Naquela mesma noite, à meia noite, ela se levantou e surpreendeu-se ao encontrar um pequeno embrulho ao pé de sua cama, com um bilhete preso nele em caligrafia fina e delicada. Ela soube quem era o remetente antes mesmo de ler o bilhete, que era curto e parecia ter sido escrito com muita pressa.

“Tome cuidado para não ser vista. A capa da invisibilidade de Albus está aí dentro, e ele nem pode sonhar que ela está com você, tudo bem? Repetindo mais uma vez, leve comida. E, POR FAVOR, pelo menos tente ser discreta, tudo bem? Preciso mesmo escrever meu nome aqui?”

Ela bufou. Despiu-se de seu pijama, ficando apenas com sua usual combinação de blusa e short, jogando a capa por cima de seu corpo e saindo silenciosamente do dormitório. Na sala comunal, pegou o máximo de comida que furtara do jantar e saiu da sala comunal, sob o protesto indignado da mulher gorda.

Pirraça passou por cima de sua cabeça, mas não a viu. A porta milagrosamente estava perto, e tirando Hagrid que regava cantarolante seu canteiro de enormes abóboras, Rose não se encontrou com mais ninguém. Embrenhou-se na floresta, e, alguns passos à frente, ela encontrou Scorpius.

O Malfoy trajava uma capa tão negra que parecia mesclar-se com a noite, destacando-se apenas pela branca pele do rosto, única parte do corpo aparente. Rose concluiu que aquela era a intenção, se camuflar na escuridão e não ser pego. Suspirando, ela deixou a capa deslizar por seu rosto e cair por seus ombros, deixando seu rosto à mostra. Scorpius não pareceu nem remotamente surpreso; cumprimentou-lhe com um aceno de cabeça.

_Comida._disse ele.

Rose jogou-lhe o saco que furtara do jantar e ele jogou tudo dentro de um outro saco, provavelmente com as comidas que ele pegara. Depois, sem olhá-la, começou a falar:

_Bem, você permitiu que eu dissesse meu plano pra você. Pois bem._ele suspirou._É um pouco complicado até pra mim entender, então eu vou por partes. Esses gêmeos; o que você repara neles?_

A Weasley suspirou, apertando a capa contra o corpo; fazia frio, e ela não trouxera agasalho.

_Robert não sei. Já Natasha é dissimulada, vingativa. Má. Horrorosa. Sem escrúpulos. E, é claro, Rita Skeeter Mirim._

_Eu não sei de Natasha, mas sei de Robert. Não presta. Só quer falar de sexo, garotas e fazer listinhas sobre as que já “pegou”. Vi ele exibindo uma lista para uns lufas-lufas, contando vantagem.  E sei que ele tirou Aleto de mim. O odeio por isso. Agora, me responda, porque eles só estão fazendo isso comigo e você?_

_Você eu não sei._Rose pensou um pouco._Natasha quis se vingar de mim por que... Ok, eu não consigo pensar num motivo._

Scorpius olhou para ela, e, ao contrário do que ela esperava, não havia o menor vestígio de sorriso em seu rosto.

_Imaginei que você não saberia a resposta. Eu mesmo precisei de algum tempo para pensar... Mas, eu descobri o porque. Porque toda essa coisa de eles serem filhos de veela, de eles serem bonitos, maravilhosos e todo mundo gostar deles não impediu a nós dois de ir contra eles. E, como Natasha disse pra você quando estava desacordada: “Sua vadia, eu vou te dizer uma coisa: eu vou chegar ao topo. Eu quero me destacar em tudo, e não é você que vai me impedir de conseguir meu objetivo, ok?” _

_Isso é inacreditável!_ exclamou Rose, sentindo o calor invadir seu rosto._Mas agora eu entendo! Interrompi-a na aula de história da magia... Dei uma detenção para seu irmão... E, na cabeça dela, tirei sua vaga como apanhadora. Ela tentou me subornar pra ceder a vaga. E você, você bateu no Robert, você o xingou publicamente!_

_Exatamente._ Scorpius parecia impressionado com a rapidez com que a Weasley entendeu, mas ela própria não percebeu isso. _E minha ideia é fazê-los provar do próprio veneno._

_Você quer dizer... Uma vingança?_ perguntou ela, excitada, um sorriso malvado no rosto.

