Uma noite tranquila, sem sonhos, sem problemas, apenas com aqueles braços me envolvendo. Parei e comecei a repassar lentamente o dia de ontem. Ele tinha sido um fofo, mas que ideia era essa de dormir de conchinha? Mas nao posso negar e dizer que nao gostei, ele me trazia segurança, me deixava bem, com um sono tranquilo.

Mas tinha alguma coisa errada. Alguma coisa ali que nao estava quando fomos dormir. Me apavorei com a possibilidade. Isso nao pode estar acontecendo. Simplesmente nao pode. Eu nao queria sair do seu abraço mas precisava confirmar minhas suspeitas. Na real nao queria confirmar nada, queria ver que eu estava errada e que eu era uma lunatica tarada. Ou nao era bem eu a tarada ali.

Ele respirava no meu pescoço, uma respiraçao quente e boa de sentir. Me mexi um pouco e ele abriu os olhos lentamente.

– Bom Dia Lia. – ele falou com a voz meio rouca de quem acabou de acordar.

– Bom dia? Digamos que esse nao e’ um jeito muito bom de começar o dia.

– O que? – Apontei para baixo dos lençois em direçao a suas partes intimas. – Ah cara, nao acredito.

– Nem eu Di Angelo, nem eu. QUE NOJO!

– Po Lia, calma, eu nao tenho culpa, acontece meu, nao e’ sempre mas de vez em quando acontece.

– Mas tu tava deitado comigo, de conchinha e eu acordei e senti isso dai... ai que nojo – murmurei.

– Ah, fala serio, para de drama. Nao precisa bancar a santinha virgem pra cima de mim.

– Ei. Nem vem, sou uma santa em pessoa.

– Sei...

– Vai logo abaixar isso ai vai, banho frio, tocar umazinha no banheiro, seila te vira, mas abaixa esse negocio. – fiz uma careta, ele riu e foi pro banheiro, nao sem antes disparar para mim:

– Claro, “tocar umazinha”, bem santa mesmo. – revirei os olhos e ele fechou a porta do banheiro.

– E ve se nao suja o banheiro, se suja limpa, eu que nao vou limpar isso ai. – ouvi ele rindo e o chuveiro sendo ligado.

Me levantei, separei uma roupa e fiquei pensando no que ia fazer hoje. Nico saiu do banheiro enrolado na toalha e eu revirei os olhos.

– Oh, me desculpe Santa Grace, a puritana.

– Claro, claro. Que isso nao se repita, se nao voce vai ver a minha ira de puritana.

– Na verdade, estou louco pra ver. – revirei os olhos e entrei no banheiro. – Sabe Lia, daqui a pouco esse revirar de olhos vai virar um cacuete. – ele gritou perto da porta fechada, eu apenas ri.

Cara. Que merda. Nao tinha outro dia pra acordar assim nao? Arruinou completamente minhas chances com ela. Agora ela acha que eu sou um pervertido, mais do que antes. Ela estava no banho e eu nao conseguia parar de pensar nela, na real achei que a reaçao seria pior, mas mesmo assim, nao foi nada boa. Agora so esperava que ela ignorasse isso.

...

Realmente, ela estava ignorando a situaçao, e me ignorando tambem. Ja eram nove da noite e ela contiava sem falar comigo, nada mais que algumas palavras de educaçao. Isso estava me incomodando demais.

Estava no quarto, tocando violao, quando ela entrou no quarto e, como se eu nao estivesse ali, ela pegou o pijama e foi para o banheiro.

Suspirei e continuei tocando. Estava esperando o momento em que o chuveiro desligaria para me aprofundar mais nas musicas e ser mais dramatico. E assim que ela o desligou, parei a musica que estava tocando e comecei outra, cantando alto, para que ela conseguisse ouvir, sem sombra de duvidas.

Oasis – Stand by me. (http://www.youtube.com/watch?v=maTP315XZCQ&ob=av2n)

– … said I would and I'll be leaving one day, before my heart starts to burn…

– O que…? – ela começou a falar enquanto saia do banheiro penteando os cabelos, mas eu nao dei chances para ela falar e continuei cantando.

– So what's the matter with you? Sing me something new... don't you know? The cold and wind and rain don't know? They only seem to come and go away…

Ela sentou na beira da cama e ficou me olhando. Sussurrava partes do refrao.

Quando a musica terminou ela ficou me olhando com uma expressao confusa.

– Nico... o que foi isso? – poderia ter sido apenas mais uma musica tocada, e ela nao teria se importado, mas ela notou algo diferente, ela notou que aquela musica foi tocada especialmente para ela.

– Thalia... Me desculpa, eu ja pedi milhoes de vezes. Foi um erro. Eu nao devia ter dormido assim com voce. Quer dizer, nao que eu nao quisesse, mas e’ claro que tinha chances de isso acontecer, mas ontem de noite nao pensei nisso... eu.. so me desculpa. – eu baixei a cabeça. Estava sendo completamente sincero.

– Relaxa. Nao fiquei brava. Confusa, talvez, mas nao brava. – ela sorriu e um alivio imenso percorreu meu corpo.

Ficamos mais umas duas horas tocando algumas musicas e nos ofendendo, como ja era de costume.

Estavamos fazendo uma mistura de musicas em uns ritmos loucos, apenas para nos divertir, mas quando dei por mim, ja sentia a respiraçao quente dela no meu rosto, e o halito de pasta de dente.

Olhei no fundo dos olhos azuis eletricos e pude ver que ela tambem me olhou nos olhos. Ficamos um tempo assim, impossivel dizer quanto. Mas como se fosse em um subito de racionalidade, ela saiu do transe, foi para tras e sorriu.

– Acho que por hoje chega. Estou com sono.

– Nao fui banido da cama?

– Ainda nao Di Angelo... mas suas chances estao acabando.

– Vou me lembrar disso da proxima vez que fizer besteira.

Me deitei ao lado dela e fiquei pensando nos olhos azuis que encarara a pouco tempo.

– Boa noite Nico.

– Boa noite Lia. Sonha comigo.

– Antes ser so um sonho. Ai de voce se acordar abraçado comigo amanha, vai ficar sem essa coisa no meio das pernas ai.

– Ai, nao fala assim, preciso dele ta?

– Pra pegar vadias, claro, que homem nao precisa ne?

– Ei... nao pego vadias.

– Todo homem pega vadias.

– Nao sou como todos os homens.

– Entao prove. Boa noite Nico.

– Boa noite Lia.

Eu estava confuso. O que ela quis dizer com “entao prove”? Ela era incrivel, e eu estava espantado com tudo isso. Mas nao era novo. Ja havia me sentido assim. Talvez algum dia contasse a historia para ela, por mais dolorida que fosse.

Mas uma coisa era inegavel. Eu estava gostando de Thalia Grace. De um jeito perigoso. De um jeito que agora, nao tinha mais como voltar atras.