Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 10
Perdoar é humano




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– Como é que é?


Os móveis da casa tremeram, os gatos correram apavorados para baixo do sofá e todos gelaram de medo com o grito que Mônica tinha dado.

– Você foi pro reino da gatalhada??? Sozinha? No meio da noite? Sem nos falar nada? E ainda voltou de lá praticamente morta?

– Não exagera, Mô, eu não voltei praticamente morta, só um pouco cansada...

– Um pouco? – com essa, até as paredes da casa tremeram. – Magali, se agora, depois de descansar e se alimentar, você ainda está um caco, imagine como devia estar na hora que chegou? Esses gatos estão abusando de você! Ah, mas isso não vai ficar assim não!!!! Eu pego, esgano e dou bifa!!!!


Levou um tempo até que Cebola conseguisse acalmar seus instintos assassinos.


– Você tem que admitir que a Mônica está certa, Magá. Poxa, olha como você ficou! E você ainda pretende voltar lá de novo?

– Gente... eles precisam de ajuda e é a minha missão.

– Que Mané missão o que! Por acaso você pediu por isso? – Cascão perguntou, indignado.

– Bem... não, mas...

– Então você não tem obrigação nenhuma, ora!

– Sem falar que eles nos tiraram de casa, nos arrastaram de coleira e queriam nos transformar em gatos de rua!

– Sei disso, mas eles só fizeram essas coisas porque...

– Tá, tá, porque nós fomos “malvados” com o príncipe Gatonildo e ele cismou de punir a humanidade inteira por causa disso!

– Mas depois ele intercedeu por nós convencendo o pai dele a me dar uma chance de salvar vocês. Sem a ajuda dele, todos estaríamos transformados em gatos agora.

– Legal, acontece que ele trapaceou nos desafios. Será que ele estava te ajudando quando apagou as setas que você fazia para poder andar no labirinto?

– Ou quando te jogou aquele rato naquele desafio de agilidade?

– Eu sei que aquilo foi errado, mas ele estava obedecendo às ordens do pai. Não é tão simples assim. E no fim, ele desafiou o pai e ficou do nosso lado.


Eles não estavam totalmente convencidos. Aqueles gatos não se importavam nem um pouco com os humanos e se pudessem, teriam transformado todos em gatos de rua sem a menor piedade. Por que eles deveriam demonstrar alguma consideração? Aqueles gatos não se achavam superiores, magnânimos e poderosos? Então que saíssem dessa sozinhos.


– Gente, que é isso? – Magali falou indignada. – que mesquinharia! Vocês nunca foram assim! É, eu sei que eles erraram, só que de certa forma nós também erramos.

– Erramos? A gente nem ia fazer nada contra aquele gato!

– Só que o Felicius tinha sofrido nas mãos de outras pessoas e ficou com uma imagem ruim dos humanos. Não podemos culpá-lo por isso, né? Ele só queria nos conhecer e acabou sendo maltratado e perseguido.

– A gente entende isso, só que ele generalizou achando que toda a humanidade é ruim e tortura gatos por diversão. Eu posso ter ficado aborrecido na hora, mas nunca faria algo de ruim com ele.

– Isso mesmo! Ele achou mais fácil colocar todo mundo no mesmo saco. Eu nunca maltratei um gato em toda minha vida. Só porque eu tropecei nele enquanto praticava Parkour, ele decidiu que eu tinha que ser castigado?


Eles não deixavam de ter razão. Entre as pessoas que foram levadas pelos homens-gato, havia muita gente boa que jamais faria mal a um animalzinho. Nem gato, nem cachorro, nem mesmo um rato. Ângela era uma delas, uma pessoa boa que se importava muito com os gatos. Por que ela teve que ser levada também?


– Vocês tem razão em tudo, eu não vou negar nada do que disseram. Só que se nós temos motivos para queixas, eles também têm. Os humanos maltratam os gatos e todos os animais sem nenhuma consideração. Deve ser muito difícil para eles presenciarem tanta crueldade!

– E precisam descontar isso em todo mundo? – Mônica não parecia disposta a dar o braço a torcer, como sempre.

– E será que não podemos perdoar?

– Perdoar? – todos falaram ao mesmo tempo.

– Sim, gente, perdoar. Tudo terminou bem, eles nos deixaram ir embora e não incomodaram mais ninguém. Por outro lado, ainda tem muito humano judiando de gatos por aí. Eles pararam, nós não. Se eles erraram, nós também erramos no passado e continuamos a errar no presente.

– Como assim nós? A gente nunca maltratou...

– Sei disso, mas sabemos que existe crueldade por aí e não fazemos nada para ajudar.

– Não dá para ajudar a todo mundo!

– Mas podemos fazer a nossa parte ajudando no que podemos. E agora, a gente pode ajudá-los nesse momento difícil. Se queremos que eles nos perdoem pelas crueldades cometidas contra gatos, também temos que perdoá-los pelo que fizeram com a gente.