_Sim. E como você é a única pessoa que tem um interesse minimamente em comum com o meu, resolvi conversar com você e..._seu rosto se contorceu em desagrado._pedir sua ajuda._

_Eu quero acabar com aquela piranha!_

_E eu quero a minha namorada de volta._

_Estou pouco me lixando pra sua namorada, eu só quero que esses dois sumam daqui!_ disse ela, dando pequenos pulinhos de excitação no lugar. Malfoy analisou-a com receio.

_Então acho que temos uma trégua._

_Não fala desse jeito Malfoy, já to começando a me arrepender!_

_Não ache que eu estou feliz com isso, Weasley._a careta de desagrado ainda não sumira. _Mas se nem Albus quis me ajudar... Ele ameaçou me dedurar pra McGonagall._

_Eu adoraria ver isso._  

_Sem brincadeiras, Weasley. Vamos dar uma volta por aí e pensar na melhor forma de arquitetarmos nosso plano._

_Pare de falar desse jeito comigo, Malfoy! Você fala como se eu fosse uma criança de cinco anos!_

_Mentalmente, essa é realmente a sua idade, Weasley._

_Malfoy...

_Weasley..._

_AH, EU TE ODEIO!_ e com um movimento nada delicado, ela recolheu a comida e começou a andar até o lago. Scorpius, silenciosamente, a seguiu, e apesar de seu movimento se misturar com o farfalhar das árvores, ela sabia que ele o seguia.

_Weasley, eu te odeio, você me odeia, mas nós ainda queremos sumir com os gêmeos daqui, então controle seu gênio ou seremos pegos!_ sibilou ele.

_Não podem nem sonhar que estamos nos encontrando. Temos que continuar brigando normalmente nos corredores._disse ela, concentrada, parando à beira do lago._Eles querem se sentir no topo? Vamos fazê-los pensar que estão no topo. Vamos deixá-los ter destaque em tudo. Vou entrar para os reservas do time de quadribol e deixá-la assumir a posição principal. Você vai fingir que nunca foi chifrado. E, no final, nós vamos reservar uma surpresinha pra eles._

_É uma boa ideia. Mas o que faremos para fazê-los cair?_ perguntou ele, espantado com a mudança repentina de humor da Weasley.

_Simples. Vamos jogar o jogo deles. Fingir que somos bonzinhos, enquanto agimos às escondidas. Mas só no começo... Vamos difamá-los. E, no final, vamos mostrar quem eles realmente são pra todo mundo. _

_Me encontre aqui amanhã, no mesmo horário. Precisamos discutir outros detalhes do plano._

_Ah, é claro!_ ela deu um sorriso sarcástico. _E pare de me mandar bilhetinhos, isso é coisa de menina mimada que não consegue esperar pra dizer o que precisa. Se não quer ser visto falando comigo, mande-me uma coruja. Porque, afinal, eu morreria se fosse vista conversando pacificamente com você._

_Claro. Você então, com esse cabelo de Bombril enferrujado..._

_E você, seu corno revoltado..._

_EU NÃO SOU CORNO!_ berrou Malfoy, irritado com as provocações dela.

_EU NÃO TENHO CABELO DE BOMBRIL ENFERRUJADO!_ berrou ela, de volta, levantando-se, altiva, e sem dizer mais uma palavra, saiu andando com um ar arrogante...

O que se seguiu foi algo demasiadamente rápido. Num segundo Rose Weasley andava pela borda, e, no outro, caía na água gelada. Ele começou a rir, altas gargalhadas, enquanto ela, parecendo desesperava, lutava para pegar a varinha, caída em cima de uma pedra escorregadia.

_SEU FILHO DE UMA MERDA, EU NÃO SEI NADAR!_ berrava ela, tentando inutilmente alcançar a pedra.

_MINHA MÃE NÃO É UMA MERDA, SUA..._ ele suspirou._ Wingardium Leviosa._murmurou, e, imediatamente, Rose caiu sentada na borda, instantaneamente puxando a capa da invisibilidade por cima de todo seu corpo. Ele viu sua mão alcançar a varinha e o farfalhar suave de seus pés deslizando na relva, o barulho desaparecendo...

Scorpius só não esperava o empurrão que recebeu logo depois. Caiu na água gelada, tremendo dos pés à cabeça, e, subindo à superfície, teve a última visão do braço descoberto de Rose Weasley, segurando a varinha quando ela, friamente, envolveu-o de novo na invisibilidade e caminhou de volta para o castelo, deixando Scorpius e o lago para trás.