Do Próprio Inferno escrita por erikacriss


Capítulo 9
9. Momentos de nostalgia




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Denys subornou alguns peritos que encontraram certos vestígios que poderiam levar até a mim. Como um fio de cabelo preso no crânio de Berta, que provavelmente ficou ali quando eu bati com a pedra nela, afinal, meus cabelos estavam soltos. Outro vestígio preocupante foi algumas gotículas de sangue que ficaram na trepadeira, eu e Thiago não tínhamos verificado ali, esse descuido quase me acusa como suspeita, mas é uma sorte existir pessoas de caráter tão baixo como o dos peritos e mais sorte ainda foi eu ter tido um marido rico, pois o preço do silêncio não foi barato, afinal, tratava-se de um assassinato.

Mais algumas semanas e o delegado arquivou o caso, alegando não ter pistas suficientes para continuar com a investigação. O pai de Denys teve que se acostumar com o fato de que Berta morreu e ninguém seria preso. ― Sorte a minha.

― Vamos comemorar! ― eu disse enquanto enchia uma taça de champanhe para mim e outra para Thiago.

― Quer comemorar por ter matado uma pessoa e ter saído ilesa? ― perguntou Thiago com uma das sobrancelhas arqueada.

― É isso aí. ― eu sorri ― A morte de Berta foi... ― pausei pensando em minhas palavras ― uma fatalidade. Pura falta de sorte. ― falei enquanto remexia o líquido borbulhante dentro da taça de cristal. ― Mas o fato de não irmos preso compensa isso. ― lhe sorri.

Thiago deu um suspiro e sorriu. Já havia superado a morte de Berta e o fato de ter ajudado, agora eu podia ser um pouco mais insensível, pois ele estava menos sensível.

― Bem, então um brinde ao nosso golpe de sorte. ― ele disse erguendo sua taça, bati a minha na dele fazendo um tilintar de cristais.

Eu bebi apenas um gole, pois não podia tomar nada alcoólico já que estava grávida. Mas Thiago tomou todo o conteúdo em uma só virada, o que me deixou com inveja.

Thiago de repente levantou-se da cama levando consigo o fino lençol que cobria suas partes íntimas.

― Aonde vai? ― perguntei, enquanto apanhada uma ponta do lençol e o impedia de prosseguir.

― Volto em um instante. Quero tomar um banho. ― informou ― Ao sair daqui terei que ir a uma reunião com alguns acionistas.

― Logo hoje, no dia da nossa comemoração? E bem no dia em que Denys está viajando e só voltará pela manhã? ― resmunguei pidona.

― Desculpe, amor. ― ele se inclinou de volta para a cama e tomou meus lábios com carinho ― Mas o dever me chama. 

Projetei meu lábio inferior para baixo, fazendo dengo.

― Não faça essa carinha que eu me derreto. ― ele suplicou subindo sobre mim e me dando um beijo mais quente, porém logo voltou a ir em direção ao banheiro. ― Prometo voltar depois da reunião para dormir contigo. ― Dessa vez ele não se preocupou em cobrir seu corpo, o que me deixou muito feliz e, consequentemente, excitada.

Aquelas costas largas e definidas, aquela cintura moldada com dói furinhos e aquele bumbum redondo e bom de apertar... e morder.

― Então me deixe tomar banho contigo. ― falei me levantando e indo em sua direção, abraçando-o pelas costas.

― Sabes que esse banho não vai ser tomado se fores comigo. ― ele riu ― Ninfomaníaca.

Ele passou a me chamar assim depois de uns tempos, alegando que meus desejos eram insaciáveis. Mas eu não tenho culpa se ele era tão gostoso.

― Por favor! ― implorei, logo depois dando uma mordiscada em seu ombro másculo.

― Tudo bem. ― disse derrotado ― Mas é para tomar banho, ouviu bem? ― ele disse enquanto me puxava para a sua frente e me dava um beijo, depois me guiou até o banheiro consigo.

― Ouvi sim. ― disse de dedos cruzados.

E assim foi se passando semanas e meses, logo eu já era um balão e aquela coisinha dentro de mim não parava de me chutar. Estávamos em nosso quarto, deitados na cama. Denys se apoiava em um cotovelo e admirava minha barriga saliente, com a mão pousada sobre ela, fazia carinhos.

― Será que é um menino? ― perguntou meu marido esperançoso.

