Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 39
Capítulo 38 - Campo de batalhas


Notas iniciais do capítulo

Pessoas queridas - fantasmas ou não... - como prometido, posto o segundo cap da semana!
Gostaria de dedicar este capítulo à leitora Juliabertelli, que me deleitou com suas palavras em uma bela recomendação.
Obrigada, Julia!! Agora são 3 recomendações o/o/o/
#felizdemais
Boa Leitura!



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Pessoas corriam por todos os lados. Uma espécie de tempestade havia tomado conta de toda a região e, eu sabia, o mundo inteiro estava da mesma forma. O céu clareou, mas não estava bonito. Havia um tom avermelhado misturado ao negro da noite. A lua não era mais vista. As pessoas estavam chorando, correndo, gritando; todos, anjos ou não, estavam sentindo algo realmente ruim no ar. Estavam com medo, apavoradas e eu sabia o motivo.

- Vamos, temos que sair daqui! – Rafael gritou para todos nós enquanto colocava a mão livre sobre os olhos a fim de se proteger contra a rajada de vento e areia que açoitava a todos.

- Pra onde vamos? – Calabriel gritou para que Rafael o ouvisse, pois àquela altura, Gabriel e Rafael já disparavam muito a nossa frente.

Nenhum dos Arcanjos respondeu. Eles já haviam desaparecido no caos da cidade. Mas eu entendi Rafael e respondi a Calabriel e aos outros que corriam atrás de mim:

- Estamos indo para um lugar mais afastado... acho que eles estão tentando salvar o máximo de pessoas possíveis...

Minutos depois estávamos entrando em terreno restrito. Era um lugar imenso, repleto de torres de repetição, como uma subestação de energia. Graças a nossas habilidades celestiais, havíamos percorrido quilômetros em pouco tempo, até o lugar que seria o palco do desfecho final. Havia alguns containers onde ficavam as centrais computacionais e os funcionários durante o expediente, mas naquele momento, no meio da madrugada e do caos, me pareceu o lugar perfeito: dentro da cidade, mas longe das pessoas.

Rafael e Gabriel estavam lado a lado e suas expressões eram sérias. Eles aguardavam seus adversários, que chegariam mais cedo ou mais tarde. Mais que depressa, fiz uma rápida avaliação do campo de batalha. Era um local taticamente muito bom. Poderíamos nos dividir em grupos e nos esconder em postos estratégicos. Não éramos um contingente grande de guerreiros, mas o suficiente para causar um efeito surpresa de razoáveis proporções.

- Você pode tentar, guerreiro, mas sua estratégia não vai funcionar contra nossos adversários.

Olhei diretamente para Rafael, que, pela primeira vez, pareceu mais velho.

- Bom, mas é nosso dever tentar. – retruquei, ao mesmo tempo em que dividi os soldados em três equipes de quatro guerreiros, todos preparados e armados com as espadas celestiais.

Nesse momento, um barulho alto veio de trás de um dos containers. Vi duas luzes sacudirem em nossa direção e logo duas figuras saíram das sombras. Gabriel e Rafael permaneceram imóveis, com suas Gladius na mão, olhando para o alto. Os guerreiro, rapidamente apontaram as espadas na direção das figuras misteriosas que rapidamente percebemos serem apenas os vigias do lugar. Assim que avistaram nosso grupo, eles sacaram as armas e as apontaram pra nós, juntamente com suas possantes lanternas.

- Abaixem essas coisas! – um deles gritou, apontando sua ineficaz arma para todos nós – Quem são vocês? O que fazem aqui?

Nessa hora outra rajada de vento assolou a todos nós. Com dificuldade, os vigias mantiveram suas posições. O céu adquiriu um tom ainda mais avermelhado. Era quase como se houvessem derramado sangue nas nuvens.  A temperatura caiu vertiginosamente.

- Santa Mãe de Deus? O que está acontecendo?!

O vigia maior olhava para o céu e apontava a arma pra nós, incrédulo com o cenário a sua volta. O segundo tentava fazer seu rádio funcionar para chamar reforço. Estavam tremendo de medo.

- Quem são vocês? Já mandamos abaixarem as armas! Nós vamos abrir fogo!

Ambas as armas foram engatilhadas e eles estavam prontos para atirar em nós. Eu tomei fôlego para me dirigir aos pobres homens que nada estavam entendendo, mas Gabriel foi mais rápido que eu.

- É melhor vocês saírem, homens, quem sabe terão alguma chance de sobreviver.

Assim que proferiu as palavras, Gabriel materializou suas incríveis asas de Arcanjo. Elas eram maiores que ele e se dobravam quase alcançando o chão. Magníficas. Os vigias perderam a fala. As armas foram baixando lentamente e um deles deixou a lanterna cair.

- É melhor irem embora. – Rafael foi quem falou desta vem, também exibindo suas asas enormes. Seu tom foi gentil.

