Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 28
Mágico charlatão


Notas iniciais do capítulo

Espero de verdade que me perdoem pelo meu atraso enooorme. É que eu tinha várias ideias para esse capítulo, então escrevi todas e tive que escolher uma. Gomen!!!! Sou uma burra mesmo!!!! T-T
Bom, FINALMENTE está aqui. Espero que esteja bom. Desculpem caso hajam erros de qualquer tipo, reviso assim que tiver tempo.



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Após ser repelido inúmeras vezes pelo albino só no caminho para a casa, o homem resolveu dar um tempo nas abordagens e deixá-lo em paz por algum tempo. Deixou que Hayato entrasse na casa e trancou a porta atrás de si. O rapaz estranhava o ambiente, não lembrando-se de jeito nenhum do lugar (embora ouvisse continuamente o quanto adorava a casa).

— Ei, hum… — disse Hayato, sem saber do que chamar o “amante”.

— Charles — falou o outro prontamente, deixando o casaco em uma cadeira.

— Charles, sabe quem eram aquelas pessoas que encontrei mais cedo?

— Pessoas? Não, não sei… Amor, que tal fazer waffles? Estou com uma fome.

— Eu sei cozinhar?

— Claro! — Charles torcia para seu palpite estar certo. — A cozinha é por ali, sim? Tome cuidado para não se queimar.

Mais confuso que gente burra em dia de prova, Hayato se encaminhou para o lugar indicado, apanhou o avental verde pendurado na maçaneta e foi para a geladeira pegar os ingredientes. Estava completamente imerso em pensamentos, sem ter a mínima ideia do que estava fazendo, na verdade. Tampouco estava consciente de que os pensamentos que lhe ocorriam eram milhares, desde planos de fuga variados até métodos para recuperar a memória.

Aquele era um prodígio, afinal. Mesmo que neste momento estivesse atrapalhado e esquecido.

Em pouco tempo, um delicioso cheio de calda quente inundou a sala, onde Charles estava vendo televisão.

— Ótimo, tenho uma nova “esposa” encantadora, jovem e desmemoriada — murmurou ele satisfeito.

— Ahn, se quiser vir, está pronto! — disse Hayato timidamente da cozinha. — Só preciso arrumar a mesa.

Lá longe, bem longe, indo na direção oposta, estava Daichi “liderando” Aiko e Akita pela rua.

— Tenho quase certeza de que ele não passou por aqui — falou Akita, após passarem por uma multidão que aplaudia um homem pintado para parecer com uma estátua.

— Como sabe? — espantou-se o ruivo.

— O cheiro dele não está em nenhuma parte.

— Você é o quê, um cachorro?!

— E para onde ele foi, você sabe? — Aiko perguntou, dando um peteleco na testa de Daichi para fazê-lo ficar quieto.

— Espere… — disse Akita, fechando os olhos. Nesse momento, por sorte, soprou uma brisa fresca, agitando seus cabelos e fazendo-o abrir os olhos de repente. — Achei! Por aqui!

Akita começou a correr pelas ruas, parando às vezes nas esquinas para ter certeza se estava ou não pelo caminho certo. Os dois mais velhos o seguiam de perto, sabendo que seria fácil perdê-lo naquele monte de gente e que seria mais trabalhoso ainda ter que encontrá-lo, ainda mais sem Hayato por perto.

— Venham rápido — apressou o pequeno, fazendo sinal para entrarem em um beco. — Ele está ali, do outro lado desse prédio, em uma casa baixinha. Supostamente, o único caminho é dando uma volta enorme por aqueles quarteirões ali, mas tenho certeza de que podemos simplesmente ir por cima, não é?

— Facinho — disse Daichi modestamente, fazendo pouquíssimo caso do prédio de quase quinze metros.

Aiko nem precisou concordar para logo darem impulso, utilizando os parapeitos das janelas largas como apoio, indo rapidamente até o telhado irregular do prediozinho. Andaram em silêncio por lá, o mais discretamente possível, e desceram do outro lado da mesma forma com que subiram. Logo ficaram em dúvidas quanto a que casa abrigava Hayato, já que todas eram exatamente iguais. Começaram a observar de janela em janela procurando sinal do albino.

