Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 47
Capítulo 46 - Futuro inevitável


Notas iniciais do capítulo

Oi Gente!
Bom, depois de duas longas semanas volto a atualizar Signatum. Essa demora se deu devido ao meu trabalho. Estou mudando de laboratório e essa coisa é como mudar de escola ou se de bairro. Foram seis anos nomesmo lugar, com as mesma pessoas..agora tudo é novo e diferente... tenho que conviver com pessoas q não conheço e me adaptar rápido a uma rotina defirente. Enfim, estou gostando, mas não tive muito ânimo para escrever, confesso. Bom, espero que gostem do penúltimo capítulo de Signatum e agradeço demais a quem me acompanhou att aqui!! Desculpem pela demora, masi uma vez...
Boa leitura!!



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Eu não podia suportar. Ver Miguel sendo torturado daquele jeito doía demais em mim, mas por mais que eu tentasse, não conseguia me libertar do aperto de Lucius. Eu era como uma criança, lutando contra um gigante. Mas eu não desistiria. Cada marca que aparecia no peito do meu Arcanjo vinha com um urro de dor e eu precisava amenizá-la, mesmo que aquele Miguel raivoso e alucinado fosse bem diferente do que estava habituada. Apesar de tudo, eu sempre estaria ao seu lado, sempre que pudesse.

Então eu vi algo nos olhos dele que jamais pensaria em ver. O brilho dourado que sempre foi tão apaixonante e quente, se apagou. Seus olhos verdes naturais, antes tão lindos, já não mostravam a beleza de sua alma, estavam opacos e sem vida. Naquele momento eu vi a sua entrega, naquela hora ele se rendeu.

Então, juntamente com a sétima marca em seu peito, uma luz surgiu acima dele, uma luz intensa e quente que forçou a todos nós a protegermos os olhos com as mãos. Assim que pude reabri-los, senti o aperto de Lucius se afrouxar e os olhos de todos estavam fixos no objeto que surgiu daquela luz divina. Era uma espécie de livro enorme e brilhava como ouro.

Imediatamente eu corri, livrando-me de Lucius que pareceu não se importar comigo. Ele e Lúcifer estavam vidrados demais naquele objeto. Os Arcanjos, estavam travados, presos pelos fios invisíveis e poderosos do Arcanjo Negro, mas estavam igualmente boquiabertos.

Nada daquilo me importava, só o que havia em minha mente e coração era Miguel. Seu belo corpo estava sujo de sangue e suor. O peito trazia as marcas na língua antiga e os olhos encaravam o chão. Era a imagem de um Miguel derrotado, vencido, não pelo seu inimigo, mas por si próprio.

Entrei no círculo que o aprisionava e agachei ao seu lado devagar, temendo assustá-lo. Com a mão acariciei seu cabelo, antes quase inexistente, mas que já começava a crescer. Ele fez cócegas em minha mão.

- Miguel...

Ele tremeu de leve com meu toque, mas não se virou pra mim.

- Miguel eu estou aqui.

- Melanie... – sua voz embargada era quase inaudível – me perdoe.

- Mas perdoá-lo por quê?

Ele levantou a cabeça, mas continuou sem me encarar diretamente.

- Porque eu pequei.

Quando ouvi suas palavras, meus olhos recaíram sobre as marcas em seu peito. Era dizeres. Eram os sete pecados capitais cravados em seu peito.

- Eu falhei, permiti que Lúcifer tivesse aquilo que sempre quis, a única coisa que pode torna-lo Senhor Eterno, o Livro da Vida, e agora... agora estamos todos condenados.

- O Livro... da Vida? – perguntei quase sem forças. Eu não sabia exatamente o que aquilo significava, mas eu sabia que não podia ser nada de bom.

...

Jules apertou minha mão e seu gesto me comoveu, mesmo com tudo o que estava acontecendo. Era como se eu e ele quiséssemos dizer tudo o que não dissemos, como se quiséssemos poder fazer tudo o que não fizemos.

