Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 27
Ignis


Notas iniciais do capítulo

Ah, me atrasei um pouco, gomen. Tentei deixar um tantinho mais comprido os capítulos, então talvez tenha ficado embolado, por isso peço desculpas desde já. Boa leitura!!!



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Por volta de 9h30, em um dos três quartos do apartamento 23, os cobertores azuis e brancos se movimentaram um pouco, acordando a outra pessoa ali por cima (que por acaso era Hayato). O albino apertou uma vez os olhos antes de abrí-los e levantar o rosto para o recém acordado. Duas mãos pequenas empurraram a barra do cobertor, possibilitando a vista de uma mecha negra de cabelos.

— Como está? — Hayato perguntou com um quê de sono na voz.

— Uma droga — a voz de Akita respondeu, rouca e desgastada. — Parece que costuraram meus olhos, não consigo abrí-los. Onde está você?

— Aqui do seu lado. Consegue se sentar?

Akita tentou se endireitar usando os bracinhos enfraquecidos como apoio. Foi com um esforço muito grande que recostou-se no travesseiro, o qual Hayato levantou para que o pequeno se acomodasse. Suas pálpebras pesavam e a parte do quarto que conseguia ver girava loucamente. Para completar, parecia que recebia marteladas fortes dentro e fora da cabeça.

— Por favor, pare de se mover, não estou te enxergando.

— Estou parado. Encoste-se antes que tenha um treco. Lembra de algo de ontem?

— Vagamente... — murmurou Akita. — Entramos no karaokê, fui levado para um canto, tomei um copo de alguma coisa e... O que houve depois disso? E por que estou com um gosto estranho na boca?

"Graças a qualquer coisa, ele esqueceu", pensou Hayato, aliviado por dentro. "Que bom, ele estava um pervertido daquele jeito. Nunca mais o deixarei engolir uma gota de álcool."

— Nada demais, você perdeu a consciência por algum motivo e eu te trouxe de volta — disse o albino. — Daichi cuidou do resto. Falando nisso, eles estão na sala. Quer ir lá também?

— Melhor não.

Para desgosto de Akita, a porta se abriu com força e barulho, fazendo o som reboar em sua cabeça.

Era Daichi.

— Yoo! — exclamou o ruivo alegremente. — Vejo que já acordou!

— Cale a boca! Droga, por que estou mal desse jeito?

— Isso se chama ressaca, não sabia?

— O que é isso?

— Efeito colateral da bebedeira. Não sei como é, então não posso ajudá-lo. Aqui, beba isso, vai tirar o gosto ruim da garganta. — Ele jogou uma garrafinha de plástico.

— O que é?

— Suco de abacaxi com hortelã, comprei hoje. Sei que parece esquisito, mas é gostoso. Tome logo, está geladinho. Quer que eu vá buscar alguma coisa, Hayato? Está aí desde ontem.

— Não precisa — respondeu o albino —, eu mesmo vou buscar.

Hayato levantou-se e passou por Daichi, saindo do quarto e indo até a cozinha. O ruivo abriu as janelas do quarto para deixar o vento circular, antes que o ar ali dentro ficasse viciado. Sentou-se ao lado de Akita, que já tinha saído debaixo das cobertas e se esticara para pegar um livro ao lado. O pequeno abriu-o em um capítulo qualquer e continuou a lê-lo do ponto que parara antes. Daichi suspirou pesadamente, quase desapontado com alguma coisa. Fitou Akita e a porta, pensativo. Por uns momentos não fez nada, até que deu um sorrisinho de canto de boca, aparentemente chegando a uma conclusão genialmente simples.

Akita lia absorto um parágrafo, até que sentiu o livro sendo tirado de suas mãos.

— Eh?

Não precisou sequer levantar os olhos. Viu imediatamente, com um sobressalto, o rosto de Daichi. O ruivo tinha um sorriso travesso, esticando a mão vagarosamente e levantando de leve a blusa de Akita, tocando com os dedos finos o abômen gracioso do pequeno. Os orbes ouro se arregalaram.

— KYAAAAAA!

O primeiro a chegar no quarto foi Hayato, que sentiu o sangue subir à cabeça imediatamente ao simplesmente abrir a porta.