— Como que os moradores não se perdem aqui? — resmungou Daichi. — Até mesmo as cortinas são iguais!

— Fique quieto e continue procurando — disse Aiko, entreabrindo silenciosamente a porta da frente de uma casa. — Vamos para a próxima.

Mal sabiam que já tinham passado da casa certa, onde Hayato afastava Charles com um guardanapo e levava garfadas de waffles com calda à boca. O albino sentia como se tivesse sido sequestrado (o que era verdade), e tinha vontade de sair correndo.

Colocando uma cadeira no meio do caminho do mais velho, Hayato recolheu os pratos e os levou até a pia.

— Amor, venha comigo! — Charles debruçou-se nos ombros do albino. — Aposto que você… não dormiu direito noite passada.

Hayato, mesmo sem nada verdadeiramente útil na cabeça, não era idiota. Entendeu imediatamente o duplo sentido na frase, e, como se fosse automático, deu seu costumeiro sorriso cintilante, dizendo:

— Vou ficar bem, não se preocupe.

Aquilo atordoou Charles o suficiente para que Hayato pudesse se desvencilhar e pular para fora da cozinha, abrindo a janela e se apoiando nela, sentindo o vento no rosto. Mais do que nunca sentia vontade de pular por ali e ir embora. Mas, estranho, estava sentindo falta de algo… não, alguém… Quem seria?

Ainda se perguntando sobre isso, sentiu um hálito quente em sua nuca e um arrepio desgraçado percorrer o corpo todo.

— Não se mova… — sussurrou Charles, direcionando a mão para o cós da calça do rapaz.

Graças a Deus, naquele momento Daichi ouviu imediatamente o som da janela se abrindo, localizando logo após o rosto de Hayato, que mostrava visível desagrado.

— Ah, droga, ele foi pego — disse o ruivo, apontando o outro para que os outros dois vissem-no.

— Hayato! — exclamou Akita, cuja voz ecoou pela rua silenciosa.

Como se o sub-consciente captasse a voz que o chamara, Hayato imediatamente pulou pela janela, deixando Charles no maior vácuo que se possa imaginar. Assim que parou alguns metros longe, parou de se mover e olhou para as próprias pernas. “Por que eu fiz isso?”, pensou ele confuso.

— Ei! — Daichi chamava-o. — Deixe-nos acertá-lo de novo! Vai voltar ao normal!

Hayato se assustou e saiu correndo de novo, novamente pensando no que teria feito de errado para eles para quererem batê-lo… de novo.

— Ele fugiu! — disse Aiko indignado. — Por que ele fez isso?

— Tente se colocar no lugar dele um pouco — sugeriu Akita revirando os olhos. — Apenas vamos atrás dele.

Dando de ombros, Aiko seguiu os dois companheiros rua abaixo, ignorando completamente o irritado Charles na janela. Não faziam a mínima ideia de por onde Hayato tinham ido, então tiveram que confiar em Akita. O pequeno instruía imediatamente o caminho pelo qual deveriam ir, ralhando quando iam errado.

— Naquele lugar ali ao lado — falou ele, vendo a ponta de um corrimão acompanhado de degraus. — Ali em cima, vamos subir.

Passaram correndo pelos degraus e se animaram ao verem um conjunto de fios prateados compridos um pouco ao longe. Mas a alegria logo murchou ao ver que ele estava em pé a frente de um rapaz de uniforme de tênis e que segurava uma raquete vermelha do esporte.

— Não me diga que o covenceram de que está em um clube de tênis?! — Daichi quase gritou de incredulidade. — Como um mercenário pode ser tão ingênuo?!

Definitivamente, Hayato estava caindo na ladainha do clube de tênis, perguntando sem parar se realmente sabia jogar.

— Tente — propôs o outro rapaz, entregando-lhe uma bolinha.

— Chega, vou acertá-lo daqui e que se dane se o matar — Daichi finalmente perdeu a paciência, apanhando uma pedra no chão, lisa e grande. Mirou-a por um segundo e a lançou com força, acertaria em cheio a cabeça do albino. Mas este notou o objeto se aproximando e usou a raquete para desviá-lo, rebatendo-o com tudo para o lado. As cordas da raquete chegaram a arrebentar.

