Após comer tudo, Dimitri me perguntou se eu havia melhorado. Eu não menti, porque eu realmente estava bem.

Ele se levantou e fui para cozinha me deixando sozinha com Viktoria na sala.

“Vocês fazem um casal muito bonito!” eu quase me engasguei, mas consegui segurar o riso.

“Obrigada!”

Ela deu de ombros. “Meu irmão parece feliz com você! Eu nunca o vi tao sorridente em toda a minha vida. Há quanto tempo vocês estão juntos?”

Eu contei a ela como conheci Dimitri e como havíamos nos apaixonado um pelo outro, mas sabíamos que não poderíamos ficar juntos. Contei sobre o ataque e como ele e eu decidimos que nunca mais ficaríamos separados.

Quando eu terminei de contar ela assentiu e me deu um sorriso.

Eu me senti feliz. Se a familia de Dimitri me aceitasse, então estava bem.

Sonya, que havíamos encontrado ontem também, chegou e quando nos viu abriu um enorme sorriso. “Olá vocês duas!”

“Hey!” eu acenei.

Dimitri apareceu na porta e nos deu um sorriso. Ele abraçou a sua irmã, com cuidado para não apertar a barriga enorme dela.

Com muito cuidado ele se sentou comigo. Viktoria riu e mencionou algo sobre ajudar sua mãe com o almoço, arrastando uma Sonya muito confusa junto com ela.

Assim que elas saíram eu pulei em cima de Dimitri.

“Parece que alguém já esta melhor!”

“Sim!” eu beijei sua bochecha.

“O que foi aquilo com Viktoria?”

Ele apontou para porta. “Ah, ela me fez contar sobre a nossa história de Romeu e Julieta!”

Ele riu. “E o que ela disse?” “Ela ficou super entusiasmada e feliz por nós.”

Ele ergueu uma sobrancelha. “Então foi mais fácil do que eu pensei.”

Eu ri e o beijei. Ficamos um bom tempo nos beijando até que alguém limpou a garganta nos obrigando a afastar mais do que depressa.

Olena estava na soleira da porta com um olhar divertido no rosto. Dimitri olhou culpado para ela então murmurou algo em russo.

 Ela respondeu. Eu senti Dimitri ficar tenso e se levantar, me ajudando a ficar de pé também. Eu estava vermelha de vergonha, mas surpreendentemente Olena veio até nós e nos abraçou.

“Seja bem vinda a familia Rose. Eu sabia que Dimitri iria encontrar alguém que o fizesse feliz.”

 Eu devolvi o abraço surpresa e com lagrimas nos olhos.

“Obrigada!” ela deu um passo para trás e eu notei Karolyna e Viktoria sorrindo na porta. Elas tinham cara de quem havia aprontado. Dimitri notou também.

“Quem será que mandou mamãe nos verificar, não é mesmo Rose?” ele fingiu estar pensativo e eu ri da cara de Viktoria. Ela ficou branca e começou a correr com Dimitri correndo atrás dela. Quando ele a alcançou, ele começou a fazer cócegas até ela começar a gritar.

Eu e o resto dos Belikov estávamos rindo daquela cena. Dimitri se levantou quando Viktoria começou a chorar de rir e veio para o meu lado, me puxando para um abraço e me rodando no ar.

“Agora você é minha Rosemarie!” Eu ri. “Não mesmo! Você não conseguiria fazer cócegas em mim. Um soco seria o suficiente para te deixar inconsciente.”

Ele riu e me pôs no chão. “Tem razão!”

Olena nos deu mais um sorriso e nos chamou para o almoço. Eu fiquei sentada ao lado de Dimitri enquanto ele comia.

“Quem são seus pais Rose?”

“Eu não conheci meu pai. Mas minha mãe é Janine Hathaway!”

Viktoria assobiou. “Tem razão de você ser foda desse jeito!”

Eu sorri. “Você a conhece?”

