Capítulo 2 – No castelo

~ Jade ~

Quando nos viramos em direção àquela voz profunda, me deparei com um homem lindo demais.

Ele era alto e tinha um cabelo cacheado e rebelde, de um vermelho vivo, que lembrava o fogo. Seus olhos eram de um tom de verde-água, tão reluzentes e vivos.

Ele estava usando uma blusa cinza-escura de mangas compridas, um pouco sóbrea, e uma calça preta. Ele também tinha um cinto, e preso à ele estava um livro bem pequeno, e alguns frascos, com conteúdos de diversas cores.

Era bem alto e magro, mas parecia um corpo definido.

- Rynden? – perguntou Kaled surpreso. – O que está fazendo aqui?

Que... Nome lindo...

Ele sorriu, fazendo com que eu corasse de leve. Mas eu tentei me focar no motivo para eu estar naquele lugar. Apesar de não ter muita confiança, eu ainda queria ter esperanças, acreditar, que eu ainda podia ter um bom mestre, mas eu não conseguiria nada sem me focar e me esforçar ao máximo. Não posso me distrair com a beleza de um cidadão qualquer. E que cidadão.

- Não é obvio? Estou aqui pelo mesmo motivo que você. – Ele suspirou – que outro motivo eu teria para vir a este lugar?

Kaled riu.

- É, certo. É que é estranho ver gente como você na Seleção...

- Disso eu não tenho dúvidas.

- Já tem alguém em mente, eu suponho.

Rynden deu um sorriso com o canto da boca.

- Na hora eu direi, Kaled. Achei que soubesse que não revelo nada. Mas e você? – ele olhou para nós três e arregalou os olhos – Não me diga que os três...

- Não, não. Só estou acompanhando-os até a entrada do castelo.

- Entendo... – ele deu uma última olhada para nós e eu pensei ter visto seu olhar se demorar mais sobre mim. Mas era só coisa da minha cabeça, lógico. – Bem, Kaled, nos vemos em breve. Tenho umas coisinhas para fazer ainda.

- Certo. Vocês três, venham.

Matt e Annia viraram-se na hora e começaram a acompanhá-lo, mas eu hesitei por uns segundos, presa naquele olhar marcante, naqueles olhos que lembravam gelo. Rynden fitou-me com um olhar que parecia que ele podia ler minha alma, e sorriu para mim.

- Até logo, Jade – sussurrou e virou-se, tomando um rumo oposto ao meu.

Por fim, virei-me e segui meus amigos, mas não pude evitar olhar para trás novamente e me perguntar o motivo por ele saber meu nome.

Rynden sumira. Em alguns segundos, ele simplesmente desaparecera. Não estava em lugar nenhum.

**

- Uau... – murmurou Matt quando passamos pelo portão principal do castelo.

Uau mesmo. Aquele castelo era lindo, tanto externa quanto internamente.

Aquelas pedras usadas em sua construção eram bem polidas e limpas, e a estrutura daquele lugar era tão bem feita. Uma construção como aquela poderia facilmente aguentar uma forte tempestade ou até coisa pior.

Mas deixando a estrutura do castelo de lado, olhei para as pessoas que estavam lá.

Haviam vários jovens lá, todos conversando alegremente entre si, e eu me senti um pouco deslocada. Nunca gostei de lugares com muitas pessoas. Fico desconfortável. E além disso, a Seleção começaria logo. Estava nervosa. Muito, muito nervosa.

Senti a mão de Matt sobre a minha e olhei para ele.

Ele me deu um sorriso caloroso e fiquei imaginando se ele não estava nervoso também, ou se estava escondendo seu nervosismo. Nunca se dá para saber, quando se trata dele. Nunca consigo saber o que ele está pensando. Nunca.

- Ei, eu disse que vai dar tudo certo, não disse? Confie em mim.

- Falar é fácil, você tem tantas qualidades. Com certeza será escolhido por um mestre da classe alta, do jeito que você é.

Pensei ter visto sua pele ficar ligeiramente ruborizada.

- N-não é verdade – ele deu um riso nervoso. – V-você também tem muitas qualidades e...

- Bem, eu os deixo por aqui – disse Kaled sorrindo para nós.

- Obrigada por nos acompanhar – eu disse, soltando a mão de Matt. – Você realmente nos ajudou. Não sabíamos onde era a entrada.

