Eterno Verão. escrita por _BieberHot


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Desculpa por não ter postado ontem, mas como vocês sabem, o site estava em manutenção.
Boa leitura!



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Partiram para o campo de manhãzinha. Marie estava estranhamente quieta, enquanto saíam da cidade, imersa nos seus pensamentos. Mike lançou um olhar distraído para Marie e depois concentrou-se na estrada, mas pegou-se pensando de novo na sua amante, Clarisse. Tinha falado com ela de manhã, antes de saírem.

- Vai contar pra ela nesse fim de semana?

- Não sei, vou ver.

Mas Clarisse parecera infantil e petulante. Repentinamente, depois de tantos anos de paciência, ela estava fugindo ao seu controle. Contudo, tinha sido o esteio da vida dele nos últimos 3 anos. Não podia desistir dela, mas será que podia desistir de Marie tão facilmente? Olhou para o lado dela, de novo. Ainda estava de olhos fechados, e não tinha dito uma só palavra. Será que a amava? Sempre pensara que sim, mas depois do verão com Clarisse, não tinha tanta certeza. Era impossível saber, entender... E dane-se Clarisse por forçá-lo a isso. Prometera a Marie, à dois dias, que terminaria o relacionamento com Clarisse, e agora tinha feito a mesma promessa à amante com relação a Marie.

- É muito longe? – Os olhos de Marie se abriram, mas ela não mexeu a cabeça. Sentia-se esmagada pela exaustão que a vinha atormentando a dias.

- Não, fica a mais ou menos uma hora daqui. É uma casa bonita, não fico lá desde pequeno, mas sempre foi linda. – Sorriu pra ela. Marie estava com olheiras. – Sabe, está parecendo bem cansada.

- Eu sei, quem sabe nesse fim de semana eu descanse um pouco.

- Pegou alguns comprimidos para dormir com o médico da minha mãe?

- Eu mesma dou um jeito. – Ele fez uma careta, e ela sorriu pela primeira vez.

Foi só depois que chegaram que ela falou de novo. Era na verdade um belo lugar, uma velha casa de pedra, cercada por jardins bem tratados. À distância ficavam pomares que se estendiam por quilômetros.

- Bonito, não é? – Falou ele, tentativamente, e seus olhos se encontraram.

- Muito, obrigada por ter arranjado isso. – Então, quando ele ia pegar as malas, ela falou de novo, quase inaudivelmente. – Que bom que viemos.

- Também acho. – Olhou pra ela com cautela, e ambos sorriram.

Ele levou as malas pra dentro de casa e deixou-as no corredor principal. Marie caminhou pelos longos corredores, espiando pelas janelas altas que davam para o jardim. Parou finalmente na extremidade do corredor, num solário cheio de plantas e cadeiras confortáveis. Sentou-se numa delas e fitou silenciosamente os terrenos. Dali a certo tempo escutou os passos de Mike ecoando pelo corredor.

- Marie Elizabeth?

- Estou aqui.

Ele entrou no aposento e ficou parado junto a porta por algum tempo, olhando pra fora, e lançando olhares ocasionais à mulher.

- É bonito. – Falava distraidamente, e os olhos dela ergueram-se até os dele.

- É. Mike? – Não queria perguntar, mas precisava. E sabia que ele não iria gostar. – Como vai a sua amiga?

- Não sei do que está falando.

- Sabe, sim. – Sentiu o anjôo subir-lhe a boca, enquanto procurava-lhe os olhos. – Já decidiu como vai fazer?

- Não acha que é um pouco cedo pra discutirmos? Acabamos de chegar.

Ela sorriu.

- O que pretendia? Que passássemos o fim de semana sendo encantadores, e depois discutíssemos o assunto no domingo, a caminho de casa?

- Não foi pra isso que eu te trouxe para cá. A gente precisava sair um pouco.

- Mas também temos que discutir isso. Sabe, estou me perguntando por que continuamos casados. – Ergueu os olhos de novo pra ele. Mike entrou na sala e sentou-se, lentamente.

- Está maluca!

- Talvez esteja.

- Marie, por favor... – Olhou pra ela, depois desviou os olhos.

- O quê? Quer fingir que nada aconteceu? Mike, não podemos.