Os homens saíram tão depressa que pareciam celestiais. Os guerreiros se entreolharam e o silêncio foi quebrado por outra rajada impiedosa de vento e areia.

Com os grupos de guerreiros divididos, prossegui com o plano do ataque surpresa. Posicionei cada um dos grupos em um local diferente, e eles se camuflaram perfeitamente ao ambiente, como todo guerreiro treinado por Miguel, éramos especialistas no assunto. Eu os instruí a atacarem apenas ao meu comando. Assim que eles estavam posicionados, virei para os Arcanjos e disse:

- Vou me posicionar atrás de vocês, estaremos prontos para interferir assim que vocês precisem ou nos solicitem.

- Vocês vão morrer antes de terem tempo de dizer Amém, Jules.

A voz fria veio de Gabriel, que me olhou diretamente.

- Então que assim seja. – respondi logo antes de ir até meu posto e me camuflar na escuridão caótica.

...

Eu estava acordada quando senti. Exatamente às três da manhã, meu corpo desabou no chão com a força do impacto. Não foi o vento, não foram os objetos que voaram por todo o quarto do hotel e ricocheteavam nas paredes. Foi simplesmente o peso do Mal. Uma energia densa e poderosa que me atingiu como se fosse uma marreta e me fez cair. Meus pulmões se esvaziaram e meu corpo clamava por oxigênio. Procurei não entrar em pânico e estiquei a mão. Segurando no parapeito fiquei de pé, com dificuldade e fechei os olhos.

O vento forte fazia meus curtos cabelos esvoaçarem e senti uma ardência no rosto pelos grãos de terra e areia que voavam por todos os lados. Os gritos das pessoas ecoavam nos ouvidos. Alarmes de carros disparavam enlouquecidos nas ruas e as crianças choravam assustadas. Eu ainda procurava por ar.

“Concentre-se Harper, Respire! Respire!”

Eu dizia a mim mesma, procurando me tranquilizar, mas o ar parecia fugir de mim. Então a voz dele me veio como um bálsamo. Minha mente, nesse momento de desespero, recorreu a Jules. Ouvi sua voz controlada e firme como se ele próprio estivesse aqui, ao meu lado. Foi como na primeira vez que vi um demônio em sua forma natural. Eu senti um baque no estômago com a energia emanada pela criatura, nem de longe se parecia com esta sensação atual, mas ele estava comigo.

“Você precisa controlar seu corpo. Concentre sua energia em expandir seus pulmões, expulse a pressão que a força negativa faz contra seu corpo.”

As palavras dele, naquela época, me ajudaram em instantes, e não foi diferente agora. Aos poucos, fui reassumindo o controle e senti o ar sujo e frio, porém, desejado, entrar lentamente nos alvéolos e preencher o sistema respiratório. Respirei fundo repetidas vezes e ri sozinha em meio a situação.

- A porra do fim do mundo acontecendo e eu aqui morrendo sozinha asfixiada...  fala sério!

Apertei a fivela de minhas botas e olhei pra cima. Havia um grande espelho em uma das paredes que tinha sido parcialmente trincado quando o vaso de flores da mesinha voou e bateu em cheio no objeto. Naquele momento senti que poderia ser a última vez que eu via me reflexo no espelho. Eu sentia que o futuro estava pra ser decidido e que eu deveria estar lá. Então fechei a jaqueta preta que completava o look e corri para onde minha intuição de sensitiva beta mandou.

...

Eu ainda sentia nos dedos a textura da pedra. Miguel me olhava de um jeito diferente. Eu via que algo havia mudado nele, sabia que tinha encontrado seu irmão. Ele tinha um fogo nos olhos que eu nunca tinha visto. Era uma determinação sem limites, uma fé inabalável.

- Temos que ir. A hora chegou.

A voz veio de Uriel que tinha acabado de se juntar ao irmão. Então, ele também cairia em Abyssi para a batalha final. Eu encarei os dois e meu olhar se prendeu Uriel. Os olhos dourados do Arcanjo passearam pela pedra atrás de mim e o meu olhar caiu instintivamente até suas mãos. Uriel, num movimento involuntário, cerrou o punho esquerdo e quando nosso olhares se cruzaram novamente ele sabia que eu já tinha descoberto seu segredo.

- Melanie? Temos que ir agora. – Miguel falou me encarando com os olhos dourados e determinados, mas ainda assim, cheios de amor.

- É claro. – e disse, apressando-me para acompanhar aos Arcanjos.

Miguel segurou minha mão gentilmente e depois deslizou a outra por minha cintura, envolvendo-me completamente. Naquele ínfimo instante, senti o corpo esquentar ao seu toque, minha alma, queimava no dourado de seus olhos. Vi apenas um bater de suas impressionantes asas e depois, senti o deslocamento do universo a minha volta. Estávamos em movimento, voando em direção a Abyssi para nos juntarmos aos outros contra os príncipes do Submundo.


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Notas finais do capítulo

Reviews???
porfavorzinho??? rs