Conheci meus companheiros de casa no jantar. Além de Lindsay, moravam mais quatro pessoas. Lily, uma garota muito alta, loira de olhos azuis. Robert, um pouco desastrado, usava um óculos maior que a cara. Raíssa, também loira de olhos claros, muito sorridente. E Nate, cabelos negros, alto e um corpo bem atlético. Não tirou os olhos de mim durante o jantar.

As nove, Lindsay e eu subimos para nos arrumar. Como sempre usei um vestido preto e curto e botas de cano longo. A maquiagem também não mudou. Sombra preta ao redor dos olhos e batom bem vermelho. Eu parecia uma vampira, mas me sentia bem.

- Está pronta Tay? - perguntou Lindsay sentada no sofá.

- Sim.

- A Raíssa e a Lily também irão. - Lindsay apontou para as garotas sentadas ao seu lado no sofá.

- Ótimo. Quanto mais melhor. Vamos?

- Juízo meninas. - disse Heyley enquanto saíamos. - E não voltem muito tarde, amanhã tem escola.

- Tudo bem Heyley. - disse Lily.

- É muito longe? Vamos caminhando? - perguntei.

- Ficou louca? - Lindsay riu. - Eu tenho carro.

- Pensei que fosse mais nova.

Lindsay foi até a garagem e tirou sua BMW. Entramos e ela deu a partida. Durante o caminho as meninas conversaram sobre garotos e moda. Aquilo estava me entediando. Lindsay estacionou enfrente a uma discoteca: Efeito Sonoro.

Os olhares indiscretos dos garotos na porta não passaram despercebidos. Percebi que Lily gostou de ter a atenção deles. Eu pensava diferente. Ser olhada de cima embaixo por garotos patéticos, pra mais tarde se masturbarem enquanto pensam em milhares de coisas que fariam comigo, não me agradava nem um pouco.

- Hey, garotas. Hoje é o dia de sorte de vocês. - disse um dos seguranças. - A garota que me der um beijo tem entrada gratuita.

Lily sorriu. Peguei um bolo de notas na carteira e o entreguei ao segurança.

- Hoje não é seu dia de sorte.

Ele liberou a minha entrada e das garotas, mas me lançou olhar frio.

- Me procure mais tarde. - disse Lily ao passar pelo segurança.

A discoteca estava lotada de jovens. Todos deveriam estar na mesma escola que Heyley me colocara. Lily e Raíssa se ofereceram para buscar bebidas.

- Conhecendo Lily, essas bebidas chegam aqui amanhã. Ela vai dar em cima de todos os garotos que encontrar antes da mesa de bebidas. - disse Lindsay.

- Já percebi.

- Olha garotos, é a valentona que me deu um tapa. - disse Dean se aproximando com os amigos. - Aquele vermelho demorou pra sair.

- Quer que volte de novo? É só pedir.

- Não quero brigas. Hoje é meu show. E pra você ver como eu sou bom, vou dedicar uma música pra você. Mas não se apaixone. Dean Crawford não é de uma garota só.

- Own... que pena. - eu disse. - Mas o caso é que... eu gosto de garotas. - abracei Lindsay. - Não é meu amor?

Lindsay me olhou frio. Eu pisquei pra ela entrar no jogo.

- Algum problema? Preconceito?

- Não. Acho sex duas mulheres na cama. Marque um dia. Adoraria uma festinha a três. - Dean sorriu e depois continuou a andar com os amigos.

Tudo bem, não posso negar. Aquele sorriso era mágico. O sorriso dele foi embora, mas ficou o olhar furioso de Lindsay.

- Ótimo. Ganhei fama de lésbica. Obrigada. Agora sim que não encontrarei nenhum garoto. Vou me transformar em uma senhora de trinta e tantos anos, dona de uma república, e de vinte e cinco gatos.

- Você é estranha...

Ela iria me responder, mas foi interrompida por Dean, agora no palco com sua banda.

- Esta primeira música é para uma garota novata. Ainda não sei o nome, se ela me disse eu esqueci, mas isso não importa. - disse ele. - Ela sabe que é pra ela... E tem um corpão...

Não acredito ainda que ele disse isso. Minha fúria desapareceu quando ouvi a música que ele começou a tocar. Era simplesmente uma das melhores músicas que eu já havia ouvido. The Kill - 30 Seconds To Mars.

Não resisti. Tive que cantar o trecho mais bonito daquela música.

E se eu quisesse terminar?

Rir de tudo na sua cara

O que você faria?

E se eu caísse no chão?

Não pudesse mais aguentar

O que você faria?

Eu poderia continuar cantando, mas Lily chegou com as bebidas. Mesmo assim não consegui desviar o olhar de Dean cantando aquela música perfeita. Mas como minha vida nunca foi um conto de fadas, aconteceu. Uma garota ruiva, usando roupas muito justas subiu no palco e se atirou no pescoço de Dean. Por que eu estava me sentindo estranha ao ver aquilo?

- Depois eu é que sou a vadia. - disse Lily, mas eu estava muito furiosa para responder.

- Pare! - disse Dean empurrando a garota. - Deixe um pouco para as outras.

As garotas gritaram ao ouvirem ele dizer isso.

- Bom... como vocês sabem, toda semana faço a disputa entre duas cantoras. Hoje quem começa o desafio é a banda da Daphine. Firework!

Dean saiu do palco, no lugar dele entrou uma garota japonesa. Parecia que jogaram purpurina em suas roupas. As garotas da banda dela se posicionaram e começaram a cantar uma música delas. Não preciso dizer que os garotos solteiros correram para frente do palco. Alguns segurando celulares, tentando trar fotos das calcinhas das garotas.

- Patético. - eu disse.

Ao fim da música, Dean voltou ao palco e Daphine saiu.

- Fantástico! - disse ele. - Vocês tem futuro no rock. Bom... alguém aí que acha que canta bem aceita desafiar as garotas? Até hoje ninguém conseguiu.

Pode parecer estranho, mas eu topei.

- Eu aceito!

Todos me olharam estranho.

- Lily, Raíssa, venham comigo.

- Não sabemos tocar nada. Muito menos cantar. - disse Raíssa.

- Sabe dançar? Bom, se não souberem também... basta subir lá e rebolar.

Fomos até o palco. Peguei o microfone das mãos de Dean. Me virei para os instrumentistas da banda dele e combinei a música que eu cantaria. Depois me posicionei.

- Essa se chama Goin' Down!

Enquanto eu cantava, percebi os olhares de Dean. Lily e Raíssa dançaram bem, atraíndo olhares de muitos garotos.

- Quem é essa garota? - perguntou Daphine a Dean.

Gostei de ver aqueles jovens curtindo o som que eu estava fazendo. Mas gostei mais de sentir o sabor da vitória contra as patricinhas.

- Meu nome é Taylor, guardem bem ele. - eu disse no fim da música.

Quando desci do palco passei por Daphine.

- Tem uma nova raínha no pedaço.

Não consegui ver o rosto dela enquanto eu caminhava, mas eu podia imaginar, e isso me arrancou sorrisos.