Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 11
Alguém espreita na escuridão




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- Pronto, agora você pode levantar. – ela falou com a garotinha que estava deitada em cima de uma cama, com sua mãe ao lado.

A menina levantou-se, respirando normalmente, sem tosse e sem dores no corpo. Ambas agradeceram efusivamente e se foram, felizes por estarem livres daquela doença.

- Não quer parar um pouco? Você tem trabalhado desde que chegou.

- Só uns dez minutinhos. Acho que já estou acostumando e não tem tanto problema.

- Ótimo. Vou trazer algo para você comer. Não demoro!

Magali não teve tempo para falar que não precisava. Ah, não! Ela ia ter que comer ração de gato outra vez? Para o seu alívio, ele lhe trouxe uma bandeja contendo leite e algumas frutas.

- Ah, obrigada. Essas frutas estão lindas e eu adorei o leite.

- Fico feliz. Nós tratamos muito bem nossas vacas.

Ela não conteve a curiosidade.

- Vocês comem frutas?

- Sim. Faz bem para o pelo. Também gostamos de alguns legumes, ovos, verduras...

- Achei que vocês só comessem ração...

- Ração é apenas uma alternativa fácil. Acho que é como o cereal matinal para os humanos, algo assim. Não comemos isso o tempo inteiro.

Pelo que ele falou, a alimentação dos gatos não era tão diferente assim quanto ela pensava. E parecia ser muito mais saudável já que eles não se entupiam de açúcar, frituras e comidas cheias de gordura trans.

- E como vocês gostam da carne?

- Preferimos crua. Não sei por que vocês cozinham tanto, enchem de temperos e outras coisas. Ao natural é muito melhor.

- É que a gente não consegue comer a carne crua. Nossos dentes não foram feitos para isso.

- Os nossos foram. Veja só que beleza! – ele falou mostrando suas presas afiadas, perfeitas para rasgar a carne. Os dentes dele eram bem brancos, limpos e pareciam uma mistura entre dentes de gato e humano. Aqueles dentes permitiam que eles rasgassem pedaços de carne e também pudessem cortar e mastigar vegetais.

Engraçado... de certa forma aqueles dentes afiados não lhe deram nenhum medo. Eram até charmosos.

***

- Como a humana está indo?

- Ela conseguiu curar um grande numero de pessoas hoje, majestade. Infelizmente, ainda há muitas pessoas doentes.

- Entendo... – a moça se esforçava ao máximo, isso ele podia ver. Apesar disso, ela não conseguia atender a demanda. Se ela ao menos pudesse ficar ali. Até que poderia, já que não havia nenhuma lei proibindo a permanência de humanos no reino, mas ela precisava voltar para a sua família.

- Majestade. – seus pensamentos foram interrompidos quando um guarda entrou na sala e fez uma reverência. – Lord Teigr está aqui.

- Essa não! – ele falou esfregando a testa com os dedos, se preparando para os aborrecimentos que certamente ia ter com o irmão. “Está bem, mande o entrar.”

Não foi preciso o guarda fazer o convite. Ele foi entrando na sala sem ser convidado e sem pedir licença. Teigr era um pouco parecido com o irmão, com a mesma pelagem, porém com listras negras, como se fosse um tigre faminto por sua presa. Era bem alto, forte, acostumado com lutas e batalhas. Seus olhos amarelos pareciam ameaçadores, sempre com um olhar frio e cortante. Era considerado por todos um homem violento, cruel e sem escrúpulos.

- O que o traz aqui?

- Um assunto muito sério que me preocupa bastante. Você realmente deixou que uma humana viesse ao nosso reino?

- Ela não é uma humana qualquer. Essa jovem recebeu os olhos de gato e é capaz de curar a doença que está assolando nosso povo.

- Os olhos de gato? Então os rumores são verdadeiros... – ele pareceu acalmar subitamente – Interessante. Há gerações não se tem noticias de alguém que tenha recebido os olhos de gato. Se é assim, creio que não há problemas.

