Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 34
Capítulo 33 - Um pedacinho do Céu


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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- Eu quero que você relaxe e ore com fé. – Miguel me disse assim que chegamos ao topo da enorme duna.

Eu acenei. Respirei fundo diversas vezes, de maneira ritmada, na tentativa de me acalmar. Os outros já haviam partido e os primeiros raios de sol já despontavam no horizonte. Estava tremendo, mas mesmo assim, fechei os olhos bem apertados e orei ao Pai. Pedi para que me perdoasse pelas falhas, pois tudo o que tinha feito, de certo ou de errado, tinha sido de coração; pedi forças para continuar e, principalmente, para aceitar meu destino ao lado de Lucius quando tudo isso terminasse; pedi para que me aceitasse, uma última vez em sua morada.

Jamais em minha existência eu soube de alguém que não fosse celestial andando no Paraíso. As essências de Rafael e Gabriel estavam se esvaindo, voltando lentamente para seus donos, mas Miguel havia me dado mais. Mais dele, mais de sue poder infinito de Arcanjo. Ele disse que a essência que me emprestava era suficiente para que eu pudesse acompanha-lo de volta a Abyssi e eu pedia ao Pai para que ele permitisse minha entrada mais uma vez.

Senti mais uma vez o calor e a força de Miguel pulsando em mim e era magnífico.

- Pronta? – ele perguntou de forma suave enquanto me rodeava com os braços fortes. Suas asas eram imponentes e impressionantes como as minhas jamais foram.

- Eu acho que sim. – respondi simplesmente, desviando o olhar de suas asas magníficas. De alguma forma, olhar para elas me causava dor.

- Eu sei que você está pensando que não há mais volta para seu destino, mas eu quero que saiba que eu jamais vou deixar isso acontecer.

Seus olhos novamente dourados brilhavam intensamente e me aqueciam de uma forma única. Era tão forte, que eu cheguei a sorrir.

- Como você espera que eu viva a eternidade sem ver esse sorriso em seus lábios de novo? – ele me perguntou, acariciando meu rosto.

Ruborizei. Ainda não conseguia acreditar que eu tinha seu amor de forma tão profunda e nem em como fui capaz de trair este sentimento cedendo a oferta de Lúcifer.

- Miguel, não quero que você se desvie do objetivo, da batalha, por favor. – supliquei – Minha promessa a Lucius deve ser cumprida e eu não me importo com isso, mas você precisa estar aqui com seus irmãos pra que ainda tenham alguma chance de vencer.

- Eu vou estar na batalha, como prometi, mas não posso deixar de tentar livrar você disso, Melanie, porque...

Ele parou de falar e seu olhar ficou triste e pesado.

Eu não queria ouvir. Não queria ouvi-lo se lamentar porque, se ele estava sentindo um décimo do que eu estava, então eu não suportaria ouvir. Lancei meus braços em tordo do pescoço de Miguel e apertei bem forte. Senti as lágrimas escorrerem quentes em meu rosto e o nó em minha garganta apertou ainda mais. Ele me abralou de volta com vontade e ficamos daquele jeito por muito tempo, até que minhas lágrimas secassem, até que nossas respirações estivessem no mesmo ritmo.

Imagens de nós dois na tenda beduína não paravam de rodar em minha cabeça. Era como se eu conseguisse sentir cada toque, cada beijo que Miguel me deu naquela noite e, de um jeito totalmente bom e estranho, era como se tudo tivesse mais intensificado agora que eu não era mais um anjo. De alguma forma inexplicável, ele se tornou pra mim, ainda mais incrível.

- Não vou perder você. – ele disse em meu ouvido, quebrando o silêncio confidente que havia entre nós.

Lentamente, ele se afastou, apenas o suficiente para olhar pra mim e beijar meus lábios da maneira mais apaixonada que já me beijou e quando dei por mim, meus pés já não tocavam a areia de Dudael.

...

Senti um cheiro familiar que era doce, salgado e fresco ao mesmo tempo e o reconheci imediatamente, era o aroma do Paraíso. Meu corpo estava leve e eu me sentia pura e limpa. Abri os olhos e vi Miguel parado a minha frente, me olhando.

- Deu certo! Eu não acredito! Estou... em casa...

Levei as mãos à boca, sem poder acreditar no que via. Era Abyssi, em seu lado celestial. Atrás de mim, o imenso vazio no qual eu pulei uma vez, e a minha frente a mão estendida do Arcanjo Guerreiro. Sorrindo, eu a segurei de bom grado.

