_Sentiu minha falta? A figura apoiada no parapeito da janela parecia cansada e faminta.

_Sellene, oh meu deus você voltou. Lá estava ela, com seus cabelos encharcados pela chuva e sua roupa rasgada, até parecia que ela nunca havia visto a civilização pelo estado que se encontrava. Sua pele estava mais pálida do que o habitual e em torno de seus olhos podia-se perceber fortes e fundas olheiras que demonstravam cansaço. Seu olhar estava fixo em Josh e ele podia quase que adivinhar o porquê. Era a fome Sellene não devia se alimentar desde quando partira e estar ali sob controle devia estar exigindo muito de si mesma.

Josh deu um passa a frente e o corpo de Sellene pareceu ficar tenso e seus olhos por um breve momento se estreitaram.

_Por favor, não se aproxime, eu não sei se posso me controlar. Sellene parecia estar fazendo um enorme esforço, pois, suas unhas estavam quase se cravando no parapeito da janela.

_Tudo bem, eu confio em você e sei que você não seria capaz de fazer isso. Josh deu mais um passo e isso pareceu torturar Sellene e aumentar sua agonia.

_Não cometa esse erro, você nunca pode confiar em um vampiro. Confiar em um vampiro significa morte, confiar em nossa espécie é morte na certa.

_Eu não me importo Sellene, eu senti sua falta nesses três dias que você ficou ausente e não será sua sede que mudará isso.

Josh se aproximou e ficou à apenas centímetros de distância de onde Sellene se encontrava.

_Afaste-se, por favor, eu não quero fazer isso. Sellene começava a se virar deixando claro que tentaria se afastar de Josh.

_Você não precisa ir embora só porque esta com sede. Você pode se controlar, eu sei que você é capaz.

_Eu tenho medo de ter uma recaída e acabar não conseguindo me controlar Josh. Sellene abriu a boca parecendo querer dizer alguma coisa mais se deteve. Josh pôde ver claramente dois dentes afiados como duas lâminas e que cintilavam, embora estivesse escuro.

Josh levantou a manga do casaco exibindo o pulso pálido pela pouca luz que ainda penetrava pela janela, sua pele parecia mármore e uma fina veia podia ser vista, pulsando rapidamente.

_Se não consegue se controlar beba do meu sangue. Josh olhou diretamente olhou nos olhos de Sellene e pode ver o esforço feito por ela para não atacá-lo.

_Eu não posso Josh, não me peça algo assim. Você sabe as conseqüências. Sellene estreitou os olhos e se aproximou de Josh sussurrando em seu ouvido. “Não posso fazer isso com você, não quero matá-lo”

_Não se preocupe, eu sei que tenho sangue no corpo para manter nós dois vivos. Apenas beba e não se preocupe, eu ficarei bem. Josh deu um pequeno sorriso e encarou Sellene. _Eu ficarei bem Sellene.

Sellene e Josh ficaram calados por um longo momento, apenas o barulho da chuva do lado de fora do quarto podia ser ouvido. Sellene encarava Josh e ele podia ver o medo em seus olhos. Ela estava lutando com ela mesma para continuar mantendo o controle sobre seus instintos que no momento só precisavam de um pequeno empurrão para poder tomar conta e controlarem ela.

_Tentarei me controlar, caso eu não consiga tente me bater ou fazer algo que desvie minha atenção do sangue que estarei bebendo.

Josh assentiu com um gesto de cabeça e olhou para Sellene encorajando-a. Sellene desceu do parapeito da janela indo na direção de Josh. Pegou o pulso esquerdo de Josh segurando-o com as duas mãos enquanto baixava a cabeça mordendo o pulso de Josh. Um dor lancinante tomou conta do pulso de Josh e logo de todo seu braço. Josh podia sentir seu sangue sendo transportado de seu corpo para o corpo de Sellene enquanto a dor aumentava cada vez mais parecendo que seu braço estava sendo retalhado. Logo uma fraqueza enorme começou a tomar conta de Josh e uma sensação de estar perdendo o controle de seu próprio corpo.

_Já chega Sellene, você consegue, pare.

_Sellene começava a sugar cada vez mais forte aumentando mais e mais a dor no braço de Josh.

_Você consegue, pare, lembre-se que você não é como os outros de sua espécie, você é diferente.

Sellene arregalou os olhos e largou o braço de Josh atirando-se contra a Janela. Sangue escorria pelo canto direito de sua boca e sua aparência havia melhorado. Seus olhos agora estavam com um brilho azulado e pareciam revigorados, embora ainda parecessem um pouco cansados. Sua pele não estava tão pálida, tinha adquirido um leve tom corado.

_Josh, Josh você está bem? Ela emanava preocupação e não conseguia desviar os olhos do pulso ferido de Josh.

_Estou sim você conseguiu parar. Josh sorriu e fechou os olhos por um breve momento. _Estou cansado, meu corpo dói acho que vou descansar um pouco.

_Você compartilhou algo precioso comigo, é minha vez de retribuir Josh, apenas beba meu sangue mesmo que seja só para diminuir a dor no seu corpo.

_Eu ficarei bem Sellene. Josh deu um pequeno sorriso e segurou a mão de Sellene enquanto fechava os olhos e caia em um sono profundo. O som da respiração dele era fraco, imperceptível aos ouvidos humanos e esse pequeno som foi o suficiente para diminuir a preocupação que ela sentia. Sellene pegou Josh no colo e o colocou na cama afastando-se em direção da janela.