— Ah, desculpe, estraguei sem querer — disse Hayato com pesar, entregando de volta a raquete vermelha para o rapaz à sua frente.

Este estava perplexo. Não entendera nada do que acontecera e estava surpreso demais para pronunciar qualquer palavra, então apenas segurou de volta o objeto que lhe era estendido e o guardou de volta na mochila.

— Ahn… você deve estar indisposto hoje, não é? — disse ele finalmente, pendurando com as mãos amolecidas a mala no ombro. — Treinamos mais tarde, ok? — Leia-se: nunca. — Até mais!

E zarpou dali o mais rápido que conseguiu, sem sequer olhar para trás.

— Ei, você esqueceu sua bola! — Hayato tentou chamá-lo. — Bom, menos mal, ganhei alguma coisa…

— Onde foi parar o senso de sobrevivência daquele albino estúpido? — disse Daichi, cada vez com menos e menos paciência. — É loucura um mercenário confiar nas palavas do primeiro que encontra!

— Talvez… — disse Aiko pensativo, chamando a atenção dos outros dois. — Talvez ele tenha tido um passado conturbado, e sem as memórias disso não tenha nenhum motivo para precisar de um senso de sobrevivência. Duvido muito que sequer se lembre de que é um mercenário. Chegue por trás e acerte-o, senão vamos ficar indo atrás dele até o próximo mês.

— Acertá-lo com o quê? — perguntou Akita.

Como se respondesse à sua pergunta, Hayato lançara a bola para a árvore ao lado, sem propósito nenhum, onde ricocheteara e passara reto entre as cabeças de Daichi e Akita, fazendo alguns fios de cabelo esvoaçarem.

— É, podemos usar aquilo! — disse Aiko animado. — Vou lá buscar a bola.

Deixando os companheiros de lado, correu a descer as escadas para apanhar a bolinha amarela que a essa altura já cruzava a rua para a calçada do outro lado.

— Agora só precisamos ficar de olho… TÁ DE BRINCADEIRA! — Daichi começara, mas irrompera em uma exclamação quando não vira mais Hayato. — Como ele consegue fugir tanto?! Vamos atrás dele.

O ruivo segurou o pulso de Akita e saiu o puxando pela praça, pisando duro.

— Mas e quando Aiko voltar? — indagou o pequenino.

— Ele vai nos achar. Aquele cabeçudo é um assassino treinado, afinal. Sabe seguir rastros.

Hayato, dessa vez sem perceber os rapazes escondidos na moita, dera no pé para um lugar menos chato já que ali não tinha ninguém para conversar. Daichi literalmente arrastava o menor pelo braço, indo a passos duros e rápidos atrás do albino avoado. O seguiram até a frente de um condomínio bonito, cercado por uma grade bem sólida.

Sem mais nem menos, Hayato deu um pulo por cima da grade, pousando silenciosamente do outro lado. Como se tivesse um local em mente para onde pretendia ir, olhou em volta e começou a andar pelo gramado.

— O que vamos fazer agora? — indagou Akita, parando em frente à grade quase duas vezes maior que si mesmo.

— Ir atrás dele, claro — disse Daichi dando alguns passos com a intenção de passar por cima do local pelo qual Hayato acabara de pular. Mas parou em meio ao passo, congelando até mesmo sua respiração para fazer ainda mais silêncio.

— O que houve? — perguntou o menor, estranhando o comportamento do mais velho.

— CUIDADO!

O ruivo deu um grito repentino, lançando-se na direção de Akita, levantando-o pela cintura e se desviando logo em seguida de coisas praticamente mínimas que voavam em um borrão indistinto na direção de ambos. A metros do lugar onde estava antes, derrapou antes de parar e apoiou a mão no chão para não cair. Os orbes cítricos rondavam o lugar todo, mais atentos que olhos de lince.

Daichi acabara de desviar de projéteis finos e minúsculos que estavam fincados no chão. Teriam praticamente estourado os músculos dos rapazes se tivessem acertado.

