Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 7
Capítulo 6 - Penumbra


Notas iniciais do capítulo

A agitação começa agora...

boa leitura :)



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Levantei bruscamente. Meu corpo inteiro tremia de ódio. O sangue negro ainda pingava da ferida em meu peito. Andei cambaleando, empurrando os mortais para abrir caminho. Meu ódio era tão grande que as pessoas a minha volta se sentiram enjoadas. A respiração acelerada era como o fogo do inferno, queimando o ar a minha volta.

Ainda tinha o gosto dela em meus lábios, mas seu doce e maravilhoso sabor tinha se misturado ao amargo de meu próprio sangue. Saí daquele lugar sujo e senti o frio cômodo da noite. Meus olhos, que deviam estar vermelho-sangue tamanho ódio que existia em mim, ardiam. Esse sentimento era como minha própria alma, vivo, pulsante, e me preenchia por completo.

Cravando as unhas em minha própria carne, andei pelas ruas da cidade. Tinha que reencontrá-la. Eu precisava estar com Melanie mais que precisava de ar.

Um casal passou por mim, rindo alegremente. Ouvi claramente seus pensamentos. A mulher estava um tanto bêbada e torcia para que aquela noite o jovem a pedisse em namoro. Ele queria sexo. Eu queria morte.

Em um tempo curto demais para precisar, estava diante do casal. Sem esforço, enfiei minhas mãos no peito de cada um deles, ao mesmo tempo. Senti seus corações pulsarem descompassadamente em minhas mãos, o dele na mão direita e o dela na esquerda. Os olhos foram perdendo o brilho rapidamente, até que se apagaram completamente quando apertei as mãos e explodi os pequenos órgãos, esmigalhando-os. Deixei os corpos escorregarem lentamente e aquela coisa viva em mim se satisfez, por hora. O ódio era assim, sempre exigente e urgente. Enquanto limpava as mãos, somente um nome me vinha a mente: Miguel.

...

Estava amanhecendo quando partimos. Padre Inácio foi bastante hospitaleiro e o agradecemos imensamente por ter nos acolhido. Harper estava descansando no sofá e percebi como Jules relutou em acordá-la. Eu sabia que estava sendo demais para seu frágil corpo humano.

Durante a longa noite, vi Jules e Miguel traçando planos, bolando estratégias e tentando encaixar as peças dessa bagunça. Eu, no entanto, apenas fiquei ao lado de Harper e orei. E precisava tanto de paz... Lucius não me saía da cabeça e o mais preocupante era que eu não estava com medo pelo o que ele queria de mim, eu estava assustada com a intensidade do que sentia quando lembrava de seu toque, de seu cheiro...

Fomos para o norte. Jules sabia onde alguns dos anjos que caíram junto com ele estavam vivendo. Miguel estava tentando reaver seu exército, assim, estaríamos preparados para o que viria a seguir.

A todo instante ele me olhava preocupado. Eu via a compaixão em seu olhar, mas também via a desconfiança. Eu fui atraída por Lucius uma vez e tanto eu quanto Miguel sabíamos que poderia acontecer novamente. Harper teve que parar em um lugar estranho, onde as pessoas iam para pegar o tal do dinheiro e a mim parecia que para tudo o que os humanos faziam, precisavam dele. Ela saiu e tomamos um carro que tinha um condutor. Era tão estranho andar nessas máquinas ao invés de simplesmente voar pelo céu... mas era necessário. Os humanos não podiam nos ver... e nem Lucius.

Algumas horas mais tarde estávamos em uma outra cidade e eles começaram a procurar um lugar para ficar. Miguel achou melhor não arriscar andar a noite. Entramos em um lugar alto e cheio de quartos, chamado hotel. Harper alugou dois quartos para nós. Miguel decidiu que dividiria comigo e eu nem precisei perguntar o motivo.

- Você pode tomar um banho e descansar se quiser – Miguel disse quando entramos no quarto – Eu vou pedir a janta no quarto.

Apenas acenei, embora não fizesse ideia do que fosse janta. Miguel caminhou até a janela e se posicionou como Jules costumava fazer, observando o lado de fora. Eu levantei e entrei por uma porta dentro do quarto que dava em um outro quarto, pequeno e com um grande espelho. Havia uma porta mais escura formando um pequeno quadrado e tinha um negócio pendurado na parede.

- É um chuveiro.

Olhei assustada para trás. Miguel estava perto, muito. Ele me olhou nos olhos com aquele tom mel dourado e límpido. Senti o meu rosto corar instantaneamente e baixei os olhos. Era um desrespeito grande encarar um arcanjo do nível dele nos olhos, mas às vezes, eu simplesmente não conseguia parar de admirá-lo.

- Melanie – ele disse gentil – não precisa desviar seu olhar.

- Eu não quis desrespeita-lo, senhor, me perdoe.

Senti a mão quente e suave em meu queixo. Miguel me fez olhar para cima, para o mar dourado de seus olhos.

- Não sou senhor, me chamo Miguel. – ele disse ainda suave – E não me desrespeita por me olhar nos olhos, Melanie. Eu disse que lutaríamos juntos nessa luta e lutaremos. Somos iguais, eu e você. Entendeu?

Afirmei com a cabeça, mas me sentia insegura. Ainda ficamos uns segundos parados até que ele esticou o braço e tocou em um pequeno objeto metálico na parede. Começou a sair água do tal de chuveiro, era morna e agradável.

- Tome um banho e vem comer. Precisará descansar pra amanhã.

Eu agradeci, mas sem o olhar de volta, estava encantada demais com a água morna que caía em minha mão.

...

Nós continuamos viagem no dia seguinte e no fim da tarde chegamos ao lugar que Jules informou. Era um bairro mais carente e eu vi algumas pessoas sujas e tristes, que estavam sentadas nas calçadas. Aquilo fez meu coração doer.

- Você sabe onde esses outros anjos estão, Jules? – Harper perguntou enquanto andávamos.

- Ainda não, mas logo saberemos. – Jules respondeu.

Os últimos raios de sol do dia se foram e foi como um balde de água fria em minha espinha. Mais uns metros a frente tinha um parque, que estaria vazio se não fosse por um pequeno grupo de pessoas. Estavam sentados juntos, no chão, próximos a um banco e havia uma pequena fogueira dentro de um latão. Alguns se aqueciam próximos ao fogo, mas foi outra coisa que me chamou a atenção. Havia uma menininha que brincava afastada dos outros com uma garotinha de plástico com um vestido vermelho. Parei para observá-la. Ela parecia tão distraída, tão alheia a tudo.

As ruas estavam estranhamente vazias e a noite seria fria. Fiquei me perguntando como aquelas pessoas passariam a noite ali, sem ter uma casa ou algo para se aquecerem além daquele pequeno fogo de esperança. Foi então que aconteceu. Harper, que estava alguns metros a minha frente, parou. Mesmo de longe, senti sua tensão e vi sua pele branca perder o pouco que tinha de cor.

Jules e Miguel se puseram em posição de batalha e eu sabia que o que Harper tinha sentido, só podia ser uma presença maligna. Não demorou muito para que aparecessem. Uma densa névoa escura se formou a nossa volta tão rápido que não pude pensar. Só ouvi as pessoas se agitarem e a voz de Miguel vinda de algum lugar próximo a mim;

- Melanie, convoque sua Gladius AGORA!

Sem pensar eu disse as palavras antigas e ao mesmo tempo em que senti o metal sagrado em minhas mãos, senti o cheiro de morte e podridão.


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Notas finais do capítulo

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