Os passarinhos e os primeiros raios de sol anunciavam a chegada do dia. Rachel acordou feliz, não sabia bem o motivo para isso, mas estava feliz. Quer dizer, o dia anterior fora um dia péssimo, tinha perdido o que mais importava em toda a sua vida. Colocou uma blusa branca e um legging preto, além do tênis e de um boné também preto e saiu para caminhar.

  Passou pelo Apollo Honey, o bairro de mansões onde morava Lizzie, Patricia e Brian.

  Parou na casa de Lizzie e tocou a campainha.

  O tempo se arrastou, até que finalmente ela ouviu o arrastar de chinelos e a porta se abriu, apenas o bastante para a pessoa que estava lá dentro vê-la.

  _Bom dia._ Disse Rachel. _ É a Rachel, posso falar com a Lizzie?

  A porta se abriu completamente.

  _Creio que a Srta. Elizabeth estava dormindo._ disse o Lewis, o mordomo de Lizzie.

  _Sem problemas. Eu vou acordá-la.

  Rachel tinha certeza de que se ele não a conhecesse desde que fora trabalhar ali, não deixaria a ruiva entrar. Além disso, ela era a única que tinha permissão para entrar sem autorização, até mesmo a família precisava, Rachel não.

  Lewis deixou Rachel entrar.

  _Gostaria que eu acompanhasse a senhorita?

  _Não, conheço o caminho. Faça o seguinte, vá dormir e esqueça que me viu.

  _Mas, senhorita…

  _Sem “mas”, isso é uma ordem._ disse Rachel, risonha.

  _Certo._ disse Lewis sorrindo e foi embora.

  O mordomo morava na casa, assim como a maioria dos funcionários.

  Rachel continuou pelo corredor até dar uma sala magnífica. O piso era de mármore branco, dois sofás, um para três pessoas, outro para quatro e duas poltronas. Uma escada majestosa espiral conduzia as pessoas para o andar de cima, onde estavam os quartos e a dona daquele pequeno palácio.

  Rachel subiu as escadas e entrou no último quarto a esquerda, lá, Lizzie dormia em sua cama de dossel.

  De vagar, Rachel tirou os sapatos e subiu na cama da amiga, e como quando eram crianças, contou até três e começou a pular.

  _Acorda, acorda!

  Lizzie cobriu a cabeça com o travesseiro e resmungou alguma coisa.

  _Vamos, acorda!!

  _Já acordei…_ resmungou Lizzie.

  Rachel pulou e caiu sentada rindo na cama da amiga e começou a fazer cócegas nela.

  Lizzie riu e se sentou na cama, quase implorando para a amiga parar.

Não demoraria muito e Edward entraria pela porta perguntando o que estava acontecendo, pensou Rachel, feliz. Então ela se lembrou e sentiu um aperto imenso no coração, o rosto se contorceu em uma careta.

  Lizzie a abraçou.

  _Sinto muito, amiga.

  Certo, Edward estava morto.

  Lizzie abriu então o berreiro, chorou litros no ombro de Rachel. A ruiva sabia o porquê.

  _Eu foi a culpada!_ gritou Lizzie._ Nós estávamos no carro do papai, aquele verde da coleção de velharias dele, e Edward pegou um caminho diferente, depois de algum tempo, falei que estávamos perdidos, ele disse que não e nós começamos a brigar, o Edward se distraiu e mudou de faixa, vinha um caminhão, íamos bater de frente, ele abriu a porta do meu lado e disse: “Me desculpe. Diga a Rachel que a amo.” E me jogou para fora do carro, eu só vi quando o carro verde foi parar embaixo do caminhão, peguei eu celular e disquei o primeiro número que consegui me lembrar, era o seu, mas deu ocupado._ ela se lembrava, tinha ligado para Edward, então devia ter sido quando Lizzie ligara para ela._ E comecei a chorar, alguém ligou para o hospital, a polícia, a imprensa, não importa, por que logo todos estavam lá.

  Lizzie disse tudo isso sem parar, chorando e gritando algumas partes. Rachel ficou sem saber o que fazer. Não sabia se dizia alguma coisa para Lizzie, não sabia se chorava também, se gritava com ela, não tinha ideia do que fazer, então, abraçou a morena com mais força e sussurrou:

  _ Vai tudo ficar bem._ Embora ela não tivesse certeza disso.

  Ainda estava abraçadas, quando Rachel sentiu um embrulho no estomago.

  Soltou de pressa a amiga e saiu correndo para o banheiro da suíte.

  _Rachel? Está tudo bem?_Ela ouviu a voz distante de Lizzie.

  Rachel se debruçou sobre a privada e vomitou.

  _Rachel, está tudo…?_ disse Lizzie chegando na porta do banheiro._ Oh. Acho que vou te deixar em paz.

  Rachel vomitou mais um pouco e se virando para a amiga disse:

  _Será que você pode me dar um pouco de água?

  _Claro!

  As duas partiram para a cozinha na ponta dos pés. Não queriam acordar os funcionários, afinal, ainda eram 5:42 da manhã.

  _Hum, e agora?_perguntou Lizzie.

  _ A água, lembra?

  _Certo, a água…_ disse Lizzie pensativa.

  A morena ficou parada, olhando, pensando. Certo, então Rachel lembrou, Lizzie era rica, não devia ir muito à cozinha. Não devia saber onde estava nada.

  _Deixa comigo.

  Rachel abriu uma dos armários de cima e pegou um copo, foi até a geladeira e esperou o copo se encher de água.

  _Quer também?

  Lizzie apenas assentiu.

  Rachel depressa pegou água para a amiga e lhe entregou o copo.

  _Certo, obrigada.

  Depois de beber água, as duas voltaram para o quarto de Lizzie.

  Rachel correu para o banheiro e vomitou de novo.

  _Eu não to me entendendo…

  Lizzie estava no quarto, pensativa.

  _Rachel, amiguinha, você já menstruou?

  _Não, mas…

  _Amiga, linda, quando foi seu dia fértil e o que você fez?

  _Isso faz parte da minha vida pessoal…

  _Você fez filhinho com o Edward?

  _Bom, eu…

  _Então, amiga, some 1+1, não é tão difícil.

  _O que você quer dizer com isso?

  Lizzie não respondeu, preferiu mostrar o que queria dizer. Entrou no banheiro e voltou com alguma coisa em mãos. Rachel apertou os olhos para enxergar melhor.

  _Ah, não.

  _Ah, sim.

  Era um teste de gravidez.

  Lizzie esperava ansiosa no quarto, Rachel tinha entrado no banheiro e não saia nunca! Ela já estava sendo consumida pela espera.

  Rachel finalmente saiu, ela mordia o lábio inferior

  _ E então?_perguntou Lizzie nervosa.

  Rachel se limitou assentir.

  _Uhuu!_Comemorou Lizzie._ Vou ser tia!! Ah, Rachel, deixa eu ser a madrinha, deixa!

  Rachel se sentou na cama de Lizzie, sem palavras.

  _Eu vou ter um bebê do meu noivo morto._ Foi tudo o que conseguiu falar.