Ele murmurou algo quando aquela luz forte surgiu e fez aparecer uma espécie de livro enorme e dourado. Eu devia estar ficando louca, mas jurava que ele tinha dito ‘O Livro da Vida’. Eu apenas senti seu aperto firme e nossos dedos se entrelaçaram. De alguma forma eu senti que aquilo não deveria estar acontecendo. Embora a energia daquele objeto mítico fosse imensurável e pacífica, eu sabia que ele não devia estar ali. Talvez, apenas talvez, os Arcanjos tivessem perdido a batalha.

Então, Lúcifer soltou uma gargalhada macabra e eu vi algo que jamais pensei que veria: nos olhos dele havia felicidade.

Não era felicidade do jeito como a conhecemos, do jeito que eu me senti quando beijei Jules, por exemplo; era diferente, era mais como uma realização, algo que ele queria mais que tudo no mundo... e tinha acabado de conseguir.

- Finalmente! – ele disse com os olhos ainda vidrados no livro que já não brilhava tanto e estava inexplicavelmente parado no ar, flutuando, como se estivesse sobre uma mesa invisível.

Lucius aproximou-se do pai e se pôs a observar o Livro Sagrado. Todos pareciam perplexos, inclusive os Arcanjos, que não lutavam mais para se libertar das garras invisíveis do Mal. Apenas Melanie e Miguel estavam à parte de tudo. Senti um nó na garganta ao encará-los. Ele estava ajoelhado no chão ensanguentado, as costas curvas, a cabeça baixa, numa posição de derrota como eu jamais pensei que Miguel pudesse assumir. Ele estava de costas para os outros, como se já soubesse o que viria a seguir e não quisesse olhar.

Melanie estava ajoelhada ao seu lado. Para ela, não havia mais ninguém ali, era como se todo o resto do mundo não importasse. Ela acariciou o rosto do Arcanjo e o tomou nos braços. Ela dizia algo que eu não entendia pela distância em que estava, mas eu vi muitas coisas misturadas em seu olhar meigo. Havia culpa, amor, e algo que eu não saberia dizer. Era como se ela quisesse sugar pra si tudo o que Miguel estava sentindo e livrá-lo daquele sentimento ruim. Foi com muito esforço que eu percebi que algo fluía dele pra ela. Era como uma aura escura, uma fumaça leve quase imperceptível, que saía dele e ía pra ela. Ela o estava curando, estava reparando sua alma ferida.

Melanie não era mais um ser celestial, mas ainda era uma sensitiva alfa e eu sabia que era pura o suficiente pra isso. Ela o estava libertando.

Mas antes que eu pudesse dizer algo ou fazer qualquer coisa, ouvi a voz de Gabriel ao longe, como sempre, debochado.

- Dá pra você fazer alguma coisa logo, eu estou entediado.

Suas palavras foram para Lúcifer, que desviou o olhar apenas um pouco para o outro. Sorrindo de um jeito estranho, o Demônio respondeu.

- Está com pressa para morrer, Gabriel?

- Você sempre foi tão dramático, Lúcifer.

O Demônio riu.

- E você sempre tão sarcástico. Não adianta tentar disfarçar o seu temor, meu caro, tão pouco tentar adiar o inevitável.

- Você não pode usar o Livro, não tem o direito de escrever nele.

A voz de Rafael cortou o ar. Era sóbrio e preocupado, porém seguro.

Lúcifer mudou de foco para responde-lo.

- Você está certíssimo, Rafael, como sempre... mas você não reparou em um pequeno detalhe... existe alguém, entre nós, que pode mudar a história.

Assim que terminou a frase, o belo e perfeito corpo de Lúcifer se virou e lentamente seu olhar encontrou o meu.

Meu coração parou. A frieza de seu olhar maligno apenas não me congelou por completo porque a mão quente de Jules ainda segurava a minha.

Com um movimento rápido, Lúcifer esticou um dos braços em minha direção e posicionou a mão como se estivesse segurando um copo invisível. Imediatamente meu corpo começou a ser sugado para frente, para longe de Jules e para perto dele.

- HARPER!

Jules tentou me puxar para o lado oposto, mas foi como se uma corrente elétrica percorresse seu corpo. Ele gritou e foi arremessado a muitos metros de distância. No íntimo, pedi para que estivesse bem.

Mesmo me debatendo, aquela força invisível continuou a me arrastar até que eu estava cara a cara com Lúcifer.

