Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 12
Cobiça




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O corredor era escuro e apertado e a única iluminação vinha da lanterna que ele levava. O caminho também era longo e não era nada agradável ficar andando debaixo da terra como se fosse uma toupeira. Teigr não parecia incomodado com aquilo. Claro, não era ele quem precisava ir na frente carregando aquela lanterna e morrendo de medo daquela escuridão que vinha a frente.


Lackey seguia com pasos hesitantes enquanto Teigr ia logo atrás de vez em quando xingando ou mandando que ele fosse mais depressa. Como ir mais rápido sem correr o risco de escorregar nas pedras lisas por causa da umidade? Da última vez que isso tinha acontecido, a lanterna caiu no chão e se apagou. Por causa disso, o pobre criado tinha levado uma tremenda surra.


– Anda logo, incompetente! Eu não quero ficar enterrado aqui a noite inteira!


Após andar por quase meia hora, eles finalmente chegaram ao destino, que era um grande cofre secreto que tinha sido construído no subterrâneo do Reino dos Gatos. Era ali onde Teigr guardava seus bens mais valiosos e secretos. Como membro da família real, ele tinha direito a um cofre no palácio, que já era considerado muito seguro. No entanto, para guardar aqueles itens em especial ele não confiava em nenhum outro cofre. Tinha que ser aquele, que ninguém além dele conhecia.


Antes de ouvir outra bronca, o criado se apressou a abrir a porta para que seu senhor pudesse entrar. A sala era grande e ali havia muitas caixas, prateleiras e baús. No centro, uma mesa tosca de madeira com uns dois ou três bancos que tinham de ser substituídos de vez em quando todas as vezes que Teigr arremessava um contra a parede durante um acesso de fúria.


– Vamos ver... ah, sim! Aqui está! – ele pegou um pergaminho muito antigo e desenrolou em cima da mesa. Era preciso ter muito cuidado para que o papel não se rasgasse com o manuseio. – Perfeito, está tudo aqui! Valeu à pena guardar isso, com certeza!


Tratava-se de um antigo manual de magia negra felina. Pelo menos o que sobrou, já que o restante fora queimado há muito tempo. Aquele ali já tinha tudo o que ele queria e precisava: a magia necessária para lhe dar os olhos de gato.


Ele leu as instruções cuidadosamente. Quando criança, ele não gostava muito de estudar o antigo idioma dos gatos, mas naquela hora aquele conhecimento estava sendo muito útil.


– Finalmente eu poderei ter os olhos de gato. Nunca pensei que esse dia chegaria!


Durante toda sua vida ele tinha ouvido falar daquele poder especial que a divindade Wyn concedia a um humano muito raramente. Aquele poder era bom demais para ficar nas mãos de uma criatura tão patética quanto um ser humano. Nas mãos de um gato seria muito melhor. Especialmente nas SUAS mãos.


Ela não concedia aquela dádiva a um gato, mas havia uma magia negra muito antiga que permitia transferir os olhos de um humano para um gato. Era algo complicado, todos os passos tinham que ser seguidos com perfeição. E o primeiro item da lista exigia que ela cedesse os olhos espontaneamente.


– Como farei isso? – ele perguntou em voz alta. Nem mesmo um ser humano seria tão burro a ponto de abrir mão de tal poder. Seria preciso bolar algum plano para fazê-la a ceder os olhos. Como fazer aquilo? – terei de pensar em alguma coisa.

– Senhor?

– Estou pensando alto, seu burro!


Ele sentou-se em um banco de madeira para pensar. Se ao menos ele fosse o rei, tudo ficaria mais fácil. Assim teria mais liberdade para agir. Como príncipe e segundo na sucessão do trono, ele não tinha tantos poderes. Se tentasse fazer algo contra ela, coagi-la ou ameaçá-la, poderia ter sérios problemas com Fidélius, já que o idiota do seu sobrinho parecia estar apaixonado pela humana.


– Se eu fosse o rei... sim, sim, se eu fosse o rei tudo seria mais fácil... – foi pensando enquanto coçava o queixo com as garras. Aquilo era simples na teoria e difícil na prática. Havia uma forma de conseguir o trono, mas Fidélius estava enrolando há anos, o gatuno. Certamente esperando que seu filho crescesse, ficasse mais forte e pronto para receber a coroa. Enfrentar Fidélius seria fácil, já que ele nunca fora um guerreiro. Por outro lado, Felicius poderia ser um problema. Jovem, forte e cheio de energia, seu sobrinho poderia ser um sério problema caso o grande desafio terminasse em empate e um confronto direto fosse necessário.


– Que maldição! Eu não consigo pensar em nada! – um banco de madeira foi arremessado contra a parede e acabou se partindo em vários pedaços. Ele sabia que a única solução era seu irmão aceitar o grande desafio. Como forçá-lo a fazer isso? O reino estava atravessando uma crise por causa daquela epidemia e Fidélius estava usando aquilo como pretexto para fugir do desafio.


O criado teve que lhe dar outro banco de madeira. Que droga... seria preciso providenciar mais outro, que ele deveria levar consigo quando ambos voltassem para a sala. Andar por aqueles túneis escuros, escorregadios, carregando uma lanterna e um banco de madeira a tira-colo não era nada agradável para ele. Como ele não podia falar nada, só lhe restava rezar para que seu amo não quebrasse um segundo banco.


Durante um tempo Teigr estava disposto a esperar, mas ao ver os olhos de gato ao alcance das suas garras, ele não quis esperar mais. O desafio tinha que ser feito o mais rápido possível. Assim ele se tornaria o rei e com isso teria plenos poderes para fazer o que fosse preciso e forçar a humana a lhe ceder os olhos de gato. Como rei, ele estaria livre para fazer o que quisesse e ninguém ia ficar em seu caminho. Excelente plano!


Ele deu um sorriso malévolo, antegozando o poder que em breve ia ter em suas garras. Para que se contentar com o reino dos gatos se havia um mundo inteiro à sua disposição? Quanto aos humanos, ele podia eliminar os fracos e doentes e escravizar os fortes e saudáveis. Afinal, eles podiam fazer trabalhos pesados e grosseiros enquanto os gatos gozavam de uma vida boa e tranqüila. Tudo sob seu reinado com mão de ferro.


– Se ela ao menos terminasse logo de curar as pessoas e erradicar essa doença, Fidélius não teria mais nenhuma desculpa. Raios, isso irá levar muito tempo!

– Talvez ela encontre outra alternativa mais rápida.

– Duvido. Humanos são as criaturas mais estúpidas da face da terra, depois dos cães e ratos. Aquela pirralha desnutrida jamais será capaz de usar tal poder plenamente.


Não havia outra alternativa para ele a não ser esperar. Pelo menos a humana estava lhe fazendo um favor. Acabando com a epidemia, ele teria um povo forte e saudável para governar quando se tornasse rei e um problema a menos para lhe chatear. E, enquanto esperava, ele também teria mais tempo para traçar seus planos para vencer os grandes desafios e se tornar rei.

– Meu irmão não perde por esperar!


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Notas finais do capítulo

Uma pequena explicação. Ao escrever a história, eu comecei a achar que estava ficando chato falar só "Rei Gato" e por isso acabei colocando nele o nome de Fidélius. Escolhi esse porque de certa forma parece um pouco com Felicius. E também não faria nenhum sentido o irmão dele ter um nome enquanto ele continuaria sendo apenas "Rei Gato".



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