― Não sei. ― lhe sorri. Estava adorando ver aquele sorriso bobo em seu rosto.

― Se for menino, quero que se chame Arnon. ― disse-me, alargando mais o sorriso.

― E se for menina? ― perguntei, vendo como suas reações eram adoráveis.

Ele começou a fazer caminhos com o dedo sobre a pele nua de meu ventre.

― Então teria que ter nome de princesa. ― ele disse, tirando os olhos da barriga e olhando em meus olhos. ― O que acha de Luna?

― Luna? ― perguntei sorrindo ― Não sabia que Luna era nome de princesa, para mim está mais para o nome de um astro do céu. ― ri e ele me acompanhou.

― É, mas eu acho bonito. E além do mais, qualquer nome se tornaria de princesa na nossa filha, ainda mais se puxar à mãe.

Sorri-lhe ainda mais. Ele me deixava assim, simplesmente balançada e eu não parava de suspirar. Era tão meigo o jeito com que ele me tratava e o jeito que de vez em quando conversava com a barriga, como se o bebê realmente pudesse lhe ouvir.

― Achei bonito. Luna... ― sorri.

Estava começando a simpatizar com a criaturinha que se ninava em meu ventre. Isso pelo fato de que essa deixava tanto Denys quanto Thiago, bobos e manhosos. Há! Como eu adorava isso.

― Mas ainda espero que seja um menino. ― disse ― Arnon.

Nessa hora o bebê chutou e eu levei um susto. Era sempre espantoso saber que havia algo dentro de mim, mas eu gostava cada vez mais dessa coisinha. É algo natural da mulher, afinal, não tem como não amar um filho, por mais indesejável que ele seja no começo.

― O que foi? Chutou outra vez? ― perguntou ele alegre.

Assenti com um sorriso maravilhado.

Ele espalmou as mãos em meu ventre e encostou o ouvido ali também.

― Você gosta? ― perguntou ele para o bebê ― Arnon? ― e novamente senti o chute vindo do meu pequeno.

― Acho que será Arnon então. ― eu lhe sorri.

Ficamos assim até dormirmos, especulando nomes, cores do quarto, futuro. Confesso que particularmente eu não gostava muito desse tipo de conversa antes de engravidar, mas depois daqueles meses isso mudou.

Logo no outro dia Thiago foi me visitar enquanto Denys estava no trabalho. Ele veio radiante e com um buquê de rosas em mãos.

Deve estar pensando: Esse Thiago não fazia nada da vida não? ― Sim, ele fazia. Trabalhava para o pai, era o superior de Denys, inclusive, mas ele tinha liberdade de sair quando quisesse desde que estivesse com todo o trabalho em dia. E como meu Thiago era perfeito em tudo que fazia, ele sempre tinha tudo em dia.

Falei-lhe que o bebê andava chutando muito ultimamente e logo ele se iluminou.

― Será que é um menino? ― perguntou colocando a mão em meu ventre, seus olhos brilhavam, esperançosos, e ele tinha um sorriso bobo na face. Isso me fez rir.

― Você e seu irmão são mesmo iguais em tudo. ― me admirei ― Ele me fez a mesma pergunta ontem.

Thiago deixou seu sorriso morrer um pouco. Ele não gostava que eu comentasse algo feliz que tivesse feito com Denys, e muito menos que lhe comparasse a ele. Resolvi então mudar de assunto.

― Qual nome irá querer, se for um menino? ― lhe perguntei, cheia de curiosidade.

Ele voltou a sorrir radiante e acariciou minha barriga.

― Adam. ― disse pensativo ― Sempre gostei desse nome. Mas não sei, talvez também pudesse ser Luke. Ou True.

― Todos são nomes lindos. ― sorri. ― Mas tem que escolher só um.

― Então Liam. ― disse. E eu acabei rindo.

― Pensei que iria escolher um dos que tinha citado. ― sorri divertida.

― É, mas percebi que Liam era muito mais bonito. ― disse me acompanhando no riso.

― Você é muito imprevisível. Além de lindo e gracioso. ― Lhe sorri.

Thiago se aproximou e me deu um de seus beijos ternos, que sempre me desconsertavam.

― Mas e se for menina? ― perguntei, querendo ouvir suas opções.