Os Arcanjos tentaram se soltar e eu podia ouvir de longe eles gritando meu nome e até o barulho característico de suas Gladius cortando o ar, mas meus olhos estavam fixos, presos no oceano negro e profundo que me mantinha atada.

- Minha jovem... não sabe o quanto estou feliz com sua oportuna presença. Você entrará para a história, minha querida, será quem terá a honra de mudar tudo.

Oh, Céus, eu não devia estar ali, não mesmo. Por um instante eu me arrependi amargamente por ser tão teimosa. Se eu tivesse escutado Jules, não estaria ali. Era isso, eu sentia tudo, sabia que ele precisava de mim... mas eu já estava fodida mesmo, jamais seria capaz de entregar a ele a vitória, nem que pra isso, eu tivesse que morrer.

Saindo do transe em que seus olhos me puseram, voltei à realidade. Com a voz mais tranquila e firme que consegui, fui capaz de responder:

- Pensei que o maior de todos os demônios fosse mais esperto... acha mesmo que vou fazer o que você me mandar?

Lúcifer abriu um sorriso belo, tão belo quanto a seda que cobria seu corpo perfeito.

- Harper – sua voz doce soou em meus ouvidos – você foi a escolhida para esta noite. Eu vejo em você tanta coisa boa. Vejo determinação, coragem e um forte sentimento de amizade e companheirismo. Você foi a escolha perfeita para este momento. O livro será escrito com o sangue de uma humana de valor.

- Não vou escrever nada em livro algum.

Lúcifer respirou fundo e voltou a falar, ainda com a voz aveludada.

- Mas quem disse que você tem alguma escolha?

Diante de meu silêncio, o demônio continuou.

- Eu vejo tudo em você. É uma sensitiva beta, que enfrentou muitos desafios. Batalhou muito em sua breve vida, sempre se sentindo diferente, excluída. Como passar do tempo você perdeu a fé no Divino, perdeu a fé nos outros, perdeu a fé nos homens. Sua descrença chegou a tal ponto de você não querer ser enquadrada como humana, o que é bastante irônico, na verdade, principalmente levando em conta o seu papel nisso tudo.

“Então algo mudou em você. Não foi por ter lutado contra demônios ou possuídos, nem mesmo por ter encontrado e convivido entre os mais altos seres Celestiais. Foi outro motivo, um que você mesma não havia descoberto, nem ao menos percebido, mas que estava lá, dentro de você esse tempo todo. O motivo que nos levou a tudo isso, a razão pela qual todos estamos aqui hoje.”

- Ah, é? E eu posso saber que motivo tão importante é esse? Porque eu não vejo absolutamente nada que me faria mudar de idéia.

- Não? Tem certeza? – ele questionou agora com maldade no olhar.

Como eu não me movi ou respondi, ele apenas esticou o braço, o mesmo que me fez ser atraída para sua presença. Ele esticou o membro na direção oposta a minha, bem na direção... que Jules havia caído. No instante seguinte, o corpo esbelto e forte de Jules flutuava em minha direção, em câmera lenta, com os braços pendurados e o longo cabelo esvoaçando devido ao vento forte.

Meu coração vacilou por um momento, mas não deixei transparecer nada do que sentia. Eu não podia ceder a ele, não podia fazer o que ele queria, seja lá o que fosse. Eu sabia que Jules entenderia, sabia que, acima de todos, ele me ordenaria isso. Mas aquele incômodo, aquele formigamento dentro de mim, era grande demais. Era como se Lúcifer tivesse nas mãos o meu corpo, ao invés do de Jules, era como se fosse a minha própria vida.

- Sabe, Harper, eu nunca gostei de métodos brutos e agressivos. Sempre julguei que a força física é simplesmente um modo que os infelizes encontram para se sentirem superiores. O verdadeiro poder está na mente, na inteligência com que você move as peças sobre o tabuleiro. Veja, é muito fácil fazer nações inteiras guerrearem entre si, ou duas pessoas chegarem ao extremo de se matar uma a outra e tudo isso é possível sem que seja necessário movermos um único músculo, basta pensarmos.