— DAICHI!

Aiko e Mikato chegaram logo no momento seguinte, surpreendendo uma cena deveras cômica. Daichi fora jogado meio longe com uma almofadada inacreditavelmente potente, e Hayato acalmava Akita com afagos na cabeça.

— Idiota! — exclamou o albino, como se pronto para socar o outro.

— Calma, foi uma brincadeira — riu Daichi, deixando a almofada de lado e se levantando. — Alguém quer sorvete? Estava indo comprar agora.

E o resto do dia se seguiu com uma festa do sorvete animadora, que varreu o acontecido da cabeça de Akita e Hayato.

• • •

Já de noite, eles se reuniram na sala para assistir televisão antes de irem dormir.

— E agora, o que vamos fazer? — perguntou Akita. — Quero dizer, não vamos ficar aqui por mais muito tempo, ou vamos?

— Acho que não — disse Hayato. — Podemos ir à Ignis, que tal? Talvez lá tenha algo interessante que possamos fazer.

— Que tal estragarmos algumas casas esotéricas? — sugeriu Daichi. — Quase todos desses lugares mentem, é uma boa desculpa.

— Boa ideia — concordou Aiko entusiasmado. — Tem um em particular que é bem popular pela cidade, seria interessante ver o que aconteceria caso o derrubássemos.

— Sabem que estão parecendo delinquentes, certo? — disse Mikato.

— Ah, Mikato, não seja assim... — reclamou Daichi.

— Eu que devia estar dizendo isso! Vão acabar se envolvendo em problemas!

Aiko riu, ignorando o aviso do mais velho e dizendo:

— Podemos ficar em um hotel por lá. Alguns são de graça se provarmos ter alguma habilidade rara, mas não podemos chamar muito a atenção.

— Tipo... um truque? Que tal fingirmos que somos videntes ou algo do tipo? Talvez leitura de mentes.

— Claro, gênio genioso, e como vamos fazer isso? — Akita disse, com uma certa nota de sarcasmo na voz, porém baixinho. Sua cabeça doía horrores.

— Simples, vamos adivinhar o que as pessoas estão pensando e coisas relacionadas. Afinal, não tem como verdadeiramente ler a mente de alguém.

— Tente — propôs Hayato.

Daichi deu um sorrisinho de concordância, voltando-se para Akita.

— Aposto que o magricelinha aqui está imaginando quando essa conversa chata vai terminar para que possa ir dormir.

Talvez eu deva mencionar a expressão surpresa do pequenino.

— Como você sabe? — disse ele impressionado.

— Ora, isso até eu pude deduzir — disse Mikato revirando os olhos. — Além do mais, sabemos como ele é e que todo fim de dia pensa sem parar nisso. E se fosse alguém completamente desconhecido? Acha que conseguiria?

— Dizem que os olhos são as janelas da alma, e eu concordo com isso — falou o ruivo. — É fácil adivinhar metade da vida de uma pessoa apenas olhando nos olhos dela. Claro, existem exceções, mas a maioria é assim. E mais, estaremos lidando com gente normal, e não insensíveis frios. Pelo menos assim espero...

— Bom, se você diz... — o mais velho suspirou sem entusiasmo. — Vou ficar por aqui, ok? Mande lembranças minhas ao Sengoku. Se puder, um soco junto.

— Quem é Sengoku? — quis saber Hayato.

Foi Daichi quem respondeu.

— Um antigo amigo desse rabugentinho aqui, o vi algumas vezes. Um charlatão metido a mágico.

— Só metido mesmo — constatou Mikato. — Aquele vagabundo não consegue nem fazer carta desaparecer na manga.

Akita riu, mas parou no mesmo momento, sentindo a cabeça vibrar por dentro.

— Quando vamos? — indagou Aiko.

— Talvez amanhã cedo... — disse Daichi. — O que acha, Hayato?

— Pode ser — o albino respondeu. — Mikato-san, poderia nos levar? Não confio nos ônibus que vão para lá e não pretendo pegar um táxi de novo.

— Claro, posso emprestar o carro de um amigo para isso — Mikato concordou.

