Me deitei do lado dela e enquanto ela olhava para o ceu, aproveitei para analisa-la de perto. Os traços dela eram perfeitos e os olhos azuis reluziam a luz do sol.

Quando ela se virou e me viu encarando-a corou imediatamente. Ela rolou para o outro lado e se sentou.

Me levantei e peguei o violao.

– Vem. Voce vai cantar alguma coisa pra mim antes de almoçarmos.

– Nico.. eu nao sei se...

– Nem vem, vai cantar e pronto. – ela suspirou.

– Ja que nao tenho escolha... Californication?

– Of course lady. – Comecei a tocar Californication – Red hot Chili Peppers ( http://www.youtube.com/watch?v=YlUKcNNmywk )

Eu estava tocando automaticamente ja. Nao prestava atençao no que fazia. A voz dela era simplesmente maravilhosa. Eu estava hipnotizado por aquela voz, eu olhava para aqueles olhos e para aquela boca e eu nao sei como eu consegui me controlar.

Nao podia mais negar. Nao sabia o que era. Nao sabia o que tinha se manifestado em tao pouco tempo. Mas o que eu sentia por Thalia Grace era realmente forte.

Ele nao parava de me olhar, e isso estava me incomodando. Mas nao podia deixar de notar os braços musculosos segurando o violao, e seu leve sorriso nos labios. Para Thalia. Apenas me concentrei para acabar a musica.

– ...Dream of Californication, Dream of Californication.

Quando terminei finalmente tive coragem de encarar os olhos negros que me fitavam com tanta intensidade. Assim que ele notou meu olhar em seus olhos ele desviou o olhar para o violao.

– Voce canta muito bem Thalia.

– Obrigada. Voce toca bem tambem.

– Valeu. Voce ta com fome?

– Nao muita... Voce esta?

– Da pra aguentar. Canta outra musica?

– Agora voce vai ter que cantar comigo.

– Mas a cantora aqui e’ voce.

– Nao interessa. Voce vai cantar junto e pronto.

– Me diz, existe alguma coisa que voce nao consiga?

– Sao poucas... Agora voce escolhe, vamos ver se eu conheço.

Ele começou a tocar Open you Eyes – Snow Patrol ( http://www.youtube.com/watch?v=fk1Q9y6VVy0&ob=av3e ) Eu amava essa musica, nao pude deixsr de sorrir quando a reconheci.

– Conhece?

– Amo!

Cantamos juntos, em uma harmonia perfeita. Cada um cantava um pedaço, o refrao cantavamos juntos, como se tivessemos ensaiado. Isso estava me assustando.

A musica acabou e ele nao parava de me olhar. Ficamos em silencio por um momento ate que eu levantei e fui inventar qualquer coisa para fazer. Qualquer coisa. Qualquer coisa para ficar longe dos olhos negros que me encaravam descaradamente.

Quando ela se levantou eu entedi que estava sendo ridiculo. Quem encarava uma garota que conhecia a dois dias? Eu estava fazendo papel de otario. Era obvio que ela so falava comigo e so me suportava porque era obrigada a “morar” comigo.

Peguei a “cesta”, estendi a toalha no chao e coloquei as comidas em cima. Quando ela viu pude ver uma tentativa de sorriso em seu rosto, e so entao percebi que entava encarando-a novamente.

Eu nao sabia mais o que fazer. Entao me sentei e comi, que e’ o que eu sei fazer de melhor!

Eu nao aguento mais essa situaçao! Esse negocio de ele ficar me encarando o tempo todo e’ horrivel, porque ele nao vai se pegar com a recepcionista? Seria um grande alivio pra mim, com certeza.

– Nico... eu... – ele olhou para mim curioso e eu suspirei – eu quero pedir desculpas pelo jeito que eu te trato. Eu sempre fui assim, com todo mundo. Sempre fui fria e sem muitas palavras... desculpa se te magoei. – ele sorriu. PORQUE ELE SORRIU? Ele nao deveria estar sorrindo.

– Capaz... eu entendo, na verdade tambem sou assim, mas voce... tem algo em voce que nao me deixa ficar quieto e nao me deixa ser frio... e eu nao consigo parar de te olhar, eu sei que pode parecer estranho e que tu vai achar que eu sou maluco, mas tem alguma coisa em ti, que me chama a atençao. – Eu senti meu rosto esquentar.