- E o que você vai fazer, arrancar as asas dele? Matá-lo? Fazer com que eu o mate de uma vez? Eu já disse, não há nada que você possa fazer que vá me obrigar a escrever naquele livro, nem mesmo que você o torture, nem mesmo assim, porque eu sei que ele preferiria a morte a se sentir culpado por isso.

Minhas palavras simplesmente saíam de mim. Eu estava nervosa, pra dizer a verdade, desesperada. Minha mente imaginava inúmeras possibilidades de tortura, coisas horríveis que Lúcifer poderia fazer a Jules e eu sabia que não aguentaria vê-lo sofrer, mas eu precisava tentar, precisava tentar convencê-lo de que Jules não era importante pra mim...

Lúcifer gargalhou.

- Eu não pretendo matar o guerreiro, Harper... mas você aguentaria viver com o fardo de ter condenado a alma dele pra sempre?

- Como assim? Do que você está falando?

- Você sabe como um demônio surge, Harper? Sabe de que é feita a legião de guerreiros do Submundo? De Anjos...

Minha cabeça explodiu. Ele não podia estar falando a verdade, não podia. Como... Lúcifer estava ameaçando Jules a se tornar... um demônio?

- Isso é impossível! Jules jamais cederia a você! – berrei, perdendo resto do controle que tinha.

- Veja...

Então Jules berrou e seu corpo se contorceu no ar em uma posição humanamente impossível. Era terrível. Seu grito de horror era tão assustador e angustiante, que soltei um grito e tapei os ouvidos, em vão. Da boca de Jules saiam palavras estranhas, repletas em agonia e ele chorava. Suas lágrimas escorriam pelo canto dos olhos cerrados e se perdiam no chão.

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

- Eu estou mostrando a ele o futuro... seu futuro. – ele respondeu – O amor é como uma venda... ele bloqueia todo o raciocínio lógico que você tem, tudo é amplificado e distorcido. Ele sofre ao ver seu futuro de condenação e na mente dele, aquilo que vê é real. Não dou mais que cinco minutos para ele enlouquecer e querer me vender a alma para te salvar... Quando um anjo perde a fé, ele cai Harper...

Eu estava paralisada, estática, vendo a agonia terrível de Jules, vendo os Arcanjos tentarem em vão se libertar, vendo que tudo estava perdido... eu não podia... vê-lo morto era uma coisa... eu sabia que, pelo menos, sua alma ou sei lá o que, voltaria pra casa, pro Paraiso de onde veio... mas isso... o sentimento dele por mim o condenaria, ele seria um escravo eterno de Lúcifer, um renegado, condenado, banido... tudo por minha culpa... esse fardo era pesado demais, esse peso eu não suportaria carregar.

- Pare... por favor, pare. – pedi, derrotada.

- Dê-me sua palavra de que escreverá com seu sangue no livro sagrado e terá a minha palavra de que Jules será poupado desse destino.

Eu não suportava mais ouvir os gritos de desespero de Jules, eu estava perdida, mas minha decisão já havia sido tomada.

- Tem minha palavra.

No instante seguinte, o corpo do guerreiro caiu no chão, fazendo um barulho seco e o silêncio caiu entre nós. Lúcifer me olhou nos olhos com excitação... era o sabor da vitória que ele apreciava com tanto gosto. Num gesto lento, Lúcifer estendeu a mão para mim e eu a segurei. Caminhando devagar passamos por Lucius, que assistia a tudo com deleite, e chegamos mais perto do objeto sagrado. Era enorme e dourado e brilhava de um jeito inexplicável.

O livro gigante começou a descer lentamente em nossa direção, bem na minha frente. Eu podia sentir todo o calor que emanava dele, era como tudo... como a energia máxima que movia a todos nós.

- Este é o Livro da Vida – Lúcifer falou com a voz extasiada enquanto admirava a obra – Aqui está escrito o destino de todos. O Criador depositou em suas páginas cada detalhe, cada momento, de todos os seres. Como o objeto maior de sua adoração, os homens são os únicos que podem alterar o que nele está escrito, se o indivíduo o fizer de livre e espontânea vontade. E você, minha cara, terá a honra de escrever nele a minha vitória absoluta sobre tudo e sobre todos.


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Notas finais do capítulo

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