Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 46
Capítulo 45 - A arma mais poderosa


Notas iniciais do capítulo

Gente, esse cap tah grande, hein, e cheio de surpresas!! O desfecho de Signatum chegou...
Mto mto feliz, agora com SETE recomendações!!!!!!!
Ana, te dedico este capítulo como gratidão pelas belas palavras!! Obrigada a vc e atdos que me deixam seus reviews e que a tanto tempo me acompanham!!!
Divirtam-se!



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Parti como um raio na direção de Lucius. Eu sabia que não podia mata-lo, sabia que por mais que o esquartejasse, ele retornaria e ainda assim teria o poder sobre Melanie. Eu sabia também que não adiantava nada daquilo, que o destino dela estava traçado porque ela escolheu assim. Mas eu me recusava a aceitar aquilo, meu coração doía tanto no peito que mal me deixava respirar.
Com a Gladius em punho, avancei o mais rápido que pude. Senti a movimentação de meus irmãos atrás de mim, tentando me impedir de alcançar Lucius, mas nenhum deles seria capaz de me parar, nem se os três tentassem ao mesmo tempo.
Vi um sorriso nos lábios de Lucius, que permaneceu imóvel. Sua atitude acionou todos os alertas de perigo em mim. Havia algo errado com aquela reação tão passiva, mas eu não me importei. No auge da minha raiva, eu só queria alcança-lo. Então aconteceu.
Senti uma parede invisível de poder me atingir e foi tão forte que me desnorteou. O baque me deixou tonto e a espada sagrada caiu das minhas mãos, atingindo o solo com um barulho seco. Lucius estava a centímetros de mim, mas por mais que eu estendesse os braços, não podia tocá-lo. Havia algo me prendendo. Uma armadilha.
Olhei para baixo e vi que pisava sobre o sangue puro de Melanie, sobre os riscos do portal sagrado. O lacre, de alguma forma estava me mantendo preso ao chão.
- Miguel! – ouvi Melanie gritar. Ela correu em minha direção, mas pouco antes de me alcançar, Lucius a segurou, num abraço por trás. Ela ainda esticou os braços e se debateu, mas ele tinha uma força muito superior a dela, ainda mais depois que ela perdeu a imortalidade.
A cena serviu para atiçar ainda mais a minha fúria e com golpes a punhos, eu tentava quebrar a barreira invisível que me mantinha preso ao selo. Era como se eu estivesse em um tubo transparente, preso entre paredes invisíveis.
Ouvi um grito agudo e o vento mudou de direção. Lúcifer estava flutuando alguns metros do chão com suas asas e braços abertos. Sua aura negra tremulava em volta do corpo perfeito. Os olhos tornaram-se negros como a noite mais invernal. Sua boca mexia e soltava uma profusão de palavras antigas, mas eu estava tão transtornado que não as compreendia.
De relance vi que o grito de horror veio de Lilith, que estava desacordada nos braços do desesperado Uriel. Rafael e Gabriel estavam a meio caminho de mim, mas parecia que algo também os mantinha presos ao chão. Eles tentavam desesperadamente lutar contra o que os prendia, cortando o ar com as Gladius sagradas, mas os fios invisíveis de Lúcifer eram muito poderosos. Logo foi a vez de Uriel também ser imobilizado.
Lúcifer estava orquestrando a prisão dos meus irmãos, totalmente compenetrado, e eu estava preso dentro daquele selo, tentando desesperadamente sair para tirar Melanie de perto de Lucius e ajudar os Arcanjos. A minha frente, Lucius ria enquanto sacudia e puxava os cabelos da minha Melanie, que não parava de me encarar assustada. Eu sabia que ela era forte, mas vendo que seu destino iria se consumar, o desespero a dominou.
Com um urro, comecei a socar a parede invisível que me cercava e me separava dela. Usei minha força máxima para tentar me libertar e via meu próprio sangue se misturar ao de Melanie no chão. O máximo que eu conseguia era fazer a parede invisível trincar, mas logo as rachaduras, que só eram possíveis de serem vistas por causa do sangue que me escorria das mãos, desapareciam.
- É inútil, Miguel! Melanie é minha e não há nada o que você possa fazer! Ela irá me servir por toda a eternidade e você vai sobreviver com o remorso, a culpa e a fraqueza por quanto tempo sua imortalidade permitir.
A voz do demônio era estridente e repleta de satisfação. Ele então desferiu um tapa em Melanie e a sacudiu em seus braços, puxando seu frágil corpo pra si e lambendo a ferida que Semjaza fez em seu pescoço.