― Lucy. Adoro Lucy. ― respondeu radiante ― Mas também poderia ser Rebecca. Ou Amanda. Ou até mesmo Lilith.

Eu ri novamente.

― Agora é a hora de escolher só um. ― eu disse divertida ― Vai dizer um que não havia citado? ― brinquei.

― Não, não. Dessa vez eu sei. ― disse-me ― É Lucy. Um nome delicado e lindo.

― Gosto de Lucy. ― disse-lhe. Então voltei a beijá-lo apaixonadamente.

Thiago e Denys estavam me tornando cada vez mais em uma boba apaixonada! E essa criança estava me amolecendo também. Quase nem dava pra acreditar que há alguns meses eu tinha matado a sangue frio uma pessoa.

Então eu já tinha as opções de nomes para a criança. Comecei a fazer várias possibilidades. Até que achei legal, se fosse menino, Liam Arnon. E se fosse menina, Lucy Luna.

― Viu que nomes lindos? ― perguntei para a minha barriga enquanto estava sentada no sofá da sala, certo dia, tomando um chá que a criada Fátima, que começara há uns meses, me trouxera.

O bebê chutou como se concordasse. Perguntei-me se ele entendia e resolvi fazer um teste.

― Quem é o seu papai? ― sussurrei ― Thiago? ― perguntei esperando alguma resposta.

O bebê chutou.

― Denys? ― lhe perguntei, para ter certeza.

Outro chute.

Ótimo, nem o bebê sabia se a genética vinha de Denys ou de Thiago. Mas não o culpo, realmente era difícil dado que os dois eram tão parecidos. Aliás, pedi mais por curiosidade, pois pouco me importava de quem era o filho, queria que os dois fossem os pais, apesar de impossível.

Logo percebi que eu estava falando com a minha barriga... E voltei a tomar chá fingindo que eu não dei um surto de mãe de primeira viajem.

E assim se passaram mais alguns meses, sem muita coisa interessante.

Claro que eu poderia ficar falando aqui por horas e horas sobre os carinhos de meu marido e meu amante, sobre como eles eram fofos e preciosos e como eu os amava. Mas acho que aí iria ser meloso demais. Eu parecia uma adolescente apaixonada. ― Espera, mas eu era mesmo!

Bom, mas fora esse fato e toda a coisa melosa, finalmente minha bolsa estourou. Que maravilha! O bebê iria nascer e estava doendo! ― Hm, é, acho que essa parte não foi tão maravilhosa assim.

― Respire fundo, meu amor. ― Denys tentava me acalmar enquanto eu esperava o médico ir fazer o parto.

― Ahhhh! ― outra contração. Quase quebrei a mão de Denys e juro que os olhos do meu marido estavam marejados pela dor. Sorte a dele que a minha força na época era diferente da de hoje. ― Porque tem que doer tanto! ― exclamei irritada.

― Vai passar, vai passar. ― Denys afirmava com um semblante de dor. Não sei se ele falava para mim ou para si próprio.

O médico apareceu na porta do hospital e disse que já era a hora de fazer o parto.

― Tira logo ele de mim! ― gritei com dor.

Fomos para a sala de parto, mas eu não estava prestando atenção a isso. Eu só queria que fosse rápido. Acredite, ter um bebê saído de sua intimidade não é uma das sensações mais agradáveis do mundo. Dizem até que a dor de parto é a pior dor que existe. Nisso eu já posso contestar, acho que ela deve ser a segunda, pois eu já passei por algo que supera e muito essa dor.

― Força Renata. ― dizia o médico e eu obedeci.

Mas minha vontade era de estrangular aquele cara. Afinal, será que ele não via que eu estava morrendo de dor? Médicos insensíveis.

Um chorinho invadiu o quarto e eu deu um suspiro de alívio. Denys sorriu para mim e beijou delicadamente a mão que antes estrangulava a sua.

― É um menino! ― o médico anunciou.

Denys se iluminou ao meu lado e quase caiu para trás. Fiquei imaginando se Thiago teria a mesma reação de meu marido ao saber.

― Meu pequeno Liam Arnon. ― eu disse.

O médico entregou a criança em meus braços e confesso que não era a coisa mais linda do mundo, afinal, todo bebê é igual quando nasce, mas aquele era o meu bebê, então eu sorri.

E logo depois eu dormi de tão cansada.


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Notas finais do capítulo

E aí? Reviews?



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