- Foi aqui que nos conhecemos, pela primeira vez. – ele relembrou.

- É... pensei que me impediria de cair. – respondi, ajeitando o cabelo com a mão livre, pois ventava fracamente.

- Não podemos interferir no Livre Arbítrio, mesmo não concordando com algumas decisões. – ele falou começando a me guiar para longe do Abismo.

Andamos por alguns minutos e eu não conseguia para de sorrir, tamanha minha felicidade. Cada vez que eu imaginava que aquela seria a última vez que veria minha casa, eu jogava para longe essa angústia, pois queria aproveitar cada detalhe que pudesse absorver.

Abyssi era um lugar afastado dos outros e era realmente raro ver anjos rondando a sua volta, mas antes que chegássemos às zonas comuns, onde certamente encontraríamos muitos celestiais, Miguel parou e me encarou.

- Melanie, os Celestiais não vão ver você com bons olhos quando tivermos que atravessar as áreas comuns. Eu te peço, por favor, pra não parar de caminhar e pra não sair de perto de mim. Não vou empunhar minha Gladius porque não quero parecer hostil a nossos irmãos, principalmente porque entraremos em uma casta que não me pertence, mas terei de reagir caso algum deles tente enfrentar você.

- Os guerreiros não vão permitir minha presença aqui, Miguel, nem mesmo com você ao meu lado. – falei encarando o dono dos olhos que me faziam derreter.

- Eu sei – ele respondeu – mas nenhum deles vai ser capaz de me enfrentar.

Suas palavras trouxeram a tona todo o respeito que ele impunha. Miguel era, sem dúvida, muito temido, um guerreiro incomparável. Mas, eu desconfiava que seus discípulos fossem tão bem treinados, que enfrentariam até mesmo seu líder caso julgassem necessário... eu esperava que não.

- E pra onde vamos? – perguntei.

Ele me encarou por um tempo e pensou. Senti sua mão apertar a minha e sabia que ele não responderia agora, então nos pusemos a caminhar. Não demorou para encontrarmos os celestiais, realizando suas funções, e também não demorou para que eles percebessem que havia literalmente um intruso no Paraíso. Eu era a única dali sem asas.

Pra minha sorte, eu estava ao lado de Miguel e diante dos outros, ele impunha tanto respeito, que ninguém se atreveu a questionar ou se aproximar e, assim, passamos rapidamente por entre os anjos. De repente, eu comecei a notar a diferença. Miguel começou a ficar ligeiramente mais tenso e eu percebi o motivo. Estávamos entrando em seu território. Era um enorme e lindo campo e nós começamos a escutar os barulhos de metais se chocando. Eram espadas. Estávamos chegando ao cerne do centro de treinamento dos guerreiros de Miguel e, apesar dele ser o príncipe daquela casta, ele sabia o quão perigoso era minha aproximação dos guerreiros.

Não demorou muito e o tilintar das espadas cessaram e todos os olhares recaíram sobre nós. Miguel continuou andando a minha frente com a imponência de sempre e eu o seguia de perto, até que um anjo enorme, com músculos inchados, se pôs a nossa frente e me encarou com olhos ferozes, apontando a Gladius em minha direção.

- Abaixe sua espada, guerreiro. – Miguel ordenou, interrompendo a caminhada.

O anjo continuava a me encarar com fúria. Para ele, era um sacrilégio eu estar ali.

 - Eu disse, abaixe a sua espada, guerreiro. – a voz grave de Miguel ressoou para todos.

- Senhor, ela não é uma de nós, não pode estar aqui. – o outro falou com firmeza, sem, no entanto, encarar o Arcanjo nos olhos.

- Está desobedecendo uma ordem direta de seu General. Se eu fosse você, abaixaria esta espada e ficaria grato por ainda estar de pé.

O guerreiro tremeu e lentamente abaixou a arma. Com um discreto passo para o lado, abriu caminho. O Arcanjo continuou a caminhada e eu fiz o mesmo, até sentir meu corpo sendo empurrado pro lado. Quando dei por mim, Miguel me envolvia com um braço e com o outro apontava sua Gladius dourada para o guerreiro caído no chão. Ele havia tentado me atacar pro trás e mais uma vez, Miguel havia me salvado. Ao nosso redor, o silêncio era absoluto.

