Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 6
Capítulo 5 - Esperança


Notas iniciais do capítulo

Gente, perdão pela demora enooorme na postagem, mas minha desculpa é válida: eu fiz essa semana a prova mais difícil da minha vida até aqui e estava me preparando. Deu certo!!! Sou oficialmente doutoranda :D

Enfim, agora vou voltar ao normal nas postagens, o que significa postar de duas a três vezes por semana.

Mais uma vez, perdão. Espero que curtam :)

Boa leitura!



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Foi tudo rápido demais. Melanie saiu de perto de nós e entrou na boate. Eu encarei Jules sem entender direito o que estava acontecendo.

- O que ela está fazendo? – perguntei parando ao lado do anjo.

Jules estava calado, muito quieto de repente. Então eu senti a presença mais forte de todas. Era intensa e amorosa, embora estivesse agitada.

- Miguel. – Jules sussurrou, olhando para o lado.

Meu olhar acompanhou o dele. Vi um homem dobrar a esquina, andando rapidamente. Vestia um sobretudo negro, com a gola levantada. Tinha a pele levemente bronzeada e um porte atlético. O cabelo era muito baixo, quase que raspado, e os olhos cor de mel vibravam intensos.

Miguel não nos olhou, apenas seguiu até a entrada da boate por onde Melanie tinha entrado. Algo de errado estava acontecendo. Jules se moveu rapidamente e eu o segui. A boate estava lotada e escura, mas a silhueta de Jules se destacava. Eu o segui para o meio do salão, onde as pessoas dançavam e se agarravam ao ritmo da música black.

Então vi Melanie diante de Miguel e um reflexo dourado do que me pareceu uma espada, sumiu de vista. Entre os dois, o corpo de um homem cujo rosto eu não vi, escorregou para baixo e caiu no chão.

Miguel estendeu a mão e pegou Melanie pelo braço. Foi meio grosseiro, e eu podia jurar que estava machucando a garota. Saímos da boate, finalmente, e as pessoas nem repararam no corpo daquele infeliz. Possivelmente estavam achando que era só mais um cara que bebeu demais.

Andamos para um beco próximo e Miguel ainda puxava Melanie, que estava calada e com os olhos arregalados.

- Ok, o que está acontecendo? Quem era aquele cara que você matou? – perguntei imediatamente.

Por alguns instantes, ninguém respondeu coisa alguma. Até a voz grave de Miguel sair de sua boca perfeita.

- Ele não está morto. Aquele é Lucius, filho de Lúcifer. Em poucos instantes ele virá até nós. Minha Gladius não é capaz de detê-lo.

- Não, espera, isso não pode ser verdade, eu não o senti, não pode ser um demônio. – eu falei exaltada. Miguel havia acabado de falar que aquele cara estirado no chão é o filho do próprio demônio!

- Você não o sentiu porque ele não é um demônio comum. – Miguel respondeu mais suavemente, embora ainda segurasse a outra pelo braço.

- Bom... vamos pra casa, então, já que ele pode voltar. – eu disse, apreensiva.

- Não. Lucius provavelmente sabe onde você mora. Temos que ir a outro lugar. – Miguel respondeu.

Abri a boca, mas não saiu som algum de mim. O filho do diabo sabia onde eu morava. Que maravilha!

- Eu sei pra onde devemos ir. Venham.

Olhei pra Jules, que finalmente disse algo. Ele devia estar abalado com a presença de Miguel, mas sua postura de guerreiro se mantinha intacta. Melanie, entretanto, pareceu-me perdida.

- Melanie, o que houve? – perguntei, aproximando-me dela.

Ela me encarou com o olhar vago, perdido. Parecia muito triste e confusa.

- Vamos! – Miguel disse impaciente, puxando-a pelo braço. Eu não gostei. Tipo, aquele cara era um grosso, sendo anjo ou não. Mas estávamos encrencados demais com o tal de Lucius vindo atrás de nós.

Andamos a passos rápidos pelas ruas da cidade, com Jules a frente, Miguel levando Melanie pelo braço e eu na cobertura. Minha adaga benta segura firmemente em minha mão.

Algum tempo depois chegamos ao local mais óbvio de todos, uma igreja. Jules disse para que esperássemos um momento e deu a volta. Minutos depois retornou com um padre jovem, ainda de batina. O padre nos encaminhou para dentro e fomos para uma pequena casa que havia nas dependências da igreja. Era ali que ele devia morar.

Foi somente dentro da casa do padre que Miguel soltou Melanie, mas não pareceu relaxar. Ele ficou encarando-a, como se tivesse... sei lá, avaliando.

- Tá legal, alguém pode me dizer que merda está acontecendo?! – falei já irritada.

Jules me repreendeu na hora pelo palavreado, mas não pude evitar.

- Tudo bem, o padre sabe de tudo. Somos velhos conhecidos. – Jules falou para Miguel, que ainda encarava a cabisbaixa Melanie.

Miguel respirou fundo e passou a mão pela cabeça. Fechou os olhos e disse:

- Ele a quer.

Silêncio.

Meu olhar desviou por todos, esperando algo mais. Quando o silêncio se prolongou demais, eu disse:

- Tipo... quer o que? Matar Melanie?

Miguel olhou novamente para o frágil ser a sua frente. Em seus olhos cor de mel havia tanta compaixão que parecia impossível. Como ele podia ter agido daquela forma com ela e depois olhá-la daquele jeito? Acho que nunca serei capaz de entender a essência angelical.

- Ele quer você, Melanie. – Miguel disse em tom baixo, diretamente para a garota.

Melanie não encarava Miguel diretamente, mas sua cabeça estava voltada para o enorme anjo. Ela estava ruborizada.