- AAAHHHHHH!!!!!!! - eu berrei de ódio.
Nunca, jamais em toda minha existência fui capaz de sentir algo como aquilo. Era dominador, alucinante, destruidor. Eu seria capaz de qualquer coisa para acabar com Lucius naquele momento, eu enxergava seu rosto maldito através do rubro em meus olhos, repletos de raiva.
Nesse instante, aquele foi o único sentimento que me dominou, eu esqueci até mesmo da presença de Melanie, de minha amada. Raiva era tudo o que eu sentia.
Como uma queimação de dor inigualável, senti algo em meu peito que ardia como brasa. O suor escorria por meu corpo e a loucura daquela dor se tornou insana. Com um movimento desesperado, sem entender o que acontecia, arranquei a blusa que me cobria o peito e vi que havia uma marca pequena sobre o lado esquerdo. Uma marca que não estava ali antes e que tinha acabado de ser feita em minha carne.
Com dificuldade, eu decifrei as linhas perfeitamente talhadas em meu peito. Eram letras que formavam a palavra IRA (ira).
Lucius sorriu ainda mais abertamente e me encarou nos olhos. Eu ainda era capaz de sentir o ódio genuíno correndo nas veias.
- Isso o que sente, meu caro Miguel, é a Ira. O primeiro passo para a vitória verdadeira.
- O que é isso? O que está acontecendo? – Melanie perguntou desesperada, me encarando de um jeito diferente. Ela parecia que tinha... medo de mim.
- Miguel? – ela perguntou me encarando. Eu não conseguia pensar direito, não conseguia lembrar direito de nada, nem do que eu estava fazendo ali, nem do motivo. Eu sabia que aquela mulher me era importante, mas a raiva estava bloqueando tudo mais a minha volta e aquela dor no peito só piorava as coisas. Tudo o que eu queria, a única coisa que eu queria, era mata-lo.
- Lembra, Miguel, de quando você nos encontrou naquele quarto de hotel? Lembra de como eu a raptei bem no seu nariz e a levei comigo? Lembra do que viu quando nos encontrou? Lembre-se Arcanjo, lembre-se que quanto você me odeia. Lembre-se do quanto eu judiei de sua preciosa Melanie e saiba que nada, nada daquilo foi sequer o começo do que ela vai sentir!
Lucius gritava pra mim e suas palavras eram como feitiços. Tudo o que ele falava me vinha à mente, tudo. Todas as imagens daquele dia, de quando ele furou a nossa segurança e a levou da igreja, de como eu vendi meu próprio sangue celestial para encontra-los e da cena que vi quando cheguei. Aquilo só me revoltou ainda mais.
Eu lembrei de surgir no quarto de hotel e vê-lo possuir o corpo inerte de Melanie. Lembro que fiquei sem ação, totalmente desnorteado. Eu senti raiva de Lucius, mas não tinha sido apenas raiva. Agora eu percebia claramente, que bem no fundo de minha alma, eu também o tinha invejado. Eu o invejei por tê-la com ela, desconsiderando a forma violenta como ele tinha feito.
Minha mente voltou no tempo, no ponto do reencontro que tive com Melanie logo após seu retorno do Submundo, ainda em Dudael. Quando vi em seu dedo a aliança, símbolo de sua subserviência a Lucius, eu senti mais uma vez aquele sentimento, aquela inveja do poder dele sobre ela. Era óbvio que eu jamais agiria como ele, mas, naqueles momentos, por mais rápido ou profundo que fosse, eu o invejei, mesmo sem saber.
Agora, entretanto, sob a ótica da raiva, da ira, eu podia ver e sentir claramente o que senti naquele tempo e pude sentir mais uma vez, de uma forma ampliada e muito mais avassaladora. Ao encará-lo novamente, ele sorriu, enquanto apertava o corpo dela ao seu e inalava o perfume inigualável de seu cabelo. Ali, eu senti mais uma vez a vontade de estar em seu lugar.
- AAAAAHHHHHH!!!! – o grito de dor saiu de mim novamente. A queimação no peito tinha voltado.
Quando olhei pra baixo, minha carne ainda soltava a fumaça de outra gravação à fogo na pele. Abaixo da palavra IRA (ira), havia mais uma: INVIDIA (inveja).
- Miguel?!! Miguel?!!
Eu ouvia a voz dela me chamar, mas a dor era grande demais. Aquilo me dominava por completo, me fazia esquecer de quem eu era, de quem eu deveria ser.
