Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 14
Cidade Vitoriana


Notas iniciais do capítulo

Nada a declarar. Boa leitura!



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Hayato adentrou a porta como se fizesse isso sempre, com um Akita trêmulo atrás. Quando passaram, o ar mudou completamente, como se fosse uma dimensão alternativa. Era mais leve, mas que tinha um pouco de perigo embutido. Ouviam-se conversas alegres por toda parte.

O albino guiou Akita pelas calçadas em volta das ruas de paralelepípedos irregulares, parecendo saber onde ia. O pequeno não deixou de notar as casas inacreditavelmente antigas, simples, e mesmo assim bonitas. Muito diferentes das atuais, que têm jardins exageradamente enfeitados e portões, separando a entrada da casa da calçada. Elas tinham a porta de madeira em forma de arco dando direto na rua, algumas janelas eram estreitas, outras com grades, mas todas as casas tinham dois andares. De cada lado da porta tinham lamparinas, algumas eram elétricas, enquanto outras precisava-se acender com fogo mesmo. Nas calçadas também tinham, mas eram todas elétricas.

As chaminés no topo dos telhados (alguns com palha, outros com telhas de cerâmica antiquadas e simples demais) eram de tijolos, e algumas liberavam fumaça escura. Certas lojas, com vidros perante as mercadorias, tinham muita gente, enquanto outras nem tanto. A maioria das mulheres, como Akita não demorou a notar, trajavam vestidos longos. Alguns ricamente enfeitados, e outros sem quase nada como decoração. Vez ou outra via-se uma com roupas normais e atuais, talvez até usando jeans.

Parte dos homens usavam roupas engomadas, terno. Os mais velhos usavam também cartolas altas e brilhantes de cetim, a maioria dos mais novos também. Mas, assim como as mulheres, haviam alguns que usavam jeans e camiseta, mas, de alguma forma, não ficavam deslocados naquele lugar tão semelhante à Era Vitoriana.

As pessoas com roupas mais caras e arrumadas eram acompanhadas por mordomos ou serviçais, que entravam junto em todos os lugares, de modo educado.

Carruagens negras passavam sacolejando pela rua, com cocheiros à frente. Raramente aparecia uma puxada por dois cavalos, geralmente era por um só. E todos os animais eram impecavelmente cuidados e sadios, fortes.

Francamente falando, o lugar podia se passar facilmente por um jogo de RPG. Naquele momento as ruas se pintavam de alaranjado, era a hora do pôr-do-sol.

— Aonde estamos indo? — perguntou Akita, quando a voz finalmente pareceu voltar.

— A uma estalagem — respondeu Hayato. — Vamos procurar um lugar não muito chamativo para passar a noite, mas só para hoje.

— Por quê?

— Amanhã vamos à casa de um conde ou coisa do gênero.

— Por quê? — Akita repetiu, como um gravador.

— Já conto. Vamos encontrar uma pousada antes de tudo.

Eles andaram mais um pouco, antes de Akita fazer outra pergunta:

— Sabe onde estamos indo?

— Sei.

— Já esteve aqui? — indagou o menor, ligeiramente espantado.

— Morei aqui a minha vida toda — disse Hayato. — Tá, não exatamente nessa cidade, mas, como já fiz diversos trabalhos aqui, conheço esse lugar como a palma da minha mão.

Depois de mais uns dois minutos, o albino apontou um lugar, com três andares e janelas razoáveis, e uma placa à borda da porta onde estava escrito o nome da pousada. Entraram.

Era um local agradável e rústivo, com piso e teto de madeira. Perto da porta tinha um balcão sem enfeites, com uma moça simpática e paciente atrás, explicando detalhe por detalhe do quarto para uma senhora quase surda. Perto, tinham sofás não tão caros, por isso não tão duráveis. Mesinhas de centro redondas estavam entre os sofás. No fundo, uma escada estreita levava aos andares superiores.

— Com licença — disse Hayato se aproximando do balcão, quando a senhora se afastou em direção às escadas com a chave na mão.

— Sim? — falou a moça, erguendo a cabeça. Ela tinha os cabelos negros e compridos, adornados com fitas lilases.

— Há um quarto vago?

— Claro! Apenas um?

— É, só para essa noite.

A moça não pediu mais explicações, pegou da gaveta uma chavinha de aço, entregando-a ao albino.

— Mas espero que entendam, os quartos maiores já estão ocupados — avisou ela, antes que os rapazes subissem as escadas. — No momento, esse é o maior que tem.

— Acho que sei o problema, mas não se preocupe — disse Hayato. — Damos um jeito.

— Certo, é no terceiro andar, quarto de número quinze.

Hayato agradeceu e subiu as escadas junto com Akita, que, apesar de ser estreita comportava duas pessoas magras uma ao lado da outra. Depois subiram mais um lance de escadas, chegando ao terceiro andar. Como cada um tinha nove quartos, só ia até o número 18. Não precisaram procurar muito. O albino girou a chave e entraram.

