1997 escrita por N_blackie


Capítulo 106
Harry




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O caminho até a floresta era, ao mesmo tempo, ao mais longo e o mais curto da vida de Harry. Quando deixou Padfoot para trás, tinha se convencido de que iria morrer, mas sabia que não podia desistir simplesmente por estar com medo. Aquilo tinha que parar. Enquanto descia as escadas, parecia imune aos ataques, aos olhares amedrontados, aos gritos de dor e aos raios que passavam por ele. Estava imune à dor de ver Colin Creevey estirado num canto, morto, e de ver o rosto de Lavender Brown desfigurado por uma das explosões.

Enquanto caminhava, só procurava por Ginny, mas ela provavelmente estava noutro canto. Não queria pensar se havia morrido, ou algo pior. Não podia desviar seus pensamentos do que estava para fazer.

Sabia que Voldemort nunca saíra da Floresta de onde vieram seus comensais, e foi para lá que se direcionou, ignorando os alertas de alguns colegas para passavam por ele. Ao longe, enquanto entrava, ouviu a voz de Violet, mas não acreditou que fosse mesmo a irmã que lhe chamava, mas a sua imaginação querendo que desistisse da loucura que estava para fazer.

As árvores começavam a ficar mais juntas, e Harry começou a desviar de suas raízes sobressalentes com passos ágeis, mas instáveis. Podia sentir que estava na direção certa, pois um sussurro parecia sair por entre os arbustos, algo pesado no ar, como se a própria terra reclamasse de ainda servir de abrigo para que Voldemort caminhasse sobre ela.

O chocalho de uma cobra lhe direcionou para a esquerda, e logo depois daquela área fechada, viu a clareira. Um espaço pequeno, onde Voldemort esperava numa cadeira de espaldar largo, seus dedos compridos e pálidos, terminados em pontas de carne, sem unhas, acariciavam a cabeça de uma cobra gigante, cuja extensão do corpo dava uma volta completa em si mesma, em seu mestre, e nos dois comensais que guardavam o lugar.

Como se sentisse sua presença, Nagini ergueu a cabeça, os olhos amarelos girando em suas órbitas na procura por sua presa. Voldemort sorriu, e Harry percebeu, com um arrepio, que ele já não tinha mais dentes. Tinha presas afiadas, dentro de uma boca que já não passava de um rasgo em sua face disforme. O crânio estava afilado e triangular, e os olhos já eram iguais aos do animal a seu lado. Um movimento rápido, e a cobra saiu, adentrando a floresta na direção dos jardins, apenas há poucos metros de onde Harry se escondia.

“Harry Potter.” A voz rouca e sutil de Voldemort chamou, e Harry arregalou os olhos. “Surpreso por eu saber onde se esconde? Ninguém se oculta de mim. Ora, se aproxime.”

Tenso, entrou na clareira, e puxou a varinha. Um dos comensais fez menção de avançar nele, mas Voldemort o impediu com a mão.

“Harry Potter,” repetiu, se levantando da cadeira e caminhando elegantemente até Harry, “estava ansioso para conhece-lo. E não pelos motivos comuns. Seu pai era apenas um fantoche, uma distração para o meu plano. Como vê, a morte me é fiel.”

“Não posso deixar você continuar.”

“Nosso encontro estava escrito, Potter. Memórias difusas infestam meus pensamentos, mas você permanece claro. Uma sombra de um triunfo maior percorre as linhas temporais. Está tudo em sua cabeça, e na minha também.”

“Você sabe.”

“Sei muito mais do que jamais perceberá, Potter. Sei de segredos, seus segredos, que o fariam se curvar a mim. Poderíamos, sim, nos juntar. Como disse, está escrito.”

“Nunca me juntaria a você!”

“Eu sei. Já tivemos esta conversa antes.” As pupilas finas de Voldemort dilataram-se. “O que lhe ofereço, generosamente, é a verdade, Potter. Não deseja saber a verdade?”