Fidélius não gostou muito daquela mudança súbita de humor. Teigr não era nem um pouco confiável e estava sempre tramando algo, cheio de segundas intenções. Apesar disso, ele estava ansioso para encerrar a conversa e ficar livre daquele sujeito desagradável.

- Certo. Se era só isso que você tinha para tratar...

- Mais ou menos. Você sabe que a hora está chegando. Não dá para fugir disso pelo resto da sua vida.

- Isso quem decide sou eu, não você.

- Eu sou seu irmão e tenho direitos. Você não pode ignorar isso.

- Não estou ignorando nada, somente tenho assuntos muitos mais urgentes e importantes para tratar no momento. Isso pode muito bem esperar.

- Há anos você vem adiando isso, sempre dando vários tipos de desculpas tolas.

- A epidemia que assola nosso povo não é uma desculpa tola! – ele falou, indignado.

- Pense como quiser. Só não tente adiar isso indefinidamente ou as conseqüências serão muito duras para você e para o povo.

Dito isso, ele virou-se rapidamente e saiu pisando duro, deixando Fidélius com uma vontade grande de esganar aquele idiota. Por que ele tinha que ser tão terrível? Desde criança, Teigr só pensava em si mesmo. Arrogante, mimado e ganancioso, ele nunca se conformou em ser o segundo na sucessão do trono. Pelo visto, ele não ia desistir até conseguir o que pretendia. Aquilo podia ser uma tragédia para todos.

***

- Que livro grosso!

- É um volume especial, repleto com informações das divindades conhecidas pelo povo gato. É grosso porque além de ser muito bem detalhado, também tem muitas imagens. Veja! – ele mostrou a gravura de uma espécie de Elemental que fazia parte das crenças do povo gato. Era uma gravura muito bem feita, repleta de ricos detalhes.

- Que bonito! E por acaso aí fala sobre a Wyn?

- Fala. Eu vou mostrar.

Felicius começou a folhear o livro com cuidado, já que se tratava de uma obra rara e valiosa. Eles estavam sentados em um banco de um dos jardins em volta do palácio. Magali tinha curado um grande numero de pessoas naquele dia e quando viu que estava quase na hora de ela ir embora, Felicius resolveu pedir para que ela parasse mais cedo. Não havia mais doentes naquela enfermaria de qualquer forma. Assim ele poderia lhe mostrar o que tinha encontrado sobre Wyn.

- Aqui está.

- Eu não tô entendendo nada...

- É porque foi escrito em um idioma antigo do meu povo. Aqui – ele lhe deu várias folhas de papel. – eu traduzi as partes principais para você ler mais tarde.

- Obrigada! Nossa deve ter dado um trabalhão!

- Imagina. Espero que ajude a entender um pouco mais seus poderes. Ah, veja: essa aqui é uma gravura dela. Por acaso se parece com a que você viu no seu sonho?

- Bastante. Ela é muito bonita!

- Não tanto quanto você...

- Hum?

Ele começou a tossir como se tivesse uma bola de pelos na garganta. Aquilo tinha saído sem querer. Magali ficou sem jeito, sentindo seu coração palpitando e sem saber o que dizer ou fazer. Eles estavam sozinhos, num bonito jardim, sentados lado a lado, bem próximos. Felizmente, seu celular tocou. Salva pelo gongo.

- O que é isso?

- É o alarme do meu celular. Ajustei para não perder a hora.

- Fascinante!

- Pois é. Agora eu preciso ir, senão meus pais ficam preocupados.

- Como está fazendo para despistá-los?

- Meus amigos estão me dando cobertura.

- Entendo. Eu irei com você até os limites da cidade.

Como ainda estava claro, Magali não viu necessidade de ser acompanhada por um guarda.

- A gente se vê amanhã? – ele perguntou sentindo tristeza por ela ter que ir embora.

- Sim, amanhã eu venho.

- Estarei esperando.

Eles se despediram e ela saiu rapidamente. Era preciso chegar em casa rápido antes que sua mãe suspeitasse de alguma coisa. Magali estava com tanta pressa que sequer percebeu dois olhos amarelos e maldosos lhe espreitando na escuridão.  


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