciente uma fagulhinha de noção de uma presença muito próxima. Surpreendente não ter percebido antes.

Com pressa, disparou na direção que rastreou o albino, chegando a fechar os olhos para aguçar os sentidos. Foi desacelerando à medida que se aproximava, parando gradativamente e abrindo os olhos. Constatou com frustração que estava novamente em frente à espiral carmesim. Claro! Estava atrás da parede! Precisava passar por ela para encontrar Hayato!

“Pense, pense… Como vou para o outro lado? Não tenho força para quebrá-la. Pense…” Sua memória puxou a lembrança de Yuurei abrindo a passagem secreta puxando fios, como se fosse tudo automatizado. Sua expressão alterou-se completamente ao notar o esquema de tudo. “Claro! Como não percebi tudo antes?! É óbvio! As coisas vivem mudando de lugar porque são blocos móveis! Aposto como aquele carinha estranho, que não lembro o nome, está controlando tudo de alguma forma… Mas explica o fato de sempre voltarmos à lugares que já estivemos. Acho que, já que estávamos muito afobados, não notamos o chão se movendo.”

Dito e feito. Assim que parou de se mover e se concentrou, pôde sentir o piso mexendo-se quase imperceptivelmente. Esforçou-se para ampliar o campo de audição, captando um zumbidinho fraco vindo de dentro da parede. Agachou-se e encostou o ouvido ali, encontrando o local exato do zumbido. Passou a mão pela superfície fria por cerca de dez centímetros, antes de segurar com a ponta dos dedos a borda de algo branco, semelhante a uma placa de gesso que se encaixava perfeitamente na parede.

Puxou-a, revelando na parede uma espécie de painel, cheia de botõezinhos e cabos minúsculos. Uma pessoa paciente e com alguns minutos sobrando procuraria os botões certos para pressionar para desativar aquela parte do sistema. Akita, estando sem ambas as coisas, sentou-se, tirou o sapato e bateu com força o saltinho que tinha — estilo conde vitoriano — no painel.

A parte mecânica foi seriamente danificada, começando a soltar faíscas e a fazer uns sons altos de choques. Akita levantou aos tropeços e afastou-se correndo da parede, recuando à outra. Após uns segundos de fumacinha e fagulhas medonhas, o painel fez um sonzinho quase derrotado, baixando e parando de vez.

Assim como Akita esperava, a parede se afastou sozinha para o lado, revelando um outro corredor quase idêntico ao que estava, e o chão parou de se mover. Com um sorriso de vitória, recolocou o sapato e entrou.

O sorriso esmoreceu ao olhar em volta. A primeira coisa que notou foi a quantidade absurda de sangue que coalhava o chão branco. Depois viu o que evitava olhar: Hayato estava ali sim, mas preso à parede por algemas de ferro; o rosto voltado para baixo, ocultando metade das feições.

— H-Hayato! — Akita deixou escapar um grito.

Sem importar-se com o volume do barulho, adiantou-se e correu a tentar abrir as algemas. Infelizmente eram resistentes demais.

Meio desesperado, procurou nos bolsos qualquer coisa que pudesse ajudar. Revistou cada centímetro de cada um deles, quase desistindo, quando encontrou no esquerdo algo gelado e fininho. Cheio de esperanças, puxou o objeto. Foi com alegria que viu um arame, provavelmente proveniente de um clip de papel, já entortado. Há quanto tempo estava ali? Usava aquilo na escola anterior para abrir a porta da sala dos zeladores e roubar as chaves, sempre funcionava.

Afobado e se atrapalhando um pouco, encaixou a ponta curva do arame na abertura de chave da algema direita. Levou alguns segundos para conseguir girar, mas fez um “clic” maravilhoso, deixando o respectivo braço de Hayato cair ao lado do corpo. Do chão mesmo, o pequeno se colocou nas pontas dos pés para abrir a outra, reproduzindo o som de antes.

Conseguiu, de alguma forma, amparar o albino para que não se estatelasse no chão. Nem era assim tão pesado.

Com delicadeza, pousou-o no chão. Procurou os ferimentos que deixavam tanto sangue assim escorrer, mas… não haviam ferimentos. Só tinha um arranhão no antebraço, mais nada.

Aquele sangue não era dele.


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Notas finais do capítulo

Não errei nada, se é isso que talvez estejam pensando. Para mim ficou muito confuso, mas não sei se realmente ficou.
Às vezes fico pensando: será que tenho leitoras fantasmas? õ.o



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