Foi cerca de dez horas, antes do almoço do dia seguinte, que enfim puseram o pé na estrada em direção à Ignis. Akita ainda com resquícios daquela ressaca dos diabos, Daichi incomodando Aiko a toda hora e Hayato ainda não parava de falar sobre algo que ninguém entendia, que beleza!

Se não sabe como é dirigir em uma estrada movimentada com um bando de adolescentes falando alto atrás, não sabe o que é estresse. Isso tudo sem contar os três carros jogados para fora da pista e os inúmeros xingamentos claramente audíveis.

— CALEM A BOCA, AGONIA! — gritou Mikato, perdendo a paciência de vez ao ouvir mais uma calúnia contra a porta do carro. — Não quero morrer por causa de um bando de pirralhinhos que me fizeram bater o carro!

— Você que concordou em nos levar — falou Daichi, em um tom que ele usava com o mais velho, tentando cutucar as costelas de Aiko para fazer-lhe cócegas.

— Eu sei que vai sobrar para mim caso algo aconteça com vocês. E mais, acha que iam como? A pé?

— Por que pensou nisso?

— Porque você é estúpido. — Algum sentido para vocês nessa resposta? — Desçam logo, chegamos. Não esqueçam nada, não vou voltar para devolver coisa nenhuma.

Um a um eles saíram do carro emprestado, verificando os bancos para caso tivessem deixado algo cair.

— Não esqueça-se do lugar onde escondi a chave — alertou Daichi, colocando a cabeça para dentro da janela.

— Pode deixar, estupidez ambulante.

Foi com essas palavras amáveis que Mikato deixou os quatro ali e se mandou. Os rapazes ajeitaram as malas da maneira mais confortável para carregarem (não eram muitas), e entraram pelo portão da cidade.

Já de cara dava para entender que a cidade era muito diferente de todas as outras, assim como já suspeitavam antes. Além das barraquinhas exotéricas estranhas logo na boca da cidade, havia algumas lojas de aspecto assustador (uma delas tinha um rosto sombrio de gelar a espinha, próximo do vidro da vitrine). Aiko deu uma olhava em volta antes de dizer:

— Parece que está tudo enfeitado para o Dia das Bruxas.

— Por isso que essa cidade não é levada a sério — disse Hayato. — Quase todos pensam que é tudo brincadeira, mas se enganam redondamente. Vamos ter que entrar mais na cidade para encontrar algo que não seja essas coisas sem sentido.

Como suspeitavam muito de atalhos pela cidade (cada um deles já passara por apuros por causa disso), foram andando pela rua principal mesmo. Não conversaram muito, trocando apenas algumas palavras no caminho. Não demoraram a achar um hotel bom, não muito chamativo nem nada. Era um prédio com lajotas brancas e laranjas nas paredes, com dezoito andares, largo.

Logo que entraram, falaram com um dos recepcionistas no balcão logo perto da porta. Ele assentiu, alegando que a estadia seria paga caso provassem ter alguma habilidade sobrenatural.

Enfim, foi desse jeito que iniciaram a exibição de "poderes sobrenaturais". Nem vou comentar os absurdos que foram ditos ali naquela hora, é melhor manter a sua sanidade do que satisfazer sua curiosidade. Mas o fato é que tudo ocorreu bem, as pessoas ficaram impressionadas (Akita não conseguiu deixar de pensar que a cada minuto nascia mais um otário no mundo) e a estadia foi oferecida sem sequer pestanejar.

Após deixarem as coisas no quarto, desceram novamente para a rua.

— Vamos falar com aquele mágico falso — disse Daichi, referindo-se, obviamente, a Sengoku. — Senão vou esquecer de repassar o recado de Mikato.

Eles pararam em frente a uma sorveteria, um pouco mais distante do hotel — que havia feito uma fracassada tentativa de dar um ar místico ao local —, para discutirem com cuidado o caminho até a casa de Sengoku.

— Mas aquela rua não tem saída! — disse Daichi.

— Claro que tem! — Aiko insistia.

Antes que Hayato emitisse qualquer som para argumentar também, mesmo abrindo a boca para tal, houve um "CLEC" alto, repentino e curto. O suporte da placa, ao alto, da sorveteria arrebentou.

BLAM!