Os três ficaram quietos, refletindo sobre o que ela tinha falado. Pensando bem, o povo gato só reagiu daquele jeito por causa da maneira como as pessoas tratavam os gatos. Eles não fizeram nada gratuitamente. Às vezes, em momentos de dor, as pessoas costumam ficar cegas e perdem o bom senso.


– Ai, Magá... você sempre arruma um jeito de nos convencer. Acho que é você quem tem argumentos fortes, não eu.

– Pensando bem, não é certo a gente deixar aquelas pessoas morrerem daquele jeito sem fazer nada. Se a gente puder ajudar... tamos aí!

– Obrigada, gente! Eu vou mesmo precisar do apoio de vocês.

– Ajudar a gente ajuda, só que não sabemos como. Você é a única que pode curar gatos por aqui e acho que o rei gato não vai querer ver a nossa fuça no reino dele.

– Hum... temos que pensar em algo... um plano...

– Um plano infalível? Vixe! Danou-se!


Ele fez um muxoxo, mas sabia que a Mônica só estava brincando.


– Deixa eu pensar... considerando a quantidade de pessoas que precisam de ajuda, você terá que ir ao Reino dos Gatos muitas vezes e vai ser difícil fazer isso sem seus pais desconfiarem. Se não podemos ir até lá, então podemos ficar aqui fora te dando cobertura.

A idéia era boa. Magali não podia sair sozinha, então seria preciso ter a ajuda dos amigos para que seus pais pensassem que ela estava com eles.


– Você pode dormir na minha casa toda vez que precisar sair de noite. Seus pais estão acostumados com isso e não vão estranhar.


Eles começaram a traçar planos e esquemas para que Magali tivesse mais liberdade para ir ao Reino dos Gatos sem levantar suspeitas. E aquilo seria só até ela conseguir erradicar a epidemia. E falando em epidemia...


– Eu ainda estou preocupada com esse cansaço que você fica depois de curar aquela gatalhada. Tá na cara que você não pode curar tantas pessoas de uma vez.

– Só que essa doença tá matando as pessoas, eu não posso demorar demais curando só um pouquinho por dia...

– Por acaso não teria outra forma? Sei lá! Por que tem que ser sempre de um jeito? – Cascão perguntou. Nos esportes, ele sempre precisava improvisar e encontrar outras saídas. Se ele não fosse flexível, não ia poder fazer nem a metade das coisas que fazia.

– Se tem, eu não sei. Ninguém me ensinou a usar esses poderes. Eles falaram que eu tenho que fazer tudo por conta própria.


A cabeça do Cebola começou a funcionar a todo vapor, tentando imaginar alguma alternativa. O toque de Magali não era eficiente quando ela precisava curar um grande numero de pessoas. Só dava para tratar um de cada vez. E se houvesse uma forma de curar várias pessoas ao mesmo tempo? Não haveria um jeito de ela criar algum remédio? Sim, um remédio seria boa alternativa caso fosse possível fazer em grande quantidade.


– Um remédio... eu não sei. Se eu tivesse mais informações sobre a Wyn, acho que daria para ter uma dica.

– Escuta, por acaso ninguém lá no Reino dos Gatos não pode falar nada não? Eles devem conhecer essa tal entidade.

– É mesmo! Eu nem tinha pensado nisso antes. Da próxima vez que eu for lá, vou tentar aprender tudo o que puder sobre ela.

– Aí você conta para a gente.


O barulho de um carro chegando os fez lembrar de que a mãe da Magali estava à caminho.


– Ô Magali, como é que você vai explicar para a sua mãe sobre essa cesta cheia de coisas?

– O Cascão tá certo! Você não vai falar a verdade pra ela, vai?

– Tá doido? Claro que não. Eu vou falar que é um presente do pessoal lá da escola e vocês confirmam. Ela vai estranhar, mas vai acreditar.


***


– Hummmmm! Vamos ter salmão hoje? Eles estavam com alguma liquidação lá na peixaria?

O belo salmão assado exalava um cheiro delicioso, deixando o pai de Magali com água na boca.


– Não. Os amigos da Magali trouxeram para ela uma cesta com várias coisas. Engraçado... por que eles puseram tanta carne? Essa eu não entendi.

– Nem eu! Geralmente se coloca frutas, bolos... essas coisas. E tem tanta carne assim?

– E como! É carne para um mês! Ainda bem que temos freezer. Tinha até filé mignon, dá para acreditar? Ah, e você devia provar do leite, está uma delicia! Parece leite da fazenda!


Magali ouvia tudo calada, tentando conter uma risadinha. Foi muito engraçado ver a cara da sua mãe quando ela lhe mostrou a grande cesta que tinha ganhado dos amigos.


Ela procurou se alimentar bem. No dia seguinte, seria preciso ir até o reino dos gatos para ajudar as pessoas. Naquela noite ela ia ficar em casa mesmo, para poder descansar mais.


Saber que os amigos a estavam apoiando lhe deu mais segurança, já que teria muito mais dificuldade para agir sem eles. Com o tempo, as divergências entre o povo gato e os humanos iam ser resolvidas e todos poderiam viver em paz. Era essa a sua missão.



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