- Oi. – me esforcei para não sair em um gaguejo, e felizmente eu fui bem sucedida. Aquilo era completamente esquisito. Quando eu amei Draco e Tiago, eu não me sentia assim. Era um pouco parecido, mas não era assim.

- Tá tudo bem? – perguntou ele, franzindo o cenho, e me fitando.

- Melhor impossível. – falei abrindo um sorriso, e então Tiago me olhou com uma cara esquisita, o que me fez rir. – É, eu acho que eu estou estranha hoje, não é? – olhei para os dois e ambos assentiram ao mesmo tempo, o que me fez rir de novo.

- Certo. Eu... vou indo, então. Vocês não vem jantar? – parou de andar e perguntou vendo que eu e Al ainda estávamos parados. Negamos. – certo, eu vou, se não se importam, porque eu não comi nada o dia todo. – pude ver em seu olhar que ele estava um pouco triste por não o acompanharmos. É estranho, porque normalmente eu iria com ele. Mas eu não queria sair do lado de Alvo.

- Ele está estranho, não é? – perguntou Al, enquanto eu encarava o fogo, pensando de novo em seu perfume. Sentindo o seu perfume. Sim, ele estava mais próximo do que eu pensava. Seu braço pousou em meu ombro amistosamente, e eu senti arrepios ainda mais fortes por todo o meu corpo.

- O Tiago? – perguntei quando senti que não ia mais gaguejar. Ele assentiu. – É... acho que ele está um pouco deprimido, mas está bem.

- Eu entendo ele, sabe. Você foi a primeira garota que ele amou de verdade. E ele não sabe lidar com a perda muito bem. – falou abrindo um sorriso meigo. Ele, sem que eu percebesse, estava me levando até uma poltrona. Não era a única vazia, mas mesmo assim ele me sentou em seu colo. Mais arrepios.

- É. – falei vagamente. Por algum motivo, foi a primeira vez que eu me incomodei, e até a primeira vez que eu percebi, que Tiago costumava ser o único assunto sobre o qual ele e eu conversávamos. – Escuta, vamos falar de outra coisa?

- Claro. Eu só achei que você não ia querer falar de outra coisa além dele. Mas admito que eu estou feliz que ele não seja o seu assunto favorito. – não pude deixar de rir quando ele disse isso. Virei-me para ele, e seus olhos verdes me fitavam alegres. Instintivamente, e sem querer, passei a mão sobre seu rosto onde estava a cicatriz, provocando uma careta de Al.

- Ainda está doendo? – perguntei, e ele simplesmente assentiu, embora tenha tentado disfarçar a dor. – Me desculpe.

- Tudo bem. – falou sorrindo, pegando delicadamente minha mão e a acariciando. – Eu não ligo.

- O jantar estava bom? – perguntou Tiago assim que entrei com Al e Ella no salão comunal novamente.

- Ah, estava. – limitou-se a dizer Alvo.

- Desculpa. Eu devia ter te acompanhado. – falei, enquanto os outros se afastavam de mim e Thi. Eu até senti um pouco de culpa, mas menos do que eu fingi ter.

- Tudo bem. – abriu um sorriso, mas ao ver que estávamos sozinhos, se aproximou de meu ouvido e sussurrou. – Mas se quiser me acompanhar, eu quero ir para perto do lago negro... de novo. Eu fiz uma careta acidental, e então ele se afastou e disse – como amigos, é claro.

- Fugir, é, senhor Potter? Não sei se aprovo isso. – falei brincando, e baixo, para ninguém mais ouvir.

- E então, vamos? – perguntou ele, e eu simplesmente assenti, com um sorriso idiota no rosto. Isso me lembrava de quando eu era menor e saia furtivamente para a geladeira durante a noite. Ele me arrastou para fora do salão comunal e nos cobriu com sua capa da invisibilidade.

- Cuidado. – sussurrou ele incrivelmente baixo em meu ouvido e eu notei que madame Norra passou ao nosso lado. Ela parou, e nós também. Por alguns segundos ela nos encarou, e depois continuou seu caminho.

- Acho que agora já é seguro voltar a andar. – falei depois de um tempo, e Tiago assentiu, e nós continuamos desastradamente nosso caminho.

Quando chegamos até a grama, Tiago tirou a capa de cima de nós dois e deitou-se. Demorou um tempo até que eu parasse de apreciar o céu estrelado e me deitasse ao seu lado. “só entro nos primeiros arbustos, apoio minha cabeça em algumas folhas e fico deitado observando as estrelas. Em Hogwarts elas são sempre mais brilhantes.”

Era verdade. E mais bonitas. Suspirei. Tiago pegou minha mão sem que eu percebesse. Olhei para ele, como se quisesse dizer de um jeito gentil que ele não devia ter feito isso.

- Desculpa. – disse ele tímido e bagunçou os cabelos.

- Não se desculpe... É só que... – fui interrompida, felizmente, porque eu realmente não sabia o que dizer.

- Eu sei. Ás vezes eu me esqueço que as coisas mudaram. Foi tipo... uma tentativa. – bagunçou os cabelos novamente. Eu achei engraçado, porque eu não achei charmoso quando ele fez isso dessa vez. Foi só comum.

- Me desculpa pelo que aconteceu, Thi. Eu juro que nunca quis te magoar. – falei, desviando meu olhar para as estrelas. Ouvimos o barulho de algumas corujas, ao longe.

- Você não me magoou. Eu ainda gosto de você, mas sei que, por mais que você goste de mim, não é do mesmo jeito. – falou sem graça, bagunçando os cabelos mais uma vez. – Esquece isso. – riu ele.

- É. Boa idéia. – falei, sorrindo, finalmente criando coragem para olhar para ele de novo. Seus olhos brilhavam sob a lua.

- Cerveja amanteigada. Rosas com limão. Sentir a chuva. Poções. – eu ri. – Você. E o dia que me beijou pela primeira vez.

- Você lembra até da ordem. – falei sorrindo. – Mas... espera. Rosas com... limão? – perguntei, lembrando-me que Al tinha dito a mesma coisa sobre seu cheiro favorito. Devia ser o cheiro... da avó, da mãe, ou alguma coisa assim;