Coisas demais tinham acontecido durante o verão. Ela tivera Justin, e agora sabia que Mike também tinha alguém. Só que, no caso de Mike, o romance provavelmente já durava anos.

- Mas isso não é assunto pra você se preocupar agora.

- Quando, então? Já estamos sofrendo tanto, que é melhor continuarmos assim mesmo, de uma vez.

- Você está tão infeliz à tanto tempo assim?

Ela virou a cabeça para fora, estava pensando em Justin.

- Nunca me dei conta até esse verão do quanto eu estava sozinha, de como a gente não fica juntos, ou do quanto você não compreende o que eu quero.

- E o que é que você quer? – Perguntou ele, com voz muito baixa e suave.

- O seu tempo, o seu afeto. Risos. Caminhadas pela praia... – Falou as últimas palavras sem pensar, e depois virou o rosto pra ele, surpresa. – Quero que você ligue para o meu trabalho, porque ele é importante pra mim. Quero estar com você, Mike, não ficar sozinha em casa. O que você acha que vai acontecer? Você vai viajar durante meses, e eu, o que farei? Ficarei sentada, esperando? – A simples idéia de tal existência, fez com que ela tremesse por dentro. – Não posso mais fazer isso, não quero.

- Então, o que sugere? – Ele queria que ela falasse, que pedisse o divórcio.

- Não sei, podíamos acabar com tudo, ou, se decidirmos continuar casados, as coisas teriam que ser diferentes. – Meu Deus, o que estava fazendo? Se ficasse com ele, não poderia ter Justin. Mas esse era o seu marido, o homem com quem vivia à 5 anos.

- Está me dizendo que quer viajar comigo? – Parecia aborrecido.

- E por que não? Ela viaja com você, não é? – Marie finalmente chegara a essa conclusão. – Por que não eu?

- Porque... Não faz sentido. Não é prático, e... é caro. – E porque assim não poderia levar Clarisse.

- Caro? – Marie ergueu a sobrancelha com um sorrisinho maldoso. – Ela é que paga a passagem dela?

- Marie! Não vou discutir isso com você.

- Então, pra que viemos para cá? – Os olhos dela estavam ferozes, no rosto longo e branco.

- Viemos para descansar. – O assunto estava encerrado.

- Sei. Então, só o que temos a fazer é suportar o fim de semana, sendo educados, depois voltar pra Paris fingindo que nada aconteceu. Você volta pra sua amiguinha, e daqui a duas semanas retornamos aos Estados Unidos e continuamos como sempre. E quanto tempo você vai ficar lá dessa vez, Mike? Três semanas? Um mês? Seis semanas? E então, irá de novo, e por quanto tempo, e com quem, enquanto eu fico sentada sozinha naquele maldito museu no qual vivemos, esperando que você volte. Sozinha de novo, droga. Sozinha!

- Não é verdade.

- É sim, e você sabe. E o que eu estou dizendo agora é que estou cheia. Pra mim, esses dias terminaram. – Ela se ergueu, repentinamente, e já ia sair da sala, mas quando se levantou, ficou tonta. Parou por um momento, olhando pra baixo e se apoiando na cadeira.

Ele a observou, a princípio calado, depois com ar preocupado.

- Algum problema?

- Não, nada. – Endireitou o corpo e fitou-o com raiva, de onde estava. – Só estou muito cansada.

- Então, vá descansar. Vou te mostrar o nosso quarto. – Segurou-a suavemente pelo cotovelo, até se certificar de que estava pisando firme, depois foi mostrando o caminho pelo longo corredor até a outra extremidade da casa. Tinham ficado com o quarto principal, uma suíte esplêndida decorada em sedas cor de framboesas com creme. – Por que não deita um pouquinho, Marie? – Ela parecia cada vez pior. – Vou dar uma volta.

- E depois? – Olhou pra ele, infeliz, sentada na cama. – Depois o que fazemos? Não posso mais fazer isso, Mike, não posso mais jogar. - Sentiu-se tentado a dizer “Como jogar?”, a negar tudo. Ficou calado, contudo, e Marie continuou olhando direto nos olhos dele enquanto falava. Pareciam perturbados. – Quero saber o que você sente, o que pensa, o que vai fazer. O que vai ser diferente pra mim. Quero saber se você vai continuar vendo a sua amante, quero saber todas as coisas que você acha grosseiro dizer. Diga agora, Mike, preciso saber.