As imagens que vira na bacia dominaram os pensamentos de Harry, e o garoto suspeitou que quem as estava plantando ali era o próprio Voldemort. Apertou a varinha com mais força, e lutou contra aquelas memórias. “A verdade é o que vivo aqui. Você não tem nada a me oferecer.”

Sem perceber, Harry tinha andado para trás, e ele e Voldemort entravam mais a fundo na floresta. Os comensais que antes guardavam seu mestre agora se afastavam. Cercado pelas árvores, Harry nunca se sentira tão preso.

“Abusa de minha generosidade, Potter. Minha vontade e destino, finalmente, se alinham, e é chegada a hora de abrir espaço para que o meu triunfo impere. Sua morte, Potter, marcará o início do meu império.”

“Você vai perder.”

Um galho particularmente alto fez Harry tropeçar, e ele teve de se recompor o mais rápido possível enquanto entrava em outra clareira. A luz quase não entrava entre as copas largas e folhosas acima dos dois, exceto por um ponto atrás de si e os olhos vermelhos e amarelos de Voldemort.

“Meu exército é maior, minhas forças lhe oprimem, e o Ministério é meu. Não há nada que meus braços não abranjam, nem homem, nem mulher, nem criança, que não me deva a sua vida. A morte não é nada para mim.”

“Eu sei de suas horcruxes.” Harry não conseguiu se controlar. Voldemort pareceu irritado pela primeira vez.

“Pequenos atrasos não desmantelam um plano de minha grandeza. Pode ter encontrado os objetos que os Malfoy não foram leais o suficiente para guardar, mas há muito mais do que a sua mera existência poderia absorver.”

A luz fraca que sobrava na noite começou a entrar, e Harry sentiu o vento da madrugada envolver seus tornozelos. Voldemort saiu da floresta também, e olhou ao redor. Harry sentiu a voz dele penetrar sua mente, lhe desafiar. Ao fundo, ouviu o pai gritar seu nome.

“Vai morrer, Harry Potter, e sua morte será o símbolo de minha ascensão.” Voldemort anunciou, e Harry notou que sua voz ecoava em todos os cantos do campo de batalha. “Sobre suas cinzas nascerá o meu governo.”

“Harry!” James gritou novamente.

Pelas costas de Voldemort, Harry viu Padfoot, que o encarava com firmeza. Quando seus olhos se encontraram, ela assentiu. No outro lado, Ron, Hermione, e Lewis fizeram o mesmo. Leonard, pálido e com olheiras profundas, se apoiava em Violet, que segurava uma espada. Samantha abraçava Lily. Um vazio tomou seu corpo quando não encontrou Romulus, ou Richard. Um monte de cinzas estava espalhado pelo jardim. Violet assentiu.

“Você não contava com os meus amigos, Voldemort.” Respondeu, desafiador. “Finalmente, é mortal. AVADA KEDAVRA!”

“AVADA KEDAVRA!” O bruxo respondeu, e os raios se chocaram no meio do ar. Harry segurou a varinha com firmeza, sentindo suas energias sendo sugadas pela maldição, e Voldemort arreganhou os dentes, chamando seus comensais.

Harry fechou os olhos, esperando a maldição final que não veio. Quando abriu-os, ainda estavam naquele impasse, mas ninguém aparecera para Voldemort. Ele girava as órbitas, procurando por seus servos, e quando percebeu que não sobrava quase ninguém ali, urrou. As pernas de Harry ficaram moles, e quando achou que fosse cair, sentiu o braço do pai segurá-lo pelos ombros.

“Só mais um pouco, filho.” James assegurou-o. O cansaço dominava Harry. Voldemort parecia exaurido também, o peso de ter a alma tantas vezes dividida finalmente cobrando sua conta. Sem ajuda, soltou a varinha, e o raio verde atingiu-o em cheio no peito.

Harry não o viu cair, nem viu seu corpo. Só viu o escuro e a exaustão, e os braços do pai conforme caia no abismo do desmaio.


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