- Disponha. Até breve.

Dizendo isso, ele virou-se e saiu do castelo. Annia não tirou os olhos dele até ele desaparecer, quando a porta se fechou.

- An? Tudo bem? – perguntei indo para sua frente e estalando os dedos em frente ao seu rosto.

- Ah, sim, sim. Tudo ótimo! – ela sorriu. – E aí? Prontos?

Virei a cabeça para o lado, olhando para o chão, tristemente. Matt fez o mesmo.

- Ah, não, quero animação! Se continuarem pessimistas, não conseguirão mesmo! E eu não quero isso, quero o melhor para vocês – ela segurou minha mão e a de Matt. – Certo? Prometem que não vão ficar desanimados?

Matt hesitou, mas por fim ergueu a cabeça.

- Vou me esforçar...

- Jay? – An chamou.

Eu continuei quieta.

- Jade Ringërill! – ela chamou meu nome completo.

- Vou... Tentar... Annia – eu disse por fim.

- Assim que eu gosto! Agora vamos!

Ela nos levou até onde os jovens estavam se organizando em um fila, na qual todos ficavam voltados para o lado direito, onde havia uma longa mesa de madeira com algumas cadeiras.

Então apareceu um cara no meio da sala, que parecia ser alguém que iria nos auxiliar.

- Bem vindos à Seleção Anual da Cidade de Agnot – ele disse com uma voz alta e grave, que ecoou por todos os cantos da sala. – Por favor, cada um de vocês, pegue um dos papeis que vamos distribuir.

Dizendo isso, apareceram cinco mulheres na sala, cada uma segurando alguns papeis. Elas passaram distribuindo para todos os jovens.

- Leiam o que está escrito com atenção. Dentro de dez minutos daremos início a Seleção.

Então ele e as mulheres foram para fora da sala.

No papel estava escrito o seguinte:

Instruções da Seleção Anual de Cidade de Agnot

Os jovens formarão uma fila única e, quando chegarem em sua vez, darão três passos a frente. Dirão nome, idade, e o mestre que gostariam de ter. Aqueles que não sabem o que querem treinar, apenas dirão suas especialidades. Abaixo estão as profissões disponíveis nesse ano:

Padeiro

Cozinheiro Real

Artesão

Lavrador

Ferreiro

Mensageiro

Escriturário

Conselheiro Real

Enfermeiro

Médico

Mineiro

Contador

Barbeiro

Arquiteto

Além das profissões citadas acima, existem as de classe mais alta, mas não podemos nunca dizer se estarão disponíveis ou não. São elas:

Espadachim

Cavaleiro

Mago

Alquimista

Domador de Dragões

Arqueiro

Boa sorte à todos

Família Real de Agnot

Quando terminei de ler, fiquei um pouco mais aliviada. Nesse ano, haviam muitas profissões disponíveis. Quem sabe eu não conseguiria uma profissão boa, como arquiteta, conselheira real ou médica.

Suspirei aliviada.

Olhei para meus amigos e vi Annia sorrindo triunfante e Matt concentrado no que lia.

- Espadachim, domador de dragões... – escutei An murmurar.

Matt suspirou.

- Não alimente falsa esperanças, An. Não sabe se algum desses mestres estará aqui hoje...

- Ah, é? Pois eu prefiro alimentar “falsas” esperanças do que não ter esperança nenhuma – ela disse brava.

Droga! Annia é muito inteligente e controlada, mas algumas vezes dá uns escorregões. Quando digo as vezes digo, muitas vezes.

Vi a expressão de Matt adquirir um semblante muito triste.

- Ei, seu bobão – chamei enquanto batia de leve em sua cabeça. – não admitirei que algumas palavras mal-colocadas te derrubem. Você é forte – sorri. – “Vai dar tudo certo”, lembra?

Ele sorriu com o canto da boca.

- É... Você está certa... Obrigado.

Então ele me dirigiu um sorriso caloroso. O sorriso mais verdadeiro que ele havia dado naquele dia, e senti um alívio por ver que seu brilho voltara.

- Esse é o Matt que eu conheço... – murmurei.

Ele pareceu ficar um pouco sem jeito depois disso e eu não entendi bem o por quê.

Então escutei um toque de corneta anunciando o início da Seleção, enquanto meu estomago começava a ficar embrulhado.