- OK, será que vocês podem falar a minha língua? – eu falei exaltada com as mãos nas cadeiras – O que ele quer dela, se não quer mata-la?

Foi Jules quem respondeu:

- Sua pureza.

Encarei Jules sem entender muito mais. Será que o cara queria transar com a garota, ou algo assim?

- Não, não é isso o que está pensando. – Miguel disse pra mim, embora ainda olhasse pra Melanie – Ele quer a alma pura de Melanie, não apenas seu corpo.

Engoli seco. Isso não me parecia uma boa coisa, de jeito nenhum.

- Bom, se ele a quer, então temos um problema. Lucius não vai parar de persegui-la, não importa onde vá. – Jules falou andando até a janela próxima para espiar o lado de fora - Se você está aqui, Miguel, é porque temos uma missão e não podemos continuar com Lucius em nosso encalço.

- Espera! Vocês não estão pensando em deixa-la pro demônio, o tal de Lucius, estão? – perguntei em tom de desafio. Isso era absurdo demais.

Entretanto, nem Miguel, nem Jules, nem mesmo o padre pronunciaram coisa alguma. Eu senti como se estivessem pesando os prós e os contras da questão.

- E-eu não quero atrapalhar em nada. Por favor, façam o que tem que ser feito pra salvá-los.

A voz doce e suave de Melanie finalmente saiu de sua garganta. Todos olhamos pra garota que parecia tão ingênua e frágil. De repente, senti um incômodo e minhas entranhas reviraram. Eu nunca fui sentimental ou apegada a alguém, mas só em pensar no que aquele Lucius poderia fazer com alguém tão doce quanto ela, me dava enjoo.

Então, a voz grave de Miguel se fez ouvir:

- Não vamos deixar você, Melanie. Enquanto eu for vivo, Lucius não toca em você.

A voz dele era tão firme e decidida, ao mesmo tempo em que era gentil. Mas me deu arrepios. Ele impunha tanto respeito, que me confundia. Eu não sabia se devia admirá-lo, ou teme-lo.

Melanie abriu a boca, mas fechou. Eu imaginei que ela estava vivendo um dilema, mas que não se atreveria a ir contra a decisão de Miguel. Sinceramente, se eu estivesse no lugar dela, também não o faria.

...

Eu não podia contrariá-lo, mas mesmo assim, meu coração estava em pedaços. Meus lábios ainda formigavam por Lucius de um jeito único. Nunca fui tocada por um homem, anjo ou mortal. Bom, não que Lucius se enquadrasse em qualquer dessas categorias, mas o beijo que ele me deu me fez sentir e desejar coisas que jamais sonhei que poderia.

Eu estava confusa, com medo, e estava completamente arrependida por ter escolhido cair. Aqui não era o meu lugar, eu não podia fazer nada para ajudar aos humanos, pelo contrário, eu só estava atrapalhando cada vez mais.

Harper se juntou a Jules na janela e o padre nos deixou a vontade. Eu permaneci olhando para baixo, com vergonha de mim mesma.

Então senti Miguel se aproximar. Eu precisava fazer com que eles me deixassem, não podia ser um empecilho.

- Senhor, eu... eu gostaria de pedir pra que me deixassem.

Fiz silêncio, não sabia qual seria a reação dele. Como Miguel não disse nada, continuei:

- Eu não me importo o que Lucius vai fazer comigo, eu vim até pra ajudar aos humanos e não para atrapalhar sua missão. Sei que não sou guerreira e que foi bem estúpido descer, mas se esse é o meu destino, então eu o aceito de bom grado. Mas eu peço, por favor, senhor, não desvie de seu caminho, não deixe de salvá-los.

Ele não disse nada mais uma vez. Meu coração começou a acelerar pela apreensão. Então eu senti sua mão em meu queixo e meu coração bateu tão rápido que pensei que fosse explodir. O toque gentil e suave era tão diferente do de Lucius... foi o segundo toque masculino que recebi na vida.

Ele me fez olhar para cima e encará-lo. Estava diferente. Não havia mais o cabelo longo e brilhoso como vi no Paraíso. Estava curto, quase raspado, mas ainda era belo. Os traços largos, queixo quadrado e nariz reto. A boca fina formava uma linha rosada.

Encarei seus olhos cor de mel. Eram tão dourados que me lembravam suas asas fabulosas. Por um instante, me perdi naquela cor, em seus olhos gentis. Miguel era o guerreiro mais poderoso dos Céus, capaz de exterminar dezenas de demônios sozinho, mas, ao mesmo tempo, era o mais gentil e nobre anjo que já conheci.

Tudo foi rápido, mas pra mim, durou o suficiente. Ele então disse:

- Eu senti desde a primeira vez que vi você, em Abyssi. Senti que você era diferente. Foi por isso que tentei impedi-la de descer. – ele me olhava com intensidade e sua mão, infelizmente, deixou de tocar meu queixo – Eu não vou deixar ele tocar em você.

- Mas, o senhor precisa lutar, não pode ficar comigo tempo inteiro! Eu não sou prioridade.

Minhas palavras atrevidas saíram antes que eu pudesse pensar e ruborizei. Na Terra, eu não conseguia controlar direito minhas ações. Miguel sorriu e mais uma vez eu me perdi em sua beleza.

- Então lutamos juntos. – ele disse.

Sorri e meu coração voltou a acelerar. Aquelas palavras, de alguma forma, eram exatamente o que eu estava esperando ouvir. Eu senti euforia, felicidade. O general dos exércitos do Pai estava ao meu lado e eu senti, pela primeira vez desde quando cheguei, esperança.


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Notas finais do capítulo

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