- Alguém mais vai tentar nos impedir? – Miguel falou olhando ao redor, para seu exército boquiaberto. Tudo tinha sido tão absurdamente rápido, que o pobre guerreiro nem teve tempo de reação – Se alguém mais tentar eu espero que seja mais eficiente em seu ataque, mesmo sendo covarde.

Todos deram um passo para trás e Miguel fez sua Gladius dourada desaparecer mais uma vez. Ele se referia ao guerreiro ter tentado me atacar pelas costas, mas talvez, não enfrentar seu líder de frente tenha sido a única maneira que o pobre soldado encontrou. Como ninguém mais se manifestou, Miguel seguiu em frente, comigo apertada em seus braços, sem olhar pra trás.

- Temos que nos apressar. Eles vão avisar aos guerreiros de elite e eles com certeza tentarão nos impedir. – Miguel falou enquanto me pegava nos braços e voava velozmente, deixando as passadas para trás.

A sensação de voar era maravilhosa, tanto que eu nem questionei sobre os guerreiros de elite que Miguel havia mencionado, mas, no fundo, eu sentia que faltava alguma coisa. Era a primeira vez que eu não voava sozinha.

A paisagem foi passando como um borrão e logo avistei uma depressão no meio do campo e, no fim dela, havia um largo rio cristalino. Era lindo. Os raios de sol batiam nas águas que brilhavam lindamente. Próximo à margem, uma enorme construção embelezava a cena. Era feita de grandes pilastras de estilo greco-romano, toda em mármore brando. Lembrei-me imediatamente do castelo da realeza infernal, e toda sua glória negra. Esta era diferente. Ampla, clara e pacífica.

Pousamos na entrada do palácio. Não havia portas, paredes ou janelas. Era tudo delimitado pelas repetitivas pilastras brancas e o interior tinha um cheiro familiar.

- Você mora aqui? – perguntei aturdida pela grandiosidade do monumento.

Miguel não relaxou sua guarda, mas sorriu pra mim.

- É incrível... é tão, tão...

Eu não tinha as palavras certas para descrevê-lo. Ele segurou minha mão com delicadeza e fez um gesto para que eu o seguisse para o interior de sua casa. Antes de fazê-lo, dei uma última olhada para trás. O rio límpido, o gramado, o desfiladeiro... eu queria guardar essa imagem em minha mente a sete chaves, guardar a imagem do mais lindo pedaço do Paraíso que já vi e que jamais veria outra vez.

Tudo era muito claro e amplo dentro do templo de Miguel. Em raras ocasiões surgiam blocos de mármore que delimitavam alguma sala ou quarto em particular. Diversas estátuas de anjos e homens sem face empunhando espadas magníficas eram vistas esporadicamente. No centro de tudo, havia uma espécie de quarto. Não era como o de Harper, na Terra, era mais como um pequeno espaço particular. Tinha uma humida balneo enorme, mas Harper certamente diria que era uma espécie de piscina interna. Feita de granito e mármore, era funda o bastante para caberem três homens de pé e sua água translúcida o suficiente para enxergarmos o fundo. Ali, Miguel devia banhar-se e regularmente meditar. Somente os arcanjos tinham este privilégio. Ao lado da humida balneo tinha um espaço amplo e revestido de leves tecidos claros. Eu diria que era uma cama, mas certamente Miguel a utilizava apenas para os momentos de oração e reflexão.

Quando voltei a mim, estava sozinha no imenso cômodo, mas logo o guerreiro rapareceu. Trazia em suas mãos um pequeno objeto e logo eu percebi que era de um metal dourado. Parecia como... um pedaço de espada. Ele se reaproximou e disse:

- Esse é um pedaço da Gladius de um de meus irmãos. Com ele, eu vou poder canalizar energia suficiente para pedir ajuda sobre como podemos livrar você de Lucius. Ele é minha última esperança.

Ele encarava o pequeno objeto metálico e reluzente de um jeito carinhoso e olhava para as mãos enquanto falava. Franzi o cenho.

- Como assim... irmão? – perguntei.

Eu lembrava bem de ter visto Rafael e Gabriel com suas Gladius na Terra e não estava entendendo o propósito de Miguel com isso.

- Esse fragmento é da espada sagrada do arcanjo Uriel, por acaso? – indaguei.

Miguel me encarou e sacudiu a cabeça em negativa lentamente antes de responder.

- Não. – ele disse – Essa era a Gladius de Lúcifer, o quinto Arcanjo.


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Notas finais do capítulo

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