Ele balançou a cabeça, silenciosamente, depois caminhou para o outro lado do quarto, olhando pela janela para as colinas ondulantes.

- Não é fácil pra mim falar sobre essas coisas.

- Eu sei. – A voz dela era muito suave. – Metade do tempo em que estamos casados, nunca tive certeza se você me amava.

- Sempre amei. – Falou sem se virar, e ela só enxergava as costas dele. – Sempre vou te amar, Marie.

Ela sentiu as lágrimas ardendo nos olhos.

- Por quê? – Mal conseguiu pronunciar as palavras. – Por que me ama? Por que sou sua mulher? Por força do hábito, ou por que gosta de mim realmente?

Mas ele não respondeu, apenas se virou pra ela com uma expressão de dor intensa no rosto.

- Precisamos fazer isso? Agora... Tão em seguida à morte... Da minha mãe? – Marie ficou calada. O rosto dele todo tremera ao falar de Madame Duras. – Marie, eu... Não posso. – Sem mais uma palavra saiu do quarto, e ela o viu a seguir, de cabeça baixa, caminhando pelo jardim.

Os olhos dela ficaram cheios de lágrimas de novo, enquanto olhava pra ele. Esses últimos dias pareciam ser o fim da vida dela. Mike só voltou pra casa dali a uma hora, e quando voltou, encontrou-a dormindo. Ainda havia um ar de exaustão nos olhos cercados por fundas olheiras. Pela primeira vez em anos, ela não usava maquiagem alguma, e em contraste com a colcha de seda cor de framboesa, achou que o rosto dela estava quase verde. Voltou para o corredor principal, e dali passou para um estúdio. Por um momento ficou ali sentado, fitando o telefone. E então, como se fosse necessário, começou a discar. Ela atendeu no terceiro toque.

- Mike-Edouard?

- Olá, como vai? – E se Marie acordasse? Por que ligara pra ela?

- Você parece esquisito, algum problema?

- Não, só estou muito cansado.

- Já conversaram? – Ela era implacável.

- Não de verdade, só um pouquinho.

- Imagino que não seja fácil. – Podia ouvi-la suspirar.

- Não, não é. – Fez uma pausa. Escutara passos no corredor. – Ligo depois.

- Quando?

- Mais tarde. – E então: - Eu te amo.

- Que bom, querido, eu também te amo.

Desligou com as mãos trêmulas quando os passos se aproximaram. Mas era apenas o zelador, que viera ver se estavam confortavelmente instalados. Satisfeito, o homem se retirou, e Mike desabou lentamente numa cadeira. Jamais daria certo. Não podia manter aquela situação pra sempre. Ligando pra Clarisse, acalmando Marie, voando daqui pra lá entre a Califórnia e a França, escondendo-se e desculpando-se, e bombardeando as duas com presentes cheios de culpa. Marie tinha razão. Tinha sido quase impossível durante anos. Claro que Marie não sabia, então, mas agora que sabia, isso tornava tudo diferente. Fazia com que ele se sentisse muito pior. Marie acordou e apareceu ali onde ele estava. Já era hora do jantar.

- Quer ir até a aldeia pra comer?

- Por que não preparo alguma coisa aqui mesmo? Não tem comida?

- O zelador disse que a sua mulher nos deixou um pouco de pão, queijo e ovos.

- Está bom pra você?

Ele concordou, com indiferença. Ela se dirigiu à cozinha. Voltou dali a 20 minutos, com ovos mexidos, torradas, queijo e duas xícaras de café preto. Nenhum dos dois parecia estar com vontade de falar, embora houvesse muita coisa pra dizer. Comeram em silêncio. Depois da refeição, foi cada um para o seu lado, ela para os longos corredores e galerias pra examinar a coleção de quadros, Mike para a biblioteca. Às 11 horas foram pra cama em silêncio, e de manhã ele levantou da cama bem cedo. Já eram 11 horas quando se falaram pela primeira vez. Marie acabara de se levantar e se sentiu enjoada, enquanto se sentava numa cadeira do quarto de vestir.

- Tudo bem? – Olhou pra ela com uma ruga de preocupação no rosto.

- Sim.

- Não está com uma cara boa. Quer um pouco de café?

A simples idéia do café deixou-a se sentido mal. Sacudiu a cabeça, quase em desespero.

