Viajar voando com um vampiro não é recomendando para quem tem:

Medo de altura

Medo de voar muito rápido a ponto de não enxergar nada além de borrões.

Medo da sensação de seu corpo estar prestes a ser reduzido em pedaços.

Pandora e Yuri levaram pouco mais de uma hora para chegar a Loen na costa ocidental da Noruega, já estava perto do amanhecer e podia-se podia perceber que conforme a noite ia dando lugar ao dia, Pandora enfraquecia e necessitava chegar logo ao abrigo onde os outros se encontravam.

_Vamos estamos quase chegando é logo depois daquelas árvores, entre e se acomode eu irei logo depois.

_A senhorita não vem? _Está quase amanhecendo.

_Você sabe que nunca fui fã de casas com muita claridade como essa, não se preocupe eu ficarei bem, nos vemos à noite, até lá tome cuidado, qualquer coisa chame Pollux, ele estará na casa com você e os outros. Pandora simplesmente se virou e sumiu como um vulto negro por dentre as árvores.

A casa não era muito grande mais também não era muito pequena, ainda conservava alguns aspectos renascentistas e um misto de idade média em sua arquitetura e ao mesmo tempo lembrava os antigos templos gregos que se via nos livros com duas colunas de mármore sustentando cada lado da ampla varanda decorada com pequenas estátuas gregas de homens e mulheres, se não fosse o fato de estarmos nos escondendo eu diria que aquela seria uma ótima casa para se passar as férias.

_O humano chegou pessoal, só não consigo sentir a presença de Pandora perto dele. Uma voz masculina soou de dentro da casa e eu conhecia muito bem aquela voz rouca e ameaçadora dependendo do momento era a voz de Nicolas o feiticeiro imortal que segundo contaram a Yuri uma vez era um grande feiticeiro que foi transformado em imortal, mas mesmo assim não abandonou as práticas mágicas as quais praticava antes de ser imortal.

_Vamos entre está quase amanhecendo, não posso me queimar outra vez. Victor se limitou a dar um sorriso irônico e quase me jogou pra dentro de casa com sua rapidez.

_Onde estão os outros?

_Estão lá em cima se preparando para o amanhecer, Pandora não veio com você não é mesmo? _Pandora nunca gostou de casas luxuosas desde que... Então rapazinho como foi à viagem?

_Normal, como qualquer outra. Você estava dizendo sobre Pandora o que aconteceu para que ela tenha deixado de gostar de casas como esta?

_Longa história e eu não estou autorizado a falar sobre isso, se quiser saber terá que perguntar a Pandora.

_Talvez outra hora eu pergunte. Yuri olhou pela janela e percebeu que o céu mudava seu tom de azul profundo para um violeta intenso.

_Vejo que você está crescendo, se continuar assim ficará mais alto que Pollux.

_Isso não acontecerá, eu não vou crescer por muito tempo, logo meu corpo estará morto.

_Por que diz isso? Não gosta da sua humanidade?

_Até gosto mais em breve serei obrigado a abrir mão dela.

_E quando será exatamente? Vai levar muito tempo?

_Cerca de cinco meses até meu aniversário de 19 anos, depois disso não mudarei mais.

Viktor pareceu entender e assentiu com um gesto de cabeça e apontou para a mala que Yuri não largara por um segundo desde que deixara sua casa na Turíngia.

_Deve estar cansado venha comigo, o levarei até seu quarto.

Viktor subiu as escadas em direção a um corredor estreito, porém longo, onde continham seis portas e uma no final do corredor. Viktor parou na penúltima parte antes da porta isolada e a abriu revelando um enorme quarto com enormes janelas de vidro e cortinas leves que balançavam conforme a brisa.

_Fique à vontade, qualquer coisa estaremos nos quartos ao lado, nos vemos após o por do sol.