Ele não foi estúpido o suficiente para perguntar quem estava ali nos segundos de silêncio que se seguiram, parecendo arrastar-se por horas. Apenas o manteu, para que então pudesse ouvir mais claramente qualquer movimento feito. O ruivo mantinha Akita atrás de si, recuado para uma parede.

— Me avise se aparecer alguém por cima — murmurou Daichi pelo canto da boca.

Akita se sentiu mal.

Estava sendo um peso morto novamente, sabia disso. Levantou os olhos para o mais velho e ia perguntar se poderia ajudar em algo, quando notou algo brutalmente banal, típido de muita gente que se encontra nervosa. Daichi usava brincos. Claro, brincos charmosos, argolinhas discretas. O do lado direito era branco, talvez chegasse a ser de um prateado pálido, enquanto o do outro lado era o oposto: negro como breu e estava sendo usado na cartilagem.

Agora que pensava bem, desde que foram à casa de Mikato que o ruivo os usava.

— Vá atrás de Hayato — disse Daichi, interrompendo os pensamentos de Akita. Levantou o pequeno de novo e saltou para longe, fazendo mais projéteis enterrarem-se no chão. — Talvez tenha acontecido algo com ele.

Akita assentiu, engolindo em seco. Sabendo que não haveria sinal algum para entrar no condomínio, respirou fundo, deu um passinho para trás e impulsionou-se para a grade. Ao chegar à base, apoiou o pé em uma pedra ali e deu um pulo por cima da grade, dando um giro para ir mais longe. Assim que pousou, notou de imediato o rastro do cheiro de Hayato, passando pelo lado da sala de fitness, contornando a piscina e indo por cima da janela da sauna até sair do outro lado.

Confuso com o trajeto do albino, Akita continuou seguindo-o, até que sentiu um cheiro nauseante invadir suas narinas. Não sabia explicar, mas ao mesmo tempo que seu cérebro era entorpecido agradavelmente com o cheiro, seus pulmões faltavam-lhe ar e tinha vontade de vomitar.

Sabendo que Hayato estava no local da fonte daquele odor, seguiu-o, tapando o nariz e a boca com a blusa. Entrou hesitante no salão de festas do condomínio. A entrada era com uma porta larga de um vidro distorcido, que se arrastava para os lados para abrir. Teve que fazer um pouco de força para trazê-la para o lado. Assim que abriu, viu uma linha de um líquido vermelho que escorria pelo piso de linóleo do lugar. Já prevendo o que teria acontecido, puxou mais a gola da blusa para cima, sentindo o cheiro quase lhe fazendo desmaiar, e adentrou mais.

Virou para a esquerda e abriu a outra porta que tinha, dando de encontro com um Hayato chocado, de joelhos e as mãos cheias de sangue, ainda segurando suas facas de prata — é, até o momento ele não tinha percebido que estava com elas no bolso. Primeiramente pensou em ir ajudá-lo, mas então lembrou-se de que estava desmemoriado. Seguindo o bom senso, matar faz parte da rotina de um mercenário e Hayato não faz ideia de que é um. Devia estar horrorizado.

Como Aiko ainda não aparecera, o jeito era improvisar. Olhou em volta, procurando algo que pudesse usar. Um abajur não… Nem um prato, poderia cortar a cabeça do albino… Decidiu-se por apanhar um pé de cadeira quebrado que estava ao canto, já que era a coisa mais leve que achou ali. Silenciosamente, aproximou-se pé ante pé de Hayato, segurando firmemente o pedaço de madeira. Levantou-o acima da cabeça e, com um movimento reto para baixo, acertou com força na cabeça dele.

Assim como esperado, Hayato perdeu a consciência por algum tempinho, caindo no chão. Torcendo para que o maior não ficasse zangado mais tarde, deixou o pé da cadeira de lado e sentou-se junto do inconsciente albino. Ficou brincando com uma mecha do cabelo prateado enquanto nada acontecia.

Não se passaram nem cinco minutos e a porta do salão de festas se abriu novamente. Temeroso de que fosse algum morador do condomínio, esticou o pescoço para ver quem era. O alivío que sentiu quando viu quem era foi indescritível.