Foi com estrondo que ela caiu bem no meio da rua. Na verdade foi em cima dos quatro rapazes, mais especificamente de Hayato. O albino estava distraído, fechando uma porta de vidro na mão de um pervertido já próximo da meia-idade que tentava segurar o braço de Aiko, então só notou que precisava desviar depois de ser atingido. Por sorte não foi em cheio, mas bateu direto em sua cabeça.

Ele caiu, obviamente. Por sorte ou por azar, ninguém além deles estava ali naquela rua (o pervertido fora embora, choramingando pelos dedos quebrados).

— Hayato! — exclamou Akita, a voz vertendo preocupação. — Hayato! Como você está? Está sangrando? Consegue se levantar?

O albino não respondeu, apoiando-se no chão com os cotovelos e passando a mão pelo lugar machucado e dolorido. Os rapazes se agruparam em torno dele, que se sentou e, ao levantar a cabeça para os companheiros, arqueou a sobrancelha e assumiu um ar de dúvida.

— Quem são vocês? — perguntou de repente, sendo realmente sincero.

Daichi, Akita e Aiko arregalaram os olhos, surpresos demais para emitir qualquer som de imediato.

— Como assim? — Daichi foi o primeiro a se manifestar.

— Não faço a mínima ideia de quem são — disse Hayato, francamente confuso. — Por que querem me ajudar?

— Sabe o seu nome? — Aiko perguntou, temeroso de que o albino estivesse completamente desmemoriado.

— Hayato.

— E o meu?

— Se nem você sabe, quem dirá eu!

— Eu sei meu nome! Quero saber se você lembra.

— Lembrar? Nos conhecemos?

E lá estava a conversa voltando à estaca zero.

— Podíamos tentar acertá-lo de novo na cabeça — sugeriu Akita. — Quero dizer, se ele ficou assim porque uma placa lhe atingiu, é provável que volte ao normal se fizermos isso de novo.

— Pode dar certo — concordou Daichi. — Hayato, venha...

O ruivo se interrompeu quando se virou e não viu nem sinal do albino. Alarmado, procurou em volta com o olhar qualquer sinal dele. Mas não viu nada. Akita e Aiko também procuravam.

— Deve ter fugido quando ouviu a ideia — falou o ruivo. — Vamos nos separar... Não, espere, vamos todos juntos. É mais seguro.

— Hã? — disse Akita, virando a cabeça para o lado em um ato óbvio de confusão. — Por que seria perigoso?

Sem resposta.

"Eu seria feito em pedaços por Hayato, quando ele voltar a si, caso acontecesse algo com um deles", pensou Daichi.

Algumas ruas longe dali, Hayato corria, por vezes espiando por cima do ombro e pensando: "Por que eles queriam me bater? Será que eu fiz algo à eles? Droga, eu não me lembro..." Só que ele não notara os olhos cobiçosos que lhe espreitavam de não muito longe. Ninguém percebera, mas ele viera observando-os desde que saíram do hotel, esperando para afanar algum deles.

Antes que se desse conta de algo, Hayato sentiu um peso muito maior, se comparado com o próprio, lhe pressionando do lado direito. Ele era abraçado pelo tal homem de meia-idade, que dizia em um tom aliviado:

— Eu finalmente te encontrei, meu amor! Ah, como estive preocupado!

— Quem é você? — Hayato estava ligeiramente assustado com a aproximação repentina.

— Não me diga que esqueceu... — Ele fez um biquinho ridículo. — Bom, sou o seu amante! Nos conhecemos há dois anos!

— É? — O albino estava incerto.

— Claro que sim! Venha, vamos voltar para casa! Você finalmente me deu permissão para desfrutar de seu corpo, deixe-me aproveitar então.

— Deixei?

— Sim! Ah, finalmente!

Muito confuso e com o cérebro embaralhado, Hayato foi arrastado pela rua por uma pessoa de quem não se recordava.

Naquele exato momento, Daichi, Aiko e Akita chamavam pelo albino em uma outra rua.


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Notas finais do capítulo

Uff, finalmente acabei esse capítulo!!!! Achei melhor parar aí, senão ficaria estranho demais, e quis deixá-los curiosos (funcionou?)
Ah, vou tentar escrever o próximo capítulo o mais rápido possível! Obrigada por ler!!! C:



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