“O lorde que ela protege tem um parente na minha Academia. Ela foi com ele uma vez.”

Eu sorri orgulhosa de minha mãe.

Olena sorriu e acenou. “Janine é uma boa pessoa. Ela já sabe sobre vocês?”

Dimitri engasgou e eu sorri. “Nem em sonhos!” eu disse.

“Como assim Dinka? Você esta com Rose escondido?”

“Mama, não é bem assim! Eu e Rose não ficamos juntos na Academia. Nós não podemos!”

“Sim Dimitri, mas você deveria falar com ela se vão ficar juntos!”

“Olena, nós não podemos. Lissa vai perdê-lo se fizermos isso e eu também!”

“Mas mesmo que você seja mentor dela, vocês ainda podem ficar juntos. Rose é maior de idade, pode se cuidar.” Sonya argumentou.

De repente todo mundo se calou. Eu e Viktoria olhamos uma pra outra e baixamos a cabeça. Olena percebeu e se voltou furiosa para Dimitri.

“Quantos anos ela tem Dimitri?”

Ele engoliu em seco. “Dezessete!”

O queixo de Olena foi lá em baixo. “Dimitri...”

“A culpa não foi dele Olena. Por favor, não jogue tudo em cima dele. Eu farei dezoito em três dias.”

“Eu não estou o culpando Rose querida. Nem a você! Mas você sabe o quão perigoso é para os dois se descobrirem?”

Eu olhei para baixo. “Yeah, nós sabemos!”

E com isso o almoço acabou. Eu me levantei de repente.

“E-eu vou tomar um pouco de ar!”

Dimitri começou a se levantar mas eu o parei. “Não se preocupe Dimitri. Eu só quero sair um pouco.” Eu sai da casa e me sentei na calçada. Na verdade, eu queria lhes dar um tempo para resolver as coisas. E para deixar minha mente clarear também. Uma hora, no meio da discussão, alguma coisa borrou a minha visão. Algo estranho e errado. Algo que eu já havia visto em Lissa.

Mesmo que eu não estivesse nervosa naquele momento, alguma coisa me fez ficar. Era como se estivesse me sufocando. Então eu decidi que era melhor eu sair de lá e esquecer um pouco.

Eu não sei por quanto tempo eu fiquei daquele jeito, mas quando eu me dei por mim, Viktoria estava me cutucando.

“Terra para Rose! O clima já voltou ao normal lá dentro se você quer saber!”

Eu mandei novamente aquela coisa que eu estava sentindo para longe. Mas eu não conseguia. Eu precisava de algo para fazer. Algo físico. Que envolvesse luta.

“Chame Dimitri!” ela me olhou assustada e eu gemi. “Vá!”

Quando ela saiu correndo gritando por ele. Eu me inclinei segurando a minha cabeça, que parecia querer explodir.

Uma mão pousou no meu ombro mas eu não conseguia olhar para cima. Eu estava nervosa. Deus, eu nunca tinha estado tão nervosa assim.

Dimitri me forçou a olhar para ele, e quando seus olhos encontraram os meus, ele ofegou.

“Viktoria me passe a chave do carro.”

Dimitri me forçou a levantar. E me jogou dentro do carro. Viktoria começou a chorar, perguntando o que estava acontecendo comigo. As irmãs e a mãe de Dimitri também saíram de dentro do carro, mas Dimitri as forçou a ficar “Ela só precisa de um minuto. Nós já voltamos. Eu explico depois!”

Eu já não estava mais agüentando tanta pressão na cabeça. Minha visão ficou borrada novamente por vermelho e lagrimas começaram a sair. Eu estava suando frio.

Eu não sabia para onde Dimitri estava me levando, mas eu sei que ele deve ter levado muitas multas. Alguns minutos depois estávamos fora do alcance da cidade. Ele parou o carro e desceu.

Eu abri a porta e andei um pouco. Eu comecei a gritar. Dimitri me segurou para eu não correr, mas não me impediu de gritar, e gritar, até que eu perdi a voz, e comecei a soluçar, aquela coisa deixando a minha mente definitivamente.