- EU... VOU... MATAR... VOCÊ. – as palavras saíram da minha boca com o ódio escorrendo. Era uma voz fria e impiedosa, como eu nunca havia ouvido, muito menos de mim. Eu estava irreconhecível até mesmo para meus próprios olhos e ouvidos.
- Vai? – Lucius me provocava – Tem certeza, Miguel? Pois saiba que se me matar, vai perder muito mais. Minha morte, você bem sabe, é temporária, mas ao fazer isso, você estaria condenando-a para sempre. A alma dela está ligada a minha agora e me matar significa condená-la junto comigo! Você pode fazer isso, Miguel? Pode?
Eu me debatia enlouquecido, precisava sair dali, eu tinha que tirar Melanie dele a qualquer custo. Tinha de haver um outro jeito. Bati mais uma vez contra a parede invisível que me mantinha no lugar. Desferi uma sequencia de golpes que não surtiam efeito algum além de me arrancar mais sangue das mãos.
- Você seria capaz de condenar a mulher que ama, Miguel? – a voz de Lucius soou mais baixa e cadenciada, era hipnotizante – Lembra de Duadael? Lembra do que fizeram por lá?
Ele imobilizou o corpo dela que chorava. Eu sabia que ela não chorava por ela mesma, mas por mim, e isso, de alguma forma, me atingiu. Como um golpe, eu vi o filme passando em minha mente novamente. Vi seu corpo nu sob minhas mãos, vi de uma nova forma a noite em que a tive em meus braços, no deserto.
Ela estava tão linda, tão perfeita. Ela era perfeita.
Fechei os olhos para sentir seus lábios e seu toque que era fogo em minha pele. Eu não entendia como aquilo era possível, pois eu não apenas estava relembrando o momento, era como se o estivesse vivendo novamente. Apertei as mãos, fechando os punhos, tentando manter o foco. Eu sabia que era apenas mais um truque de Lucius e Lúcifer para que poder cair em tentação, mas não pude evitar. Era mais forte do que eu.
“Então eu a puxei mais contra mim e senti seu corpo frágil e quente se moldar ao meu e aquilo foi como fogo em minha pele. Pressionei sua nuca mais uma vez, dessa vez embolando de leve seus cabelos em meus dedos e ela cravou as unhas em meus bíceps. Minha boca urgente desceu por seu pescoço, mordendo, beijando, provando cada milímetro dela... era desesperador como a desejava.”
- AAAAHHHHHH!!!! – Senti mais uma vez, voltando de meu devaneio. A dor de uma nova palavra cravada em minha pele duelava com o meu desejo ainda estampado.
As lembranças vívidas que tive ainda tinham um efeito descomunal sobre mim. Eu não queria que parasse, queria para na lembrança daquele momento para sempre. Queria que tudo o mais sumisse e que aquela cena e sensação e repetissem por toda a eternidade em mim. Sempre. Pra sempre.
- DROGAAA!!! - outra dor aguda me atingiu e vi outra duas palavras formadas em meu peito.
Respirando com dificuldade, tentei focalizar melhor as letras e vi as duas novas marcas: LUXURIAE (luxúria) e GULA (gula). O suor pingava de minha testa e meus músculos tremiam diante da tensão. Eu estava tentando controlar, mas tudo aquilo rodava junto em meu peito. Eu estava sentindo tudo junto em uma proporção incrível. Meu peito doía, minha cabeça girava. O ar era lava em meus pulmões. Eu não resistira por muito mais, mas tinha que tentar. Eu precisava salvá-la, precisava mata-lo, precisava tê-la.
- Esse é o mais difícil de resistir, não é, Miguel? A luxúria... a carne sempre vence, não importa o quanto você pense que está preparado para resistir, você nunca é forte o suficiente... não quando se está realmente envolvido. Uriel e você descobriram isso. E a gula? Por você querer sempre mais e mais de Melanie, nunca parece o suficiente pra você, não é? É um vício, uma necessidade, um pecado... é um pecado capital querer algo para sempre, sem limites.
- O que você quer? O que você está fazendo? – Melanie gritou, virando o rosto ferido pelo tapa na direção do demônio.
- Ora, você não vê? Estou te mostrando que seu Arcanjo não é tão perfeito quanto você imaginava. Ele sangre, ele sente, ele peca. – a voz dele continha o tom mais amargo... o da verdade.
- Miguel, por favor, olha pra mim! Miguel! – ela gritava desesperada, tentando se livrar do aperto de Lucius, mas eu era apenas uma sombra do que já fui.