— Aiko! Finalmente chegou! Onde estava? — Akita endireitou-se, já que estava quase deitado no chão.

Só então que viu que Aiko carregava pela camisa, arrastando pelo chão, uma pessoa que nunca vira antes. O clássico de cabelos curtíssimos e escuros. Parecia apenas ter desmaiado, embora a cada segundo ficasse mais pálido.

— Desculpe a demora — riu Aiko sem graça. — É que fui atacado no caminho de volta, então levou mais tempo. Sabe quem são? — Ele apontou o homem que carregava.

— Não, infelizmente — respondeu o pequeno. — Daichi deve estar ocupado com um pessoal lá na frente e Hayato já cuidou das coisas aqui, quando acordar deve estar normal de novo. Não é melhor irmos ver como está indo Daichi? Estou preocupado…

— Não fique. Estou bem, caramba.

Aiko e Akita olharam para a porta novamente, reconhecendo imediatamente a voz do ruivo. Ele estava perfeitamente bem, apenas com um arranhãozinho na mão.

— Eram duas pessoas lá, escondidas nas árvores — contou Daichi. — Idiotas como eram, desceram de lá quando me fingi de morto, foi fácil. Quando esse albino estúpido acordar, vamos dar o fora daqui. O futum de sangue está me deixando enjoado.

Não foi necessário esperar muito para Hayato despertar. No segundo seguinte ele já se mexeu, massageando a cabeça mais uma vez dolorida e se sentando.

— Aai… — murmurou. — O que estamos fazendo aqui? Não estávamos indo ver aquele tal mágico?

— Segredo — disse Aiko, sorrindo alegremente para lhe tranquilizar de que tudo estava bem. — Conhece essas pessoas aí? — Ele apontou os cadáveres, cuidadosamente mortos anteriormente pelo desmemoriado albino.

— Conheço sim, fiz um trabalho com ele alguns anos atrás, esse aí de roupa verde. O que houve aqui?

— Sei lá, mas acho que estavam aqui a trabalho então. Não vejo outro motivo para nos abordarem assim tão de repente. Vou ver se tem alguma coisa nos bolsos deles para nos ajudar.

Aiko soltou a pessoa que ainda levava como se fosse um saco de batatas inútil, agachando-se ao lado do homem que Hayato dissera conhecer. Puxou o zíper da jaqueta esverdeada e abriu-a, observando por alguns momentos os bolsos internos. Sem pestanejar, abriu um deles e tirou de lá uma espécie de contrato, impresso em papel offset. Passou os olhos rapidamente pelo escrito, absorvendo cada informação que lia. Quando chegou ao pé da página, parou por um segundo e disse:

— Quem é Gen?

— Gen? — repetiu Hayato, estendendo a mão e apanhando o papel para ler também.

— É, parece ser o nome da pessoa que os contratou…

Depois de longos momentos em silêncio, pensativo, Aiko pareceu ter chegado a uma conclusão. Sem que ninguém percebesse nada, levantou o olhar, sério, para cada um dos companheiros ali, fixando-o por mais tempo em Akita.

— O que houve? — indagou Daichi, percebendo a falta de fala do outro.

— Ah, nada — Aiko respondeu com um sorriso, levantando-se. — Vamos embora antes que chegue alguém, sim? E como não temos muito para fazer, vamos visitar Sengoku agora?

Com a concordância por parte dos outros, ajudou Hayato a se levantar e se mandaram dali, bem a tempo de escaparem de uma criancinha que entrava no salão logo depois. Não souberam o que houve, já estavam longe quando ela gritou.

— Onde fica mesmo? — perguntou Akita, parando de correr e começando a se equilibrar no meio-fio.

— Mais para o leste — respondeu Daichi, apontando a direção certa.

— Sério, o que aconteceu? — disse Hayato. — Minha cabeça tá doendo muito.

É, ninguém nunca lhe respondeu isso.

Bom, Akita caiu algumas vezes do meio-fio, mas nada muito grave. Andaram pacas até pararem lá onde Judas perdeu as botas, onde quase não havia ninguém morando. Daichi indicou uma única casa, no meio de um grande campo verde.