Eu senti vontade de vomitar. Dimitri se afastou e segurou meu cabelo. Quando eu terminei, ele pegou um pouco de água de uma garrafa e molhou uma toalha. Gentilmente ele começou a passar ela no meu rosto para me refrescar.

Eu murmurei um obrigado e o abracei forte. Ele me segurou dizendo que tudo iria ficar bem, mesmo ele não sabendo o que seria esse tudo.

Alguns minutos depois, quando eu me senti bem para falar eu me afastei dele. “Oh Deus, me desculpe por isso!”

“Não se desculpe. Se contente em me contar o que aconteceu.”

“E-eu posso c-contar em casa?”

“Claro meu amor!”

Ele abriu a porta do carro e me pôs lá dentro gentilmente. A minha cabeça parou de doer.

Ele dirigiu mais tranqüilo para casa e de segundos em segundos me olhava para certificar que eu estava bem.

Quando paramos em  frente a casa, ele abriu a porta e me puxou para seus braços.

Olena correu para nós, trazendo uma Viktoria muito assustada atrás.

Eu não olhei para cima. Eu não queria falar com elas agora.

Dimitri tentou me arrastar mas minhas pernas não queriam funcionar.

Ele me pegou no colo e murmurou para sua mãe. “Dê-nos um segundo. Eu preciso conversar com ela!”

Quando ela acenou, ele me levou até o quarto, pegou algumas coisas na minha mala e seguiu para o banheiro.

“Tire essa roupa suja e coloque isso.” Ele me entregou uma camisa e uma calça dele e se sentou na beirada da banheira.

“Eu posso tomar um banho?”

Ele começou a sair mas eu o impedi, minhas mãos tentando agarrar alguma parte de sua roupa. “Por favor, fique! Não me deixe ainda!”

Ele me olhou gentilmente e acenou.

Eu tirei minha blusa e minha calça e as joguei para longe de mim, ficando apenas de roupa intima. Liguei a ducha fria e me enfiei de baixo, ficando imóvel, apenas deixando a água correr.

Eu podia sentir o olhar de Dimitri sobre mim. Eu pensei em o que eu diria para ele. Alguma explicação que pudesse explicar aquele ataque, mas eu realmente não sabia muito mais que ele.

Quando Dimitri percebeu que eu já estava tempo demais no banho ele desligou o chuveiro e me estendeu uma toalha. Eu tirei minha roupa molhada e pus a calça e a camisa dele que ele havia me entregado.

“Estou parecendo um saco!”

Ele me olhou sério. “Não esta. E não me importaria. Agora seque o cabelo.” Eu fiz biquinho e entreguei a toalha para ele.

“Seca para mim?”

Ele suspirou, pegou a toalha e começou a secar o meu cabelo suavemente. Assim que ele terminou eu peguei o pente e o entreguei a ele.

“Pronto!”

Ele abriu a porta do quarto e me fez entrar, trancando a porta.

Eu suspirei e subi na cama sentando em um canto com as pernas cruzadas. Ele se sentou na minha frente imitando a minha posição me encarou.

“Por onde eu começo?”

“Que tal pelo começo?”

Eu pensei. “Okay! Quando você foi capturado, quando o grupo de resgate saiu da Academia, eu estava mal. Lissa estava usando muito do seu poder e eu não queria ficar perto dela. Nós discutimos por causa de você. Eu pedi a ela para te curar. Ela disse que não poderia. Então eu a evitei. Eu fui para o refeitório naquele dia. Adrian estava lá. Eu comecei a comer, mas então uma náusea me atingiu. Não a náusea que eu sinto quando tem Strigoi por perto. Eu vomitei naquele dia.”

“Quantas vezes?”

“Uma no refeitório e uma quanto eu estava indo dormir.”

“Rose, porque você não me contou? Você não tem comido também. É por isso. E também não dorme direito.” Ele segurou minhas mãos.