Sacudindo a cabeça, tentei me livrar de toda aquela bagunça de sentimentos. Eu era o General dos Exércitos Celestiais, jamais tinha perdido uma batalha na vida. Justo essa, que era a mais importante pra mim, onde a coisa mais valiosa estava em jogo, eu não poderia, eu não iria perder, porque eu era o melhor de todos.
Reunindo todas as forças que eu tinha, dei um impulso para cima. Eu iria me livrar daquela prisão maldita a qualquer custo. Mas pela primeira vez em minha vida, eu não consegui voar. Era como se meu corpo estivesse pesado demais.
- Esse é o peso de seus pecados, Arcanjo. – a voz grave e teatral de Lucius ressoou em meus ouvidos.
Movido pelo desespero, ainda tentei alcançar minha fiel espada que jazia no chão próximo aos meus pés. Com ela venci batalhas históricas, elevei meu nome acima de qualquer outro guerreiro. Ela me libertaria, me levaria à vitória. Entretanto, no momento em que eu a toquei, ela voou para longe. Senti uma corrente elétrica percorrer meu braço. Pela primeira vez, a Gladius não me respondeu mais.
Lucius meneava a cabeça, como se estivesse me reprovando.
- Ora, Miguel, seu coração não é puro o bastante. Aquele metal é sagrado, esqueceu? E por achar que poderia escapar apenas por ser o melhor de todos e depositar todas as suas esperanças em uma simples espada, esquecendo-se do Criador, você ganha outra recompensa.
Dizendo isso, senti mais uma vez a queimação no peito e as palavras VANITAS (vaidade) e AVARITIA (avareza) surgiram abaixo das outras.
Eu tinha seis marcas. Seis pecados capitais marcados em minha carne. Tudo era tão intenso, tão rápido. Eu não conseguia lidar com tantos sentimentos, com tanta raiva, com tanta coisa ao mesmo tempo. Essa batalha estava perdida. Pela primeira vez, desde que o Criador nos criou, eu perdi.
Eu sabia que faltava um, apenas um pecado pra mim e, no fundo, sabia que iria cometê-lo. Eu já não tinha forças para lutar. Cansado e ferido, deixei o peso do corpo vencer, o peso da derrota e de meus pecados me levou ao chão.
Ajoelhei-me diante de Lucius, que dominava Melanie; ajoelhei-me diante da vergonha e da humilhação da derrota.
Nesse instante, outra queimação no peito. Soltei um grunhido involuntário causado pela dor. Eu não precisava olhar para baixo para ler a palavra que representava a minha desistência, a minha entrega e derrota. PRIGRITIA (preguiça).
Encarei Melanie mais uma vez. Eu sabia que ela não podia compreender a essência de tudo isso, pois algo muito maior iria acontecer, e apenas eu era o culpado. Eu encarei seus olhos claros e cintilantes que eu tanto amava. Eu queria poder abraça-la, queria poder pedir desculpas por tudo isso.
Eu a amava demais. Seria capaz de dar minha vida, minha alma por ela, mas já era tarde. Já era tarde porque eu tinha pecado.
Pela primeira vez, senti algo morno escorrer de meus próprios olhos e descer pelo rosto. Era a gota que faltava.
A lágrima cristalina atingiu o solo marcado e manchado com meu sangue e com o dela. Uma luz intensa emanou do chão. Lucius sorriu com a vitória. Era isso, o tempo todo foi isso. Melanie era a chave... eu, fui apenas o meio de abrir a verdadeira porta. Eu via claramente agora. Provavelmente o plano inicial não fosse esse, mas depois que eles perceberam meus sentimentos por ela, provavelmente até mesmo antes que eu os percebesse, o plano de Lúcifer e Lucius foi traçado e eu acabei por executá-lo.
Lúcifer sabia, é claro, ele estava lá quando nosso Pai nos disse:
“Apenas quando o puro se tornar impuro e quando ele deixar cair o arrependimento sobre a Terra, somente assim, poderão chegar às páginas sagradas.”
Minha lágrima foi a chave final para que Lúcifer pudesse ter a maior arma de todas e ela flutuava bem acima de nós naquele exato momento. Era dela que partia a luz que cegava, a luz que aquecia. Eu não precisava olhar, tudo o que eu queria era poder pedir perdão. Sob o olhar de todos os espectadores, o Livro da Vida esperava para ser aberto e a partir dali, nada mais estaria nas mãos do Criador.


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Notas finais do capítulo

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