Mike e Marie foram para um hotel, e Marie logo tratou de ligar para Justin. O número tocou apenas duas vezes, e a ligação tinha sido feita rapidamente. Sentiu-se tremer enquanto esperava, e depois ouviu a voz dele. Parecia sonolento, e ela se deu conta de que já estava dormindo.

- Justin?

- Marie? Amor, você está bem?

- Eu... – Não conseguia falar mais.

- Marie? – Ela tremia violentamente, ainda sem conseguir falar. – Ah, amor... Como...? Como ela está, muito ruim? Eu penso em você todos os minutos, desde que viajou. – O único som que Marie emitiu em resposta foi um soluço curto e convulso. – Marie! Por favor, minha vida, tente ficar calma e falar comigo. – Ele sentiu um arrepio lhe percorrer as costas. – Meu Deus, ela está... Marie? – Falou, com a voz muito suave.

- Ah, Justin, ela morreu hoje de manhã.

- Ah, não. Amor, você está sozinha? Onde está?

- No meu quarto de hotel.

- Ele... Também está em Paris?

- Está, chegou ontem à noite.

- Sinto muito, por vocês dois. - Com Justin ela podia se soltar, podia se entregar a ele e mostrar o quanto precisava dele. Com Mike, sempre mantinha uma fachada. Tinha que viver o que ele esperava, ser o que ele achava que ela devia ser. – Quer que eu vá pra aí? Posso pegar o primeiro avião da manhã.

- Quero muito que você venha, mas não faz muito sentido. Vou pra casa daqui a uns dois dias.

- Tem certeza? Não quero ser um problema, mas eu vou pra aí, se isso ajudar. Ajudaria?

- Muito. – Sorriu. – Mas é melhor não vir.

- E... Todo o resto? – Tentou não parecer preocupado ou abalado.

- Não sei, vamos conversar.

Ele sabia que ela estava falando de Mike.

- Ok, não se preocupe com tudo isso agora, depois que tudo isso acabar, a gente vê o resto. Eu queria poder fazer com que você não sinta tudo isso.

- Não faz mal, vou ficar bem.

- Não esquece que se precisar de mim, eu irei. Não vou ir a lugar nenhum nos próximos dias sem deixar um número, para você poder sempre me achar, ok?

- Tudo bem. Pode... Pode ligar para...

- Kim?

- É. – Foi um sussurro triste.

- Vou ligar, sim. Agora, eu quero que você descanse um pouco. Amor, não pode continuar nesse ritmo, tem que descansar. Logo que você voltar pra casa, nós vamos ir para Carmel. Não me importo com o que aconteça depois, mas você vai ir pra Carmel comigo. Vamos andar pela praia, e estar juntos.

Agora ela soluçava violentamente. Jamais estariam juntos de novo. Ela jamais andaria por aquela praia, ou outra qualquer. Estaria presa pra sempre naquele pesadelo, sozinha.

- Marie, presta atenção. – Dizia Justin. – Pense em Carmel, e tente se lembrar que eu te amo. – Ela balançou a cabeça, tristemente, ainda sem conseguir emitir as palavras. – Meu amor, eu estou com você todo momento. Seja forte. Eu te amo.

- Eu também te amo. – Mas a voz dela não passava de um murmúrio, enquanto desligava o telefone.

                                            ***

O enterro foi rápido, formal, e uma agonia. Marie usou um vestido de lã preto simples, e Mike um terno escuro e gravata preta. Foi tudo feito segundo a mais formal das tradições francesas, numa igrejinha bonita. Culto, música, e depois a reunião de amigos e parentes em casa. Era um empreendimento para o dia todo, com rodadas intermináveis de apertos de mão e pêsames, explicações e tristezas partilhadas. Ligou para Justin da casa, a cobrar.

- Não vou demorar muito, só precisava falar com você. Estou em casa.

- Está agüentando firme?

- Não sei. É tudo como um circo.

Ele não estava gostando do som da voz dela. Parecia nervosa, cansada e tensa.

- Quando vai voltar?

- Em dois dias, espero. Vamos combinar hoje à noite. Acho melhor eu voltar pra lá, perto dos convidados.

- Eu te amo, Marie.

- Eu também te amo.

Voltou para junto dos 50 ou 60 convidados que circulavam pelos salões da casa da falecida sogra. Marie nunca se sentira uma estranha tão completa quanto agora. Parecia horas que não via Mike. Ele a encontrou finalmente na cozinha, olhando por uma janela.

- Marie Elizabeth? O que está fazendo aqui?

- Nada. – Os olhos grandes fitaram os dele. Mike estava com uma aparência melhor. E, dia após dia, ela parecia pior. Também não estava se sentindo bem, mas não contara nada pra Mike, ou o fato de que desmaiara duas vezes nos quatro últimos dias. – Só estou pegando um ar.

- Desculpe estar sendo um dia tão longo.

- Tudo bem. Mike, quando vamos voltar pra casa?

- São Francisco? – Ela afez que sim. – Não sei, nem pensei no assunto. Está com pressa?

- Só quero voltar.

- Mas tenho trabalho que preciso completar aqui, preciso de pelo menos mais duas semanas.

Ah, não. Não conseguiria viver mais duas semanas sob o teto da sogra... E sem Justin.

- Não tem motivo pra mim ficar, não é?

- Como assim? Quer ir pra casa sozinha? – Parecia aflito. – Não quero que faça isso, quero que vá pra casa comigo.

- Não posso esperar duas semanas. – Parecia desesperada com a idéia, ele notou mais uma vez como ela estava exausta e nervosa.

- Veremos.

- Mike, tenho que ir pra casa. – A voz dela tremia, enquanto aumentava de volume.

- Está bem, mas primeiro, quer fazer uma coisa pra mim?

- O quê? – Olhou para ele de modo estranho. O que ele estava querendo? Só o que ela queria era ir embora.

- Quer passar dois dias fora, comigo? Qualquer lugar, durante um fim de semana. Algum lugar tranqüilo, onde a gente possa descansar. E precisamos conversar. Faz isso por mim?

Ela esperou um longo momento, depois olhou para ele.

- Não sei.

- Por favor, é só o que eu peço. Dois dias, e depois você pode ir.

Ela se virou pra olhar para os telhados de novo. Estava pensando em Justin e Carmel, mas não tinha o direito de correr pra ele apenas para se sentir melhor. Devia alguma coisa ao casamento deles, nem que fosse apenas dois dias. Virou-se para olhar pra Mike, e assentiu, lentamente.

- Tudo bem, eu vou.