Isso. Eu estava distraída. E... Tiago estava errado. Isso. Ele estava errado. Eu não pensei NAQUELE cheiro porque era o cheiro dele. Pensei porque Tiago estava errado. Não pensei porque era o meu cheiro favorito. Só foi... o primeiro cheiro que veio à minha mente.

E porque eu estava distraída pensando no canto dos pássaros, e... e no céu. Não... não era isso. É porque aquele lugar me lembrava ele. Isso. E porque coincidentemente eu estive cheirando algumas vezes uma pétala de flor e uma folha de menta ao lado dele. E eu coincidentemente estava ouvindo o canto dos pássaros e observando o céu também.

Coincidência. Não porque me deixava calma, ou coisa do tipo. Muito menos porque era o meu cheiro favorito. Porque não era. NÃO ERA! Foi uma coincidência. Como quando eu pensei na chuva. Eu só estava distraída.

- Tá tudo bem, Se? – ouvi a voz de Thi e só então lembrei-me que ele estava ao meu lado.

- Coincidência! – gritei, distraída e reflexivamente.

- O que? – sentou-se, e me encarou com uma expressão desconfiada, que dizia uma mistura de “você ta louca?” com “nossa, você ta hilária!”.

- Eu disse que é coincidência. – pensei em voz alta, ainda distraída. E ainda pensando no cheiro DELE. Aquele imbecil!

- O que é coincidência? – perguntou Tiago, ainda me fitando, porém agora preocupado.

- Que...? – exclamei, voltando à realidade - Ahm, eu... nada.

- Não, agora fala! – sorriu malicioso.

Eu demorei um tempo para pensar em uma resposta descente, também porque eu ainda estava pensando... nele. Se o cheiro dele era meu cheiro favorito... então significava que eu devia gostar dele.

Sem pensar duas vezes saí correndo dali, sem olhar para trás e conferir se Tiago estava me seguindo. Talvez fosse tudo culpa dele. É claro. ERA tudo culpa dele. TUDO! Ninguém mandou ser tão idiota. Ninguém mandou ficar... me ajudando.

Pulei em minha cama e agradeci que Ella não estava no quarto, me poupando de perguntas sobre o motivo de eu estar tão estranha. Quando alguém entrou violenta e preocupadamente no quarto, eu pensei que fosse Tiago, mas felizmente não era.

- Oi, Se. – Ella fechou rapidamente a porta atrás de si, corada. – Hum, o que você está fazendo aqui?

- Eu tava... descansando. – falei, sem olhar pra ela.

- Ah. Então acho... acho que não vou te atrapalhar. – saiu do quarto, vermelha, me deixando sozinha novamente. Se eu não estivesse muito preocupada e feliz que ela foi embora eu tentaria descobrir o que ela estava aprontando. Mas provavelmente estava com o Gerald, ou sei lá.

Eu não gostava dele. Era completamente impossível eu gostar dele. Completamente. Ele... ele só era... cheiroso. E bonito. E tinha olhos bonitos. Ele também era gostoso. Mas muitos garotos eram assim e eu não gostava deles. E porque justo ele ia ter algo especial?

Não. Ele não tinha. Ele não tinha nada. Aliás, o que ele tinha? Aquele sorriso dele? O jeito de me fazer me sentir bem? O consolo? Dane-se. Isso não era nada demais. Eu nunca senti arrepios perto dele. Nunca.

Jamais. Não. Eu realmente não gostava dele. Abri os olhos e virei-me para a janela. Observei os últimos segundos do pôr-do-sol, e mais uma vez me lembrei daquele cheiro infernal. Que tipo de cheiro era aquele, afinal? Quem usa perfume de... hortelã? Com... lírios?

Só ele. E isso era o que mais me assustava. Sim, eu realmente estava pensando no cheiro dele. E aquele cheiro era só dele. E eu só estava pensando nesse cheiro que era dele. Eu... eu gostava... dele.

Ele era legal. Muito legal. Ele era... mais que legal. Ele era único. Aquele sorriso. Era... único. Era completamente... Alvo Severo Potter. E no fundo ele era o culpado disso tudo. Ele era o culpado de eu ter parado de gostar de Tiago.

Al sempre esteve comigo, e me ajudou, e me protegeu. Não pude deixar de abrir um sorriso ao pensar em todos os sinais óbvios que ele deu de que gostava de mim. Ou não... Isso devia ser uma alucinação da minha mente. Ele não gostava de mim.

Quando ele puxou briga com Tiago, me defendeu, quando ele me ajudou, me consolou... Ele só estava sendo um bom amigo. No fundo, ele só fez isso para ser um bom amigo. Ele jamais gostaria de mim. Ele era esperto demais para isso. Ele era perfeito demais pra isso.

Só de pensar naqueles olhos... e naquele sorriso, já me deu arrepios. Mas o que estava acontecendo comigo? Eu nunca tinha sentido isso antes por ele. Nós éramos amigos. Porque do nada eu me sinto mais que uma amiga. Parece que foi isso que nós fomos esse tempo todo.

Mais que amigos... Sorri. Senti outro arrepio. Mas então me lembrei da promessa para Tiago. “Você promete que vai contar quando gostar de alguém?”. O que eu tinha dito, mesmo? Ah, é... uma coisa bem idiota como sempre. “Prometo. E eu ainda te amo. Só não do mesmo jeito...”

- Bu! – senti uma mão nas minhas costas que logo identifiquei ser de Tiago.

- O que está fazendo?! – virei-me para ele. – Quer me matar do coração?

- Eu é que pergunto! Você me vem com aquele papo de louca e depois sai correndo... Isso... é considerado normal? – eu ri.

Não. Eu não sou normal.

- Eu... – minha cara ficou séria. – preciso dizer uma coisa... Depois.

- Certo. E agora, o que acha de irmos até o salão comunal fazer qualquer coisa? – arrastou-me antes que eu tivesse chance de falar qualquer coisa. Mas é claro. Alvo estava no salão comunal.

- Oi, Se. – falou sorrindo, e meu coração acelerou. O que não fazia muito sentido. Se eu já gostava dele há um tempo, porque eu só me toquei agora? Porque eu só me emocionei agora?