- Não, obrigada.

- Acha que tem alguma coisa errada? À dias que você não parece bem.

Ela tentou sorrir, mas foi em vão.

- Nem você. Eu estou bem, só fico cansada o tempo todo, e de vez em quando me sinto enjoada. Não é de se admirar, nenhum de nós tem dormido muito. Estamos lutando contra fusos horários diferentes, viagens longas, o choque... Acho que é de se surpreender que ainda estamos de pé. Sei que não é nada.

Mas Mike não estava certo de concordar, viu que ela oscilou por um momento quando se levantou. A emoção podia causar coisas estranhas às pessoas. Pensou em Clarisse de novo, enquanto Marie entrava no chuveiro. Tinha vontade de ligar pra ela de novo, mas ela queria relatórios, queria ouvir as novidades, e ele não tinha nenhuma pra dar, exceto que estava passando o fim de semana com a sua mulher... E que ambos se sentiam péssimos.

No chuveiro, Marie levantou o rosto e deixou a água escorrer pelas costas. Estava pensando em Justin. Em São Francisco eram duas da manhã; ele ainda estaria dormindo. Podia enxergar o seu rosto tão nitidamente na cama, os cabelos claros despenteados, uma das mãos no peito, a outra apoiada nela, em alguma parte do seu corpo... Não, ele provavelmente estava em Carmel, e ela se pegou pensando nos seus fins de semana ali. Como eram diferentes desses dias com Mike. Era como se Mike e ela não tivessem mais nada pra se dizer, só o que tinham era o passado. Desligou finalmente o chuveiro e ficou pensando por um momento, olhando pelas janelas abertas para o jardim, enquanto se secava com grossas toalhas cor de framboesa. Essa casa era bem diferente da de Carmel. Uma mansão na França e um chalé em Carmel. Sedas cor de framboesa, e lãs velhas e confortáveis. Pensou no cobertor de xadrez gostoso na cama rústica de Justin, enquanto vislumbrava a colcha de seda de babados no outro quarto. Era como o contraste entre as suas duas vidas. Lá, a realidade simples e fácil da vida com Justin, na sua “democracia”, onde se revezavam fazendo o café e botando o lixo lá fora; e aqui, apenas o eterno esplendor vazio da sua vida com Mike. Correu uma escova pelos cabelos e soltou um longo suspiro. No quarto ao lado, Mike estava lendo o jornal com a testa franzida.

- Quer ir comigo à igreja? – Olhou por cima do jornal quando ela saiu do banheiro, e ficou parada diante do guarda-roupa.

Ela concordou e tirou de lá um jeans escuro, e uma blusa preta. Ambos usavam o luto fechado ainda comum na França. Marie parecia estranhamente sem atrativos no luto fechado, com os cabelos escuros repuxados, formando um coque na nuca. Novamente, estava sem maquiagem. Era como se não se importasse mais.

- Você está pálida.

- É só o contraste com todo esse preto.

- Tem certeza? – Fitou-a por um momento antes de saírem da casa, mas ela apenas sorriu. Ele agia como se estivesse com medo de que ela estivesse morrendo, mas quem sabe estava mesmo com medo disso.

Rodaram em silêncio até a pequena igreja campestre dali. Marie sentou-se discretamente no banco, ao lado de Mike. A igreja, pequenina, bonita e calorosa, estava cheia de camponeses e alguns visitantes de fim de semana, como eles, vindos de Paris. Lembrou-se subitamente que ainda estavam no verão, não tinham chegado ainda ao fim de agosto. Nos Estados Unidos logo seria o Dia do Trabalho, anunciando o outono. A sua noção de tempo tinha sumido, na última semana. Não conseguia se concentrar na missa, estava pensando em Carmel, e em Justin. Pensou nas longas caminhadas pela praia, depois ficou olhando fixamente para a parte de trás da cabeça de alguém. Estava abafado, na igreja. Finalmente ela tocou no braço de Mike, começou a sussurrar que estava com muito calor, mas de repente o rosto dele se desfez diante dos seus olhos, e tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

Esse foi grande, não? Haha!
Então, é isso.
Me deixem reviews, vou esperar ansiosamente.
Ah, só uma coisa: No próximo capítulo vocês vão descobrir o que a Marie tem. O que acham que é?
Obrigada e até a próxima! :)