– Er... Obrigada, eu acho.

– Vem, senta ai, vamos comer alguma coisa.

Nos sentamos de frente um para o outro. Tinhamos comprado muita coisa... muita mesmo, dava para umas 6 pessoas comerem ali.

Comemos em silencio e nao nos comunicamos pelo resto da tarde. Ele ficou ali tocando violao e eu fui dar uma volta com o cavalo que estava ficando impaciente de ficar ali amarrado o tempo todo.

Eu decidi que tentaria ser mais simpatica com ele nesses dias que ficariamos juntos, afinal, uma ma convivencia so iria piorar as coisas.

– Nico... vai escurecer daqui a pouco, acho melhor a gente voltar.

– Entao ta. – ele começou a recolher as comidas e eu fui pegar o cavalo sem nome.

Subi no cavalo, peguei a bacia e estendi a mao para ele, que me olhou desconfiado.

– Vamos Nico, coloca o pe ai, nao vou te deixar cair, porque se caisse iria se machucar e eu teria que cuidar de voce, e isso nao esta nos meu planos.

Ele se impulsionou e conseguiu subir de primeira (com uma pequena ajudinha minha). Mas quando eu vi ele tava tentando se atirar do cavalo.

– O que voce esta fazendo?

– Indo me machucar pra voce cuidar de mim...

– Arg. Voce e’ um idiota sabia?

– Sabia! – ele se arrumou atras de mim.

– Posso correr? – olhei para tras com uma cara de pidona.

– Ahn... nao sei se isso e’ uma boa ideia, da ultima vez eu quase infartei. – pude notar o medo em sua voz e gargalhei.

– Fala serio Nico. Se segura querido. – e começamos a correr. Ele se grudou em mim de um jeito que estava esmagando as minhas costelas. Acho que nao ia mais desgrudar.

Mas nao dava para dizer que eu estava incomodada. Nao mesmo. Na verdade era bem acolhedor. Ele era quente, apesar do vento que batia em nos. E os seus braços me envolviam perfeitamente. Cala a boca Thalia. Para de pensar. Para de pensar. Cante.

Comecei a cantar baixinho. (http://www.youtube.com/watch?v=6tuPBrSl9Nw Whatever - Oasis)

– I'm free to be whatever I, whatever I choose, and I'll sing the blues if I want. I'm free to say whatever I, whatever I like, if it's wrong or right it's alright.

– Ta cantando?

– E’ o que parece nao?

– Porque?

– Pra nao pensar.

Apesar de nao ter afrouxado o “abraço” ele continuou cantando.

– Always seems to me, you only see what people want you to see. How long's it gonna be? Before we get on the bus and cause no fuss. Get a grip on yourself, it don't cost much…

– … Whatever you do, whatever you say, yeah, I know it's alright. – cantamos a musica toda, e isso faz com que o caminho se tornasse muito menor. Acho que essa relaçao talvez pudesse dar certo.

– Whatever you do, whatever you say, yeah, I know it's alright. – terminei sorrindo. Digamos que essa musica lava a minha alma.

Quando chegamos no hotel, Nico subiu enquanto eu fui levar o cavalo ate o estabulo que ficava nos fundos do hotel.

Antes de subir, passei na recepçao. Pelo jeito o turno da recepcionista atiradinha ja tinha terminado, pois em seu lugar estava um homem de meia idade que parecia ser bem simpatico.

– Com licença senhor. – disse para chamar sua atençao.

– Ola senhorita, posso ajuda-la?

– Na verdade pode sim... quero saber se tem como o senhor mandar alguns utensilios para serem usados na cozinha do quarto – sim, o quarto tinha uma miniatura de cozinha, mas havia um frigobar, uma pia, um fogao de duas bocas e uma pequena bancada.

– Do que a senhorita precisa?

– Nao sei, pratos, talheres, uma panela, talvez duas... Pratos e talheres para duas pessoas.

– Ok. Daqui a alguns minutos, alguem ira levar o seu pedido para o seu quarto, que e’ o...

– 502.

– ok. Tudo sera levado para o 502.

– Obrigada – sorri.

Sim. Eu vou fazer uma janta para o Di Angelo como pedido de desculpas.