Do Próprio Inferno escrita por erikacriss


Capítulo 10
10. Meu querido câncer


Notas iniciais do capítulo

Dando um grande salto na história.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/162437/chapter/10

Desde que Liam cresceu um pouco e começou a falar haviam começado a ficar mais difíceis os meus encontros com Thiago e isso o estava deixando furioso.

Ele havia sim se casado com Anne, o que me deixou possessa também, mas acabei superando, porém Anne não podia lhe dar a alegria que eu havia dado a ele, que era ter um filho. Minha pobre irmã era estéril.

Thiago fingia-se de compreensivo, mas era a mim que ele vinha para reclamar e dizer tudo o que sentia. Eu já havia virado mais sua psicóloga do que sua amante, o que também me deixava irada, mas, mesmo assim, eu sorria e escutava enquanto assentia com a cabeça. E, logo depois de ele me contar seus problemas, nós fazíamos sexo e ele caia no sono.

Tudo bem, talvez Thiago já não estivesse mais atingindo as expectativas esperadas de um amante, mas eu ainda o amava demais.

Eu ainda amava Denys também, isso só cresceu com o tempo e eu podia até dizer que preferia meu marido ao meu amante. O que deveria ser bom, mas me preocupava, pois não queria deixar de amar Thiago.

Liam já tinha quatro anos e meio. Era um garoto lindo e muito meigo. Tinha os olhos dos pais e os mesmos cabelos também. Sua maneira de andar lembrava muito Thiago, mas seu carinho e atenção eram inegavelmente de Denys.

Minha vida era boa, pode-se dizer. Apesar de eu ter um amante que mais parecia um marido e um marido que mais parecia um amante, eu não podia reclamar do que eu tinha.

Saia para passear todo dia com Liam, fazia amor com Denys sempre que tinha uma oportunidade, encontrava-me com Thiago sempre que Liam estava dormindo aos cuidados de Fátima, fazia sexo com Thiago sempre que o mesmo parava de reclamar e toda noite dormia abraçada ao meu marido.

Acho que a mudança de comportamento de Thiago tem relação com o fato de ter casado com minha irmã. Anne nunca foi um poço de simpatia. Aposto que devia o estar enlouquecendo.

― Ela quer que eu compre um vestido que irá usar apenas uma vez! ― dizia ele enquanto dividíamos uma cama de motel ― Para quê ir tão bem vestida em um casamento, se nem é uma amiga tão próxima assim da noiva. Nem somos os padrinhos!

― Anne é uma mulher, mulheres são complicadas. Acostume-se com isso. ― eu disse fazendo carinho em seu peito nu.

― Você não é complicada. ― ele falou ― Anne podia ter puxado a você. ― suspirou ― Nunca mais falamos no meu plano.

― Que plano? ― perguntei meio que no automático, como eu sempre ficava quando Thiago resolvia começar a reclamar.

― Meu plano de fugirmos juntos. ― ele disse me abraçando e beijando meu pescoço.

― Bem, concordamos que não era uma boa idéia. ― eu disse ― E ainda mais agora. Você está casado com Anne e eu tenho o Liam.

― O Liam é nosso filho. ― ele disse.

― Não sabemos, lembra? Ele pode sim ser filho do seu irmão. ― eu evidenciei.

― Eu não agüento mais isso. Casar-me com Anne foi a pior coisa que eu já fiz. Devíamos ter fugido quando tínhamos a chance. ― lamentou.

― Agora é tarde. ― dei de ombros e calei sua boca com um beijo.

Passei mais um tempo com ele e finalmente ele me deu o que eu queria. E por aqueles poucos momentos eu senti como se o Thiago que eu amava doentiamente tivesse voltado, mas era só uma ilusão, pois parte dos meus mil sóis haviam se apagado de seus olhos.

Thiago não era mais quem eu conheci no meu casamento. Era apenas uma casca de quem havia sido. Anne havia acabado com seu encanto e eu sentia que ele só era ele mesmo quando estava comigo, o que me preocupava, pois ele fingia muito bem perto da esposa. Aquilo certamente o estava matando.

Depois de um tempo ainda estava na cama com Thiago, apenas os lençóis finos cobriam nossos corpos nus. Em breve eu teria que sair dali e ir para minha vida de contos de fada, onde Denys estaria me esperando e Liam também.

Liam havia se tornado um garotinho muito especial. Lembro-me de certa vez que ele me deu uma rosa amarela e disse que só a melhor mãe recebia flores e depois deu-me um beijo estalado na bochecha. E logo depois Denys apareceu para deixar tudo mais perfeito, levantou Liam em seus braços e disse que só os melhores filhos voavam, Liam abriu os bracinhos e o pai começou a girá-lo em seus braços, simulando um voo.

E naquele momento, enquanto eu via Thiago virado de costas para mim, eu me senti horrível, a pior das pessoas, pois tinha um marido maravilhoso me esperando em casa, mas eu continuava ali, continuava cultivando aquela relação insana.

Senti uma vontade incrível de acabar tudo por ali. Percebi que Thiago havia se tornado um câncer em minha vida. Eu o amava, mas era infeliz sempre que o encontrava. Mas não podia fazer isso com ele, pois provavelmente eu era a única coisa boa que havia sobrado em sua vida. Eu e Liam, claro. E ainda assim, sei que era doloroso para Thiago ouvir seu possível filho lhe chamar de tio e não de pai, com chamava Denys.

