Depois de um dia terrível no trabalho, Carly volta à sua casa, e não quer saber de nada mais a não ser tirar suas roupas e entrar debaixo do chuveiro. Tal como quando era adolescente, essa ainda era a forma que ela tinha de tentar aliviar seu sofrimento. Ademais, a água a ajudava a se livrar das lágrimas.

Quando ela já está há mais de uma hora se banhando, ouve a porta se abrindo.

“Dá licença, Carls?”, pergunta sua amiga Desiree.

“Entra...”

A garota branca de cabelos pretos se senta na privada.

“Eu falaria ‘te avisei’, mas acho que ia te deixar ainda mais pê, né?”

“Hunf.”

“Olha, eu sei que você ficou brava comigo, mas eu só falei com o Alex porque queria o seu bem, Carly... eu já tive experiências muito ruins com homens, e sabia que o Freddie ia fazer alguma coisa parecida com você...”

“A mulher dele está grávida.”

“Oh... isso... muda um pouco o que eu penso.”

Carly desliga o chuveiro e puxa a toalha, com a qual se seca rapidamente e depois se enrola na altura do peito.

“Eu o amo, mas não condeno a escolha feita por ele... Freddie nunca conheceu o pai, e certamente pesou isso na decisão. Por mais que estivesse presente na vida da criança, nunca seria como conviver com ela todos os dias. Eu... não o culpo.”

“Isso significa... que ele transou com a Sam...”

“Eu era a amante, Des. Como vou condenar que o cara transe com a esposa? No fundo, eu tinha esperanças que a relação deles estivesse tão ruim que nada acontecesse, mas, eu não tinha direito de proibi-lo de fazer sexo com a esposa.”

“Essa situação... desagradável.”

“Mas eu vou sobreviver. Talvez seja hora de focar no profissional.”

...

No outro dia, em frente à entrada da fábrica, Carly Shay fecha seus olhos e inspira profundamente. Precisava tirar Freddie da cabeça, e nada melhor do que o trabalho para fazer isso.

A jovem mulher abre seus olhos e faz uma expressão austera.

Com passos firmes e decididos, ela adentra o prédio, indo direto ao escritório de seu superior, Nick.

“Bom dia, Nick.”

“Bom dia, Carly.”

“Nick, estou com uma ideia muito boa para o financeiro, gostaria de apresenta-la ao respectivo Diretor.”

“Pensei que você gostasse do seu setor, Carly.”

“Gosto, mas almejo subir, Nick... e acho que chegou a hora de pensar mais sério no meu futuro nesta empresa.”

“Gosto do seu jeito de pensar, Carly... vou agendar com o Francis, OK?”

“A hora que ele quiser, Nick...”

Dito isto, Carly ruma ao seu escritório. Minutos depois, seu ramal toca.

“Carly? Você já tem o material pra apresentação? O Francis tem uma hora livre agora.”

“Tenho.”

“Então vamos lá, fiquei curioso.”

Carly pega um pendrive no qual tinha colocado ideias para o Financeiro, que foram surgindo ao longo do seu período na empresa. Na verdade, ainda não havia lhe surgido a coragem para que as apresentasse ao Diretor Financeiro da FoxTech, Francis Travis Jr. Mas agora o cenário havia mudado, ela queria focar toda a sua atenção na vida profissional. Ademais, caso tudo desse certo, mudaria de setor, ficando longe de Freddie.

Nick e Carly vão até o escritório de Francis, muito melhor do que o da Carly.

“Bom dia! Então nossa garota prodígio tem um projeto para nos apresentar, não?” – saúda o homem de cabelos meio grisalhos.

“Sim, senhor. São ideias que basicamente vim juntando nos últimos meses. Modéstia à parte, acho que ficaram muito boas.”

“Vamos ver, então, garota.”

Carly apresenta o projeto com propriedade, impressionando os dois homens mais velhos.

“Nick, amigão... esse projeto é muito bom!”

“De fato...”

“Carly. Estou impressionado com o seu projeto, se você quiser, pode mudar de setor agora e se tornar responsável pelo projeto, que eu vou analisar mais a fundo. Depois que eu conversar com o Presidente, podemos começar a implantação, tenho a impressão que suas ideias vão render muito dinheiro para a nossa empresa.”

“Obrigado, Sr. Travis. Eu aceito.”

“Perfeito, já pode ir mudando suas coisas para o Financeiro.”

Todos se cumprimentam e se despedem.

Algumas horas depois, Carly está arrumando suas coisas no escritório, depositando-as em uma caixa de papelão; Freddie passa pela frente e vê a cena, entrando rapidamente pela porta.

“Carls, você... você vai sair? É por causa da nossa conversa?”

Carly olha para o rapaz, seus olhos já ficando brilhantes. Mas ela se mantém sem chorar, e dá um sorriso para ele.

“Não, Freddie... só vou mudar de setor. Apresentei um projeto pro Francis, e aparentemente ele gostou. Vou tocar a implantação lá no Financeiro.”

“Que bom, Carly. Quanto ao que eu disse ontem... eu...”

Ela coloca a mão sobre os lábios dele, fazendo-o parar de falar.

“Freddie. Eu entendo perfeitamente a sua escolha, entendo mesmo... imagino como você sofreu sem ao menos conhecer seu pai. E eu tenho certeza de que você vai ser um pai excelente. O que tivemos... foi rápido, mas foi bom, né? Não foi só sexo...”

Ele acena positivamente com a cabeça. Seus olhos também estão brilhantes.

“Mas uma criança sem dúvida é mais importante. Acho até melhor a gente trabalhar em diretorias diferentes, essa criança merece ter um pai e uma mãe vivendo juntos, né?”

Freddie fecha seus olhos, com uma lágrima escapando.

Carly coloca sua mão direita suavemente sobre a bochecha dele.

“Eu te amo, Freddie. Te amo tanto, que vou sair do caminho pra você ser feliz com a Sam e o filho de vocês. Tenho certeza de que é a melhor escolha.”

Após dizer isso, ela gentilmente lhe dá um selinho e o abraça.

“Eu vou ficar bem, Fredward Benson.”

“Também te amo, Carls...”

“Eu sei.”

Por fim, ele deixa a sala.

Carly reflete por alguns minutos e começa a arrumar as suas coisas. Ela só queria sair dali o mais rápido possível, para tentar começar a esquecer a paixão da sua vida.