Viktor fechou a porta deixando-o sozinho no enorme quarto que agora começava a se iluminar com pequenos raios alaranjados do amanhecer. Largando a mala no sofá perto da janela e sentando na enorme cama para tentar recapitular tudo que havia acontecido em tão pouco tempo. Não demorou muito para tudo o que havia acontecido inundar por completo a mente de Yuri, imagens de sua família, Pandora os induzindo a esquecer, um rosto vazio e coberto por um capuz sujo de sangue, pessoas morrendo e seus amigos tentando combater algo ou alguém que não possuía um rosto. Por fim acabou se jogando na cama e esperou que todos aqueles pensamentos o arrastassem para um abismo e o fizesse dormir, mesmo que fosse o suficiente para esquecer tudo por um breve momento.

"Um enorme vale escuro, o sol estava encoberto pelas nuvens que o tornavam negro, o céu estava coberto por densas nuvens negras de onde faiscavam relâmpagos que vez ou outra iluminavam a escuridão. Som de batalha podia-se ver de um lado Pollux, Sara e Viktor tentando derrotar alguém que usava um capuz e manto negro e que lançava enormes labaredas em suas direções. No outro canto encontravam-se Pandora, Nicolas, Selene e Thor, eles tentavam derrotar uma mulher com enormes cabelos lisos e negros e que segurava uma lança que emanava uma energia destrutiva e tentava acertá-los com jatos de luz arroxeados enquanto do outro lado, no extremo oposto deles havia alguém, um corpo todo ensangüentado e sujo. Um cadáver a criatura não se movia e parecia nunca ter sido humana e tinha um olhar assustado e vago. Era quase como uma múmia, porém em estado mais conservado; A criatura moveu-se na direção de Yuri e disse

“_Fuja enquanto ainda pode. Se você insistir em lutar pagará com sua vida, a lança não perdoará uma só alma e irá estraçalhar quem estiver em seu caminho.”

O sonho se dissolveu revelando um quarto escuro iluminado apenas pela fraca luz da lua que entrava pelas janelas. O silencio dominava tudo, não se ouvia nada nem o som do vento era como se o mundo houvesse se calado aquela noite.

_ Outro pesadelo? A voz ecoou ao lado da cama e por extinto Yuri lançou a pequena adaga de prata na direção de onde havia surgido a voz.

Uma mão estendeu-se das sombras segurando a adaga no ar

_Calma, parece assustado. A voz era familiar e de certa forma o fazia sentir-se em segurança.

_Pollux? Onde você está?

_Um vulto extremamente pálido surgiu das sombras, vestia uma calça e camiseta preta e parecia mais pálido desde o último verão, quando enfrentaram Markus. Ele deu a volta na cama e depositou a adaga perto dos pés de Yuri e depois se dirigiu a janela.

_Vejo que Pandora o trouxe antes do tempo. Realmente ela é rápida.

_Antes do tempo?

_Sim, pretendíamos esperar mais alguns dias para termos certeza do paradeiro de Erick. Porém ela o trouxe, fico feliz por isso. Pollux parecia muito aflito e estava inquieto.

_Creio que você não veio até aqui para falar apenas isso, você parece nervoso e aflito.

_Vim apenas ver como você estava, afinal você não dormiu direito o dia todo, eu pude ver que você estava inquieto só não pude ver com o que você estava sonhando. _Por favor, me mostre com o que você sonhou.

_Eu não sei se deveria, na verdade não é um sonho e sim um pesadelo.

_Como você quiser, esperarei até você estar pronto para me mostrar.

_Eu ainda não entendo o motivo de Pandora ter feito com que eu fugisse e deixasse minha família para trás.

_Nos últimos dias Yuri muitas coisas que nós não esperávamos têm acontecido e feito com que vivêssemos com medo. As coisas estão ficando difíceis não só para nós, mas para humanos como você.

_Eu preciso que vocês me expliquem o que está acontecendo, eu sei que Erick acordou, preciso saber o porquê de isso estar acontecendo. Yuri começava a se agitar e a curiosidade, não só a curiosidade, mas a necessidade de saber de tudo o consumia por dentro, fazendo com que ele ficasse muito mais inquieto que o normal.