_Irei caçar prometo não ficar longe por muito tempo. Sellene rasgou um pedaço da manga de sua blusa e amarrou em volta do pulso escondendo as duas pequenas marcas que se destacavam na pele pálida de Josh. Sellene virou-se e desapareceu na janela deixando Josh, sozinho no enorme quarto escuro.

Uma luz cinzenta penetrava por dentre as cortinas amenizando a total escuridão que estava o quarto de Josh, Josh se sentia cansado e ao mesmo tempo revitalizado, tinha vontade de passar o dia deitado em sua cama NE antes nunca pareceu ser tão confortável como agora.

Estendendo a mão até o criado mudo para poder pegar seu celular, Josh se deu conta de que estava seu pulso estava em volto em um pedaço da blusa de Sellene, automaticamente Josh tentou se lembrar dos acontecimentos da noite anterior e por mais que tentasse não conseguia lembrar-se de muita coisa. Só lembrava-se do momento que Sellene desceu do parapeito encostando a boca em seu pulso, depois disso tudo ficou escuro.

Uma dor não muito forte ainda tomava conta do braço esquerdo de Josh. Tentando se levantar, mas sendo tomado por um cansaço enorme, Josh não sabia ao certo o que estava acontecendo.

Com muito esforço se levantou e tentou ir até a janela, seu corpo todo doía, mas uma sensação estranha havia se apoderado dele. Josh demorou a perceber que a já era tarde e o sol estava alto no céu, dirigindo-se à espessa cortina, Josh a puxou de uma só vez e tampando os olhos com as mãos ele caiu batendo a cabeça na mesa onde ficavam pilhas de livros.

_Droga. Josh não conseguia ficar com os olhos abertos, a luz incomodava muito fazendo seus olhos doerem e ficarem vermelhos.

Josh podia sentir um leve cheiro de ferro começando a surgir no quarto, levantando-se com dificuldade Josh foi caminhando até o banheiro, tropeçando no caminho com a escrivaninha. Ao chegar ao banheiro Josh ficou atônito. Sua aparência era terrível. Sua pele estava pálida como gelo, e fortes manchas escuras e fundas circundavam seus olhos. Seus olhos estavam avermelhados devido a luz do sol. Josh não se reconhecia mesmo estando estranho ele se sentia bem com exceção do ardor nos olhos. Até a dor no braço havia desaparecido. Lentamente Josh olhou para o braço onde Sellene havia se alimentado e percebeu que não doía, desamarrando o pedaço da manga da camisa Josh se surpreendeu ao ver que as duas marcas das presas de Sellene, havia desaparecido, no lugar só haviam duas marquinhas rosadas como se as marcas fundas tivesses sido provocadas há semanas e não há horas.

_O que há de errado comigo?

Sua vista por um milésimo de segundo escureceu e Josh foi obrigado a se segurar na pia do banheiro, olhando para o espelho ele pôde ver na direção da porta um vulto, um pequeno vulto que se assemelhava a uma garotinha. Ela o encarava e sua faca estava manchada com sangue, a garotinha chorava sangue e encarava Josh com olhar de advertência.

_Por quê? Por que você fez isso Josh?

_Que..quem é você? Josh se assustou e a encarou através do espelho.

_Sou Lori, um espírito digamos em fase de transição da condição de jovem para antigo. _Vim aqui para saber o motivo de você ter feito isso pequeno Josh.

_Isso o quê? _Não fiz nada. Josh se virou na direção da garotinha e a olhava atônito.

_Você deixou que ela provasse a essência de sua vida, isso não pode acontecer Josh. Seu sangue não é como o dos humanos normais, logo outros da espécie dela podem descobrir e vir atrás de você.

_Eu fiz isso porque foi preciso.

_Você fez o que ela queria Josh, você está sendo manipulado. A garota encarava Josh com um olhar meio furioso e ao mesmo tempo triste.

_Essa sua atitude perturbou o mundo dos espíritos Josh, são poucos os humanos vivos que são capazes de manter contato com nosso mundo, e é nossa missão preservá-los. Você precisa se afastar deles Josh, antes que seja tarde.

_Não posso, eu a mo, amo Sellene como a minha vida.

_Pobre garoto, não tem noção de seu infeliz destino ao lado deles. Não poderemos te proteger. Josh todos que vivem com eles se machucam.

_Eu sei das conseqüências e estou disposto a enfrentá-las. Josh olhou diretamente nos olhos da garotinha e só pode ver dor nos olhos dela.

_Espero que você não se arrependa dessa escolha Josh.

_Eu nunca pedi por isso, desde criança o que eu sempre quis foi ser um pouco livre, ser uma criança normal e até isso me foi negado. Seus olhos marejavam e Josh não se importava se estaria parecendo patético diante do pequeno espírito.

_Se você continuar com essa loucura Josh, os espíritos vão se enfurecer e te punir, eu temo por você pequeno Josh, por favor, desista dessa loucura.

_Desculpe, mas não posso. Não irei desistir de Sellene, mesmo que isso signifique ser punido por vocês.

_Eu tentei lhe avisar Josh, por favor, tome cuidado. A garotinha olhou para o espelho despedaçando-o provocando um barulho de vidro sendo esmagado e que ecoou por todo o banheiro. Josh colocou as mãos nos ouvidos enquanto um grito torturante saia da boca da garotinha fazendo com que a lâmpada explodisse deixando o banheiro no escuro. Assustado Josh levantou a cabeça na direção de onde a garotinha estava e só pôde ver a porta com um uma palavra que havia sigo escrita com algo semelhante a sangue “destruição”.