Era mediano, com o piso e o teto da mesma maneira que o primeiro andar, as paredes eram de um tom creme. Uma janela agradavelmente grande estava ao fundo, com cortinas brancas e limpas franzidas no canto. Tinha um guarda-roupa pequeno ao lado do sofá duplo. Do outro lado tinha uma outra porta, dando para o banheiro. Ao lado da porta tinha uma mesa — escrivaninha e cadeira. Mas...

— Só uma cama? — disse Akita timidamente, depois de analisar o lugar.

— Durmo no sofá então — Hayato anunciou prontamente, fechando a porta. — Pode me soltar, não vai se perder de mim aqui.

Só então que Akita percebeu que estivera agarrado ao braço de Hayato o tempo inteiro, provavelmente desde que passaram pela "porta". Corando um pouco, soltou-o imediatamente e recuou alguns passos.

— Não vou te deixar dormir no sofá — protestou o pequeno imediatamente, sentindo o queimar das bochechas sumir aos poucos.

— Por quê?

— Não importa.

Hayato deu um sorrisinho.

— Não vou deixar a dama delicada e frágil ficar no sofá, certo? — disse.

— Morra. — Akita sentiu o rubor voltar ao rosto imediatamente.

O albino riu, jogando a chave em cima da mesa, e dizendo:

— Vou tomar um banho e dar uma saída. Tenho uns assuntos a resolver.

— Tá.

Deixando a mochila azulada junto da chave, Hayato entrou no banheiro. Sozinho no quarto, Akita ficou uns momentos parados, antes de deixar a própria mochila ao pé da cadeira e se dirigir à janela, escancarando-a. Uma brisa leve e deliciosa entrou, batendo nas pálpebras fechadas do pequeno. Por alguns momentos esqueceu tudo, todos os problemas a que fora submetido nos últimos dias, tudo o que Hayato lhe contara. Mas, ao fechar os olhos, a primeira coisa que lhe veio à mente foi um par de olhos safira familiares, seguidos de um rosto fascinantemente bonito e claro.

Quando começou a pensar na voz do albino, abriu os olhos, meio alarmado. Estava surpreso e chocado consigo mesmo. Desde quando ficava pensando em Hayato? Apesar de não admitir, tinha a resposta na ponta da língua: desde que o conhecera.

Nessa hora o pôr-do-sol estava no finzinho, e o céu escurecia rapidamente. Aos poucos, o manto negro da noite tomava conta do alaranjado. Antes de ficar completamente escuro, a porta do banheiro se abriu. Mas Akita, absorto na lua quarto minguante enorme que subia lentamente mais ou menos cinco vezes maior que a normal —, não notou. Hayato, com os cabelos molhados e a cintura enrolada em uma toalha, parou e, quase inconscientemente, observou Akita por alguns momentos.

A pele pálida contrastava muito com os cabelos negros, cujos fios eram mais escuros que o próprio céu noturno. A estatura exageradamente baixa, o físico frágil, o rosto delicado... tudo era harmonioso até demais. Os olhos cor de ouro então, nem se fala. Um tom raramente encontrado: puro e limpo.

Desviando o olhar e aproveitando a distração de Akita, Hayato foi até a mochila e trocou de roupa rapidamente.

— Estou indo — falou Hayato em voz alta, tirando o pequeno de seus pensamentos absortos. — Volto mais tarde, não demoro.

— Vá com cuidado! — disse Akita, antes de Hayato assentir com um sorriso e sair do quarto.

No instante em que a porta se fechou, uma brisa um pouco mais forte soprou, um pouco fria por causa da noite. Achando melhor fechar a janela antes que entrasse algum mosquito, Akita deu um passo em direção á janela, se aproximando mais. No instante que o fez, um moço que passava na rua — não devia ter mais que dezenove anos — iluminou-se ao vê-lo, inevitavelmente abrindo um sorriso no rosto. Mas após isso a única coisa que viu foi a janela sendo fechada e o garoto se afastando.

Akita decidiu tomar banho, antes que a preguiça se instalasse.

Cerca de duas horas mais tarde, a moça da recepção — comandada por Hayato — foi chamar o pequeno para o jantar.



Já passava um pouco de meia-noite, e foi nessa hora que Hayato chegou. Abriu a porta com tanta cautela que não fez um único ruído sequer. As cortinas ainda estavam abertas, iluminando parcialmente o quarto. Mas Akita não estava na cama. Os olhos de gato safira examinaram o lugar e não demoraram a identificar um montinho pequeno no sofá, respirando devagar e profundamente.

Com um suspiro carinhoso, Hayato se aproximou do montinho, descobrindo um rosto pequeno afundado na coberta (encontrada no guarda-roupa um tempo atrás). Com muito cuidado para não acordá-lo, o albino levantou Akita no colo, levando-o para a cama intocada, com apenas um pensamento em mente: "Teimoso".


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Notas finais do capítulo

É isso.
Desculpem-me se estiver ruim, se estiver mal-explicado (tudo vai ser dito no capítulo seguinte), se estiver com erros ortográficos, palavras trocadas, palavras esquecidas ou qualquer coisa do tipo. Não tenho previsões de quando vou colocar o próximo capítulo, mas espero que seja em breve.



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