Como você já deve saber Yuri, Erick se libertou e não sabemos ainda como isso pode ter acontecido, uma vez que ele exterminou os vampiros milenares que tomavam conta de sua tumba. Desde que ele escapou há alguns dias atrás, o caos começou a se instalar por boa parte da Europa e já começou a se espalhar por outras partes como Ásia, Norte da África e América do Sul. Uma enorme onda de ataques de lobisomens se iniciou e a maioria está do lado de Erick, assim como as bruxas e alguns feiticeiros que ele conseguiu achar pelo caminho, o mesmo está valendo para os humanos superdotados ou que podem ter um potencial grandioso se forem imortais. Ele está criando um exército, um exército para conseguir tomar o mundo.

Yuri por um momento se retesou e ficou pensando na idéia de Erick estar interessado nos humanos especiais, aquelas palavras giravam em sua mente como um turbilhão. Uma verdadeira tempestade começava a se formar dentro de sua cabeça impedindo-o de raciocinar direito.

_Yuri você está bem? Você parece meio pálido e em estado de choque.

Yuri foi trazido de volta de seu pequeno pesadelo particular e pôde ver o rosto inexpressivo de Pollux lhe fitando com aqueles grandes olhos, os olhos amendoados com uma leve linha prateada em volta da íris que sempre prendiam a atenção de Yuri.

_Estou bem, estava apenas pensando nisso tudo.

_Eu sei que parece muita informação para você, mais você pediu a verdade. Você tem o direito de saber.

_Eu entendo perfeitamente a gravidade da situação, entendo que Erick representa um risco mortal e imbatível para todos que estiverem em seu caminho e para todos aqueles que forem contra seus métodos.

Pollux assentiu com um gesto de cabeça, e por um momento ficou fitando Yuri e a pele branca de seu braço que agora era iluminada pela lua. Ele não havia percebido, mas desde o último verão Yuri havia crescido, não era mais o garoto humano normal e invulnerável que ele e os outros conheceram. Seu olhar já não era tão inocente, porém ainda restavam resquícios de uma inocência grandiosa, que ele guardava apenas para si, sem demonstrar. Seus cabelos haviam crescido um pouco, agora não eram tão arrepiados como antes, mais ainda continuavam castanhos levemente avermelhados.

_Deixarei você descansar, até mais tarde Yuri.

Pollux se virou deixando Yuri sozinho no quarto iluminado pela lua.

Até mais tarde Pollux. Pensou Yuri e levantando-se se dirigiu até a janela, observando à noite que estava clara era a primeira noite daquele outono que estava clara e estrelada. Yuri não conseguia se lembrar de como a lua era bonita, ele se lembrava que costumava olhá-la todas as noites e apreciava sua beleza única. Porém com o tempo ele foi esquecendo-se dessa beleza, até que chegou o dia em que ele não olhava mais para a lua como antes, olhava e apenas via o que os outros humanos normais viam. Um enorme astro que refletia a luz solar, ele havia se esquecido da beleza da lua, havia se esquecido da sensação que sentia todas às vezes que a olhava, que sentava em frente a janela de seu quarto e a olhava atravessar o céu.

Agora ele lembrava como era sentir aquelas sensações de antigamente. Yuri poderia passar horas ali a observando, porém o sono começava a fazer seus olhos pesarem e a começarem a querer ceder. Yuri abriu ainda mais as pesadas cortinas de seu quarto e dirigiu-se a cama de onde podia ficar vendo a lua e de onde podia apreciar sua luz prateada que agora invadia ainda mais o quarto. Yuri deitou e tentou ficar acordado olhando para a lua, porém mais uma vez o sono venceu e ele mergulhou em um turbilhão de lembranças e sensações. E pela primeira vez em vários dias, ele conseguiu dormir, sem ter pesadelos ou acordar gritando.