Foi o ruivo que bateu na porta da frente, primeiramente devagar, depois quase espancou-a.

— Cadê aquele charlatão maldito que não abre? — disse, girando a maçaneta trancada.

Akita encostou o lado do rosto na porta, respirando fundo. Assim que sentiu um cheiro familiar e nauseante lhe invadir o cérebro, se alarmou.

— Abra essa porta! — exclamou.

— Acho que Sengoku não está em casa — falou Daichi.

— Não estou falando dele, estou falando de você! Abre!

— Está trancada.

— Então arrombe!

Finalmente, não só Daichi, como Aiko e Hayato também, percebeu o que o pequenino queria dizer: muito provavelmente algo ruim havia acontecido. O ruivo deu um giro rápido e chutou a porta com o impulso, arrancando-a das dobradiças e fazendo-a cair no chão.

Logo no hall de entrada, o cenário de horror se desdobrava.

Era como um filme de terror ou uma coisa comum para os rapazes ali, mas ainda assim espantosa. Não estava tudo banhado em sangue, mas uma trilha pintava o chão de madeira, como se alguém terrivelmente ferido tivesse se arrastado até algum lugar. Seguiram essa trilha, que passou pelo corredor inteiro e dava vaciladas para os lados de vez em quando, contra as paredes. Ela entrou no último quarto à direita, cuja porta estava entreaberta. Adentraram o cômodo, meio hesitantes.

A cena foi suficiente para fazer Akita cobrir a boca com a mão, segurando a respiração, e para fazer o estômago de Daichi revirar.

Pregado na parede com pregos de construção rígidos e grossos e estacas, estava um corpo usando terno. Os ombros estavam presos ao alto, e a cabeça também tinha uma estaca bem na testa, para que ficasse com o rosto meio erguido. O tronco estava amarrado com arame em um porta-chapéus e as pernas soltas. Pingava muito sangue no tapete embaixo. Em sua mão havia um chapéu de cetim pregado na palma, e seus braços estavam arrumados de modo que parecesse…

— É como se ele estivesse agradecendo depois de uma apresentação — disse Hayato, com a voz normal. — E tenho certeza que o Grand Finale foi bem doloroso.

Aiko aproximou-se do cadáver e tocou com os dedos por cima dos lugares onde deveriam estar os órgãos internos. Sem esboçar absolutamente nenhuma emoção passou para o coração, depois retirou a mão.

— Os órgãos vitais desapareceram — constatou, mas sua voz deu uma tremida involuntária. Era visível que se esforçava para manter a máscara no rosto.

— Como assim? — disse Hayato.

— Simplesmente sumiram, embora não haja nenhum corte na pele ou sinais do tipo. É como se tivessem sido apenas arrancados.

Ninguém havia visto, mas nesse quarto havia uma outra porta que dava para o banheiro. Quando Aiko terminou a frase, ela se abriu. Quando este levantou o rosto para ver quem saía dali, seus olhos cinzentos se arregalaram o máximo que puderam. Seus lábios se entreabriram de choque, mirando a pessoa.

Quem saíra do banheiro era um rapaz com exatos treze centímetros a mais que Aiko, de cabelos castanho-claros. Sua franja comprida ficava completamente em cima dos olhos, de modo que era impossível vê-los, mas o resto do rosto visível era deslumbrante. A parte de trás do cabelo levantava em “ganchinhos” bonitinhos nas pontas. Era pálido, pálido demais. Não que nem Akita, apenas de pele muito clara. Esse rapaz tinha a pele branca como papel, de um jeito inimaginavelmente impossível para um ser humano.

Usava uma camisa larga, de um tom marrom com bege, calças brancas e tinha o pulso inteiro enfaixado — embora não estivesse machucado.

— Y-Yuurei… — sussurrou Aiko, como se não acreditasse.


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Notas finais do capítulo

Ah, Deus!!!! A cada capítulo que coloco, fico mais e mais insegura com a fic... Sei que é besteira, mas não consigo deixar de pensar que está ficando muito corrido e coisa e tal. Onegai, não deixe de colocar um review. T-T
Vou ser o mais rápida que puder com o próximo, sim? Obrigada pela compreensão.



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