“O que mais?”

Decidi que mentir para ele não faria mais nenhum bem. Então eu contei a ele sobre as dores de cabeça e as dores no corpo.

“Foi isso que te fez gritar? As dores? Ou tinha mais?”

“Você se lembra do dia em que Lissa quis atacar Jesse e eu peguei a escuridão dela? Foi mais ou menos assim que eu me senti hoje.”

“Mas por quê? O que estava acontecendo com Lissa para ela ficar daquele jeito?”

Eu me levantei e comecei a andar pelo quarto. “Essa é o problema. Lissa não estava brava nem nervosa ou algo assim! Eu acho que é algum tipo de efeito acumulativo. O fato de você ter sido capturado não deve ter ajudado muito.”

Ele passou a mão no rosto, frustrado. “Isso não explica o porquê de você ter ficado nervosa hoje. Foram as dores, eu sei. Mas Rose, você estava com os olhos vermelhos.Como se ele tivessem sangrando.”

Eu me assustei. “Eu me lembro de enxergar tudo vermelho. Não sabia que era real. Achei que fosse a dor.”

“Não. Seus olhos estavam injetados em sangue Rose! Tem noção do quanto eu fiquei preocupado com você? E você quase desmaiou hoje cedo.”

“Sim, mas não devíamos nos preocupar com outra coisa?”

Ele me olhou incrédulo. “O quê, por exemplo?”

“Com Lissa! Escute, se eu estou assim é porque Lissa também está! Da ultima vez que eu interferi na mente dela, ela estava cogitando em matar a rainha!”

Dimitri passou as mãos no cabelo. “Lissa não é meu problema agora. Você é!”

“Ela é nosso problema sim. Somos guardiões dela! Ela é minha melhor amiga!”

Ele olhou para mim incrédulo. “Você arriscaria sua vida pela mágica de Lissa?”

Eu hesitei por um milésimo de segundo. Mas então a resposta veio a mim. Lissa era a única chance que tínhamos de um governo justo entre os Moroi. Ela podia fazer a diferença. E o tanto de pessoas que ela ajudaria.

“Sim! Eu daria minha vida pela dela!”

“Eu não quis dizer isso Rose. Eu quis dizer: você estaria disposta a deixar Lissa sugar a sua vida por algo que ela poderia viver sem?”

“Eu entendi bem Dimitri. Eu sou amiga dela. Eu faria qualquer coisa por ela!”

Dimitri me olhou furioso. “Então esta na hora de você rever seus conselhos sobre amizade. Por que amigos não deixam os outros morrer, e se Lissa fizer isso, ela não será sua amiga mais!”

E saiu do quarto batendo a porta com tanta força que eu estremeci.

Eu não estava com forças para chorar. Tao pouco para ir atrás dele. Eu só queria afundar em minha própria mente e esquecer.

Ao invés disso eu fiz algo que não deveria.

Eu abri a janela do quarto e olhei para baixo. Não seria uma grande queda se eu fizesse os movimentos certos.

Eu pensei que seria mais uma razão para Dimitri ficar bravo comigo.

“Se foda!” eu murmurei e subi no parapeito. Após um segundo de hesitação eu pulei.

Assim que bati meus pés no chão eu me arrependi. Uma dor subiu pela minha coluna e eu ofeguei.

“Você já fez coisas piores antes Rose! O que é uma simples fuga a noite para você?”

Pensando nisto e sorrindo comigo mesma eu pulei a grade que cercava a casa dos Belikov e comecei a andar pela rua. Eu conferi meus bolsos, ou melhor, os bolsos de Dimitri, para ver se minha estaca estava lá. Estava. Fechando os olhos eu escolhi uma direção a qual andar e os abri novamente. Estava de frente para a parte mais iluminada da cidade. Bela escolha Rose, minha consciência murmurou para mim novamente, por esse lado são menos riscos de se andar sozinha.