Porém eu nada podia fazer para mudar a situação de meu amante, a não ser que matasse Anne, mas não queria correr o risco de ser presa. Provavelmente Denys não seria tão tolerante dessa vez.

Levantei-me e vesti minhas roupas. Ainda usava espartilho, havia me acostumado àquela peça desconfortável, já não era mais tão demorada para me vestir. Meus movimentos chamaram sua atenção e ele virou-se para me fitar.

― Já vai? ― ele me pediu suplicante.

Olhei para seus olhos tristes e meu coração se estraçalhou. Eu ficava fragilizada sob aquele olhar infeliz, que me implorava para ficar, que pedia para não abandoná-lo, que eu o abraçasse e ficasse em seus braços pelo resto da vida. Mas eu não podia, simplesmente não podia.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu desviei-me daqueles orbes que me fitavam.

― Desculpe, tenho que ir. Você sabe disso. Liam irá acordar em pouco tempo, isso se já não acordou. ― eu falei tentando controlar ao máximo minha voz tremula.

― Ei, está chorando? ― ele perguntou me abraçando por trás e distribuindo beijos em meus ombros ― Não se preocupe, nos vemos amanhã.

Eu assenti. Não querendo admitir que na verdade não queria mais vê-lo, não queria mais aquele Thiago tão mudado. Só queria os meus mil sóis de volta.

― Sim, eu acho que sim. ― falei com a voz embargada.

― Porque esse: eu acho que sim? ― perguntou ele com certo desespero em seu tom.

Virei-me para fitá-lo. Seus olhos também já estavam lacrimejando, o que me feriu.

― Thiago, eu te amo. ― falei fechando os olhos ― Eu te amo tanto... ― o abracei ― Mas não sei se posso continuar com isso.

― Eu não estou entendendo, Renata... ― ele me apertou forte contra seu peito ― Não diga isso, não diga, por favor, não diga.

― Thiago, me desculpe... ― apertei suas costas ― Mas eu estou sofrendo... Acho melhor pararmos de nos encontrar.

― Não! ― ele disse me apertando mais, como se isso fosse me impedir de ir, como se quisesse sanar a dor de seu peito. ― Não me abandone... Por favor, Renata, eu te amo! Como nunca amei ninguém, como jamais serei capaz de amar Anne...

― Não posso continuar, Thiago. Simplesmente não posso! ― me afastei um pouco para olhar em seus olhos ― Você está infeliz, eu estou infeliz. Não podemos continuar com isso. Já fomos longe demais. ― meu rosto e o dele eram banhados em lágrimas.

― Serei ainda mais infeliz se me abandonar. ― ele ladeou meu rosto com suas mãos quentes ― Sem você eu não tenho nada! Nada... ― encostamos nossas testas. Eu fechei meus olhos e senti ele chorar por um tempo antes de suplicar novamente ― Não me deixe. Se me deixar, sou capaz de cometer loucuras! Sou capaz de me matar, Renata. ― disse com convicção.

Arregalei meus olhos ao ouvir suas duras palavras. Aquele homem estava aos pedaços e eu era seu único pilar, que estava querendo deixá-lo também, que o deixaria desmoronar.

― Não, meu amor, não penses em algo tão insano! ― falei dando-lhe um beijo rápido ― Jamais, entendeu, jamais repitas essa sandice que acabas de proferir.

― Então não me deixe. ― ele me abraçou.

Fiz um carinho em suas costas e disse derrotada.

― Não vou te deixar, meu amor, eu não vou. Esqueça o que eu disse. Eu te amo. ― Falei em seu ouvido.

Escutei Thiago chorar por um tempo mais enquanto eu afagava suas costas nuas. Logo ele voltou a retirar minhas roupas e fizemos amor. Não apenas sexo, dessa vez realmente fizemos amor. Acho que a ideia de eu o abandonar abriu seus olhos para a realidade de que tinha que me valorizar e me dar carinho, amor.

E lá estava eu novamente, abraçando o meu querido câncer. A única pessoa que podia me fazer infeliz e, mesmo assim, que me trazia felicidade. Eu o amava doentiamente e descobri que deixá-lo não era uma opção. Não podia perdê-lo e nem a morte podia tirá-lo de mim, nem mesmo se fosse ele a clamar por isso. Eu não o deixaria jamais, se pudesse.

Meia hora depois estávamos novamente ofegantes e cobertos apenas pelo fino lençol. Já havia vivido aquilo diversas vezes, mas agora era diferente, pois Thiago estava como antigamente. Abraçava-me e não parava de dizer que me amava. Não pude deixar de sorrir para ele, mas eu sabia que aquela fase atenciosa cairia por terra em breve, pois já havia acontecido uma vez e iria acontecer de novo e de novo em um ciclo infinito.

― Eu te amo. ― disse ele pela centésima vez e eu não pude evitar sorrir para o meu Thiago.

― Eu também te amo. Amo-te demais... ― falei selando seus lábios.

Sorriamos um para o outro quando do nada ouvimos cinco batidas rápidas e fortes na porta do quarto. Nós nos entreolhamos e Thiago meneou com a cabeça em direção ao banheiro. Assenti, peguei minhas roupas, fui até o mesmo e fechei a porta atrás de mim. Pude ouvir Thiago abrindo a porta do quarto e uma voz esbravejando logo em seguida:

― Onde ela está? ― era Denys.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tan, tan, tan, tan!!!
E agora josé? Huhsha.
Mereço reviews?
Ps: Agradecimento a nova leitora saida do anonimato: Ana Paula Souza.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Do Próprio Inferno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.